Sunça no Streaming – Din e o Dragão Genial – Netflix (2021)

Din e o Dragão Genial acompanha Din, um estudante universitário de origem humilde que possui grandes sonhos. Em um belo dia, o jovem conhece Long, um dragão com grandes poderes e capaz de atender desejos. Juntos, partem em uma aventura muito engraçada em Xangai em busca da amiga de infância de Din e de respostas para seus questionamentos da vida.

93 min – 2021 – China, EUA

Dirigido por Chris Appelhans. Roteirizado por Xiaocao Liu e Chris Appelhans. Com John Cho, Jimmy Wong, Natasha Liu Bordizzo, Constance Wu, Will Yun Lee, Bobby Lee, Jimmy O. Yang, Ian Chen, Alyssa Abiera, Max Charles, Alexandre Chen, Gabriel Lee.

“Din e o Dragão Genial” é uma animação sobre origens e cultura. Nela Din (Voz original de Jimmy Wong) é um garoto de origem simples que vê sua amiga de infância mudar de classe social e crescer em uma vida rica longe da vila em que nasceram. Ele conhece um dragão mágico e ganha a possibilidade de fazer três pedidos. Resolve utilizá-los para impressionar o pai rico de Li Na (Voz original de Natasha Liu Bordizzo) sua antiga amiga. O longa se estabelece como uma releitura chinesa da história clássica do Aladim. Porém é sobre amizade, origens simples e uma crítica a constante busca por riquezas. Além de retratar bem a dificuldade nas relações sociais entre classes na China e em outros lugares no mundo. 

Din quer reencontrar Li Na, eles ficaram dez anos separados e o protagonista vai fazer de tudo para se reaproximar da amiga. É um rapaz estudioso e respeitoso mas que acaba perdendo de vista sua família e suas origens.  Long (Voz original de John Cho), o dragão, quer realizar os desejos de seu mestre o mais rápido possível para se livrar de sua maldição e de seu bule de chá. Enquanto realiza seus desejos, Din é perseguido por capangas de um homem que deseja o bule de chá a qualquer custo. Até aqui temos uma história conhecida e bastante difundida em filmes, livros e animações. Porém, é no personagem do dragão que a obra acerta e inova. Long observa Din em sua vida, e, aos poucos, passa a perceber o valor da simplicidade, a importância do carinho e do amor. É o dragão mágico que realmente se modifica e têm uma lição a aprender com Din.  

Tematicamente o filme aborda as diferenças de classes e a valorização da família e origens. Além de expor como em algumas sociedades mulheres ainda têm pouca autonomia em suas decisões. Visualmente possui cores vibrantes e um design de personagens cativante e interessante. A vila pobre onde o casal cresceu é retratada com muitas cores alegres e vibrantes. Já a Shanghai moderna tem cores frias e clima triste.  O diretor Chris Appelhans faz um bom trabalho na direção. 

“Din e o Dragão Genial” tem um visual lindo e personagens carismáticos. Apresenta temas importantes, mas não se aprofunda em sua crítica social. Long entende seu “trabalho” como uma forma de enriquecer seu mestre, não vê valor na amizade. Nem mesmo hesita dizer que é desperdício gastar um  desejo com amizade. É com Din que ele aprende o valor da família, de suas origens e a importância da simplicidade. São conceitos atualmente esquecidos e que precisam ser resgatados.

 

Nota do Sunça:

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Sunça no Streaming – A Dama e o Vagabundo – Disney Plus (2019)

Relançamento do clássico de 1955, que conta a história de amor entre a Dama, uma cocker spaniel mimada, e um vira-lata chamado Vagabundo, que salva a cadelinha do perigo de vagar sozinha perdida pelas ruas.

104 min – 2019 – EUA

Dirigido por Charlie Bean e roteirizado por Andrew Bujalski. Com Tessa Thompson, Justin Theroux, Kiersey Clemons, Thomas Mann, Ashley Jensen, Benedict Wong, Janelle Monáe, Yvette Nicole Brown, Arturo Castro, Adrian Martinez, Sam Elliott, Ken Jeong, F. Murray Abraham, Clancy Brown, Nate “Rocket” Wonder, James Bentley e Parvesh Cheena.Hollingworth, Bill Paterson, Ben Crompton, Jane Lapotaire e Ashleigh Reynolds.

Em 2019 “A Dama e o Vagabundo”, uma das animações clássicas da Disney, ganhou a sua versão live-action. O longa faz parte das produções originais do novo serviço de streaming do estúdio. O Disney Plus chegou ao mercado brasileiro em novembro de 2020. A refilmagem é uma produção mais singela e com orçamento menor do que as re-visitas aos clássicos destinados ao cinema. O que não compromete o resultado, uma vez que o diretor Charlie Bean não se mostra interessado em um uso excessivo de computação gráfica. Utiliza os efeitos visuais pontualmente e sempre em prol da narrativa, quando pode, coloca os verdadeiros astros em cena. O elenco canino.  

O encanto da animação se mostra também presente na versão “carne e osso” que não altera muitos elementos do original. As mudanças propostas são bem vindas, novas sequências são adicionadas e erros do passado são apagados. Um exemplo é a nova sequência dos gatos siameses da Tia Sarah (Yvette Nicole Brown), que corrige a representação racista e estereotipada de asiáticos. Temos uma breve sequência sobre o passado do Vira-lata, que diz muito sobre a sua maneira de ver a vida e melhora seu arco narrativo. O filme apresenta um elenco diverso, em seu núcleo humano o casal principal é uma mulher negra casada com um homem branco. Algo que o racismo da época não permitiria e portanto um esforço importante e bem vindo da produção.

