Sunça no Streaming – A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas – Netflix (2021)

Em A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, Katie Mitchell é aceita na faculdade de cinema dos seus sonhos e seu pai decide aproveitar para realizar uma viagem em família para levá-la à universidade. Porém, seus planos são interrompidos por uma revolução robótica e agora os Mitchells terão que unir forças em família para trabalhar juntos para salvar o mundo.

113 min – 2021 – EUA

Dirigido e roteirizado por Michael Rianda, Jeff Rowe. Com Abbi Jacobson, Danny McBride, Maya Rudolph, Michael Rianda, Eric André, Olivia Colman, Fred Armisen, Beck Bennett, Chrissy Teigen, John Legend, Charlyne Yi, Blake Griffin, Conan O’Brien, Doug the Pug, Melissa Sturm, Doug Nicholas, Madeleine McGraw.

Em 2009 Phil Lord e Christopher Miller escreveram e dirigiram “Tá Chovendo Hambúrguer” a animação chamou atenção com seus personagens interessantes em uma trama louca e cativante. Suas participações em longas animados sempre são inventivas, bem humoradas e impulsionam a mídia para novas possibilidades. Um bom exemplo é o excelente “Homem-Aranha no Aranhaverso” de 2018. O qual eles escreveram e produziram. Agora em 2021 a dupla produz o filme “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas” que é escrito e dirigido por Michael Rianda e Jeff Rowe. Seguindo a linha das animações mencionadas encontramos um visual que impressiona, personagens cativantes com designs interessantes e uma linguagem ousada que mescla referências com interferências visuais e a estética das redes sociais e aplicativos de interação dos smartphones. A dupla de diretores, que fez parte da equipe da ótima série animada “Gravity Falls: Um Verão de Mistérios”,  é hábil em trabalhar com referências. Sabendo incorporá-las na história e nos arcos narrativos.  

Com personagens excêntricos e uma estética e identidade própria, a obra utiliza diversas técnicas para trazer a linguagem e os formatos da internet para a trama. A combinação entre animação 2D e animação 3D junto com os grafismos que vemos na tela deixa tudo com um tom novo, jovial e inventivo. Grafismos que muitas vezes fazem link direto com filtros e máscaras muito utilizados na internet.   Katie Mitchell (Com a voz original de Abbi Jacobson) é aceita na faculdade de cinema da Califórnia. Seu pai Rick (Com a voz original de Danny McBride), em uma tentativa de se reaproximar da filha, organiza uma viagem em família para levá-la à universidade. Durante o percurso acontece uma revolta das máquinas e os membros da família Mitchell são os únicos humanos não capturados. Cabe a eles resolverem seus conflitos e salvar o mundo. A assistente pessoal PAL (Com a voz original de Olivia Colman) é a vilã do longa. Porém, o apocalipse é apenas pano de fundo para uma história íntima, pessoal e um debate sobre a dificuldade de comunicação entre as pessoas. 

Katie é fã de cinema e viciada em internet, é através dela que são trabalhadas a maioria das referências. Ela procura seu lugar no mundo e a sua “tribo”. Um comportamento comum dos jovens adultos, aliás, um comportamento comum para humanos de todas as idades. Katie não se dá bem com o pai e fica aliviada com a possibilidade de ir para longe da família. Rick se esforça para interagir com a filha mas eles não conseguem se comunicar. Katie e o irmão Aaron (Com a voz original de Michael Rianda) se dão muito bem, já na relação com sua mãe, Linda (Com a voz original de Maya Rudolph), o diálogo existe apesar de acontecer alguns conflitos. É na dificuldade do diálogo e de entendermos uns aos outros que está o foco da trama. Um debate que se estende por toda a obra. O desentendimento da vilã PAL com seu criador Mark Bowman (Com a voz original de Eric André) nasce de uma falha de comunicação. Os robôs não conseguem compreender o cachorro pug da família Monchi (Com a voz original de @itsdougthepug). O caçula da família, Aaron, só se dá bem com dinossauros e não consegue interagir com a vizinha. Esses são alguns dos vários exemplos de elementos, arcos e sequências que refletem a dificuldade na comunicação. A Família Mitchell têm que salvar o mundo, mas o principal é não perder a relação entre eles e se entenderem melhor uns com os outros.

Uma animação divertida, inventiva e atual. Que apresenta um visual inovador com uma linguagem ousada em ritmo frenético. São muitas as referências à cultura pop e ao cinema. A obra também traz um debate e uma crítica às grandes empresas de tecnologia que visando lucro e crescimento comercializam nossos dados, criam algoritmos, assistentes pessoais e inteligências artificiais que interferem diretamente em nossa sociedade. As empresas não se preocupam com nosso bem estar e a tecnologia que poderia facilitar nossas relações pessoais, acaba dificultando nossa capacidade de entender o outro.                      

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Sunça no Cinema – O Auto da Boa Mentira (2021)

Dizem que mentira tem perna curta. Se isso é verdade, a bichinha corre rápido, viu! Em quatro histórias inspiradas em contos bem humorados de Ariano Suassuna, cada uma criada a partir de frases do poeta paraibano, conhecemos Helder (Leandro Hassum), Fabiano (Renato Góes), Pierce (Chris Mason) e Lorena (Cacá Ottoni), vivendo diferentes situações onde, ironicamente, a mentira é sempre a protagonista. 

100 min – 2021 – Brasil

Dirigido por José Eduardo Belmonte. Roteirizado por João Falcão, Tatiana Maciel e Célio Porto. Com Leandro Hassum, Rocco Pitanga, Nanda Costa, Giselle Batista, Michelle Batista, Mariana Bassoul, Renato Góes, Matheus Dantas, Cassia Kis, Jackson Antunes, Romulo Marinho, Carlos Gregório, Flávia Prosdocimi, Andrely, Chris Mason, Serjão Loroza, Jesuita Barbosa, Marcelo Magano, Duda Senna, Bruno Bebiano, Cacá Ottoni, Luis Miranda, Johnny Massaro, Leo Bahia, Letícia Novaes, Letícia Isnard, Karina Ramil, Rodrigo Garcia, Silvio Guindane, Juliana Poggi.

