Sunça no Streaming – Luca – Disney Plus (2021)

Em Luca, acompanhamos uma história de amadurecimento sobre um jovem que vive um verão inesquecível repleto de sorvetes, massas e passeios intermináveis de scooter. Luca compartilha essas aventuras com seu novo melhor amigo, mas toda a diversão é ameaçada por um segredo profundamente bem guardado: eles são monstros marinhos de outro mundo, logo abaixo da superfície da água.

95 min – 2021 – EUA

Dirigido por Enrico Casarosa. Roteirizado por Jesse Andrews, Mike Jones, Enrico Casarosa e Simon Stephenson. Com Jacob Tremblay, Jack Dylan Grazer, Emma Berman, Saverio Raimondo, Maya Rudolph, Marco Barricelli, Jim Gaffigan, Peter Sohn, Marina Massironi, Sandy Martin, Giacomo Gianniotti, Elisa Gabrielli, Mimi Maynard, Sacha Baron Cohen, Francesca Fanti, Jonathan Nichols, Enrico Casarosa e Jim Pirri.

“Luca” é a estreia do diretor Enrico Casarosa em um longa-metragem. Enrico trabalhou no departamento de arte de vários outros filmes da pixar e dirigiu o belíssimo curta “La Luna”.  O diretor apresenta uma história sobre transformação, Luca (Voz original de Jacob Tremblay) é um monstro marinho que assume a forma humana ao sair da água. Assim que sua pele é molhada a região volta a ter escamas. Essa é a transformação física que o filme nos apresenta, porém a narrativa vai além e traz um conto sobre um garoto que quer se entender,se encontrar e descobrir o mundo onde vive.  Junto a isso temos um debate sobre como o contato com o desconhecido e o estranho pode causar reações fortes e levar ao preconceito.

Luca vive com sua família no fundo do mar e foi criado com a ideia de que a superfície e seu povo são monstros perigosos que devem ser evitados. Mesmo assim, o jovem demonstra interesse e curiosidade sobre a vida acima da água. Em um momento que Luca desobedece aos ensinamentos de seus pais ele conhece Alberto (Voz original de Dylan Grazer) que é um monstro marinho que vive fora d’água em uma ilha. Quando descobre que com a pele seca ele também se transforma em humano, Luca passa a dedicar seus dias a se aventurar com Alberto experimentando a vida na terra. Quando conhecem a jovem humana Giulia (Voz original de Emma Berman) o trio de desajustados está completo e o objetivo do grupo é ganhar uma competição de triatlo que tem como prêmio uma Vespa (motocicleta).   

Luca teve uma educação rigorosa dos pais, os quais tem dificuldade de aceitar o filho como ele é. Alberto é órfão e foi abandonado por seu pai que não aceitava o estilo de vida do filho. A amizade entre eles é definidora para que ambos possam se entender e lutar para ser quem são. Seu mantra “Silenzio, Bruno” é a forma que os garotos têm de se livrar de preconceitos, medos e da pressão da sociedade. Podendo assim ter novas experiências, viver e se encontrar. A obra discute a ideia de aceitação, dos pais, da sociedade e por si mesmo. O protagonista se aventura, rompe a barreira e passa a ocupar espaços que lhe eram negados.  É uma alegoria a todas as pessoas que sofrem algum tipo de discriminação e intolerância. Uma das várias leituras que cabem nessa proposta é a de alguém que busca assumir a sua identidade homoafetiva. Uma história de descobrimento e aceitação. São alusões explícitas, porém não abertamente assumidas pelo roteiro. Luca e Alberto buscam o sonho da liberdade que, para eles, se materializou em uma Vespa. Eles querem conhecer o mundo e fugir das amarras e barreiras da sociedade.

O visual é lindo. São cores vibrantes que retratam um cenário paradisíaco em uma pequena vila costeira na Itália. A ambientação se completa nas expressões italianas nas falas dos personagens, em uma deliciosa massa ao molho pesto e uma bela trilha sonora.  Os cenários parecem pinturas e o conjunto da obra não só dá gosto de ver, como nos faz exclamar: “Santa mozzarella!”. O roteiro é cativante mas não inova em seu formato e estrutura. “Luca” é uma história simples, visualmente maravilhosa que discute intolerância, preconceito e aceitação. Uma obra que te convida a deixar de lado os pré-julgamentos e abraçar o desconhecido e o diferente. Tudo isso, enquanto acompanhamos a busca de um jovem pelo autoconhecimento.  