Dama (Tessa Thompson) é uma cocker spaniel de uma família rica, ela é o centro do universo para o casal. Com a chegada do bebê Dama sente perder importância e teme por seu lugar na família. Ela acaba conhecendo um vira-lata sem nome, malandro acostumado a viver nas ruas apelidado pelos amigos de Vagabundo (Justin Theroux). Após um incidente, Dama e o Vagabundo acabam passando um dia juntos e se conhecendo melhor. Assim como no original, a obra apresenta a vida confortável, pacata e segura da alta sociedade. As contrapondo com as dificuldades de quem precisa se valer da malandragem para sobreviver. A denúncia e crítica da diferença de classes sociais está presente e funciona. Ainda que o filme amenize todo o discurso e mensagem sobre a dicotomia de classes. 

A dupla de animais protagonista é carismática e cativante. As vozes de Tessa Thompson e Justin Theroux funcionam muito bem. Os cachorros coadjuvantes também foram escolhas certeiras e  finalizam o acerto desse elenco canino.  Sam Elliott como Trusty está perfeito parece ter nascido para esse papel. Ashley Jensen como Jock, Janelle Monaé como Peg e Benedict Wong como Bull são ótimos. Vale um destaque para a nova versão da canção “He’s a Tramp” que ficou a cargo de Janelle Monaé.  Os cachorros são bem treinados e participam ao longo de todo o filme, nas sequências em que efeitos especiais foram necessários por serem perigosas e/ou inviáveis para os caninos a computação gráfica funciona. O longa opta por uma estética mais cartunesca possibilitando mais expressividade, emoção e simpatia. Já o elenco humano, não é tão atraente. O casal composto pelo personagem Querido Jim (Thomas Mann) e Querida (Kiersey Clemons) são rasos e unidimensionais. Assim como o vilão dono da carrocinha (Adrian Martinez) que apesar de uma interpretação mais caricata e divertida é o vilão malvado tradicional que nutre um ódio sem explicação pelo Vagabundo. O destaque dos seres humanos é a dupla F. Murray Abraham e Arturo Castro. Eles são responsáveis por trazer na nova versão a cena mais icônica da animação, e são muito bem sucedidos. É perceptível o cuidado que a produção teve com essa sequência que funcionou tão bem quanto na original. É uma ótima performance da canção clássica “Bella Notte”. 

Algo se perde nas adaptações de clássicos animados para suas versões live-action, principalmente nas sequências musicais. A tentativa de deixar os acontecimentos mais reais nos rouba de algo mágico e único que apenas as animações podem trazem.  O novo “A Dama e o Vagabundo” é uma obra despretensiosa que refaz o original mantendo o importante e corrigindo erros e injustiças históricas. Evoca um sentimento de nostalgia, mas certamente pode e deve cativar e conquistar novos espectadores.  

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Debi & Lóide: Dois Idiotas em Apuros (1994)

Lloyd Christmas (Jim Carrey) e Harry Dunne (Jeff Daniels) são dois homens extremamente estúpidos. Quando Lloyd leva até o aeroporto Mary Swanson (Lauren Holly), uma bela mulher que vai para Aspen, Colorado, acredita que Mary perdeu uma mala. Na verdade ela “esqueceu” no saguão, pois dentro dela está uma grande soma para pagar o resgate do marido, mas antes que os seqüestradores peguem a valise Lloyd a recupera e tenta lhe entregar. Como o vôo já partiu e ele se sente atraído por Mary, convence Harry para irem até Aspen para devolver o dinheiro. Na viagem se envolvem em várias confusões, além de serem perseguidos pelos seqüestradores.

107 min – 1994 – EUA

Dirigido por Peter Farrelly. Roteirizado por Peter Farrelly, Bennett Yellin e Bobby Farrelly. Com Jim Carrey, Jeff Daniels, Lauren Holly, Mike Starr, Karen Duffy, Charles Rocket, Victoria Rowell.

Não existe em “Debi & Lóide” uma crítica social forte. Nem mesmo um chamado a uma reflexão sobre nossos conceitos e nossas vidas. O que temos é um convite para rir sobre as grandes bobagens da vida, que normalmente encaramos com seriedade e preocupação. O longa de estreia dos irmãos Peter e Bobby Farrelly apresenta uma trama despretensiosa com protagonistas ingênuos em uma estrutura narrativa simples. O humor, que a primeira vista pode soar estúpido, causa risadas espontâneas em uma experiência agradável.   

O filme entrou em cartaz no Brasil em 1995, eu tinha nove anos. Desde então assisti a produção diversas vezes. Eu era também uma grande fã da série animada “Os Debiloides” produzida pela Hanna-Barbera. Vinte e cinco anos se passaram desde a estreia da obra, e ao assistir novamente me peguei dando risadas em piadas que eu já sabia de cor. Dando gargalhadas espontâneas ao relembrar momentos inspirados de Jim Carrey e Jeff Daniels. Seria mais fácil e mais impressionante elogiar ou enaltecer um longa que apresente um humor inteligente ou reflexivo. Mas a verdade é que fazer rir é difícil, o que é engraçado para um é indiferente para o outro. Imagine então analisar uma comédia. Mas continuar rindo de uma produção, vinte cinco anos depois de sua estreia. Me mostra que o filme não só é bem sucedido em seu objetivo principal, mas que também existe mais do que apenas idiotices naquelas piadas e interpretações. Se você revira os olhos só de pensar nesse filme e não tem paciência para seus gracejos. Respira fundo, deixe a pretensão de lado e pega na mão do “Tio Sunça”. Eu vou te mostrar que esse besteirol, não é tão besta assim. É besta, mas é também uma das grandes comédias dos anos noventa.