Tudo o que esbarra ou encosta em Ariano Suassuna parece ganhar imediatamente uma qualidade única. Ariano era um gênio da brasilidade e uma daquelas pessoas iluminadas que parece ser consciente de seu papel aqui neste planeta. O longa “O Auto da Boa Mentira” que chega aos cinemas nesta semana é um bom exemplo disso. Dirigido por José Eduardo Belmonte o filme se inspira em falas, entrevistas e anedotas de Suassuna. Belmonte conta quatro histórias que têm a mentira como tema central, todas com tempo para se desenvolver e nos deixar aprofundar em cada uma. Em alguns momentos o ritmo inconstante incomoda e é inevitável a comparação entre as histórias já que diferem em qualidade e humor. 

Em uma das tramas temos Helder (Leandro Hassum) um funcionário do RH que é confundido com um famoso comediante. Ele conhece Caetana (Nanda Costa) e ambos acabam se “ajudando”. Na sequência temos o melhor dos quatro contos, nele Fabiano (Renato Góes)  descobre que sua mãe (Cassia Kis) mentiu sobre a verdadeira identidade de seu pai. Nas palavras dela: “Mãe mente para filho toda hora!”. E essa mentira leva o rapaz a ter de lidar com o Palhaço Romeu (Jackson Antunes). Na terceira história conhecemos o gringo carioca e mentiroso Pierce (Chris Mason), que por preguiça de ir a um evento social do amigo Zeca (Serjão Loroza) conta uma mentira que acaba levando os dois a um encontro com o chefe do morro (Jesuíta Barbosa). Finalizando a obra a estagiária Lorena (Cacá Ottoni) solta umas inverdades que acabam com a festa de natal da empresa.    

É surpreendente que o roteiro escrito por João Falcão, Tatiana Maciel e Célio Porto surja a partir de frases, comentários, entrevistas e piadas de Ariano Suassuna. Os respectivos trechos que inspiram cada história estão na montagem do longa e permeiam os contos transformando Suassuna em uma espécie de narrador. Elemento que poderia ter sido melhor aproveitado, uma vez que é um dos pontos altos da projeção. Apesar dos roteiros inspirados e a boa direção, sabe dosar o humor e o drama dos “causos”. São quatro histórias diferentes em tom, ritmo e qualidade. Inevitavelmente escolhemos as nossas preferidas e as comparamos umas com as outras o que quebra o ritmo e a coesão da obra.  O conjunto é sim divertido e evoca o humor do Suassuna, ainda que, em diversos momentos, opte por suavizar o sarcasmo e amenizar as resoluções.

“O Auto da Boa Mentira” é um filme agradável e divertido, uma bela homenagem a Ariano Suassuna. Em um momento onde o mundo, e principalmente o Brasil, tornou a mentira em arma e ferramenta de discurso de ódio. O gênio e mestre Suassuna  nos lembra que a mentira pode ser uma ferramenta para contar boas histórias, entreter, fazer rir e conviver em harmonia. Em suas próprias palavras: “Eu não gosto de quem mente para prejudicar os outros. Eu gosto do mentiroso que mente por amor a arte.”

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Sunça no Streaming – A Dama e o Vagabundo – Disney Plus (2019)

Relançamento do clássico de 1955, que conta a história de amor entre a Dama, uma cocker spaniel mimada, e um vira-lata chamado Vagabundo, que salva a cadelinha do perigo de vagar sozinha perdida pelas ruas.

104 min – 2019 – EUA

Dirigido por Charlie Bean e roteirizado por Andrew Bujalski. Com Tessa Thompson, Justin Theroux, Kiersey Clemons, Thomas Mann, Ashley Jensen, Benedict Wong, Janelle Monáe, Yvette Nicole Brown, Arturo Castro, Adrian Martinez, Sam Elliott, Ken Jeong, F. Murray Abraham, Clancy Brown, Nate “Rocket” Wonder, James Bentley e Parvesh Cheena.Hollingworth, Bill Paterson, Ben Crompton, Jane Lapotaire e Ashleigh Reynolds.

Em 2019 “A Dama e o Vagabundo”, uma das animações clássicas da Disney, ganhou a sua versão live-action. O longa faz parte das produções originais do novo serviço de streaming do estúdio. O Disney Plus chegou ao mercado brasileiro em novembro de 2020. A refilmagem é uma produção mais singela e com orçamento menor do que as re-visitas aos clássicos destinados ao cinema. O que não compromete o resultado, uma vez que o diretor Charlie Bean não se mostra interessado em um uso excessivo de computação gráfica. Utiliza os efeitos visuais pontualmente e sempre em prol da narrativa, quando pode, coloca os verdadeiros astros em cena. O elenco canino.  

O encanto da animação se mostra também presente na versão “carne e osso” que não altera muitos elementos do original. As mudanças propostas são bem vindas, novas sequências são adicionadas e erros do passado são apagados. Um exemplo é a nova sequência dos gatos siameses da Tia Sarah (Yvette Nicole Brown), que corrige a representação racista e estereotipada de asiáticos. Temos uma breve sequência sobre o passado do Vira-lata, que diz muito sobre a sua maneira de ver a vida e melhora seu arco narrativo. O filme apresenta um elenco diverso, em seu núcleo humano o casal principal é uma mulher negra casada com um homem branco. Algo que o racismo da época não permitiria e portanto um esforço importante e bem vindo da produção.

Dama (Tessa Thompson) é uma cocker spaniel de uma família rica, ela é o centro do universo para o casal. Com a chegada do bebê Dama sente perder importância e teme por seu lugar na família. Ela acaba conhecendo um vira-lata sem nome, malandro acostumado a viver nas ruas apelidado pelos amigos de Vagabundo (Justin Theroux). Após um incidente, Dama e o Vagabundo acabam passando um dia juntos e se conhecendo melhor. Assim como no original, a obra apresenta a vida confortável, pacata e segura da alta sociedade. As contrapondo com as dificuldades de quem precisa se valer da malandragem para sobreviver. A denúncia e crítica da diferença de classes sociais está presente e funciona. Ainda que o filme amenize todo o discurso e mensagem sobre a dicotomia de classes. 