 

Nota do Sunça:

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Sunça no Streaming – Soul – Disney Plus (2020)

Em Soul, duas perguntas se destacam: Você já se perguntou de onde vêm sua paixão, seus sonhos e seus interesses? O que é que faz de você… Você? A Pixar Animation Studios nos leva a uma jornada pelas ruas da cidade de Nova York e aos reinos cósmicos para descobrir respostas às perguntas mais importantes da vida.

96 min – 2020 – EUA

Dirigido por Pete Docter e Kemp Powers. Roteirizado por Pete Docter, Mike Jones e Kemp Powers. Com Jamie Foxx, Tina Fey, Graham Norton, Rachel House, Alice Braga, Richard Ayoade, Phylicia Rashad, Donnell Rawlings, Questlove, Angela Bassett, Cora Champommie, Margo Hall, Daveed Diggs

*Devido a pandemia estreou em dezembro de 2020 na plataforma de streaming Disney Plus

Em Soul, duas perguntas se destacam: Você já se perguntou de onde vêm sua paixão, seus sonhos e seus interesses? O que é que faz de você… Você? A Pixar Animation Studios nos leva a uma jornada pelas ruas da cidade de Nova York e aos reinos cósmicos para descobrir respostas às perguntas mais importantes da vida. Dirigido por Pete Docter e produzido por Dana Murray.

É fácil se identificar com a ideia de que temos um propósito e uma missão em nossa vida. Seguimos vivendo sem olhar para os lados e sendo “assombrados” pela ideia de que ainda vamos conseguir conquistar nosso grande objetivo. Frustrados, corremos atrás de nossas obsessões sem parar para apreciar as pessoas, os lugares e as experiências à nossa volta. No final de um ano difícil, repleto de contratempos e com a comum sensação de tempo desperdiçado. “Soul” chega à plataforma de streaming Disney Plus e de forma leve nos lembra de apreciar as pequenas coisas da vida como um raio de sol, a companhia de um ente querido e uma bela fatia de pizza.

  O protagonista Joe Gardner (Jamie Foxx) é um sujeito frustrado. Um músico de meia-idade que sonha em se tornar um dos grandes nomes do jazz, mas que trabalha em uma escola dando aula a vários alunos desinteressados com a música. Até que graças a seu ex-aluno Curley (Questlove) recebe a chance de tocar na banda da famosa Dorothea Williams (Angela Bassett). Justamente porque Joe ignora o mundo ao seu redor em busca de sua “obsessão” ele sofre um “contratempo”, que pode ameaçar seu sonho de tocar com uma grande estrela. Durante sua jornada, Joe encontra a “jovem” 22 (Tina Fey) que nunca encontrou seu “propósito” e depois de falhar várias vezes perde a vontade de viver, mesmo sem nunca ter vivido. É no contraste dos dois personagens que toda a sensibilidade do longa se constrói. 

O roteiro de Pete Docter, Kemp Powers e Mike Jones leva seu personagem para o além vida e o coloca em uma experiência fora de seu corpo, assim percebemos que seu sonho é justamente o que o afasta da felicidade e da experiência de uma vida mais plena. Mas a trama não oferece respostas simples e fáceis para ser feliz ou de como se sentir realizado, pelo contrário, nos mostra que, caso isso seja possível, é nas pequenas experiências do cotidiano que podemos encontrar as respostas. Para isso usa elementos de roteiro manjados como uma sequência de troca de corpos. Funciona como uma maneira de forçar Joe a “assistir” a si mesmo. O diretor e roteirista Pete Docter comete um deslize ao não estabelecer ao certo as regras daquele universo, sendo assim, o filme tem que se auto explicar ao longo de toda sua duração. Causando alguns furos e apelando pontualmente para saídas mais fáceis.