Na trama, escrita por Peter Farrelly, Bennett Yellin e Bobby Farrelly, acompanhamos o ex motorista de limusine Lloyd Christmas (Jim Carrey) e ex cuidador de cães Harry Dunne (Jeff Daniels). São amigos fracassados, que moram juntos e almejam abrir uma loja para vender minhocas. Ambos perdem seus empregos e decidem atravessar o país de carro para entregar uma maleta para Mary Swanson (Lauren Holly). Mary foi a última passageira de Lloyd e esqueceu a mala no aeroporto. O que eles não sabiam é que bandidos estavam interessados naquela bagagem de mão e passam a ser perseguidos enquanto viajam em sua van canina tranquilamente pelo país.   

A dupla protagonista é carismática. Harry e Lloyd são sim estúpidos, mas é na ingenuidade e infantilidade dos personagens que está o encanto. São duas crianças em um mundo de adultos. Eles não seguem as mesma regras e não respeitam os limites impostos por nossa sociedade. A dinâmica entre os atores é ótima o que deixa a simpatia por aqueles sujeitos ainda maior. O carisma dos dois é impressionante. É legal perceber, que a sua maneira, um completa o outro. Lloyd o infantil e sonhador e Harry o mais realista e preocupado. Mas ambos longe de serem maduros, é claro. Carrey e Daniels entregam tão bem essas crianças em corpos de adultos, que piadas com um potencial para falhar funcionam. Frases como  “Quer ouvir o som mais chato do mundo?” ou “De acordo com este mapa, só andamos dez centímetros” nos fazem rir. Comportamentos como vender um periquito sem cabeça para um menino cego e lamber metal congelado nos parece algo natural. E causa gargalhadas. 

O humor do longa superficialmente é besta. Mas existe um esforço dos irmãos Farrelly em colocar piadas mais trabalhadas e de ousar nos gracejos. Boas sacadas como Lloyd comemorar a chegada do homem a lua, estão presentes em toda a trama. Na obra temos sequências politicamente incorretas, um exemplo, é quase tudo o que envolve o periquito Petey. Algumas piadas chegam a flertar com a escatologia. A sequência do policial bebendo sua “cervejinha” nos mostra isso.  E o que dizer de uma das cenas mais marcantes, e engraçadas, que envolve Harry e o laxante. É admirável a coragem dos diretores de tentar fazer com que os espectadores deixem de lado seus códigos morais e altivez, para rir dos acontecimentos banais do filme e das nossas vidas.   

São atuações impecáveis com um humor certeiro e um filme de estrada com uma ótima trilha sonora. Crash Test Dummies, Butthole Surfers, Deee-Lite e The Primitives são alguns dos nomes presentes nas canções do longa. Ouvir Pretty Woman de Roy Orbison enquanto eles se arrumam para o baile, é um deleite. Quando eles brigam e se separam temos “Mmm Mmm Mmm Mmm” do Crash Test Dummies. O que dizer de quando Lloyd é assaltado por uma senhora ao som de “Red Right Hand” de Nick Cave & The Bad Seeds. 

Jim Carrey e Jeff Daniels estão ótimos juntos, uma boa química que rende carisma e simpatia. São crianças brincando no mundo dos adultos e que nos convidam a brincar com elas. Se descermos momentaneamente de nossos pedestais e nos permitir brincar, podemos chegar a conclusão de que Lloyd só que ser aceito e que Harry se esforça para ajudar um amigo. Ou então, quem sabe, assim como a Marry, podemos nos divertir brincando na neve?

 Senso de humor varia de pessoa para pessoa, e no final o que importa para um filme do gênero é se ele te faz rir. “Debi & Loide” me faz gargalhar.

Nota do Sunça:

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Sunça no Streaming – Destacamento Blood – Netflix (2020)

Destacamento Blood acompanha um grupo de quatro veteranos de guerra afro-americanos que retornam ao Vietnã buscando os restos mortais do líder de seu antigo esquadrão e de um tesouro enterrado, tentando encontrar suas inocentes perdidas pelo caminho.

154 min – 2020 – EUA

Dirigido por Spike Lee. Roteirizado por Danny Bilson, Paul De Meo, Kevin Willmott, Spike Lee. Com Chadwick Boseman, Jean Reno, Paul Walter Hauser, Delroy Lindo, Jasper Pääkkönen, Mélanie Thierry, Van Veronica Ngo, Jonathan Majors, Clarke Peters, Isiah Whitlock Jr., Norm Lewis, Rick Shuster, Casey Clark, Alexander Winters, Mav Kang.

“Destacamento Blood”, novo filme do cineasta Spike Lee, relaciona traumas de guerra com desigualdade racial e o imperialismo norte-americano. A obra começa com uma frase de Muhammad Ali e se encerra com um discurso de Martin Luther King. O diretor opta por colocar essas duas figuras importantes na busca pela igualdade de direitos civis, em momento que se pronunciavam contra a guerra do Vietnã. Ali teve problemas em sua carreira devido sua postura de oposição à guerra e Martin Luther King acabou sendo assassinado um ano após um de seus mais famosos pronunciamentos também contrário à guerra. “Destacamento Bood” é um filme atual, cidadãos afro americanos continuam sofrendo de brutalidade do governo dos EUA. O exemplo mais recente é o assassinato de George Floyd por um policial branco na cidade de Minneapolis. Vidas negras importam e essa é uma das fundamentais discussões que o novo filme de Lee aborda.