A dupla de animais protagonista é carismática e cativante. As vozes de Tessa Thompson e Justin Theroux funcionam muito bem. Os cachorros coadjuvantes também foram escolhas certeiras e  finalizam o acerto desse elenco canino.  Sam Elliott como Trusty está perfeito parece ter nascido para esse papel. Ashley Jensen como Jock, Janelle Monaé como Peg e Benedict Wong como Bull são ótimos. Vale um destaque para a nova versão da canção “He’s a Tramp” que ficou a cargo de Janelle Monaé.  Os cachorros são bem treinados e participam ao longo de todo o filme, nas sequências em que efeitos especiais foram necessários por serem perigosas e/ou inviáveis para os caninos a computação gráfica funciona. O longa opta por uma estética mais cartunesca possibilitando mais expressividade, emoção e simpatia. Já o elenco humano, não é tão atraente. O casal composto pelo personagem Querido Jim (Thomas Mann) e Querida (Kiersey Clemons) são rasos e unidimensionais. Assim como o vilão dono da carrocinha (Adrian Martinez) que apesar de uma interpretação mais caricata e divertida é o vilão malvado tradicional que nutre um ódio sem explicação pelo Vagabundo. O destaque dos seres humanos é a dupla F. Murray Abraham e Arturo Castro. Eles são responsáveis por trazer na nova versão a cena mais icônica da animação, e são muito bem sucedidos. É perceptível o cuidado que a produção teve com essa sequência que funcionou tão bem quanto na original. É uma ótima performance da canção clássica “Bella Notte”. 

Algo se perde nas adaptações de clássicos animados para suas versões live-action, principalmente nas sequências musicais. A tentativa de deixar os acontecimentos mais reais nos rouba de algo mágico e único que apenas as animações podem trazem.  O novo “A Dama e o Vagabundo” é uma obra despretensiosa que refaz o original mantendo o importante e corrigindo erros e injustiças históricas. Evoca um sentimento de nostalgia, mas certamente pode e deve cativar e conquistar novos espectadores.  

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Sunça no Streaming – A Vingança de Lefty Brown – Amazon Prime Video (2017)

Lefty Brown (Bill Pullman) é um ajudante de 63 anos que toda a sua vida ficou ao lado da lenda do faroeste Eddie Johnson (Peter Fonda). Johnson foi apontado como senador de Montana e, apesar das objeções da esposa Laura, planeja deixar Lefty em cargo do rancho. Quando um ladrão mata Johnson, Lefty é confrontado pela sombra do parceiro e das feias realidades da justiça na fronteira.

111 min – 2017 – EUA

Dirigido e roteirizado por Jared Moshé. Com Bill Pullman, Kathy Baker, Jim Caviezel, Peter Fonda, Tommy Flanagan, Diego Josef.

Eu adoro faroestes. O bangue-bangue, como carinhosamente chamo os filmes do gênero, me fascina. Além de reassistir grandes clássicos presentes em minha coleção de dvds e blu-rays, é comum me encontrar pesquisando por obras de western nas plataformas de streaming. E foi assim, “garimpando ouro” que encontrei no Amazon Prime Video “A Vingança de Lefty Brown”. Filme de 2017, inédito no Brasil e que chegou a plataforma em fevereiro de 2020.

Já em seus primeiros minutos o longa enquadra a entrada de um saloon em uma noite chuvosa. Um tiro ecoa e um homem cai morto. A uma dupla se aproxima e um deles entra pela porta da frente e o outro fica de vigia na saída. O clima clássico de um bom velho oeste está posto. Após a resolução do assassinato, na lei cruel daqueles tempos, os homens cavalgam de volta para casa. O primeiro é o lendário xerife Eddie Johnson (Peter Fonda) e o segundo é seu parceiro, companheiro e amigo a quarenta anos, Lefty Brown (Bill Pulman).

A obra que traz uma nova perspectiva ao gênero, é repleta de referências aos grandes clássicos. E faz constantes acenos aos fãs do oeste selvagem. Presenciamos a chegada do “progresso”, e junto a ele, novas ambições, novos perigos e a necessidade de se adaptar.  Eddie foi eleito senador e está a caminho de Washington, vai abandonar sua carreira de xerife e pretende deixar seu rancho para Lefty. O que não agrada nenhum pouco a sua esposa Laura (Kathy Baker) que não acredita no potencial do ajudante desajeitado. Lefty Brown reconhece que não é inteligente ou esperto e se mostra envergonhado por nunca ter aprendido a ler. Seu caminhar é desajeitado e manca constantemente. Sua voz é rouca e esganiçada e o tom dela assume toques levemente cômicos. Mas sua lealdade e honestidade é inquestionável, por isso a decisão de seu amigo Eddie. Mas todo o cenário muda quando o lendário herói é assassinado.  

Lefty parte em busca de vingança e justiça. No caminho encontra o garoto Jeremiah Perkins (Diego Josef), o jovem sonha em se tornar pistoleiro e logo se mostra um fã dos grandes nomes do Oeste. Um leitor das revistinhas e baladas sobre as lendas do faroeste. Um personagem como Lefty nunca aparece nesses relatos fantasiosos, por isso o título original do filme “The Ballad of Lefty Brown”. Dois amigos antigos de Eddie e Lefty tentam ajudar Laura nesse momento difícil e acabam se envolvendo na busca. Jimmy Bierce (Jim Caviezel) atual governador de Montana e o xerife Tom (Tommy Flanagan). Saindo da posição de ajudante e coadjuvante e assumindo o protagonismo, Lefty Brown têm que enfrentar diversas reviravoltas, tiroteios, interesses maldosos e corrupção política.  Ele é injustiçado, ridicularizado e humilhado. Seu protagonismo é colocado a prova. O diretor e roteirista Jared Moshe é cuidadoso ao não alterar as características de Brown, ele assume as rédeas da trama e passa a controlar a narrativa mas sem nunca deixar de ser o desajeitado que é. O que não o impede de se mostrar um herói e uma lenda do oeste.  

