Sunça no Cinema – Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa (2021)

Em Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, Peter Parker (Tom Holland) precisará lidar com as consequências da sua identidade como o herói mais querido do mundo após ter sido revelada pela reportagem do Clarim Diário, com uma gravação feita por Mysterio (Jake Gyllenhaal) no filme anterior. Incapaz de separar sua vida normal das aventuras de ser um super-herói, além de ter sua reputação arruinada por acharem que foi ele quem matou Mysterio e pondo em risco seus entes mais queridos, Parker pede ao Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) para que todos esqueçam sua verdadeira identidade. Entretanto, o feitiço não sai como planejado e a situação torna-se ainda mais perigosa quando vilões de outras versões de Homem-Aranha de outro universos acabam indo para seu mundo. Agora, Peter não só deter vilões de suas outras versões e fazer com que eles voltem para seu universo original, mas também aprender que, com grandes poderes vem grandes responsabilidades como herói.

148 min – 2021 – EUA, Islândia

Dirigido por Jon Watts e roteirizado por Chris McKenna e Erik Sommers. Com Tom Holland, Zendaya, Benedict Cumberbatch, Jacob Batalon, Jon Favreau, Jamie Foxx, Willem Dafoe, Alfred Molina, Benedict Wong, Tony Revolori, Marisa Tomei, Angourie Rice, Arian Moayed, Paula Newsome, Hannibal Buress, Martin Starr, J.B. Smoove, J.K. Simmons, Haroon Khan, Thomas Haden Church.

Uma crítica de cinema não é uma validação de qualidade de um longa. Nem mesmo tem a função de dizer se determinada produção deve ou não ser assistida. Todo filme deve ser assistido. Ela pode ser um estudo e uma análise técnica sobre os elementos de uma obra. Também é as impressões, observações e percepções de uma determinada pessoa. A crítica é sim algo pessoal. Homem-Aranha é o personagem que tenho mais lembranças antigas. Ele sempre esteve presente em minha vida. Sou fascinado por seus quadrinhos, filmes, séries animadas e games. Tudo relacionado ao Aranha tem um lugar especial em meu coração. E isso não atrapalha meu olhar crítico, apenas faz parte dele e de minha experiência. Eu amo o Homem-Aranha.   

“Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” encerra a trilogia de Tom Holland à frente do personagem. O que chamou atenção do grande público e fez com que o filme batesse recordes de bilheteria se tornando um dos filmes mais bem sucedidos do Universo Cinematográfico da Marvel, é a aparição do multiverso. Porém o destaque fica para a história de amadurecimento desse Peter Parker. Ele agora se torna um herói. Nas franquias anteriores fomos apresentados a outros aracnídeos. Nos longas de Sam Raimi, Tobey Maguire era o nerd clássico que conhecemos nas hqs, mas deixava a desejar quando se tornava o brucutu Aranha. Já nas produções de Marc Webb o Peter de Andrew Garfield era descolado e sofria muito com seus problemas psicológicos, porém quando vestia o uniforme sua movimentação era incrível. Saltava, lutava e disparava piadas. Com as obras de Jon Watts, temos o personagem de Tom Holland que apresenta problemas no colégio e com sua tia. Um adolescente que queria ser herói e que quando combatia o crime trazia consigo a inexperiência de um garoto, porém com o sentimento de tentar fazer o que é certo. 

Eu gosto muito do Aranha de Tom Holland, mas algumas mudanças incomodaram fãs puristas do personagem. Ele é um garoto deslumbrado com a nova vida em que foi colocado, Peter queria ser um Vingador e queria impressionar Tony Stark. Tony se tornou seu mentor e fornecia ao herói uniformes tecnológicos. Tio Ben nunca apareceu, assim como seu ensinamento sobre responsabilidade. O Teioso não lida bem com sua vida dupla em momentos chave abre mão de estar com seus amigos e sua família para fazer seus deveres como herói. Porém seguia abraçado com a vida que queria e gostaria de levar como Peter Parker. Ingênuo, foi jogado em meio a batalhas gigantes e heróis invencíveis. “Sem Volta para Casa” pede ajuda às franquias anteriores do aracnídeo para que esse garoto possa olhar para si mesmo, rever suas escolhas, decisões e se transformar em um verdadeiro herói. Ele se corrige, mas sem perder a sua essência. 

O longa começa instantes após ao final de seu antecessor, “Homem-Aranha: Longe de Casa”.  Mysterio (Jake Gyllenhaal) revelou a identidade do Homem-Aranha através do Clarim Diário de J. Jonah Jameson (J.K. Simmons). Além de culpar o herói por sua morte. A vida de Peter Parker (Tom Holland) se transforma em um caos. Ele é investigado pela polícia, a imprensa o persegue e sua vida comum não existe mais. Algo que afeta também a vida de seus amigos e familiares. Peter parece suportar essa pressão, porém não consegue lidar com o fato de tudo isso afetar e machucar quem ele ama. Tia May (Marisa Tomei), MJ (Zendaya) e Ned Leeds (Jacob Batalon) também têm suas vidas despedaçadas. Desesperado, ele pede ajuda ao Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch), que cria um feitiço para fazer com que todos esqueçam que ele é o Homem-Aranha. Devido a intervenção de Peter a magia dá errado e seres de outros universos começam a surgir na sua realidade.

Na primeira etapa do filme vemos as consequências das ações de Mysterio. O clima é sempre de que algo ruim está para acontecer. As tentativas frustradas de Peter, MJ, e Ned, de entrar na universidade. Nos mostra, mais uma vez, como o herói não consegue se desapegar de seus planos como Peter Parker. Ele não abre mão da vida comum em detrimento a vida heroica. Peter não está preparado para fazer o grande sacrifício. Outro personagem que também é afetado é Happy (Jon Favreau), ele representa a segurança e o vínculo com o Homem de Ferro. Não à toa, ele está mais impotente e cada vez menos participativo na vida do Aranha. Atraídos pelo feitiço errado do Doutor Estranho, vilões de outros filmes do Homem-Aranha surgem nesse universo do MCU. São eles o Doutor Octopus (Alfred Molina), Duende Verde (Willem Dafoe) e Homem Areia (Thomas Haden Church) do universo de Tobey Maguire. Além de  Electro (Jamie Foxx) e Lagarto (Rhys Ifans) dos longas de Andrew Garfield. Essas participações tornam “Sem Volta para Casa” uma grande homenagem ao Homem-Aranha e seus filmes. A ideia de multiverso, que já tinha sido explorada no excelente “Homem-Aranha no Aranha Verso”, além de permitir a interação entre as franquias, possibilita fazer um conserto em todas elas. O que nos quadrinhos é conhecido como retcon. 

Na maior parte do tempo os personagens são bem aproveitados, o que é um grande feito para uma obra carregada deles. Mérito da dupla de roteiristas Chris McKenna e Erik Sommers. Alfred Molina está muito bem de volta ao papel de Doutor Octopus, ele parece se divertir e se emocionar. Willem Dafoe parece que nunca deixou de ser o Duende Verde, está intimidador, assustador e consegue explorar ainda mais seu personagem.  O Homem Areia de Thomas Haden Church teve seu arco muito bem resolvido no “Homem-Aranha 3” de Sam Raimi, logo, não teve muito a acrescentar e o texto teve que se virar para colocá-lo ao lado dos vilões. Jamie Foxx viveu mais uma vez o Electro, uma melhora significativa depois de sua última aparição tanto em motivação, tom e visual. O Lagarto de Rhys Ifans me pareceu o mais mal aproveitado, não adicionando muito a narrativa, ele é só mais um vilão a ser batido e gera algumas piadinhas de dinossauro. É interessante perceber como o filme permite a esses personagens evoluir em seus arcos dramáticos e participar novamente da formação de um Homem-Aranha. 

Tom Holland é um bom ator, e neste encerramento de sua trilogia, ele está excelente. Holland recebe muito mais material dramático, o qual, ele executa com maestria. Em meio a um elenco com grandes nomes, mais uma vez, ele consegue se destacar e impressionar. Marisa Tomei também recebe cenas fortes e intensas e se sai muito bem. Zendaya continua construindo sua MJ forte e interessante. O par romântico funciona e a química dos dois é ótima. Jacob Batalon é o alívio cômico e o protagonista de ações que testam nossa suspensão de descrença. Benedict Cumberbatch não tem muito material para trabalhar e seu Doutor Estranho é logo colocado de escanteio de uma maneira fraca e contestável.   