Quatro veteranos da guerra voltam ao Vietnã com autorização do Pentágono e do governo vietnamita para resgatar o corpo de seu comandante que faleceu durante a guerra no meio da selva. Os cinco negros formavam o grupo conhecido como Bloods. O comandante (Chadwick Boseman), apelidado de Stormin’ Norman pelo batalhão, é sempre mencionado com respeito e reverência, é um herói. O grupo é formado pelo soldado-médico Otis (Clarke Peters), o engraçado Eddie (Norm Lewis), o debochado Melvin (Isiah Whitlock Jr.) e Paul (Delroy Lindo) um personagem complexo, controverso e interessante. É com esse grupo que Spike Lee faz suas homenagens e críticas ao cinema de guerra dos EUA. “Apocalypse Now” recebe várias homenagens desde seu nome escrito em tela até recriações de cenas e sequências. As críticas ficam para filmes como “Os Boinas-Verdes” dirigido e estrelado por John Wayne, “Rambo” e até o Chuck Norris. O longa chega a colocar um de seus personagens comentando como Hollywood tentou vencer a guerra nos cinemas e também como nas telonas a guerra é sempre protagonizada por brancos. Ainda que 32% dos soldados que lutaram na selva fossem negros. 

O roteiro é esperto ao adicionar o elemento ganância a trama. Além de resgatar os restos mortais de Norman, os bloods também buscam  quase dezessete milhões de dólares em barras de ouro. Assim Spike Lee cria mais um subtexto e traz uma reflexão sobre imperialismo norte americano. O grupo protagonista pretende construir sua riqueza utilizando guerra e violência. As reflexões e discussões propostas não são gratuitas. Ajudam na narrativa e desenvolvem os personagens do longa. Assim como no clássico “ O Tesouro de Sierra Madre” do diretor John Huston percebemos o impacto dessa futura riqueza em cada um dos personagens e como a ganância pode moldar comportamentos e destruir amizades e relacionamentos.  

Durante a obra temos saltos temporais. Acompanhamos o grupo no presente e temos alguns flashbacks deles durante a batalha. A guerra acaba para os países e suas relações internacionais, mas nunca para seus soldados que carregam marcas físicas e psicológicas o resto de suas vidas. Percebemos o fardo que os personagens carregam, a dificuldade em retornar à vida “normal” e relações familiares, o personagem David (Jonanthan Majors) filho de Paul ilustra bem isso e serve como um contraponto ao grupo de ex combatentes. O diretor também nos mostra de maneira visual como seus protagonistas nunca saíram da luta, ele os representa nos flashbacks com o mesmo físico do presente. Os quatro boods restantes também demonstrantam as divergências existente dentro de um mesmo grupo. É nesse momento que Paul acaba ganhando mais destaque, sua paranoia e dor o impossibilita de perceber quem é o verdadeiro inimigo e o faz buscar refúgio e demonstrar lealdade justamente por aqueles que ele deveria se opor. Delroy Lindo apresenta uma ótima performance com direito a dois monólogos de emocionar. E se um boné serve como elemento narrativo para mostrar a diferença ideológica dos personagens, vê-lo ressurgir em cena a cada nova tragédia com os dizeres “Make America great again” é uma mensagem fortíssima. 

Spike Lee alinha sua narrativa ficcional a imagens reais da guerra e de personagens históricos importantes. O longa traz peças documentais chocantes e emocionantes. Durante os momentos “históricos” a obra opta por uma razão de aspecto de 4:3, quanto estamos no “presente” a razão de aspecto assume o seu formato padrão de widescreen. O diretor de fotografia Newton Thomas cria diferentes tratamentos de cor, luz, saturação e granulação da imagem para cada época retratada. Tudo é muito bem filmado, planejado e montado. Na trilha sonora, e até no próprio texto do filme, Marvin Gaye se destaca. O compositor Terence Blanchard sabe incluir Gaye em momentos chave e também pontuar a projeção com elementos de guerra e de crítica a guerra. Ele cria e ameniza a tensão nos tempos certos. Até mesmo a ópera de Richard Wagner, Cavalgada das Valquírias, surge quando o grupo parte para a busca do tesouro. Em um dos vários acenos a “Apocalypse Now”. “Destacamento Blood” é um divertido e violento filme de ação. Têm um ótimo equilíbrio de comédia, drama e suspense. A obra alcança um patamar mais elevado ao trazer discussões e reflexões importantes. Um garoto vietnamita sem uma perna traça um paralelo com as minas terrestres deixadas pelos EUA no Vietnã. E mostra como anos depois a política internacional norte-americana ainda causa estragos. Um personagem que leva sua visão imperialista as últimas consequências causa a destruição de tudo e todos ao seu redor. Iniciar a obra com Muhammad Ali fazendo uma comparação entre cidadãos vietnamitas e os negros enviados para combatê-los e encerrar com as palavras de Langston Hughes no discurso de Martin Luther King: “América nunca foi a América para mim, e ainda assim eu juro… América será! ” é uma mensagem direta e profunda.

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Sunça no Cinema – Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica (2020)

No enredo de Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica, em um local onde as coisas fantásticas parecem ficar cada vez mais distantes de tudo, dois irmãos elfos adolescentes embarcam em uma extraordinária jornada para tentar redescobrir a magia do mundo ao seu redor.

102 min – 2020 – EUA

Dirigido por Dan Scanlon. Roteirizado por Dan Scanlon, Jason Headley, Keith Bunin. Com Tom Holland, Chris Pratt, Julia Louis-Dreyfus, Octavia Spencer, Mel Rodriguez, Kyle Bornheimer, Lena Waithe, Ali Wong, Grey Griffin, Wilmer Valderrama, John Ratzenberger e Tracey Ullman.