Acompanhamos essa saga com a linda fotografia de David McFarland, as paisagens de Montana são belas e bem utilizadas. Os cenários se tornam um dos personagens que ajuda no clima épico de toda a trama que presenciamos. Nos demais personagens arquétipos clássicos estão presentes. O jovem que pretende ser pistoleiro, o herói que afoga suas mágoas em uma garrafa de uísque e o político inescrupuloso. Tudo isso afina o clima de bangue-bangue. Para melhorar o acerto as performances são ótimas, Peter Fonda em seus poucos minutos como Eddie consegue evocar uma figura forte e virtuosa. Kathy Baker apresenta Laura como uma mulher forte e decidida. Diego Josef é o jovem aprendiz que passar a perceber em Lefty todas as virtudes que Eddie vê e aprecia. Porém o mais importante para o sucesso da obra é a performance de Lefty Brown, e Bill Pullman faz um trabalho incrível. Lefty tem uma personalidade própria, é carismático e cativante. Um personagem leve e cômico cheio de excentricidades e com coração.

“A Vingança de Lefty Brown” é a balada de Lefty.  A canção e relato de seu grande feito, uma forma de relembrar e celebrar essa grande figura do oeste e seus atos de coragem. Uma obra divertida e emocionante. Carregada de referências aos clássicos e com um clima e sensação do velho oeste. Um longa que apresenta elementos do gênero e que sabe também subvertê-los. O eterno coadjuvante, o acompanhante do herói é colocado como protagonista e mostra que é uma das grandes lendas do faroeste.

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Sunça no Cinema – A Cidade Onde Envelheço (2016)

A Cidade Onde Envelheço acompanha Teresa (Elizabete Francisca Santos), uma jovem portuguesa que decide deixar o país para morar no Brasil. Ela vai direto para a casa de Francisca (Francisca Manuel), uma amiga também portuguesa que, há quase um ano, mora em Belo Horizonte. Por mais que tenha aceitado abrigá-la, Francisca está temerosa sobre como será o convívio entre elas, já que aprecia a solidão e a independência que dispõe. Entretanto, logo o jeito descontraído e espevitado de Teresa a contagia, nascendo uma forte ligação entre elas.

99 min – 2016 – Brasil/Portugal

Dirigido por Marília Rocha. Roteirizado por Marília Rocha, João Dumans e Thais Fujinaga. Com Elizabete Francisca, Francisca Manuel, Paulo Nazareth, Wederson Dos Santos, Jonnata Doll.

O primeiro elemento que a obra nos apresenta é o local onde tudo vai se passar. A câmera conduz nosso olhar por um passeio em Belo Horizonte. Registrando suas ruas, o cotidiano de seus moradores e o dia a dia da cidade. Para alguém nascido e criado em “Belorizonte”, assim como eu, o passeio pela região central de BH é um deleite. “A Cidade Onde Envelheço” tem duas jovens portuguesas como protagonistas. Francisca (Francisca Manuel) saiu de Lisboa a anos e vive na capital de Minas a algum tempo. Sua amiga Teresa (Elizabete Francisca) chega na cidade em busca de novas oportunidades e fica hospedada na casa de Francisca. A proximidade entre as duas parece enfraquecida e suas personalidades se mostram muito diferentes. 

O longa, realizado em coprodução com Portugal, explora bem as diferenças culturais entre Brasil e Portugal e a diferença de personalidade de suas protagonistas. Teresa recém chegada a Minas Gerais é aventureira e sociável. Está aberta a novas experiências e as vive intensamente. Ela quer se estabelecer e aceita cada oportunidade que surge em cena. Francisca é reservada, menos sociável e gosta de viver na solidão. Não se encaixa no ambiente e evita criar vínculos. Ela nem mesmo consegue chamar seu companheiro de namorado. Francisca demonstra desconforto ao receber a amiga, incômodo que Teresa sequer nota. Inicialmente a amizade delas é forçada e parece quase que uma obrigação. A relação das duas é o ponto central do roteiro escrito pela diretora Marília Rocha em parceria com João Dumans e Thais Fujinaga. 

A trama e a diretora são hábeis em retratar o choque entre as duas personalidades e as consequências e transformações em cada uma das jovens. Percebemos os atritos criados, as sensações e emoções compartilhadas e o processo de amadurecimento de cada uma. A chegada dos trinta não é fácil. Boa parte da obra se estabelece nas interações das personagens, nos diálogos e na convivência. É um belo trabalho das atrizes que nos mostram com naturalidade o ressurgimento daquela amizade e os impactos em cada uma delas. Enquanto Francisca passa a rever suas opções e decisões, Tereza quer viver aquela oportunidade. E assim passamos por algumas reflexões sobre a busca de uma identidade, o distanciamento dos amigos e familiares e nossas trajetórias de vida. As amigas são opostas que se completam e assim conseguem evoluir e seguir cada uma com seu caminho escolhido.

A naturalidade das atuações e dos diálogos impressiona. São conversas e interações envolventes e espirituosas. A opção por uma trilha sonora diegética deixa orgânico tudo o que presenciamos, o uso do som direto traz naturalidade e uma sensação de que estamos inseridos no dia a dia daquelas personagens. “A Cidade Onde Envelheço” é um filme emotivo e sensível. Propoẽm discussões sobre choque cultural, amizade, saudade e amor. Enquanto Francisca e Teresa lidam uma com a outra, tomam suas decisões e refletem sobre suas escolhas. Também o fazemos. Não é atoa que a obra foi premiada em quatro categorias no Festival de Brasília de 2016: filme, direção, ator coadjuvante e atrizes.