A Nova York do longa é extremamente realista, um visual que impressiona. O design de produção segue a ideia de valorizar as “pequenas coisas” dando destaques aos detalhes em roupas, paredes e instrumentos musicais. O que contrasta com o visual preto e branco do além-vida. E diferencia também das montanhas azuladas e das grandes construções brancas e fluidas da área de preparação das almas. Um visual mais colorido e simplificado.  A animação é impecável. Não apenas nas pequenas atuações e trejeitos dos personagens, mas também com o cuidado de colocar os “atores” tocando corretamente os instrumentos e criar toda uma movimentação diferente para as diversas ambientações do filme. Vale um destaque para a animação e design dos “Zés”, criações inspiradas em Picasso feitas de linhas animadas que estão sempre conectadas ao “todo”.

“Soul” propõe uma importante discussão sem oferecer respostas fáceis. Com um visual deslumbrante acompanhado de uma trilha sonora caprichada e design sonoro cuidadoso, compõe seus diferentes ambientes e ajuda na narrativa e texto da obra. Por não estabelecer as regras daquele universo o roteiro se torna explicativo apresentando alguns furos e sendo pontualmente contraditório. Um filme que nos lembra que a nossa vida é uma construção de pequenos momentos e que são eles que realmente merecem ser vividos. Joe precisa desapegar de seu sonho e de sua “missão” na terra para finalmente se tornar apto e merecedor de uma vida.  

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Sunça no Cinema – Toy Story 4 (2019)

Agora morando na casa da pequena Bonnie, Woody apresenta aos amigos o novo brinquedo construído por ela: Forky, baseado em um garfo de verdade. O novo posto de brinquedo não o agrada nem um pouco, o que faz com que Forky fuja de casa. Decidido a trazer de volta o atual brinquedo favorito de Bonnie, Woody parte em seu encalço e, no caminho, reencontra Bo Peep, que agora vive em um parque de diversões.

100 min – 2019 – EUA

Dirigido por Josh Cooley. Roteirizado por Andrew Stanton, Stephany Folsom. Com Tom Hanks, Tim Allen, Annie Potts, Tony Hale, Keegan-Michael Key, Madeleine McGraw, Christina Hendricks, Jordan Peele, Keanu Reeves, Ally Maki, Jay Hernandez, Lori Alan, Joan Cusack, Bonnie Hunt, Kristen Schaal, Emily Davis, Wallace Shawn, John Ratzenberger, Blake Clark, June Squibb, Carl Weathers.

Em 1995 “Toy Story” chegou aos cinemas. Com nove anos de idade, me identifiquei com Woody e seus dilemas. Em sua primeira “aventura” o cowboy aprendia a lidar com as mudanças da vida, novos relacionamentos e amizades. Quatro anos depois nosso amado xerife aprendeu sobre o valor de seu passado e conheceu novos brinquedos. Tudo isso, enquanto buscava por seu lugar no mundo. Onze anos se passaram, e eu, já aos vinte e quatro anos de idade e formado na faculdade, me peguei chorando com Woody quando ele lidava com a efemeridade da vida, lutava por suas crenças e ideais e tentava manter sua família unida. Em 2019 assisti pela primeira vez a busca de autoconhecimento e a tentativa do cowboy de descobrir seu real propósito na vida. Aos trinta e dois anos de idade “Toy Story 4” me mostrou que eu cresci e amadureci ao lado do meu amigo Woody. E que a franquia “Toy Story” não é sobre a saga dos brinquedos de Andy. É sobre a história de Woody, sua devoção a Andy e a seus amigos. Acompanhamos suas tentativas em encontrar e cumprir a sua função no mundo.     

Quando Andy doou seus brinquedos para Bonnie (Madeleine McGraw), na época, soou como o final perfeito. Mas não demoramos a perceber que nosso protagonista está com problemas. Woody (Tom Hanks) tem ficado “esquecido” no armário nos momento em que a garota inventa suas histórias e cria seus mundos. A heroína de Bonnie é Jessie (Joan Cusack) que chega até a usar o distintivo de Woody durante suas brincadeiras. O cargo de líder dos brinquedos naturalmente ficou para a boneca Dolly (Bonnie Hunt) um brinquedo mais antigo da menina. Aqui já percebemos que está acontecendo um importante, e necessário, crescimento nas lideranças femininas. Um reflexo de nossa sociedade que têm caminhado nessa direção. Tudo isso se comprova com o retorno de Betty (Annie Potts) a mocinha indefesa das brincadeira de Andy, é agora um brinquedo sem dono. Ela é independente, forte e segura de si. Alguém que encontrou seu lugar  no mundo. E dessa vez, é Betty que resgata Woody. Literalmente, emocionalmente e psicologicamente.   