“Um morto muito louco” (1989) em uma aventura de RPG, ambientada no mundo contemporâneo, habitado por criaturas mágicas e mitológicas que cansadas dos esforços necessários para dominar a mágica, trocam a magia pela tecnologia. É para essa sessão de uma jogatina do “Dungeons & Dragons” versão Pixar que somos convidados a participar. Mas a construção desse universo cativante e o convite a explorar as possibilidades dos conceitos do RPG em um cenário urbano é apenas a porta de entrada  para uma reflexão sobre acreditar em você mesmo, as relações familiares e o amor fraterno. “Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica” ganha uma relevância ainda maior ao pincelar uma subtrama sobre a importância de relembrar e aprender com o passado, algo que nesse momento me parece imprescindível. 

  Ian Lightfoot (Tom Holland) é um elfo que acaba de completar dezesseis anos. Ele recebe de sua mãe Laurel (Julia Louis-Dreyfus) um presente póstumo de seu pai. Ian não conheceu o pai que faleceu antes dele nascer. O presente é um cajado mágico que deveria trazer o pai de volta a vida por um dia, para que ele pudesse conhecer Ian e rever seu filho mais velho  Barley (Chris Pratt). Quando algo sai errado os irmão partem uma “quest” para encontrar a pedra mágica que pode corrigir o feitiço. 

A obra é bem humorada, repleta de piadas visuais e muito humor físico. Sabe conduzir e tratar com cuidado e leveza temas familiares mais profundos e sérios, como o luto pela perda do pai, o relacionamento entre irmãos e a dificuldade de uma mãe solteira criar os filhos sozinha. Isso em um universo ambicioso que sabe brincar, explorar e subverter as possibilidades da premissa apresentada. Nessa ambientação unicórnios são pragas urbanas, dragões são animais de estimação e cogumelos gigantes viram casas em um subúrbio americano, aparentemente habitado pela classe média. É um mundo diverso onde as mais variadas criaturas convivem cotidianamente. Um olhar mais atento vai perceber ali a caracterização de latinos, negros, a população LGBTI+, dentre outros. É louvável o cuidado em retratar minorias. E é um zelo que vai além da mera presença na trama, existe toda uma atenção com as vozes, sotaques e até mesmo o design dos personagens. 

Os protagonistas são ótimos. A relação entre eles cativa e aumenta nosso vínculo emocional com o filme. Barley é confiante, corajoso e atrapalhado. É fascinado com o passado, os jogos de RPG e tudo que é relacionado a magia. Ian é inseguro, amedrontado e introspectivo. Juntos os irmãos, que parecem ser opostos, aprendem que não são tão diferentes assim. Tom Holland consegue passar a insegurança e frustração de Ian. Chris Pratt traz muito humor e uma energia contagiante a Barley. Outra dupla igualmente importante é a mãe Laurel Lightfoot (Julia Louis-Dreyfus) e  Die Manticore (Octavia Spencer), juntas protagonizam momentos importantes e têm uma ótima dinâmica cômica. 

Em um filme da Pixar nada é aleatório. Toda a construção do universo, o cuidado com seus personagens, os temas escolhidos e a qualidade técnica têm função narrativa. É no momento onde todas essas linhas se encontram que temos o ponto mais alto da projeção. Nem as aulas de Zumba de Laurel, que é uma piada visual do início da trama, são esquecidas ao final da projeção. No climax a ação se une a aventura e juntos se mesclam com a carga dramática dos personagens sem se esquecer das “doses” de humor. Só isso já seria suficiente para um encerramento satisfatório, mas “Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica” vai além e subverte o relacionamento dos irmãos com o pai e apresenta um momento de epifania de Ian.   

Trazendo uma discussão Importante sobre as relações familiares, humor físico e visual com “ajuste fino” e a construção de um universo rico e cativante, com direito a fadas motoqueiras que nasceram para voar.  “Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica” é divertido, emocionante e relevante. E sim, mais uma vez a Pixar nos faz chorar.  

(“Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica” entrou para o acervo da Amazon Prime desde o último domingo, dia 10 de maio.)

Nota do Sunça:

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Sunça no Streaming – Dias Sem Fim – Netflix (2020)

Um jovem (Ashton Sanders) passa seus primeiros dias na cadeia refletindo sobre os motivos, pistas e sinais que o levariam a ser um criminoso, desde sua vida adulta até os primórdios de sua juventude. A sinopse oficial ainda não foi divulgada.

121 min – 2020 – EUA

Dirigido e roteirizado por Joe Robert Cole. Com Ashton Sanders, Jalyn Hall, Jeffrey Wright, Yahya Abdul-Mateen, Isaiah John, Kelly Jenrette, Shakira Ja-nai Paye, Regina Taylor, Christopher Meyer, Andrea Lynn Ellsworth, Andrew Lopez, Baily Hopkins, Gretchen Klein e Andray Johnson.