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Sunça no Cinema – Asterix e o Domínio dos Deuses (2014)

O imperador romano Júlio César sempre quis derrotar os irredutíveis gauleses, mas jamais teve sucesso em seus planos de conquista. Até que, um dia, ele resolve mudar de estratégia. Ao invés de atacá-los, passa a oferecer os prazeres da civilização aos gauleses. Desta forma, Júlio César ordena a construção da Terra dos Deuses ao redor da vila gaulesa, de forma a impressioná-los e, assim, convencê-los a se unir ao império romano. Só que a dupla Asterix e Obelix não está nem um pouco disposta a cooperar com os planos de César.

85 min – 2014 – França

Dirigido por Louis Clichy e Alexandre Astier. Roteiro por Alexandre Astier, Jean-Rémi François e Philip LaZebnik (baseado em quadrinhos de René Goscinny e Albert Uderzo). Com Roger Carel, Guillaume Briat, Serge Papagalli, Bernard Alane, Arnaud Léonard, Laurent Morteau, Lorànt Deutsch, Laurent Lafitte, Alexandre Astier, Alain Chabat, Elie Semoun, Géraldine Nakache, Artus de Penguern, Lionnel Astier, François Morel, Philippe Morier-Genoud, Joëlle Sevilla.

Até o dia vinte e cinco de agosto está acontecendo o festival Varillux em Casa, que em parceria com a plataforma Looke está exibindo gratuitamente cinquenta filmes que passaram nas últimas edições do festival. São quatro meses de cinema francês de graça! É uma iniciativa solidária, patrocinada pela embaixada da França no Brasil e Essilor/Varilux, e realizada pela Bonfilm para amenizar os dias de quarentena. São comédias, dramas, filmes históricos, fantásticos e infantis, a seleção é diversa e recente.(festivalvariluxemcasa.com.br)

“Asterix e o Domínio dos Deuses” chegou a terras tupiniquins pela primeira vez no Festival Varilux de 2015. Os personagens de René Goscinny e Albert Uderzo são um sucesso enorme dos quadrinhos desde que ganharam seu primeiro álbum em 1961.  A força desses gauleses é tão grande que já protagonizaram quatorze filmes para o cinema, dez animações e quatro live actions. Suas histórias são mais do que caricaturas de um período histórico, são uma crítica a política e a sociedade em que vivemos. Nesse longa fica claro como os textos de Goscinny são atemporais e o roteiro surpreende por sua fidelidade ao material original. Os diretores Louis Clichy, que trabalhou como animador em “Wall-E” e “UP: Altas Aventuras”, e Alexandre Astier junto com os roteiristas Jean- Rémi François e Philip LaZebnik, que trabalhou no roteiro de “Pocahontas” e “Mulan”, adaptaram o décimo sétimo álbum da série publicado em 1971. Livro que têm o mesmo nome do filme e que apresenta uma trama extremamente atual. 

Júlio César cansado de ver seu exército, os legionários, apanharem dos gauleses, graças a poção mágica de Panoramix a druida da vila, e apela para uma nova estratégia. Ele ordena a construção de um condomínio de luxo nos arredores da Aldeia Gavlesa para assim seduzir os gauleses para o estilo de vida romano. O contexto dos gibis é que nos anos cinquenta antes de cristo toda a Gália foi ocupada pelos romanos. Toda não. A aldeia de Asterix e Obelix se mantém irredutível aos invasores de Roma. Os quadrinhos nascem desse ideal de luta pela liberdade e de manutenção de seus próprios ideais e crenças. A luta dos pequenos, uma vila, contra um império e seus legionários. E tudo isso fica ainda mais incisivo nessa história que é repleta de alfinetadas sobre capitalismo, ambição, qualidade de vida e exploração. A crítica sobre como o capitalismo mantém os escravos escravizados mesmo após terem sido “libertos”, é uma demonstração de como eram poderosos os textos de Goscinny e Uderzo. 

É um roteiro engenhoso com uma narrativa que flui bem e que traz o espírito das hqs. Estão presentes as brigas entre os habitantes da aldeia, o lado infantil de Obelix e os confrontos entre gauleses e romanos. O humor inteligente também está presente, assim como todos os personagens principais. É uma animação 3D que têm o cuidado de manter os traços do mestre Albert Uderzo, que faleceu aos noventa e dois anos, no dia 24 de março deste ano. Foi uma grande perda para o mundo dos quadrinhos. É um visual polido, que reconstrói o clima dos gibis. 

“Asterix e o Domínio dos Deuses” é uma animação 3D de qualidade, é envolvente, inteligente e divertida. E o principal, é fiel ao material original. Sua trama prende a atenção do início ao fim, com muitas sequências visualmente interessantes que contam com gags visuais e que dão piscadelas aos fãs dos quadrinhos. O roteiro só desanda e fica repetitivo quando se afasta do material base para estender um pouco a duração do filme. Mas é uma história política, que critica a nossa sociedade e que brinca com arquétipos sem abandonar o lado infantil. Agrada adultos e crianças e até mesmo quem não conhece os personagens. Esses últimos certamente vão ficar querendo mais, porque até eu, que acompanho Asterix, Obelix e o cãozinho Ideiafix desde garoto, fiquei querendo mais. Aliás, vou ali na minha estante pegar uns gibis.

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Sunça no Cinema – Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa (2020)

Arlequina (Margot Robbie), Canário Negro (Jurnee Smollett), Caçadora (Mary Elizabeth Winstead), Cassandra Cain e a policial Renée Montoya (Rosie Perez) formam um grupo inusitado de heroínas. Quando um perigoso criminoso começa a causar destruição em Gotham, as cinco mulheres precisam se unir para defender a cidade.