O filme está repleto de participações especiais e de easter eggs. Ter muitos segredos, forçou a produção a executar muitas filmagens em estúdio. Isso prejudicou um pouco. Jon Watts filmou várias cenas de ação diante de um fundo digital e a falta de inventividade do diretor, deixa alguns momentos artificiais. O roteiro em diversos momentos se apoia em diálogos expositivos e não consegue desenvolver bem todos os seus personagens. Temos muitas piadas e diálogos bobos e explicações desnecessárias. Apesar de problemático o texto constrói uma aventura excelente, uma ode as referência e ao que significa ser o Homem-Aranha. Importantes traumas acontecem, motivações do herói são construídas, sacrifícios são feitos e novos rumos tomados. O mestre ensina o aprendiz e o colega lhe mostra o caminho.       

“Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” é um evento tão grande como “Vingadores: Ultimato”. É a culminação de toda uma trajetória do personagem no cinema. É um final digno para quem precisava, um encerramento para o que estava aberto e um novo recomeço. Um retcon mascarado de nostalgia que evoca risos, saltos de aflição e choro nas salas de cinema. Em “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” o retorno do herói para a Marvel parecia acertado. Agora em 2021 ele se mostrou ideal. Aguardo com ansiedade para ver mais deste novo Homem-Aranha e as possibilidades que ele promete. A trilogia de Tom Holland nos mostrou um garoto que sonhava em ser herói e que aprende da forma mais dura o que é necessário para isso. “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” é o teste definitivo dessa encarnação do herói.  

Obs. São duas cenas pós-créditos. A primeira é extremamente desnecessária e demonstra as pretensões da Sony. A segunda ao final de todos os créditos é um teaser do próximo filme do Doutor Estranho (que já está disponível online). Fica aqui minha indignação, este encerramento de trilogia não precisava de cenas pós.

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Sunça no Cinema – Viúva Negra (2021)

Em Viúva Negra, acompanhamos a vida de Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) após os eventos de Guerra Civil. Se escondendo do governo norte-americano devido a sua aliança com o time do Capitão América, Natasha ainda precisa confrontar partes de sua história quando surge uma conspiração perigosa ligada ao seu passado. Perseguida por uma força que não irá parar até derrotá-la, ela terá que lidar com sua antiga vida de espiã, e também reencontrar membros de sua família que deixou para trás antes de se tornar parte dos Vingadores.

133 min – 2021 – EUA

Dirigido por Cate Shortland. Roteirizado por Eric Pearson (baseado em história de Jac Schaeffer e Ned Benson). Com Scarlett Johasson, Florence Pugh, David Habour, Rachel Weisz, Ray Winstone, Ever Anderson, Violet McGraw, O-T Fagbenle, William Hurt, Olga Kurylenko, Michelle Lee, Liani Samuel, Nanna Blondell, Ray Winstone.

“Viúva Negra” é um filme que chega tarde ao universo cinematográfico da Marvel. Após o final de sua personagem em “Vingadores: Ultimato” Scarlett Johansson volta a interpretar a espiã em um filme flashback. A produção funciona como um interlúdio entre os filmes “Capitão América: Guerra Civil” e “Vingadores: Guerra Infinita”. Natasha Romanoff é conhecida no contexto da Marvel, logo, a opção foi explorar seu lado mais humano e vulnerável. O que é um acerto, já que é nesse aspecto onde reside a força da personagem. Porém, os acontecimentos do passado retratados na obra, não mostram seu treinamento na Sala Vermelha ou missões antigas quando ainda era uma agente russa. Também não aborda o momento em que ela deserta para a SHIELD. A trama no passado tem como objetivo contextualizar a personagem na sequência dos filmes e busca também apresentar a nova Viúva Negra daquele universo.  

Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) após os eventos de Guerra Civil está foragida do governo americano e busca refúgio no exterior. Surge então uma conspiração ligada ao seu passado, forçando Natasha a lidar com sua antiga vida de espiã e reencontrar membros de sua “família”. O reencontro com sua irmã Yelena Belova (Florence Pugh) vem com a missão de resgatar outras mulheres vítimas dos abusos ocorridos na Sala Vermelha. É assim que o roteiro de Eric Pearson constrói um paralelo sobre abuso contra a mulher. A violência, manipulação, tortura física e psicológica aparecem no contexto da tranformação dessas jovens em agentes. Porém remetem a abusos diários sofrido pelas mulheres. Agentes que não são livres nem mesmo em seus pensamentos. Essa construção está no longa, mas não é aprofundada.   

Yelena é teimosa, impulsiva e humana. É uma boa apresentação da personagem que junto a Natasha protagonizam as melhores cenas da obra. Seja nas cenas de ação, como na ótima luta entre as duas na cozinha, ou em cenas íntimas e sentimentais.  A química entre Florence Pugh e Scarlett Johansson funciona. Natasha perde a “família” Vingadores e têm de lidar com problemas de sua “família” do passado, enquanto enfrenta um vilão que imita seus movimentos. O Treinador é a materialização de suas atrocidades do passado.  Alexei Shostakov (David Harbour) é o Guardião Vermelho, uma espécie de Capitão América soviético. Ele é a figura paterna das irmãs e o alívio cômico do filme. Melina Vostokoff (Rachel Weisz) é uma figura materna e uma Viúva importante para o funcionamento da Sala Vermelha. A trama nos oferece boas sequências com a “família”, porém os personagens Alexei e Melina pouco tem a acrescentar. 

A diretora Cate Shortland cria um visual diferenciado para o filme. São vários planos de plongée, uma fotografia preocupada em marcar sequências, cores que ajudam na narrativa e cenas de ação tem o cuidado de deixar tudo claro. “Viúva Negra” é o segundo longa da Marvel com uma protagonista, que venham mais. Natasha Romanoff ganha sua despedida mostrando sua força e seu lado humano, e introduz a nova Viúva do Universo Cinematográfico da Marvel.

 

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Sunça no Cinema – Homem-Aranha: Longe de casa (2019)

Peter Parker (Tom Holland) está em uma viagem de duas semanas pela Europa, ao lado de seus amigos de colégio, quando é surpreendido pela visita de Nick Fury (Samuel L. Jackson). Precisando de ajuda para enfrentar monstros nomeados como Elementais, Fury o convoca para lutar ao lado de Mysterio (Jake Gyllenhaal), um novo herói que afirma ter vindo de uma Terra paralela. Além da nova ameaça, Peter precisa lidar com a lacuna deixada por Tony Stark, que deixou para si seu óculos pessoal, com acesso a um sistema de inteligência artificial associado à Stark Industries.

130min – 2019 – EUA

Dirigido por Jon Watts, roteirizado por Chris McKenna e Erik Sommers. Com Tom Holland, Jake Gyllenhaal, Samuel L. Jackson, Marisa Tomei, Jacob Batalon, Zendaya, Jon Favreau, Tony Revolori, Angourie Rice e J.B. Smoove.

Acho desnecessário iniciar todos os meus textos sobre o Homem-Aranha dizendo que eu amo o herói. Espera aí, não acho não. Digo de novo: Eu amo o Homem-Aranha. E dessa vez, me sinto validado pela própria Marvel. Já que, ao aparecer sua logo no início da projeção de “Homem-Aranha: Longe de Casa” a trilha sonora que a acompanha é “I Will Always Love You” de Whitney Houston. Uma “incrível” homenagem aos heróis caídos em “Vingadores: Ultimato”. A nova aventura do aracnídeo se disfarça de uma despretensiosa “eurotrip”, mas é um importante epílogo para os acontecimentos recentes do MCU. Além disso, o filme prepara o terreno para o que vamos acompanhar nos próximos anos nesse universo e também deixa aberta uma impressionante possibilidade para o futuro do próprio herói. Ainda que a princípio, tenha me parecido uma decisão precipitada. 