Jahkor (Ashton Sanders) é um jovem que após assassinar um casal a sangue frio é condenado a prisão perpétua. Assim começa “Dias sem fim”. O longa, dirigido por Joe Robert Cole (Roteirista de Pantera Negra), divide sua narrativa entre presente e passado. Acompanhamos o convívio do protagonista com os amigos de infância, sua conturbada relação com o pai J.D. (Jeffrey Wright) e os meses antes do crime. É uma trama densa, carregada de drama e violência. Nela tentamos entender quem é Jahkor? É um garoto que via em seu talento musical uma alternativa para se afastar das atividades criminosas e da violência cotidiana em que estava inserido. Um jovem que não consegue evitar o cruel destino de um vida de violência, ou um criminoso que escolhe ter as ações brutais que executa. Essa resposta não nos é entregue. Como a própria obra coloca, não é possível saber quem alguém realmente é, sem andar em seus sapatos. Somos o melhor que poderíamos ser? Ou somos o melhor que nosso meio nos permite ser? Jah, como é conhecido o protagonista, parece marcado para uma vida de crimes, dor e brutalidade. Em suas próprias palavras: “Quem vê muita violência acaba se acostumando.”

O roteiro, escrito pelo diretor, não nos poupa de nada. É uma sociedade perseguida pelo sistema, é uma existência dura em que até mesmo aqueles que optam por uma vida sem criminalidade são punidos. Lamark (Christopher Meyer) é um exemplo disso, é também, a personificação do desejo de Jah de se afastar daquela vida. Na qual, em nenhum momento ele se sente confortável, livre e em paz. Assim também seguimos ao longo da projeção, desconfortáveis, presos e cansados.  Essa é a proposta do diretor, que nos faz lutar junto de Jah pela sobrevivência e perceber que o meio em que vivemos é definitivo para o futuro que vamos ter. São cenas lentas e propositalmente arrastadas, que nos perturbam, incomodam e que, em alguns momentos, despertam a vontade de fugir e de ficar livre daquilo tudo. É assim que a Jah enxerga sua vida. 

O diretor Cole não busca motivos ou justificativas para seus personagens. Jahkor, seu amigo T.Q. (Isaiah John) e seu pai J.D. têm consciência de suas atitudes. Sabem as consequências e estão cientes da brutalidade de toda a situação. É um roteiro que traz reflexões. Se você parece destinado a seguir os passos de seu pai e tudo a sua volta te oprime e violenta, talvez não seja melhor fazê-lo? É possível se afastar afastar de uma vida de crimes quando a violência é cotidiana? Em uma família desconstruída, vivendo em uma sociedade esquecida pelo governo, perseguida pelas autoridades e oprimida pela sociedade, é possível fazer algo além de sobreviver?  Jah só parece se sentir livre após cumprir seu cruel “destino”. Na prisão consegue pensar no futuro de sua família, descansar e restaurar relações com o pai. 

Com um elenco de peso apresentando boas atuações, “Dias Sem Fim” é um filme que não procura ser uma experiência agradável. É uma vivência dura, forte e intensa.  Não existem respostas fáceis.

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Deadpool 2 (2018)

Quando o super soldado Cable (Josh Brolin) chega em uma missão para assassinar o jovem mutante Russel (Julian Dennison), o mercenário Deadpool (Ryan Reynolds) precisa aprender o que é ser herói de verdade para salvá-lo. Para isso, ele recruta seu velho amigo Colossus e forma o novo grupo X-Force, sempre com o apoio do fiél escudeiro Dopinder (Karan Soni).

120 min – 2018 – EUA

Dirigido por David Leitch, roteirizado por Paul Wernick, Rhett Reese e Ryan Reynolds. Com: Ryan Reynolds, Josh Brolin, Zazie Beetz, Andre Tricoteux, Brianna Hildebrand, Morena Baccarin,Julian Dennison, Karan Soni, Leslie Uggams, Shioli Kutsuna, Stefan Kapicic, T.J. Miller e Terry Crews.

Em 2016 “Deadpool” inovou e ousou em seu primeiro longa solo. A obra foi um sucesso e acabou se tornando a maior bilheteria de um filme com classificação restrita. Isso foi determinante para a FOX aceitar apostas como “Logan (2017)” e para a Marvel Studios arriscar inovações no gênero como a comédia “Thor: Ragnarok (2017)”. Nesta nova empreitada David Leitch assume a direção. O longa exalta a ação sem deixar de lado a comédia, o deboche, as referências à cultura pop e as quebras da quarta parede. A obra se mostra mais violenta que a original, perfurações de balas, cabeças arrancadas e dilaceradas, corpos torcidos são comuns ao longo da trama.     

Wade Wilson (Ryan Reynolds) continua seu relacionamento com Vanessa (Morena Baccarin) e assumiu, como Deadpool, uma carreira internacional de mercenário. Matando apenas “caras maus” em suas próprias palavras. Um soldado do futuro, Cable (Josh Brolin), volta ao passado com o objetivo de assassinar um vilão em potencial. O enredo é simples, Cable está atrás do garoto Russell (Julian Dennison) e Deadpool tenta impedi-lo atrás de uma redenção pessoal. Para isso o protagonista conta com a ajuda de Dominó (Zazie Beetz), Colossus (Andre Tricoteux) e Negasonic (Brianna Hildebrand). As novas aquisições do elenco são boas. A obra simplifica a origem e mitologia de seus novos personagens, o que é um aspecto positivo já que são bastante complexas e confusas nas hqs. A origem de Cable nos quadrinhos é um bom exemplo disso. Josh Brolin está ótimo como o personagem, apesar de não ter o tamanho correto como bem demonstrado pelo anti herói. Zazie Beetz constrói uma ótima Dominó e o diretor é bem sucedido em demonstrar seus poderes de forma interessante e empolgante. Assim como em 2016 o design de Colossus continua melhor do que nos demais filmes da franquia dos “X-Men”. Mais uma vez é retratado de forma interessante e cômica e sua relação com Wade se aprofunda mais. É um ponto forte a preocupação de um com o outro. É digno de aplausos de que em meio a tudo isso, o filme ainda se esforce para destacar e abrir espaço para uma heroína negra, um casal lésbico interracial, um personagem indiano e um herói obeso que em um momento específico critica a indústria pelo preconceito com os “heróis gordinhos”.