109 min – 2020 – EUA

Dirigido por Cathy Yan, roteirizado por Christina Hodson. Com Margot Robbie, Mary Elizabeth Winstead, Jurnee Smollett-Bell, Ewan McGregor, Rosie Perez, Ella Jay Basco, Chris Messina

“Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa” é o retorno da DC a seu universo cinematográfico, e principalmente ao universo do fraco “Esquadrão Suicida”. O que parece um erro, se torna um acerto ao apostar no que deu certo, a Arlequina de Margot Robbie, os grafismos e elementos visuais estilísticos, e as anti-heroínas – que apesar de desconhecidas do grande público – são interessantes e cativantes. Isso aliado a direção confiante de Cathy Yan,  e ao roteiro de Christina Hodson que trabalha a trama não como um surto da protagonista após um término, mas sim, na luta de um grupo de mulheres que busca por autonomia em um mundo dominado pelos homens. 

O longa mostra que o conceito “mulher forte” pode sim estar aliado ao colorido, aos acessórios estilizados e a uma figura sexy. Basta um elástico para amarrar o cabelo e a briga continua. Vale ressaltar aqui que o longa não explora a imagem de sua personagens de forma sexualizada, muito pelo contrário, a câmera de Cathy Yan em nenhum momento registra planos que sobem dos pés a cabeça de uma de suas atrizes. O que é comum em longas dirigidos por homens que têm como intenção representar uma mulher sexy. Em uma cena específica onde o vilão da obra comete um assédio, o que vemos é a brutalidade e o terror daquele comportamento. 

A trama abraça o caos e a enxergamos através dos olhos de Arlequina. Aliás, é ela quem nos conta a história através de uma debochada narração em off. A organização dos fatos não é linear, segue conforme as vontades da protagonista, que constantemente quebra a quarta barreira e fala direto conosco. Assim o roteiro segue estabelecendo a ligação entre Arlequina, Canário Negro (Jurnee Smollet-Bell), Caçadora (Mary Elizabeth Winstead), Renee Montoya (Rosie Perez) e a jovem Cassandra Cain (Ella Jay Basco). É interessante notar que a relação entre o grupo formado, as Aves de Rapina, é uma consequência da busca individual pela emancipação. É uma necessidade do momento. O roteiro de Hodson nos permite criar empatia com cada uma das personagens antes da formação do grupo. São personagens que se tornam consistentes, pelo trabalho das atrizes e pelo cuidado com cada história. O grupo funciona bem junto, mas vale um destaque para a interação entre a Arlequina e a Cassandra. A relação tutora e aprendiz é hilária. Toda a ação gira em torno da busca por um diamante (O mcguffin), e posteriormente na defesa, e no resgate de Cassandra Cain das mãos de Roman Sionis, o Máscara Negra (Ewan McGregor). Um vilão extremamente cartunesco, mas que não deixa de ser uma crítica ao meritocrata de família rica e a um homem abusivo e sádico. 

As cenas de ação são notáveis. A equipe responsável pela franquia de “John Wick” colaborou com a produção. Chad Stahelski, o diretor dos filmes de Wick, foi um dos responsáveis pela coreografia das cenas de luta. O que rende a obra uma ótima interação entre câmera, dublês e misancene. Temos cenas violentas que se equilibram muito bem com a estética proposta. Lutas que usam bem a estrutura dos corpos femininos como força. Tudo acontecendo meio a fumaças coloridas, confetes ao som de uma trilha sonora pop.“Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa” é como pegar carona na cabeça louca e frenética da protagonista. O que ajuda o roteiro a “resolver” algumas de suas inconsistências, mas não o impede de abordar assuntos pesados como abuso e sadismo. É um grupo de mulheres que tenta sobreviver em um ambiente cruel e predatório dominado pelos homens e pelo machismo. Os vários momentos de alegria não impedem a projeção de mostrar que o mundo é muito cruel com as mulheres.

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – A Mula (2018)

Um horticultor e veterano da Segunda Guerra Mundial de 90 anos é pego transportando uma quantidade de cocaína equivalente a $3 milhões de dólares para um quartel de drogas mexicano.

116 min – 2018 – EUA

Dirigidor por Clint Eastwood. Roteirizado por Nick Sehenk. Com Clint Eastwood, Dianne Wiest, Alison Eastwood, Taissa Farmiga, Bradley Cooper, Michael Pena, Laurence Fishburne, Ignacio Serricchio, Andy Garcia.

São sessenta anos fazendo filmes. Atuando em mais de setenta e dois longas como ator e uma ótima carreira de diretor que conta com quarenta obras. Após tudo isso, Clint Eastwood chega aos oitenta e nove anos estrelando, dirigindo e produzindo o que pode ser seu último longa como ator. Sou um grande fã de Eastwood, e me parece justo que sua “despedida” seja uma espécie de amálgama de sua carreira.

Earl Stone (Clint Eastwood) é um florista falido de noventa anos. É um péssimo pai e marido, que sempre valorizou sua vida social e profissional acima de tudo. No momento em que perde tudo e todos, passa a atuar como mula para um cartel mexicano. A interessante premissa, que é baseada em uma história real, recebe uma direção eficiente e elegante de Clint Eastwood. Clint apresenta um bom trabalho como o protagonista, e são nesses aspectos que se encontra o grande valor desse longa. Já que o roteiro de Nick Sehenk não fornece muito material para seus personagens.

Earl esbanja charme, é sociável e popular nos eventos onde trabalha. Mas em sua vida pessoal, tem uma relação conturbada com sua esposa e filha. O filme não esconde que essa foi uma opção de seu protagonista que sempre valorizou mais a diversão e o desfrute da vida. Porém, agora no fim de sua jornada, Earl parece se arrepender de tais opções. Clint transmite bem essa personalidade magnética que cativa até mesmo os mal-encarados criminosos do cartel para quem passa a carregar drogas. Seu personagem é também um veterano da Guerra da Coreia que sabe ser durão quando o “bicho pega”, ele não é facilmente intimidado. Apesar do esforço do filme de colocar Earl “casualmente” no tráfico de drogas, é perceptível a má índole do protagonista que sabe bem o que está fazendo para ganhar dinheiro, popularidade em sua vida social e se reaproximar de sua família. Ele não se importa de buscar o caminho mais fácil para tal e gosta quando ganha “status” dentro do cartel.