  Em uma mistura de comédia, drama e ação, a trama se passa um ano após os eventos de “Vingadores: Ultimato” e o salto temporal de cinco anos criado pelo estalo de Thanos. Oficialmente denominado de “blip”. A turma de Peter Parker (Tom Holland) que agora mistura amigos jovens, que viraram pó com o estalo, e colegas mais velhos que viveram os cinco anos após o estalo. Está de férias e em uma excursão à Europa. E para Peter esse parece o momento ideal de relaxar com os amigos, descansar um pouco de seus deveres como o Aranha e finalmente dizer como se sente para a garota que ama, MJ (Zendaya). O que o herói não contava, era com a presença de Nick Fury (Samuel L. Jackson) que quer o Homem-Aranha, no combate a criaturas elementais que surgem em vários lugares do mundo. Para isso, o teioso recebe a ajuda do herói Mystério (Jake Gyllenhall). É uma história com carisma, bom humor e reviravoltas. O foco é o processo de crescimento de Peter e suas responsabilidades, um garoto que têm de lidar com a iminência da vida adulta. Ainda que a famosa frase de Tio Ben nunca seja dita, seu significado permeia todo o roteiro de “Longe de casa”. Parker têm que entender seu novo lugar no mundo e assumir novas responsabilidades para as quais não se sente preparado.   

Com um arco dramático bem definido Tom Holland consegue mostrar o porquê de ser o melhor dos atores a interpretar o amigão da vizinhança. Em nenhum momento o questionamos como um garoto que passa por um momento difícil, sentimos o peso da perda de seu mentor, suas dúvidas e anseios, a necessidade de tirar uma “folga” e seu amor por MJ. Zendaya e sua MJ despojada também ganham destaque e não decepcionam. Não é uma donzela em perigo (Sua clava não me deixa mentir). É uma garota com fortes convicções e que funciona bem com o Peter Parker de Holland. Ned (Jacob Batalon) mais uma vez é responsável pelas cenas mais engraçadas do filme. Suas constantes e repentinas mudanças de opinião/atitude trazem uma suavidade para a obra e nos lembram em momentos específicos de que estamos lidando com um grupo de adolescentes. Quentin Beck, o Mysterio, de Gyllenhaal é um ótimo personagem. Suas motivações são interessantes, têm uma boa química com Tom e seu arco dramático consegue nos surpreender. Eu, como um grande fã das hqs, fiquei satisfeito com a representação desse icônico vilão. A evolução do relacionamento de Happy Hogan (Jon Favreau) com o protagonista também merece destaque. 

Se em “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” Jon Watts nós apresentou um longa adolescente no melhor estilo John Hughes, agora o diretor vai além e apresenta uma comédia adolescente no primeiro arco de “Longe de Casa”, no segundo ato assistimos a um drama para culminar no terceiro ato em uma aventura repleta de ação. O diretor demonstra habilidade em elaboradas cenas de luta e cria sequências onde de fato podemos perceber o aranha usar de todas as sua habilidades para superar os obstáculos no seu caminho. Vale um destaque para uma impressionante e bem executada sequência repleta de ilusões, efeitos especiais, jogos de câmera e montagens. São ideias visuais ambiciosas e muito bem executadas. No momento em que somos guiados por um novo caminho, as ameaças e os efeitos especiais ganham uma nova roupagem e passam a ficar mais perceptivos. O vilão fica mais genérico e os poderes de distorção da realidade de Mystério se tornam mais artificiais. Uma decisão acertada do longa e coerente com sua narrativa. Um subtexto importante que “Homem-Aranha: Longe de Casa” traz é a ideia de que as aparências enganam. A criação de uma persona importante a partir de supostos grandes feitos, executados a partir de uma cortina de fumaça que busca confundir a opinião pública. Uma discussão sobre fake news e a era da pós verdade.      

Essa nova aventura do aranha não escapa de alguns diálogos expositivos e da antiga dinâmica do herói que reluta seus deveres. Porém a trama tenta brincar com essas sequências de forma metalinguística, seja na cena de um brinde que mostra os “bastidores” de uma “equipe de cinema” ou no momento em que Nick Fury tenta explicar os acontecimentos e é constantemente interrompido.    

Mais uma vez, fica claro que foi uma decisão acertada o retorno do personagem a Marvel. Deixa a vontade de que essa parceria entre a Sony, que têm os direitos cinematográficos do herói, e a Marvel Studios continue rendendo bons filmes.

 “Homem-Aranha: Longe de casa” conta com um ótimo elenco em uma trama com um clima jovial que mescla comédia, drama e aventura. Têm boas cenas de ação, momentos importantes entre seus personagens e apresenta um final impactante que abre possibilidades para grandes acontecimentos na vida do teioso. Faz referências às encarnações anteriores do herói e relembra cenas icônicas dos filmes anteriores. Uma obra divertida, empolgante, ágil e dinâmica. Uma aventura colorida com uma boa trilha sonora e designs de personagens interessantes. O visual de Mystério e os vários uniformes do aranha são ótimos. E o mais importante é que o Homem-Aranha continua sendo apenas um adolescente que dispara suas teias e combate o crime enquanto tenta lidar com sua vida e entender quem é.

Obs. São duas cenas pós-créditos. A primeira logo após os créditos inicias abre possibilidades para o futuro do Aranha. A segunda ao final de todos os créditos abre possibilidades para o futuro do MCU.

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Sunça no Cinema – X-Men: Fênix Negra (2019)

1992. Os X-Men são considerados heróis nacionais e o professor Charles Xavier (James McAvoy) agora dispõe de contato direto com o presidente dos Estados Unidos. Quando uma missão espacial enfrenta problemas, o governo convoca a equipe mutante para ajudá-lo. Liderado por Mística (Jennifer Lawrence), os X-Men partem rumo ao espaço em uma equipe composta por Fera (Nicholas Hoult), Jean Grey (Sophie Turner), Ciclope (Tye Sheridan), Tempestade (Alexandra Shipp), Mercúrio (Evan Peters) e Noturno (Kodi Smit-McPhee). Ao tentar resgatar o comandante da missão, Jean Grey fica presa no ônibus espacial e é atingida por uma poderosa força cósmica, que acaba absorvida em seu corpo. Após ser resgatada e retornar à Terra, aos poucos ela percebe que há algo bem estranho dentro de si, o que desperta lembranças de um passado sombrio e, também, o interesse de seres extra-terrestres.

114min – 2019 – EUA

Dirigido por Simon Kinberg, roteirizado por Simon Kinberg. Com: James McAvoy, Sophie Turner, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Nicholas Hoult, Tye Sheridan, Alexandra Shipp, Evan Peters, Kodi Smit-McPhee, Scott Shepherd, Ato Essandoh, Brian d’Arcy James, Halston Sage, Summer Fontana, Jessica Chastain.

O primeiro longa dos X-Men estreou em 2000. Logo, são dezenove anos de X-Men no cinema. Uma série cheia de altos e baixos que agora em 2019 chega a sua conclusão. A franquia já gerou “carreiras” solo para Wolverine e Deadpool e já se permitiu apagar linhas do tempo específicas e esquecer acontecimentos “questionáveis”. E para finalizar tudo isso temos um diretor estreante, Simon Kinberg, que foi responsável por alguns roteiros como “X-Men: O confronto final”, “Quarteto Fantástico” e “X-Men: Apocalipse”.

“X-Men: Fênix Negra” é uma obra que se mostra previsível desde o início. Quando vemos Jean em 1975 no banco traseiro do carro de seus pais, já sabemos que algo terrível vai acontecer. E logo na (ótima) sequência inicial, que se passa no espaço, ao ver a “força cósmica pura e inimaginável” sabemos também que estamos à segundos de outro acidente. Quando Jean Grey (Sophie Turner) fica cada vez mais forte e fora de controle, também imaginamos exatamente como e para onde a trama vai caminhar. Logo vamos para 1992 quando os X-Men são heróis mundiais. O professor Xavier (James McAvoy) é reconhecido e premiado por seus esforços, Magneto (Michael Fassbender), mais uma vez, está em paz e vivendo afastado. E o super grupo atua na proteção dos humanos que um dia os odiaram. Mas tudo muda quando um passado sombrio de Jean a deixa descontrolada. Magneto novamente sai da “aposentadoria” e o professor e sua turma tem que lidar com a aluna fora de controle. Enquanto isso a alienígena Vuk (Jessica Chastain) se aproxima de Jean com o objetivo de pegar para si a poderosa força cósmica. Vale uma ressalva aqui para o fato de que apenas oito anos separam os acontecimentos desse longa dos acontecimentos do primeiro filme dos X-Men. Como vimos em “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido” os antigos atores e os atuais dividem a mesma linha temporal. Isso significa que os personagens terão que envelhecer décadas nesses oito anos.