David Leitch trás seu ponto forte para Deadpool 2, a ação é melhor planejada, coreografada e filmada. Leitch demonstrou bem em em “John Wick: De Volta ao Jogo”(2014) no qual foi  co diretor e em “Atômica” (2017) o qual dirigiu, seu potencial para sequências realistas, exageradas e violentas. E aqui, sabe dosar bem essas cenas com as tiradas cômicas, as referências e personagens bem humorados. A trilha sonora merece destaque. Todo o longa é acompanhado de hits românticos oitentistas. A-Ha, Air Suply, e Beyoncé entram em momentos chaves que agregam e trazem mais humor para a história. Até Celine Dion têm seu momento com a canção “Ashes” em uma ótima cena inicial que remete a nosso querido 007. E sem cair na mesmice como outros filmes de herói a obra consegue elaborar um confronto final sem sequências gigantes e mirabolantes. Na luta derradeira são vários personagens, muitos efeitos mas com uma pretensão menor. Um acerto que não aconteceu no Deadpool de 2014.

“Deadpool 2” traz novidades em relação a seu antecessor, cria momentos marcantes e personagens interessantes. Sabe usar e amplificar o que deu certo no original trazendo consigo uma desenvoltura e escatologia própria. Sua trama irreverente sabe surpreender o espectador, causar boas risadas, chocar e até trazer dramas pessoais para o herói. As inúmeras referências divertem e entretêm, são temas de piadas e não poupam ninguém, nem mesmo o próprio Reynolds. Vários momentos remetem aos quadrinhos, temos ótimas e surpreendentes participações especiais e um vilão inesperado e finalmente é representado da maneira correta. Seu CGI deixa um pouco a desejar, mas vai causar arrepios nos fãs de quadrinhos (Causou em mim!) Acho que Ryan Reynolds encontrou seu papel definitivo na cultura pop.

Obs. Têm uma cena após os créditos iniciais. E ela é ótima.

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Sunça no Cinema – Dunkirk (2017)

Na Operação Dínamo, mais conhecida como a Evacuação de Dunquerque, soldados aliados da Bélgica, do Império Britânico e da França são rodeados pelo exército alemão e devem ser resgatados durante uma feroz batalha no início da Segunda Guerra Mundial. A história acompanha três momentos distintos: uma hora de confronto no céu, onde o piloto Farrier (Tom Hardy) precisa destruir um avião inimigo, um dia inteiro em alto mar, onde o civil britânico Dawson (Mark Rylance) leva seu barco de passeio para ajudar a resgatar o exército de seu país, e uma semana na praia, onde o jovem soldado Tommy (Fionn Whitehead) busca escapar a qualquer preço.

107 min – 2017 – EUA

Dirigido e roteirizado por Christopher Nolan. Com Fionn Whitehead, Jack Lowden, Harry Styles, Aneurin Barnard, James d’Arcy, Barry Keoghan, Kenneth Branagh, Cillian Murphy, Mark Rylance e Tom Hardy.

Texto originalmente publicado no site Cinema e Cerveja.

A cidade de Dunkirk, Dunquerque no Brasil, foi palco de um importante momento da segunda guerra mundial. A Alemanha nazista estava no auge, e encurralou 400.000 soldados dos Aliados. (Britânicos e franceses em sua maioria) Cercados e indefesos na costa de Dunquerque a única opção era sobreviver aos constantes ataques alemães e atravessar o canal da mancha de volta para casa. Foi uma derrota para a Inglaterra e França. Uma retirada que só foi possível devido a ajuda de civis. Esse foi o momento que Christopher Nolan escolheu para retratar em seu novo longa metragem, uma fuga heróica.

Ao longo de todo o filme o clima é de pânico a tensão é constante. Em seus momentos iniciais “Dunkirk” já nos prepara para o que está por vir. Tommy (Fionn Whitehead) mal entra em cena e já é atacado, foge, tenta pular um muro e se esconde das balas dos nazistas. Muita correria e violência moderada. Nolan escolheu esse episódio da segunda grande guerra com o objetivo de criar tensão e clima de ameaça constante. Quase não vemos o inimigo, os nazistas praticamente não aparecem em cena e se tornam uma ameaça invisível, um perigo onipresente. Os soldados estão encurralados em um praia, não têm o que fazer a não ser esperar o resgate e sobreviver. Presenciamos tiros, bombardeios, explosões e torpedos sem nunca saber de onde estão vindo. Assim o diretor é bem sucedido em nos colocar no meio da batalha e como os soldados tudo o que sentimos é desespero, impotência e tensão. Como não existe um “vilão” ficamos indefesos e testemunhamos a futilidade diante de tantas mortes.

O longa se divide em três núcleos a terra, o mar e o ar. A trama é fragmentada e os núcleos acontecem em paralelo, porém em diferentes momentos do tempo. Cada ponto de vista têm uma duração. A parte terrestre acontece ao longo de uma semana, a marítima em um dia e a aérea em uma hora. Um recurso inteligente que agrega a narrativa.  Somos apresentados a vários personagens o soldado Tommy que apenas quer sobreviver, um comandante que organiza a retirada (Kenneth Brannagh), um dos navegadores civis que tornaram possível a fuga do exército (Mark Rylance) e um piloto em batalhas aéreas (Tom Hardy). Os personagens quase não possuem falas e são pouco aprofundados, durante boa parte do enredo estamos diante de um filme mudo. O que faz sentido, o importante é o momento, a experiência que estão vivenciando. Não existe um protagonista, todos os personagens têm o mesmo peso e envolvimento na trama.   