A estrutura do longa o divide em três frentes. O envolvimento do protagonista com o cartel, seu supervisor Julio (Ignacio Serricchio) e o chefão Laton (Andy Garcia). Sua reaproximação com a ex-mulher Mary (Dianne Wiest) a filha Iris (Alison Eastwood) e a neta Ginny (Taissa Farmiga) e a investigação do DEA conduzida pelo agente Colin Bates (Bradley Cooper) e agente Trevino (Michael Pena) sobre a supervisão do agente especial interpretado por Laurence Fishburne.

Em diversas sequências a obra flerta com uma crítica social e racial. Em alguns momentos de forma bem humorada quando Earl parece mostrar “resquícios” de um passado preconceituoso quando diz “sapatas” e “pretos”, mas colocando-o como alguém que hoje aceita as diferenças e as diversidades. O próprio personagem chega a dizer “Acho que nunca tive filtro de nada”. A própria premissa do longa parte de uma crítica, já que o personagem se mostra uma boa mula para o narcotráfico, justamente por ser um senhor de idade, branco, veterano de guerra viajando em sua caminhonete. O que torna controversa a opção por retratar de forma estereotipada os mexicanos da projeção, sempre os colocando como criminosos. Além de em dois momentos específicos, objetificar as mulheres. Cenas desnecessárias que não ajudam em nada o desencadear da trama.

“A Mula” apresenta aspectos de roadmovie, suspense, passa pelo drama familiar e têm características de humor. Seu roteiro parece uma mistura de tonalidades das várias obras de seu diretor. Earl Stone parece fazer o mesmo, é brincalhão, durão e emotivo. Apresentando traços dos mais variados personagens de Clint. O que me parece, caso seja mesmo, uma boa despedida para a carreira de ator de Eastwood.

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Sunça no Cinema – Atômica (2017)

Lorraine Broughton (Charlize Theron), uma agente disfarçada do MI6, é enviada para Berlim durante a Guerra Fria para investigar o assassinato de um oficial e recuperar uma lista perdida de agentes duplos. Ao lado de David Percival (James McAvoy), chefe da localidade, a assassina brutal usará todas as suas habilidades nesse confronto de espiões.

115 min – 2017 – EUA

Dirigido por David Leitch e roteirizado por Kurt Johnstad. Com Charlize Theron, James McAvoy, Sofia Boutella, Toby Jones, John Goodman, Eddie Marsan, Bill Skarsgard e James Faulkner.

“Atômica” define de vez Charlize Theron como uma heroína de ação. Em “Mad Max: Estrada Fúria” sua Imperatriz Furiosa já demonstrava como a atriz é talentosa no gênero. E aqui sob a direção de David Leitch, conhecido por seu trabalho na co direção de “John Wick: De Volta ao Jogo”, Charlize demonstra maestria nas cenas de ação. Em um momento onde a representatividade feminina no gênero se faz necessária é bom ver o empoderamento e força da personagem. Porém em alguns momentos o longa peca muito por objetificar e explorar a figura de sua protagonista.

O corpo de Lorraine (Charlize Theron) completamente machucado e imerso em uma banheira de gelo é a porta de entrada para a trama que se passa dias antes da queda do muro de Berlim.  É um filme de espionagem situado durante a Guerra Fria. Baseada em uma grafic novel “The Coldest City”, a obra aborda seus acontecimentos em flashback, então após presenciarmos a protagonista exausta e cheia de marcas é que vamos descobrir o que aconteceu para que esse fosse o resultado. Enquanto acompanhamos seu depoimento na sede do MI6, descobrimos os acontecimentos que a levaram até ali. O roteiro aborda traições, listas importantes, agentes duplos e algumas revelações desnecessárias. Lorraine acaba envolvida com a MI6 e a CIA, além das agências de inteligência da França e da Alemanha. Um roteiro simples e frágil, ainda que se esforce para parecer mais complicado e inteligente do que de fato é.

Em ambos os filmes de “John Wick” as cenas de luta são um balé brutal, sequências realistas, porém exageradas e violentas. David Leitch trás para “Atômica” coreografias violentas, brutais e impactantes. Charlize convence nas lutas e enfrenta homens mais fortes e maiores. Para isso, utiliza tudo que tem de disponível a seu redor. Quando se depara com cinco inimigos em um quarto rapidamente incorpora no combate uma mangueira dourada, a qual ela maneja com maestria enquanto distribui socos e chutes. Isso, ao som de “Father Figure” de George Michael. Durante um plano sequência de mais de dez minutos, Lorraine têm um combate corpo a corpo com troca de tiros e facas enquanto desce uma escada. É uma luta brutal e realista, são longos planos que impressionam e contam com um posicionamento de câmera que permite acompanhar tudo sem se perder. Nos colocando dentro do conflito. Enquanto os personagens lutam seus corpos se machucam, deformam, sangram, o sentimento é de que acompanhamos um combate mortal. Em alguns momentos a protagonista e seus adversários precisam recuperar o fôlego e sofrem a cada impacto. E no fim, terminamos com uma ótima perseguição de carro.

A ação brutal do longa é combinada com uma interessante fotografia. Berlim é suja e neon, se inspira nos ícones dos anos oitenta. A trilha sonora acompanha e é fácil perceber canções como “Cities in Dust” de “Siouxsie And The Banshees”, “Under Pressure” do “Queen” e “Major Tom” do “Peter Schilling” fazendo parte da trama e compondo cenas. “Atômica” acerta na escolha de seu elenco e na parte técnica. Mas falha ao exagerar em reviravoltas e tornar sua trama mais complexa do que realmente ela é. Uma abordagem mais despretensiosa teria valorizado mais a obra.