E se a premissa soa familiar, é porque, ela é. Basicamente temos um remake, com alterações pontuais, de “X-Men 3 – O Confronto Final”. Nesse longa Kinberg traz uma abordagem direta e sua trama acontece em um pequeno espaço de tempo. É perceptível a busca por um enredo mais adulto, com foco em problemas internos dos personagens e conflitos dramáticos mais densos. Em boa parte da narrativa o filme opta por colocar Xavier como o vilão e Jean como uma vítima que sofre um abuso. O diretor problematiza as ações e escolhas do professor optando pelo que poderia ser uma história revisionista de tudo o que foi vivido. Mas logo se rende aos espetáculos tradicionais de um blockbuster de heróis com grandes cenas de ação e um clímax evento. Personagens que mudam de ideia o tempo todo e que jogam a culpa uns nos outros em toda e qualquer oportunidade também não ajudam. Já a interação entre os personagens nas cenas em que usam seus poderes, são interessantes e cativantes. Ver como cada mutante funciona no grupo e como cada poder é utilizado se torna um ponto forte da obra.

Sophie Turner se esforça mas o arco dramático de Jean é fraco e óbvio. A personagem de Jessica Chastain é uma vilã genérica com um pequeno grupo de capangas alienígenas (Que se torna um exército no momento em que a trama precisa). Jennifer Lawrence parece com preguiça e nitidamente não quer mais ser pintada de azul, o que acontece pontualmente. Ciclope (Tye Sheridan) e Tempestade (Alexandra Shipp) mal participam da trama. Pela primeira vez os poderes da Tempestade são realmente bem explorados. Michael Fassbender e James McAvoy têm a mesma dinâmica de sempre, tomam as mesmas decisões de sempre e agem da mesma maneira que já vimos nos longas anteriores. Mas vale enaltecer o destaque e protagonismo feminino da trama.

“X-Men: Fênix Negra” encerra a saga dos X-Men da FOX. E assim como os vários filmes desses dezenove anos têm altos e baixos com momentos confusos e conturbados. É um final que deixa uma brecha caso a Disney/Marvel queiram continuar. O que não querem (Ainda bem). É um bom encerramento para uma saga que deixa a sensação de que poderia ter sido muito melhor.  

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Homem-Aranha no Aranhaverso (2018)

Miles Morales é um jovem negro do Brooklyn que se tornou o Homem-Aranha inspirado no legado de Peter Parker, já falecido. Entretanto, ao visitar o túmulo de seu ídolo em uma noite chuvosa, ele é surpreendido com a presença do próprio Peter, vestindo o traje do herói aracnídeo sob um sobretudo. A surpresa fica ainda maior quando Miles descobre que ele veio de uma dimensão paralela, assim como outras versões do Homem-Aranha.

117 min – 2018 – EUA


Dirigidor por Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman. Roteirizado por Phil Lord, Christopher Miller. Com Shameik Moore, Hailee Steinfeld, Mahershala Ali, Jake Johnson, Liev Schreiber, Nicolas Cage, John Mulaney, Lily Tomlin.

“Qualquer um pode usar a máscara!”

Essa é a fala de Miles Morales que vai te fazer chorar. Pelo menos para mim, esse foi um dos vários momentos em que chorei ao assistir o melhor filme do aranha: Homem-Aranha no Aranhaverso. Muitos dirão que eu sou clubista ao falar sobre o Homem-Aranha, e talvez eu seja mesmo. Mas isso não desmerece o fato de estarmos diante de uma das melhores adaptações de quadrinhos dos últimos tempos. Visualmente linda e com um roteiro forte a obra acerta em cheio no cerne do personagem. É engraçada, é triste, é aventuresca e emocionante.

O que difere o aranha dos demais super-heróis são seus problemas do cotidiano, alguém imperfeito recebe o “chamado ao heroísmo” e devido ao seu senso de responsabilidade e força de vontade tenta fazer o melhor com o que têm em mãos. É aí que nos identificamos. Somos e queremos ser ele. E, é nesse espírito de amor ao personagem que o longa é certeiro e nos mostra que qualquer um pode ser o Homem-Aranha. Algo já dito pelo próprio mestre Stan Lee, quando disse que o fato de o herói estar todo coberto nos permite imaginar que estamos por de trás da máscara. Não importando o gênero e a etnia. Todos podemos estar no uniforme. (A participação de Stan é outro momento em que chorei no filme)

O Rei do Crime (Liev Schreiber) abre uma fenda interdimensional no meio de Nova Iorque. Várias dimensões se alinham e Homens-Aranhas de diferentes realidades acabam juntos no mundo em que Miles Morales (Shameik Moore) foi picado pela aranha radioativa. Nessa dimensão Peter Parker (Jake Johnson) é um herói consagrado, mas acaba morrendo. E em meio a tudo isso Miles tenta lidar com seus poderes, seus problemas pessoais na escola e o relacionamento com o pai. E a responsabilidade de deter o Rei do Crime cai em suas mãos. Para impedi-lo recebe a “ajuda” de outras versões do Homem-Aranha.  O filme adapta a história de origem de Miles Morales do Universo Ultimate da Marvel e a mescla com a recente saga Aranhaverso. A narrativa é muito bem roteirizada e rapidamente somos imersos naquela história.

Um garoto que ainda está se descobrindo como pessoa, e agora como Aranha é a porta de entrada dessa nova adaptação. Morales têm várias peculiaridades diante das demais versões do herói, o que o torna único. Um ponto forte é seu relacionamento com o Peter Parker (Johnson) que acaba sendo seu mentor, em sua própria dimensão Parker é um herói vivido, porém em decadência. Que encara seus próprios dilemas. É o mestre em decaída e o aprendiz desorientado. A voz original desse filme é outra de suas qualidades, por isso, fica a recomendação de assistir no idioma original. Hailee Steinfeld apresenta uma Gwen Stacy forte, sua personagem têm uma ligação imediata com Morales e posso garantir que a Mulher-Aranha vai ser a favorita de muitos espectadores. O Spider-Ham de John Mulaney e suas ações e animações estilo Looney Tunes merece aplausos e rende muitas risadas. A Peni Parker, personagem de Kimiko Glenn e seu estilo anime não deixa a desejar. O Homem-Aranha Noir com a voz de Nicolas Cage é impagável. Melhor filme de herói de Cage. Vale um destaque também para a Tia May (Lily Tomlin) que está longe de ser uma velhinha indefesa.

O que torna Homem-Aranha no Aranhaverso uma ótima animação, além de um ótimo filme de super-herói e um ótimo longa do Aracnídeo, é seu visual. A obra é linda, dinâmica e ágil. Além dos diferentes designs das versões do Aranha, a forma como os personagens são animados é diferente. Com exceção de Peter e Morales que seguem o mesmo padrão. Fica fácil perceber por exemplo o estilo Tex Avery do Spider-Ham. E o mais interessante é que nada é gratuito e tudo auxilia a trama, ajuda a história a se mover adiante e caracterizar as diferentes dimensões. São cores espetaculares que remetem aos quadrinhos, o uso de balões de pensamento junto com os cortes e enquadramentos deixam tudo dinâmico. A trilha sonora é certeira e uma peça chave em toda condução do longa. É uma experiência de quadrinhos no cinema, são páginas animadas que vão além e trazem o melhor dos dois mundos. O que permite uma batalha genial no clímax do filme.

Homem-Aranha no Aranhaverso faz referência a todos os filmes que o herói já estrelou e, é claro, traz os famosos easter eggs tão divertidos de procurar e encontrar. Uma obra que acerta em todos os quesitos, ainda que seu roteiro conte com algumas coincidências. Os diretores Peter Ramsey, Bob Persichetti e Rodney Rothman fazem um ótimo trabalho e trazem um novo patamar para o gênero super-herói. Os roteiristas Phil Lord e Christopher Miller estão de parabéns por evocar durante vários momentos um sentimento heroico apenas sentido antes na cena do metrô de Homem-Aranha 2 de Sam Raimi.  E vale repetir, pois o maior acerto de Aranhaverso é o soco no coração do espectador em especial do fã de longa data do herói.

“Qualquer um pode usar a máscara!”

Obs. Fique durante os créditos, eles são ótimos. A cena pós-créditos também.