A fotografia de Hoyte Van Hoytema impressiona, a tonalidade cinza e a névoa aumentam a impressão de que tudo está perdido e que não existe mais esperança. É um visual impressionante. Cenas dentro de embarcações que sufocam dão lugar a planos abertos na praia com milhares de soldados ser ter para onde correr dos constantes ataques alemães. Os combates aéreos são bem feitos e realistas.  A opção de Christopher Nolan em não utilizar CGI e sim barcos e aviões reais e cerca de 4 mil figurantes se mostra muito acertada. Junto a tudo isso temos a ótima trilha de Hans Zimmer mesclada com efeitos sonoros. Explosões, tiros e aviões em velocidade constantemente quebram momentos de silêncio aumentando a tensão e a imersão do público na narrativa.

Nolan escolhe retratar um curioso episódio da segunda guerra mundial, uma derrota que entrou para história como uma retirada heroica. Mas na verdade sua intenção era nos mostrar como a guerra é cruel e desumana, nos colocando no meio da batalha. A história não linear, os poucos diálogos, o realismo, a trilha e os efeitos sonoros são regidos pelo diretor nos colocando no meio da ação. Vivemos e sentimos o que os personagens estão vivenciando. Não é atoa que Nolan optou por filmar em 70mm e em IMAX. “Dunkirk” é uma imersão em um dos piores momentos de uma guerra.     

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Deadpool (2016)

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A história de origem do ex-oficial das Forças Especiais transformado em mercenário Wade Wilson, que depois de se submeter a um experimento para ganhar fator de cura, adota o nome de Deadpool. Armado com as suas novas habilidades e um senso de humor negro, Deadpool vai caçar o homem que quase destruiu a sua vida.

108min – 2016 – EUA

Dirigido por Tim Miller e roteirizado por Paul Wernick e Rhett Reese. Com: Ryan Reynolds, , Morena Baccarin, T.J. Miller, Ed Skrein, Gina Carano e André Tricoteux.

Deadpool é o que espera de um filme de um personagem tão controverso. Desde sua criação o anti-herói causa polêmica e confusão. Como fã de quadrinhos estou familiarizado com suas características. E quem acompanha a área, certamente, já testemunhou uma de suas divertidas aparições em produções de outros personagens, como por exemplo, a atual série animada do teioso (Ultimate Spiderman).

O filme é uma zoeira do início ao fim, Tim Miller equilibra bem comédia, violência e momentos emotivos. Os créditos iniciais já deixam claro a zombaria que estamos prestes a assistir, neles a própria equipe do filme é alvo de piadas. É um ótimo plano estático no meio de uma cena de ação. É a famosa cena teste que vazou na Internet em 2014. (Cena que devido a seu sucesso deu origem ao filme.) O longa opta por uma construção não linear, temos flashbacks narrados por Deadpool, e é assim que vamos conhecendo o personagem e sua origem.

Assim como nas hqs ao longo do filme temos piadas pesadas, interação com o público, quebra da quarta barreira (Com direito até a quebra da quarta barreira ao quadrado), palavrões, violência, sangue, nudez e sexo. O sexo inclusive é utilizado para construir uma interessante sequência que demonstra a passagem do tempo. É muito divertida a forma como o longa brinca com os outros filmes de herói e até mesmo com o seu estúdio. Cornetas com a cronologia dos filmes dos X-men, piadas com a falta de verba da FOX para adquirir mais personagens, referências ao Deadpool do filme Wolverine Origins, uma alfinetada no Lanterna Verde de Reynolds, um plano detalhe de um relógio da Hora da Aventura e muitas outras referencias a cultura pop e aos anos oitenta permeiam todo o filme.

Wade wilson (Ryan Reynolds) é um ex soldado das forças especiais que trabalha como um mercenário. Ele conhece a prostituta Vanessa (Morena Baccarin) e o casal desenvolve um relacionamento. Tudo ia muito bem ate Wade ser diagnosticado com um câncer terminal. Ele então, aceita participar de um experimento que promete curar seu câncer e também desenvolver habilidades especiais. Ele é enganado e então parte para uma sanguinolenta vingança contra o homem que destruiu sua vida.

Apesar de ser uma história de origem e seguir a estrutura de filmes de herói o Deadpool consegue brincar com isso e deixar a experiência interessante e original. Em determinado momento o protagonista nos diz que estamos em uma historia de amor e de fato o longa assume essa estrutura, quando ele nos diz que estamos em uma história de horror a estrutura passa a ser de um filme de terror.  E sempre que começamos a acreditar que Wade Wilson é um super herói, ele instantaneamente faz questão de nos confirmar o contrário.

Coadjuvantes interessantes, Colossus é um show a parte, apesar de ser um dos motivos de piada do filme, vilões interessantes e um par romântico que funciona na personalidade bizarra do casal. Uma história de super-herói dentro dos padrões clássicos, mas que não cansa e nem parece desgastado. Em sua sequência final o filme utiliza muitos clichês de filmes de herói mas não compromete sua investida bem sucedida. A montagem do filme, a empatia com o protagonista e narrador do filme, o humor, o deboche e as constantes interações do personagem com o público e com a câmera (Sim ele move a câmera) são pontos fortes e ajudam o longa a cumprir seu objetivo.

Obs. Têm uma ótima cena pós-créditos. Não é importante para a história, mas recomendo ficar até o final.

Nota do Sunça:

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