Mesmo deixado de lado por Bonnie o xerife não desiste de sua “função” e luta de forma obstinada pela felicidade da menina. Ele acaba encontrando refúgio em uma outra obrigação, cuidar do novo queridinho da menina, o Garfinho (Tony Hale). Personagem que chega trazendo ainda mais crises existenciais para a obra. Ele que não se considera nada mais do que lixo se une ao complexado e inseguro Duke Caboom (Keanu Reeves), a obcecada em ser amada Gabby Gabby (Christina Hendricks) e o perdido Woody.  O cowboy tenta convencer Garfinho que ele é mais do que apenas lixo. E assim, entra em uma jornada de autodescobrimento que vai envolver todas essas discussões existenciais mencionadas. Sempre com bom humor e sem perder a leveza de uma produção destinada a toda família.  

O diretor Josh Cooley é inventivo e conduz a narrativa de forma dinâmica, com boas gags visuais, piadas verbais, humor de repetição e subversão. Sabe trazer referências visuais e de estilo das obras anteriores e também o momento certo de subverter conceitos antigos. Faz acenos a clássicos do cinema, como por exemplo “O Iluminado” não apenas com a canção “Midnight, the Stars and You” no antiquário, mas também com todo o clima de terror e medo nas sequências que envolvem os terríveis bonecos ventríloquos. O roteiro de Andrew Stanton e Stephany Folsom merece destaque por saber não só dar sequência a principal franquia da PIXAR, mas por conduzi-la a novos caminhos, introduzir novas ideias e evoluir. Ainda assim ele perde força em alguns momentos, a obrigação de encontrar funções narrativas para os inúmeros personagens secundários criam sequências que não justificam seu tempo em tela.  

É triste perceber que personagens importantes como por exemplo Buzz Lightyear (Tim Allen) não ganham papel de destaque neste quarto capítulo. O arco dramático de Buzz se resume a ouvir sua própria voz, o que gera boas piadas, mas seria bom ver mais do patrulheiro espacial. Vale destacar que enquanto Buzz tenta escutar sua “voz interior”, Woody abre mão da sua em prol de sua obstinação para recuperar Garfinho, Betty entoa sua voz firme e forte ao longo de toda a projeção e a “vilã” busca apenas encontrar sua própria voz. Os novos personagens são ótimos e vêm para agregar. Além do maravilhoso Duke Caboom temos o Ducky (Keegan-Michael Key) e o Bunny (Jordan Peele) que roubam a cena sempre que lhes é dada a oportunidade. E o que dizer do insano unicórnio Buttercup (Jeff Garlin)? 

“Toy Story 4” nos emociona com força em seus momentos finais. É difícil segurar as lágrimas diantes dos inevitáveis acontecimentos e encerra com maestria mais um de nossos ritos de passagem. Woody percebe o erro em sua excessiva devoção. Ele aprende que sua função e o que o define não deve ser vinculado aos desejos de outros, ou ao reconhecimento dado por outros. 

Sigo fascinado pelos quatro filmes da franquia e espero poder continuar crescendo e amadurecendo com o meu amigo Woody. 

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica (2020)

No enredo de Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica, em um local onde as coisas fantásticas parecem ficar cada vez mais distantes de tudo, dois irmãos elfos adolescentes embarcam em uma extraordinária jornada para tentar redescobrir a magia do mundo ao seu redor.

102 min – 2020 – EUA

Dirigido por Dan Scanlon. Roteirizado por Dan Scanlon, Jason Headley, Keith Bunin. Com Tom Holland, Chris Pratt, Julia Louis-Dreyfus, Octavia Spencer, Mel Rodriguez, Kyle Bornheimer, Lena Waithe, Ali Wong, Grey Griffin, Wilmer Valderrama, John Ratzenberger e Tracey Ullman.