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Venom (2018)

San Francisco, Estados Unidos. Eddie Brock (Tom Hardy) é um jornalista investigativo, que tem um quadro próprio em uma emissora local. Um dia, ele é escalado para entrevistar Carlton Drake (Riz Ahmed), o criador da Fundação Vida, que tem investido bastante em missões espaciais de forma a encontrar possíveis usos medicinais para a humanidade. Após acessar um documento sigiloso enviado à sua namorada, a advogada Anne Weying (Michelle Williams), Brock descobre que Drake tem feito experimentos científicos em humanos. Ele resolve denunciar esta situação durante a entrevista, o que faz com que seja demitido. Seis meses depois, o ainda desempregado Brock é procurado pela dra. Dora Skirth (Jenny Slate) com uma denúncia: Drake estaria usando simbiontes alienígenas em testes com humanos, muitos deles mortos como cobaias.

112 min – 2018 – EUA

Dirigido por Ruben Fleischer , roteirizado por Jeff Pinkner, Scott Rosenberg, Kelly Marcel e Will Beall. Com: Tom Hardy, Michelle Williams, Riz Ahmed, Reid Scott, Scott Haze, Jenny Slate, Michelle Lee e Wayne Pére.

No mesmo ano em que os fãs de quadrinhos e de cinema de heróis, foram presenteados com os ótimos “Deadpool 2” e “Vingadores: Guerra Infinita”. Chega às telas o medíocre “Venom”. O longa da Sony relembra os anos dois mil, um momento em que os estúdios apenas queriam lucrar com seus “produtos”, sem se preocupar com a qualidade dos filmes baseados em quadrinhos. Vide “Demolidor (2003)”, “Mulher-Gato (2004)” e “Elektra (2005)”. De início o longa já têm uma enorme limitação, contar a história de um vilão do Homem-Aranha sem a presença do aracnídeo. A obra foi produzida apenas pela Sony sem o envolvimento da Marvel. E por isso, toma algumas liberdades com a origem do personagem. Nas hqs um simbionte alienígena se une a Peter Parker que ao perceber os malefícios que o ser de outro planeta está causando, se esforça para separar dele. O simbionte acaba com Eddie Brock um jornalista sem escrúpulos que teve uma matéria desmentida por Peter. O ódio que ambos sentem pelo Aranha acaba os unindo e assim se tornam o Venom, que inicialmente apenas quer matar o herói. Mas tudo isso é ignorado, uma vez que a obra não se passa no mesmo universo de “Homem-Aranha: De Volta ao Lar”.

Nunca escondi meu fascínio e admiração pelo Homem-Aranha, isso fica claro em meus textos. Logo, seria possível dizer que apenas a desconstrução do personagem Venom seria o suficiente para me desagradar. Porém a descaracterização do vilão é apenas um dos vários problemas dessa nova adaptação cinematográfica. Algumas modificações na origem do protagonista são acertadas. Eddie Brock (Tom Hardy) é um jornalista investigativo celebridade, seu programa o “The Brock Report” ataca os poderosos. Para conseguir isso, Eddie não mede esforços. Vivendo em São Francisco com sua noiva Anne Weying (Michelle Williams) somos informados de um passado ruim em Nova Iorque. Uma óbvia referência a origem de Eddie nos quadrinhos. O jornalista é intimado a entrevistar Carton Drake (Riz Ahmed) empresário e dono da Fundação Vida. Brock tira proveito de sua proximidade com Anne, que é advogada do escritório que defende a empresa, e descobre que estão acobertando mortes de voluntários para experimentos. Ao expor isso ele acaba causando sua demissão e a de sua noiva que termina o relacionamento com o anti-herói. Após perder tudo Eddie é caracterizado como um fracassado patético. Meses depois o jornalista recebe a informação de que a fundação está fazendo experimentos com humanos e simbiontes alienígenas coletados no espaço.

Um problema grave em “Venom” é a falta de tom na narrativa. De início temos a impressão de assistir a um longa de terror e suspense. A fotografia é sombria e as “possessões” dos seres de outro planeta aterrorizantes. Aos poucos o roteiro parece ir deixando de se levar a sério e passamos a ter uma sensação de despretensão. Situações extremas são facilmente resolvidas, as ações dos personagens perdem credibilidade e a narrativa ganha características de comédia. Outro problema é o excesso de diálogos expositivos ao longo de toda a trama. O que é escancarado quando o simbionte e Brock passam a dividir o corpo.  Eles então passam a conversar com diálogos risíveis. Alguns deles até parecem realmente ter o único propósito de divertir e fazer rir. Em determinado momento Venom “ensina” Anne como derrotá-lo, apenas porque essa informação é necessária ao final do longa.

Apesar da falta de coerência nas características dos personagens, Tom Hardy consegue fazer muito com o pouco que lhe é dado. Hardy têm carga dramática, timing cômico e trejeitos físicos exagerados que funcionam bem na narrativa. Outro acerto é o visual do vilão, a criatura parece ter saídos dos gibis. Exceto pela aranha branca no peito, por motivos óbvios. Já os demais personagens não apresentam o carisma e energia do protagonista, Carton Drake é o vilão com objetivos contestáveis e que no final apenas quer destruir o mundo. Michelle Williams parece estar sempre com preguiça e apresenta uma Anne Weying apática. Até nas cenas de ação, que deveriam ser um dos focos da obra “Venom” consegue falhar. São confusas, escuras demais e nada criativas. Na luta final é difícil entender o que acontece na tela. Com o objetivo claro de uma continuação e de iniciar um universo temos várias referências desde o jornal “Daily Globe”, a “She Venom” e até a série “Venom: The Madness”.

“Venom” é mais uma obra que não consegue aproveitar um personagem interessante. A relação Eddie Brock e simbionte, que é bem trabalhada nos quadrinhos aqui é reduzida a algumas boas piadas e lembretes a todo o momento de que não passamos de comida para o alienígena.

Obs. Existem duas cenas pós-créditos. A primeira, logo após aos créditos iniciais, mostra o objetivo claro de uma sequência. A segunda é um clip promocional de Homem-Aranha no Aranhaverso. Uma pequena cena que empolga mais que todo o filme que acabamos de presenciar.  

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Deadpool 2 (2018)

Quando o super soldado Cable (Josh Brolin) chega em uma missão para assassinar o jovem mutante Russel (Julian Dennison), o mercenário Deadpool (Ryan Reynolds) precisa aprender o que é ser herói de verdade para salvá-lo. Para isso, ele recruta seu velho amigo Colossus e forma o novo grupo X-Force, sempre com o apoio do fiél escudeiro Dopinder (Karan Soni).

120 min – 2018 – EUA

Dirigido por David Leitch, roteirizado por Paul Wernick, Rhett Reese e Ryan Reynolds. Com: Ryan Reynolds, Josh Brolin, Zazie Beetz, Andre Tricoteux, Brianna Hildebrand, Morena Baccarin,Julian Dennison, Karan Soni, Leslie Uggams, Shioli Kutsuna, Stefan Kapicic, T.J. Miller e Terry Crews.

Em 2016 “Deadpool” inovou e ousou em seu primeiro longa solo. A obra foi um sucesso e acabou se tornando a maior bilheteria de um filme com classificação restrita. Isso foi determinante para a FOX aceitar apostas como “Logan (2017)” e para a Marvel Studios arriscar inovações no gênero como a comédia “Thor: Ragnarok (2017)”. Nesta nova empreitada David Leitch assume a direção. O longa exalta a ação sem deixar de lado a comédia, o deboche, as referências à cultura pop e as quebras da quarta parede. A obra se mostra mais violenta que a original, perfurações de balas, cabeças arrancadas e dilaceradas, corpos torcidos são comuns ao longo da trama.     

Wade Wilson (Ryan Reynolds) continua seu relacionamento com Vanessa (Morena Baccarin) e assumiu, como Deadpool, uma carreira internacional de mercenário. Matando apenas “caras maus” em suas próprias palavras. Um soldado do futuro, Cable (Josh Brolin), volta ao passado com o objetivo de assassinar um vilão em potencial. O enredo é simples, Cable está atrás do garoto Russell (Julian Dennison) e Deadpool tenta impedi-lo atrás de uma redenção pessoal. Para isso o protagonista conta com a ajuda de Dominó (Zazie Beetz), Colossus (Andre Tricoteux) e Negasonic (Brianna Hildebrand). As novas aquisições do elenco são boas. A obra simplifica a origem e mitologia de seus novos personagens, o que é um aspecto positivo já que são bastante complexas e confusas nas hqs. A origem de Cable nos quadrinhos é um bom exemplo disso. Josh Brolin está ótimo como o personagem, apesar de não ter o tamanho correto como bem demonstrado pelo anti herói. Zazie Beetz constrói uma ótima Dominó e o diretor é bem sucedido em demonstrar seus poderes de forma interessante e empolgante. Assim como em 2016 o design de Colossus continua melhor do que nos demais filmes da franquia dos “X-Men”. Mais uma vez é retratado de forma interessante e cômica e sua relação com Wade se aprofunda mais. É um ponto forte a preocupação de um com o outro. É digno de aplausos de que em meio a tudo isso, o filme ainda se esforce para destacar e abrir espaço para uma heroína negra, um casal lésbico interracial, um personagem indiano e um herói obeso que em um momento específico critica a indústria pelo preconceito com os “heróis gordinhos”.