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Alien: Covenant (2017)

2104. Viajando pela galáxia, a nave colonizadora Covenant tem por objetivo chegar ao planeta Origae-6, bem distante da Terra. Um acidente cósmico antes de chegar ao seu destino faz com que Walter (Michael Fassbender), o andróide a bordo da espaçonave, seja obrigado a despertar os 17 tripulantes da missão. Logo Oram (Billy Crudup) precisa assumir o posto de capitão, devido a um acidente ocorrido no momento em que todos são despertos. Em meio aos necessários consertos, eles descobrem que nas proximidades há um planeta desconhecido, que abrigaria as condições necessárias para abrigar vida humana. Oram e sua equipe decidem ir ao local para investigá-lo, considerando até mesmo a possibilidade de deixar de lado a viagem até Origae-6 e se estabelecer por lá. Só que, ao chegar, eles rapidamente descobrem que o planeta abriga seres mortais.

122 min – 2017 – EUA

Dirigido por Ridley Scott, roteirizado por John Logan e Dante Harper. Com Michael Fassbender, Katherine Waterson, Billy Crudup, Danny McBride, Demian Bichir, Carmen Ejogo, Jussie Smollett, Callie Hernandez, Amy Seimetz, James Franco, Noomi Rapace, Guy Pearce, Uli Latukefu e Tess Haubrich.

Em 1979, Ridley Scott, reinventou a ficção científica com “Alien: O Oitavo Passageiro”. Um suspense no espaço que utilizava o mistério, a escuridão e uma câmera claustrofóbica que evocava o medo naquilo que não podíamos enxergar. Assim como os tripulantes da “Nostromo”, sentíamos na pele a angústia e o horror do combate a uma criatura enclausurados em uma nave, “no espaço ninguém vai ouvir você gritar”. Na sequência “Aliens, O Resgate”, nas mãos do diretor James Cameron, encaminha a franquia para os filmes de ação. E antes do retorno de Scott na franquia, ainda tivemos “Alien³” pelo diretor David Fincher e “Alien: A Ressurreição” conduzido por JeanPierre Jeunet. Cada um desses diretores nos apresentou bons filmes, com estilos diferentes e sempre com o retorno da personagem Ellen Ripley (Sigourney Weaver). O Alien também, é claro. Ridley Scott retorna em 2012 para a pré-sequência “Prometheus” com o objetivo claro de nos responder quem eram os famosos “Space Jockeys” presentes no original, e acaba gerando diversos questionamentos em um filme confuso. Agora em “Alien: Covenant” seu objetivo também é claro (E simples), justificar a forma/design icônico de sua máquina assassina, a criatura perfeita.

“Covenant” funciona como uma sequência direta de “Prometheus”, se passa a exatos dez anos após os acontecimentos presenciados no longa de 2012. Utilizando-se do android David (Michael Fassbender), em um prólogo, à obra se associa ao filme anterior e nos dá a esperança de que teremos algumas respostas aos questionamentos deixados em aberto. O que não acontece. “Quem são os engenheiros?”, “Porque fizeram a humanidade?”, “Porque destruí-la?”, tudo isso é ignorado. O que não esquecido, “Alien: Covenant”, tenta resolver em uma única frase. A obra chega a ser desrespeitosa com o expectador ao menosprezar as promessas do final de “Prometheus”. Onde Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e David (Michael Fassbender) partem em busca de respostas.

Covenant é uma nave em um missão colonizadora, seu rumo é um planeta com condições ideais de sobrevivência para seres humanos. Durante o percurso um acidente faz com que Walter (Michael Fassbender) seja obrigado a acordar a tripulação antes de atingirem seu destino, o planeta Origae-6. Oram (Billy Crudup) têm que assumir o posto de capitão e os dezessete tripulantes passam a fazer os reparos na embarcação. Eles descobrem um planeta próximo com condições de abrigar vida humana, e em uma decisão completamente questionável (Para não dizer sem sentido) resolvem ir até lá e investigar. E rapidamente se envolvem em problemas.

Se “Prometheus” tinha seu foco na filosofia e em suas ideias, deixando de lado a ação. Aqui temos o contrário. Mal somos apresentamos aos novos personagens e eles já começam a ser eliminados, seja por criaturas assassinas ou por burrice mesmo. Atirar em tanques explosivos dentro de uma nave, atitudes displicentes em um planeta selvagem e literalmente “olhar” onde não deveria, são atitudes normais dos personagens. E a cada morte fica claro a falta de empatia do espectador com o grupo, como não temos tempo de conhecê-los, criar afeição e nos identificar, passamos apenas a tentar adivinhar quem vai ser a próxima vítima. E se parecia que uma nova Ripley seria apresentada, a personagem Daniels (Katherine Waterston), mais uma vez o longa nos decepciona. Seu arco dramático de superação não chega perto do vivido por Sigourney Weaver no original. Já Fassbender, dessa vez com dois papéis diferentes,  tem novamente um desempenho impressionante. Ainda que seu unidimensional David não tenha nenhum motivo e/ou razão aparente para tomar suas atitudes.       

Em “Alien: Covenant” o que temos é um roteiro simplório de luta pela vida. E Ridley Scott não perde tempo. Se, no filme anterior, uma das reclamações era a pequena presença do Alien em cena, o diretor troca a claustrofóbica nave “Nostromo” de “Alien: O Oitavo Passageiro” por um planeta e parte para ação.  Temos aliens de todos os tamanhos, formas, cores e com diferentes “partos”. Somos até mesmo presenteados com Aliens adestrados e que dançam ao nascer. E tudo isso com a falta de credibilidade que os contestáveis efeitos visuais trazem. Scott expõem a criatura ao excesso e assim acaba com o terror psicológico e o suspense de sua obra. Tudo é tão previsível que chega a ser patética a óbvia revelação surpresa no final. O diretor de “Alien: O Oitavo Passageiro” e “Blade Runner: O Caçador de Andróides” parece esquecer o que sabia fazer de melhor.  

Com uma continuação confirmada, que se passa entre “Alien: Covenant” e “Alien: O Oitavo Passageiro”. Scott continua sua jornada para expor tudo sobre sua criatura, deixando cada vez mais claro que a virtude é sugerir perigos e ameaças e não mostrá-los.

Nota do Sunça:


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