“Um morto muito louco” (1989) em uma aventura de RPG, ambientada no mundo contemporâneo, habitado por criaturas mágicas e mitológicas que cansadas dos esforços necessários para dominar a mágica, trocam a magia pela tecnologia. É para essa sessão de uma jogatina do “Dungeons & Dragons” versão Pixar que somos convidados a participar. Mas a construção desse universo cativante e o convite a explorar as possibilidades dos conceitos do RPG em um cenário urbano é apenas a porta de entrada  para uma reflexão sobre acreditar em você mesmo, as relações familiares e o amor fraterno. “Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica” ganha uma relevância ainda maior ao pincelar uma subtrama sobre a importância de relembrar e aprender com o passado, algo que nesse momento me parece imprescindível. 

  Ian Lightfoot (Tom Holland) é um elfo que acaba de completar dezesseis anos. Ele recebe de sua mãe Laurel (Julia Louis-Dreyfus) um presente póstumo de seu pai. Ian não conheceu o pai que faleceu antes dele nascer. O presente é um cajado mágico que deveria trazer o pai de volta a vida por um dia, para que ele pudesse conhecer Ian e rever seu filho mais velho  Barley (Chris Pratt). Quando algo sai errado os irmão partem uma “quest” para encontrar a pedra mágica que pode corrigir o feitiço. 

A obra é bem humorada, repleta de piadas visuais e muito humor físico. Sabe conduzir e tratar com cuidado e leveza temas familiares mais profundos e sérios, como o luto pela perda do pai, o relacionamento entre irmãos e a dificuldade de uma mãe solteira criar os filhos sozinha. Isso em um universo ambicioso que sabe brincar, explorar e subverter as possibilidades da premissa apresentada. Nessa ambientação unicórnios são pragas urbanas, dragões são animais de estimação e cogumelos gigantes viram casas em um subúrbio americano, aparentemente habitado pela classe média. É um mundo diverso onde as mais variadas criaturas convivem cotidianamente. Um olhar mais atento vai perceber ali a caracterização de latinos, negros, a população LGBTI+, dentre outros. É louvável o cuidado em retratar minorias. E é um zelo que vai além da mera presença na trama, existe toda uma atenção com as vozes, sotaques e até mesmo o design dos personagens. 

Os protagonistas são ótimos. A relação entre eles cativa e aumenta nosso vínculo emocional com o filme. Barley é confiante, corajoso e atrapalhado. É fascinado com o passado, os jogos de RPG e tudo que é relacionado a magia. Ian é inseguro, amedrontado e introspectivo. Juntos os irmãos, que parecem ser opostos, aprendem que não são tão diferentes assim. Tom Holland consegue passar a insegurança e frustração de Ian. Chris Pratt traz muito humor e uma energia contagiante a Barley. Outra dupla igualmente importante é a mãe Laurel Lightfoot (Julia Louis-Dreyfus) e  Die Manticore (Octavia Spencer), juntas protagonizam momentos importantes e têm uma ótima dinâmica cômica. 

Em um filme da Pixar nada é aleatório. Toda a construção do universo, o cuidado com seus personagens, os temas escolhidos e a qualidade técnica têm função narrativa. É no momento onde todas essas linhas se encontram que temos o ponto mais alto da projeção. Nem as aulas de Zumba de Laurel, que é uma piada visual do início da trama, são esquecidas ao final da projeção. No climax a ação se une a aventura e juntos se mesclam com a carga dramática dos personagens sem se esquecer das “doses” de humor. Só isso já seria suficiente para um encerramento satisfatório, mas “Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica” vai além e subverte o relacionamento dos irmãos com o pai e apresenta um momento de epifania de Ian.   

Trazendo uma discussão Importante sobre as relações familiares, humor físico e visual com “ajuste fino” e a construção de um universo rico e cativante, com direito a fadas motoqueiras que nasceram para voar.  “Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica” é divertido, emocionante e relevante. E sim, mais uma vez a Pixar nos faz chorar.  

(“Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica” entrou para o acervo da Amazon Prime desde o último domingo, dia 10 de maio.)

Nota do Sunça:

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