David Leitch trás seu ponto forte para Deadpool 2, a ação é melhor planejada, coreografada e filmada. Leitch demonstrou bem em em “John Wick: De Volta ao Jogo”(2014) no qual foi  co diretor e em “Atômica” (2017) o qual dirigiu, seu potencial para sequências realistas, exageradas e violentas. E aqui, sabe dosar bem essas cenas com as tiradas cômicas, as referências e personagens bem humorados. A trilha sonora merece destaque. Todo o longa é acompanhado de hits românticos oitentistas. A-Ha, Air Suply, e Beyoncé entram em momentos chaves que agregam e trazem mais humor para a história. Até Celine Dion têm seu momento com a canção “Ashes” em uma ótima cena inicial que remete a nosso querido 007. E sem cair na mesmice como outros filmes de herói a obra consegue elaborar um confronto final sem sequências gigantes e mirabolantes. Na luta derradeira são vários personagens, muitos efeitos mas com uma pretensão menor. Um acerto que não aconteceu no Deadpool de 2014.

“Deadpool 2” traz novidades em relação a seu antecessor, cria momentos marcantes e personagens interessantes. Sabe usar e amplificar o que deu certo no original trazendo consigo uma desenvoltura e escatologia própria. Sua trama irreverente sabe surpreender o espectador, causar boas risadas, chocar e até trazer dramas pessoais para o herói. As inúmeras referências divertem e entretêm, são temas de piadas e não poupam ninguém, nem mesmo o próprio Reynolds. Vários momentos remetem aos quadrinhos, temos ótimas e surpreendentes participações especiais e um vilão inesperado e finalmente é representado da maneira correta. Seu CGI deixa um pouco a desejar, mas vai causar arrepios nos fãs de quadrinhos (Causou em mim!) Acho que Ryan Reynolds encontrou seu papel definitivo na cultura pop.

Obs. Têm uma cena após os créditos iniciais. E ela é ótima.

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Vingadores: Guerra Infinita (2018)

Os Vingadores e seus aliados precisam estar dispostos a sacrificar tudo para derrotar Thanos (Josh Brolin), antes que seu poder de devastação acabe com metade do universo. O Titãn chega à Terra, para a reunir as Joias do Infinito. Para enfrentá-lo, os Vingadores precisam unir forças com os Guardiões da Galáxia, ao mesmo tempo em que lidam com desavenças entre alguns de seus integrantes.

156 min – 2018 – EUA

Dirigido por Anthony Russo e Joe Russo, roteirizado por Christopher Markus e Stephen McFeely. Com: Robert Downey Jr, Chris Hemsworth, Josh Brolin, Chris Evans, Scarlett Johansson, Karen Gillan, Tom Hiddleston, Elizabeth Olsen, Tom Holland, Benedict Cumberbatch, Mark Ruffalo, Zoe Saldana, Sebastian Stan, Dave Bautista, Chadwick Boseman, Danai Gurira, Paul Bettany, Anthony Mackie, Don Cheadle, Peter Dinklage, Carrie Coon, Tom Vaughan-Lawlor, Winston Duke, Latitia Wright, Benedict Wong, Pom Klementieff, Benicio Del Toro.

São dez anos acompanhando a Marvel no cinema. Mais de vinte e um anos lendo quadrinhos. Anos consumindo animações, seriados, jogos, brinquedos e etc. E aqui estou eu, acabado. Ainda não sei como lidar com o corajoso e ousado “Vingadores: Guerra Infinita”. Quando reflito sobre o ótimo longa fico tenso e silencioso, abro pequenos sorrisos e encho os olhos de lágrimas. As consequências são reais e sérias, é um filme impactante. É óbvio que a “pancada” seria maior caso já não houvesse a confirmação, pela casa das ideias, dos longas “Homem-Formiga e a Vespa”, “Capitã Marvel” (ambos ainda esse ano) e o quarto Vingadores ano que vêm. (Ainda sem título) Ainda assim, saí do cinema com o mesmo impacto de quando assisti “Star Wars: O Despertar da força”. Me vejo questionando a possibilidade de um dia rever essa obra. Não quero. E obviamente vou fazê-lo o mais rápido possível e inúmeras vezes. Ainda que uma determinada cena me mate por dentro só de pensar em assisti-la de novo.

Se o ótimo “Capitão América: Guerra Civil”, também dirigido por Anthony e Joe Russo, foi acusado de não ser corajoso o suficiente em “Guerra Infinita” os diretores e a Marvel mostram valentia e presenteiam o espectador que acompanhou os dezoito filmes que guiaram o “Universo Cinematográfico da Marvel” até aqui. Thanos (Josh Brolin) e seus generais, Fauce de Ébano (Tom Vaughan-Lawlor), Corvus Glaive (Michael James Shaw), Próxima Meia-Noite (Carrie Coon) e Cull Obsidian (Terry Notary) que  formam a Ordem Negra, estão em busca das joias do infinito. São seis gemas, a do espaço, da mente, alma, realidade, tempo e poder. Eles não medem esforços para reunir as pedras que juntas dariam plenos poderes ao vilão. O Titã Thanos acredita ser o herói de sua história, alguém que busca a salvação do universo. O filme se inicia logo após os eventos de “Thor Ragnarok” e logo percebemos como a ameaça é real e o tom diferente dessa nova aventura que promete consequências. Na terra a equipe dos Vingadores está dividida devido aos acontecimentos de “Guerra Civil”.  A trama não é complexa, é simples. Thanos precisa das joias e vêm buscar. Mas é épica em escala, interliga vários personagens e traz um clima mais sombrio ainda que a aventura, o humor e as grandes cenas de ação se façam presentes. É uma tensão constante que é construída e amplificada ao longo de duas horas e meia (Que passam voando). O perigo é real e nos vemos constantemente temerosos sobre o destino dos heróis.

Josh Brolin faz um ótimo trabalho como o Titã ele o constrói como um personagem tridimensional, é um vilão poderoso, ameaçador e com um inesperado carisma. Percebemos seus valores e ideais, seus dilemas pessoais e sua motivação. É possível simpatizar com o vilão que em diversos momentos se mostra “humano”, ainda que seus objetivos sejam terríveis. Parte disso devido a relação com suas filhas e seu passado, porém a forma como Brolin entrega suas falas e exibe expressões corporais ajudam nesta composição do personagem. Os efeitos especiais são impressionantes, em nenhum momento questionamos sua “existência” e deixa toda a composição de Thanos mais visceral, o que é muito importante uma vez que ele de fato é o protagonista do filme. A Ordem Negra também funciona e nos rende boas batalhas. Aliás, cenas de luta acontecem a todo momento, o que é um show a parte. Além de bem coreografadas e enquadradas pelos irmão Russo, é fascinante ver os heróis trabalhando em equipe e compartilhando seus poderes uns com os outros. Os personagens acabam divididos em grupos menores com diferentes missões mas com a ameaça de Thanos em comum. Uma decisão acertada que deixa a obra acelerada e dinâmica.

Os diretores tinham um grande desafio em mãos, reunir um número grande de personagens em uma história que deveria encerrar uma etapa da Marvel nos cinemas. E eles conseguem. A interação entre os personagens é um ponto forte, a personalidade de cada um é respeitada. Nem todos conseguem um bom tempo na tela, mas é nítido o respeito com cada um deles, vide a primeira aparição dos Guardiões da Galáxia, devidamente acompanhada de uma trilha sonora. Outro aspecto interessante é que cada um dos heróis possui uma função em sua participação, por menor que ela seja. É notável a evolução de alguns deles, como por exemplo o Homem-Ferro (Robert Downey Jr.), o Capitão América (Chris Evans) e a Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) que aprofunda sua convincente relação com Visão (Paul Bettany). Mas o destaque fica com Thor (Chris Hemsworth) e Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch). É um show a parte poder ver Robert Downey Jr. contracenar com Benedict Cumberbatch e Chris Pratt. E de ter presente entre esse grupo demonstrando química e personalidade o Homem-Aranha de Tom Holland é especial. E para mim, especificamente, um regozijo único. Algo pelo qual espero desde pimpolho.  

“Vingadores: Guerra Infinita” é um novo marco para o Universo Cinematográfico da Marvel. É angustiante, assustador, dramático e engraçado. Um soco que te faz sair abalado e amargurado do cinema. Thanos rouba a cena e a casa das ideias entrega o evento que prometeu. O final perde força quando sabemos da confirmação de novos filmes, mas ainda assim paira dúvida e a apreensão. É um filme mais sombrio que encerra um arco. Você vai se encantar, vai rir, vai chorar e sair abalado pela promessa contida na frase final da projeção.

Obs. Tem uma cena pós créditos. Espere até o final.  

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Thor: Ragnarok (2017)

Trinta anos depois dos acontecimentos do primeiro filme, um novo Blade Runner desenterra um segredo que tem o potencial de transformar em caos o que resta da sociedade.

164 min – 2017 – EUA

Dirigido por Denis Villeneuve e roteirizado por Hampton Fancher e Michael Green. Com Ryan Gosling, Harrison Ford, Jared Leto, Ana de Armas, Sylvia Hoeks, Robin Wright, Dave Bautista, Mackenzie Davis e Carla Juri.

Texto originalmente publicado no site Cinema e Cerveja.

Dois mil e dezessete têm sido um bom ano para os filmes de super-herói. Começamos o ano com o excelente western “Logan” e na sequência a ótima “space opera” de humor “Guardiões da Galáxia Vol.02”. Também fomos surpreendidos por um deslumbrante filme de guerra e origem de personagem, “Mulher-Maravilha”. Um ótimo longa adolescente, no melhor estilo John Hughes, reimaginou um consagrado herói, “Homem-Aranha: De Volta ao Lar”. É nesse cenário, de experimentação e inovação no gênero, que chega o terceiro longa solo do Deus do Trovão, “Thor: Ragnarok”.

Além da concorrência de qualidade Thor também enfrenta seus fracos filmes anteriores, “Thor” e “Thor: O Mundo Sombrio”. Eis que o diretor Taika Waititi nos apresenta o melhor filme da divindade, que pode até não superar os demais longas de herói do ano, mas acerta o tom e entrega uma boa comédia. “Thor: Ragnarok” se rende ao humor, é irônico, envolvente e diverte. A obra sabe fazer rir sem abandonar as cenas de ação. (Duas delas são grandiosas e épicas, ao som de “Immigrant Song” do “Led Zeppelin”). De fato, é uma grande mudança no personagem que antes era  sisudo, formal e com filmes mais pretensiosos. Logo no início o Deus do Trovão protagoniza várias piadas e na sequência uma rápida cena de ação, demonstrando o caminho que a aventura vai seguir. Os apreciadores de um filho de Odin mais sério e clássico podem não gostar dessa nova versão nitidamente inspirada por “Guardiões da Galáxia

Thor (Chris Hemsworth) descobre que seu irmão Loki (Tom Hiddleston) está vivo, ambos vão em busca do pai, Odin (Anthony Hopkins) que está moribundo. Em meio a isso Hela (Cate Blanchett) ressurge e pretende escravizar Asgard e os demais reinos. O Deus do Trovão acaba exilado no planeta Sakaar onde têm que lutar como gladiador para conquistar sua liberdade e retornar para seu planeta natal. Seu objetivo é evitar o Ragnarok, o apocalipse de seu mundo. Em Sakaar o herói reencontra Hulk (Mark Ruffalo).

Chris Hemsworth está bem, é engraçado e têm um ótimo timing para o humor. Tom Hiddleston sempre se mostra bem como Loki, mas são nos personagens coadjuvantes que o filme demonstra força. O Hulk de Mark Ruffalo é uma criança brigona e birrenta, Jeff Goldblum se destaca como o Grandmaster que trata a tudo e a todos de forma cômica e risonha. E Cate Blanchett visivelmente se diverte com sua vilã unidimensional, consegue fazer rir e ser ameaçadora quando necessário. É uma pena que no final fique a impressão de que a vilã foi pouco aproveitada. Valquíria (Tessa Thomson) é forte, independente, boa de briga e beberrona. Vale uma menção para o ótimo personagem Korg, um gigante de pedra dublado pelo próprio diretor Taika Waititi. Pòrém os personagens não estão alí para filosofar e/ou levantar questionamentos, o objetivo é a jornada. O que importa é a aventura e a piada. Não existe peso emocional para as atitudes e decisões tomadas. Outro aspecto negativo é a nova equipe, os “Revengers”, que não funciona como um time. Os integrantes têm seus melhores momentos quando estão sozinhos e/ou em duplas. Um bom exemplo são as cenas entre Hulk e Thor que sempre funcionam muito bem. O primeiro encontro entre os heróis rende uma sequência bem executada, engraçada e surpreendente.

A opção por uma comédia é acertada, mas traz problemas e algumas incoerências. O Ragnarok é o apocalipse, a destruição de Asgard. E devido as constantes piadas o evento não evoca perigo, não temos a sensação de urgência e seriedade da situação. O roteiro poderia ser mais objetivo e direto, em alguns momentos as situações parecem deslocadas e perdemos o interesse em alguns elementos da trama. A presença de diálogos expositivos e longas explicações também não ajuda. Algumas participações de personagens da Marvel, apesar de legais, parecem desnecessárias. O visual do filme é outro acerto, e fica claro as referências a Jack Kirby quadrinista responsável por grandes histórias do Deus do Trovão. As texturas, cores, figurinos de Sakkar e do longa como um todo remetem a seu trabalho. Alguns exageros visuais e até mesmo efeitos especiais (Raios e energias cósmicas) lembram diretamente os traços do ilustrador. Porém é lamentável que uma das cenas visualmente mais bonitas, seja um rápido flashback com a história da Valquírias.

Até os anos sessenta os gibis de super-heróis eram aventuras despretensiosas, histórias fechadas que funcionavam em si. E assim é “Thor: Ragnarok” um filme divertido e que não se leva a sério. Uma comédia que desenvolve o universo do personagem, entretém e causa boas risadas.

Obs. Temos duas cenas pós-créditos. Uma logo após ao filme e outra no final de todos os créditos.

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017)

Depois de atuar ao lado dos Vingadores, chegou a hora do pequeno Peter Parker (Tom Holland) voltar para casa e para a sua vida, já não mais tão normal. Lutando diariamente contra pequenos crimes nas redondezas, ele pensa ter encontrado a missão de sua vida quando o terrível vilão Abutre (Michael Keaton) surge amedrontando a cidade. O problema é que a tarefa não será tão fácil como ele imaginava.

134 min – 2017 – EUA

Dirigidor por Jon Watts, roteirizado por Jon Watts, Chris McKenna, Erik Sommers, Jonathan Golstein (XII) e John Francis Daley. Com Tom Holland, Michael Keaton, Robert Downey Jr., Chris Evans, Marisa Tomei, Jennifer Connelly, Jacob Batalon Laura Harrier, Zendaya, Jon Favreau, Michael Chernus, Donald Glover, Tony Revolori, Angourie Rice, Bokeem Woodbine, Logan Marshall-Green, Michael Barbieri, Gwyneth Paltrow e Kenneth Choi.

Eu amo o Homem-Aranha. Não me recordo de um tempo em que o herói não estava presente em minha vida. Logo, todo e qualquer produto, produção audiovisual e/ou gráfica do Aracnídeo têm um lugar especial no meu coração. (Como demonstrei bem no texto sobre o “Espetacular Homem-Aranha: A Ameaça de Electro”) Agora, para minha felicidade, chegamos ao sexto filme do Aranha e infelizmente ao segundo reboot em apenas 15 anos. Apesar da ideia de recomeçar mais uma vez a história de Peter não agradar. O pequeno vislumbre que tivemos em “Capitão América: Guerra Civil” empolgava. O Homem-Aranha/Peter Parker apresentado prometia ser a melhor adaptação do personagem para o cinema, e de fato é.

Nos três longas dirigidos por Sam Raimi fomos apresentados a um Peter Parker extremamente nerd que lembrava muito o garoto criado em 1962 por Stan Lee e Jack Kirby. Mas ao se tornar seu alter ego, deixava a desejar. Quando mascarado era apenas um brucutu com poucas piadas, não agia como um garoto. Com o primeiro reboot Marc Webb deixou Peter um nerd mais descolado e menos desajustado. Era um garoto que sofria mais com seus problemas psicológicos e traumas do que com acontecimentos do dia-a-dia. Porém quando de uniforme, principalmente em “A Ameaça de Electro” sua movimentação era incrível, atirava suas teias, saltava pelos prédios, batia nos bandidos enquanto disparava piadas para todos os lados. Tudo isso ao mesmo tempo, e com um trejeito “amador” de combate ao crime. Lembrava bastante o Aranha dos quadrinhos. Em “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” Jon Watts recomeça tudo de novo e, no melhor estilo John Hughes, nos traz um adolescente de verdade. Que lida com problemas no colégio, com sua tia, não sabe falar com meninas e, como todo menino, quer se provar e se descobrir. A combinação perfeita de Peter Parker e Homem-Aranha. Que sim, sofre muitas mudanças mas mantém o espírito e a aura do personagem intacto.

No início do longa acompanhamos Adrian Toomes (Michael Keaton) em acontecimentos logo após a batalha de Nova York que aconteceu no primeiro longa dos Vingadores. Presenciamos o início de sua insatisfação e a decisão que vai culminar em sua transformação no vilão Abutre. Esse momento inicial é importante para humanizar Toomes, o torna um personagem multifacetado. Então mais a frente entendemos sua motivação e suas decisões. Assim ele se difere dos demais vilões da Marvel que, normalmente, apenas querem destruir tudo e todos. Caímos então em um ótimo vídeo diário de Peter Parker (Tom Holland) sobre sua “aventura” com os Vingadores em “Guerra Civil”. Esse vídeo já demonstra bem como aqui o protagonista é mesmo um garoto empolgado e impressionado com todas as mudança ocorrendo em sua vida. Após a batalha Parker volta para casa e para a sua vida colegial. O que o incomoda, uma vez que acredita estar sendo “mal aproveitado”. Após o colégio ele luta diariamente contra pequenos crimes nas redondezas do Queens, até que pensa ter encontrado uma missão na qual poderia se provar digno de ser um vingador.  O vilão Abutre (Michael Keaton) surge com um perigoso esquema de contrabando de armas, porém a  ameaça do novo vilão não é tão fácil de combater como o Aranha imagina.

O grande acerto de “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” está no arco dramático de seu protagonista e no foco que a narrativa dá ao seu dia-a-dia no colégio. No início Peter é um garoto que está empolgado por ter lutado ao lado dos Vingadores, seu objetivo é impressionar Tony Stark (Robert Downey Jr.) e garantir seu lugar no grupo de super heróis. A vida colegial perde a graça e parece não fazer mais sentido. Uma divertida montagem ilustra bem a ansiedade de Parker em sair da escola e colocar seu uniforme. Algo que me lembrou bastante o filme “Te pego lá fora”. E apesar de se achar pronto o roteiro nos demonstra o tempo inteiro de que esse é um inexperiente Homem-Aranha. Um herói em formação que ainda têm muito a aprender. Basta perceber que o próprio teioso é a causa de muitas das situações as quais ele têm de enfrentar. E quando de fato no final da obra ele se encontra em uma situação aparentemente maior do que ele pode resolver é nítido o seu medo e pavor. No final ele percebe qual seu papel, seu dever e sua responsabilidade. Quando está sem a máscara é um nerd desajeitado que sofre bullying, principalmente na figura de Flash Thompson (Tony Revolori). Ele têm em Ned Leeds (Jacob Batalon) um parceiro e amigo, na linda Liz Allan  (Laura Harrier) sua paixonite adolescente e a estranha Michelle (Zendaya) se demonstra uma amiga e uma interessante reinterpretação de uma famosa personagem. Todo o elenco está muito bem, Tom Holland impressiona e entrega uma ótima performance em todas as cenas. Michael Keaton humaniza o Abutre e com uma atuação poderosa o torna o vilão mais interessante da Marvel até agora. Marisa Tomei é uma boa Tia May, mais moderna e divertida. A relação entre ela e Peter tem momentos tocantes, percebemos o companheirismo entre eles, um bom exemplo é a sequência em que Parker pede sua ajuda desesperado. Tudo desenvolvido de forma discreta e com poucas cenas, sem nunca mencionar diretamente o Tio Ben. (Ainda que seja perceptível a ideia de uma família despedaçada.)

Alguma mudanças não vão agradar os fãs mais xiitas. O uniforme mais tecnológico e a falta da história de origem (Mencionada em uma única frase) são bons exemplos. A figura de Tony Stark como mentor de Peter também vai incomodar muitos, além da falta do Tio Ben. Que é mencionado também em apenas uma única frase. (É clara a intenção de se evitar a história de origem do personagem) Isso de fato me incomodou um pouco, afinal, Ben é a motivação máxima do Teioso. Porém as outras mudanças não incomodam, aliás, fazem sentido em um Aranha dentro do Universo cinematográfico da Marvel. Até porque Stark têm bem menos tempo de tela do que foi sugerido nos trailers. Ele e Happy Hogan (Jon Favreau) são bem enquadrados na trama, suas aparições não ficam forçadas e nem excessivas. E aqui vale uma menção às ótimas aparições do Capitão América (Chris Evans) uma delas presente no trailer. Mudanças são necessárias. Mas o importante é manter a aura e o espírito do personagem, o que aqui acontece. O Homem-Aranha é um garoto que têm de lidar com provas de espanhol, decathlons acadêmicos,  problemas com garotas, ajudar sua tia ao mesmo tempo em que combate o crime. Em vários momento o herói escolhe o dever em detrimento a sua vontade, o que ele realmente quer. E isso é Homem-Aranha. Fica nítido em dois momentos que envolvem a Liz,  onde é claro que Peter apenas queria ficar próximo a garota mas honra sua responsabilidade.

A obra lembra muito um filme adolescente dos anos 80, as referências são várias. É só perceber que, como em todo bom filme daquela geração, tudo culmina no baile. Momentos na detenção lembram o ótimo “Clube dos Cinco” e em uma cena onde o Aracnídeo pega um “atalho” temos uma linda referência ao também ótimo “Curtindo a Vida Adoidado”.  John Hughes ficaria orgulhoso. Além disso o filme respeita e faz menções aos longas passados do personagem. Temos referências a cena do beijo em “Homem-Aranha”, a cena do metrô em “Homem-Aranha 2” e a cena inicial de Homem-Aranha 3”, dentre outras. Até uma engraçada referência ao Batman está presente. E não para por aí, durante a logo inicial temos a música tema dos anos 60, ao longo da obra vários apetrechos utilizados pelo herói na famosa animação dos anos 90 estão presentes e, claro, menções aos quadrinhos não faltam. Momentos de superação do Aranha vão te lembrar clássicos como “A Saga do Planejador Mestre”. E os fãs mais atentos vão perceber durante a trama a presença de outros inimigos clássicos do herói como o Escorpião, o Construtor e o Gatuno. É sutil, mas existe uma menção a Miles Morales.   

“Homem-Aranha: De Volta ao Lar” marca o retorno do personagem a Marvel. Graças a uma parceria entre a Sony, que têm os direito cinematográficos do herói, e a Marvel Studios Peter agora pode ser parte do Universo Cinematográfico da Marvel. De fato, o Aranha está de volta a sua casa. Um filme divertido, empolgante, ágil e dinâmico. Com uma fotografia colorida que remete a infância e o colégio (Muito perceptível nos créditos finais), uma boa trilha sonora que ilustra bem os acontecimentos da trama, vide a “Blitzkrieg Bop” dos Ramones que podemos ouvir assim que Peter finalmente saí do colégio. Bons designs de personagens e um tom cômico que nunca se sobressai ao arco dramático proposto. É comum em longas de super-heróis um clímax grandioso que coloca o mundo em risco, o que não acontece no novo filme do teioso. A luta final é menor mais simples e menos mirabolante. Afinal, o Homem-Aranha é apenas um adolescente que dispara suas teias e combate o crime ao mesmo tempo que tenta entender quem é.      

Obs. Temos duas cenas pós-créditos. Uma logo após ao filme e outra no final de todos os créditos. Essa última uma das melhores até agora.

Nota do Sunça:

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