Sunça no Cinema – Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa (2021)

Em Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, Peter Parker (Tom Holland) precisará lidar com as consequências da sua identidade como o herói mais querido do mundo após ter sido revelada pela reportagem do Clarim Diário, com uma gravação feita por Mysterio (Jake Gyllenhaal) no filme anterior. Incapaz de separar sua vida normal das aventuras de ser um super-herói, além de ter sua reputação arruinada por acharem que foi ele quem matou Mysterio e pondo em risco seus entes mais queridos, Parker pede ao Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) para que todos esqueçam sua verdadeira identidade. Entretanto, o feitiço não sai como planejado e a situação torna-se ainda mais perigosa quando vilões de outras versões de Homem-Aranha de outro universos acabam indo para seu mundo. Agora, Peter não só deter vilões de suas outras versões e fazer com que eles voltem para seu universo original, mas também aprender que, com grandes poderes vem grandes responsabilidades como herói.

148 min – 2021 – EUA, Islândia

Dirigido por Jon Watts e roteirizado por Chris McKenna e Erik Sommers. Com Tom Holland, Zendaya, Benedict Cumberbatch, Jacob Batalon, Jon Favreau, Jamie Foxx, Willem Dafoe, Alfred Molina, Benedict Wong, Tony Revolori, Marisa Tomei, Angourie Rice, Arian Moayed, Paula Newsome, Hannibal Buress, Martin Starr, J.B. Smoove, J.K. Simmons, Haroon Khan, Thomas Haden Church.

Uma crítica de cinema não é uma validação de qualidade de um longa. Nem mesmo tem a função de dizer se determinada produção deve ou não ser assistida. Todo filme deve ser assistido. Ela pode ser um estudo e uma análise técnica sobre os elementos de uma obra. Também é as impressões, observações e percepções de uma determinada pessoa. A crítica é sim algo pessoal. Homem-Aranha é o personagem que tenho mais lembranças antigas. Ele sempre esteve presente em minha vida. Sou fascinado por seus quadrinhos, filmes, séries animadas e games. Tudo relacionado ao Aranha tem um lugar especial em meu coração. E isso não atrapalha meu olhar crítico, apenas faz parte dele e de minha experiência. Eu amo o Homem-Aranha.   

“Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” encerra a trilogia de Tom Holland à frente do personagem. O que chamou atenção do grande público e fez com que o filme batesse recordes de bilheteria se tornando um dos filmes mais bem sucedidos do Universo Cinematográfico da Marvel, é a aparição do multiverso. Porém o destaque fica para a história de amadurecimento desse Peter Parker. Ele agora se torna um herói. Nas franquias anteriores fomos apresentados a outros aracnídeos. Nos longas de Sam Raimi, Tobey Maguire era o nerd clássico que conhecemos nas hqs, mas deixava a desejar quando se tornava o brucutu Aranha. Já nas produções de Marc Webb o Peter de Andrew Garfield era descolado e sofria muito com seus problemas psicológicos, porém quando vestia o uniforme sua movimentação era incrível. Saltava, lutava e disparava piadas. Com as obras de Jon Watts, temos o personagem de Tom Holland que apresenta problemas no colégio e com sua tia. Um adolescente que queria ser herói e que quando combatia o crime trazia consigo a inexperiência de um garoto, porém com o sentimento de tentar fazer o que é certo. 

Eu gosto muito do Aranha de Tom Holland, mas algumas mudanças incomodaram fãs puristas do personagem. Ele é um garoto deslumbrado com a nova vida em que foi colocado, Peter queria ser um Vingador e queria impressionar Tony Stark. Tony se tornou seu mentor e fornecia ao herói uniformes tecnológicos. Tio Ben nunca apareceu, assim como seu ensinamento sobre responsabilidade. O Teioso não lida bem com sua vida dupla em momentos chave abre mão de estar com seus amigos e sua família para fazer seus deveres como herói. Porém seguia abraçado com a vida que queria e gostaria de levar como Peter Parker. Ingênuo, foi jogado em meio a batalhas gigantes e heróis invencíveis. “Sem Volta para Casa” pede ajuda às franquias anteriores do aracnídeo para que esse garoto possa olhar para si mesmo, rever suas escolhas, decisões e se transformar em um verdadeiro herói. Ele se corrige, mas sem perder a sua essência. 

O longa começa instantes após ao final de seu antecessor, “Homem-Aranha: Longe de Casa”.  Mysterio (Jake Gyllenhaal) revelou a identidade do Homem-Aranha através do Clarim Diário de J. Jonah Jameson (J.K. Simmons). Além de culpar o herói por sua morte. A vida de Peter Parker (Tom Holland) se transforma em um caos. Ele é investigado pela polícia, a imprensa o persegue e sua vida comum não existe mais. Algo que afeta também a vida de seus amigos e familiares. Peter parece suportar essa pressão, porém não consegue lidar com o fato de tudo isso afetar e machucar quem ele ama. Tia May (Marisa Tomei), MJ (Zendaya) e Ned Leeds (Jacob Batalon) também têm suas vidas despedaçadas. Desesperado, ele pede ajuda ao Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch), que cria um feitiço para fazer com que todos esqueçam que ele é o Homem-Aranha. Devido a intervenção de Peter a magia dá errado e seres de outros universos começam a surgir na sua realidade.

Na primeira etapa do filme vemos as consequências das ações de Mysterio. O clima é sempre de que algo ruim está para acontecer. As tentativas frustradas de Peter, MJ, e Ned, de entrar na universidade. Nos mostra, mais uma vez, como o herói não consegue se desapegar de seus planos como Peter Parker. Ele não abre mão da vida comum em detrimento a vida heroica. Peter não está preparado para fazer o grande sacrifício. Outro personagem que também é afetado é Happy (Jon Favreau), ele representa a segurança e o vínculo com o Homem de Ferro. Não à toa, ele está mais impotente e cada vez menos participativo na vida do Aranha. Atraídos pelo feitiço errado do Doutor Estranho, vilões de outros filmes do Homem-Aranha surgem nesse universo do MCU. São eles o Doutor Octopus (Alfred Molina), Duende Verde (Willem Dafoe) e Homem Areia (Thomas Haden Church) do universo de Tobey Maguire. Além de  Electro (Jamie Foxx) e Lagarto (Rhys Ifans) dos longas de Andrew Garfield. Essas participações tornam “Sem Volta para Casa” uma grande homenagem ao Homem-Aranha e seus filmes. A ideia de multiverso, que já tinha sido explorada no excelente “Homem-Aranha no Aranha Verso”, além de permitir a interação entre as franquias, possibilita fazer um conserto em todas elas. O que nos quadrinhos é conhecido como retcon. 

Na maior parte do tempo os personagens são bem aproveitados, o que é um grande feito para uma obra carregada deles. Mérito da dupla de roteiristas Chris McKenna e Erik Sommers. Alfred Molina está muito bem de volta ao papel de Doutor Octopus, ele parece se divertir e se emocionar. Willem Dafoe parece que nunca deixou de ser o Duende Verde, está intimidador, assustador e consegue explorar ainda mais seu personagem.  O Homem Areia de Thomas Haden Church teve seu arco muito bem resolvido no “Homem-Aranha 3” de Sam Raimi, logo, não teve muito a acrescentar e o texto teve que se virar para colocá-lo ao lado dos vilões. Jamie Foxx viveu mais uma vez o Electro, uma melhora significativa depois de sua última aparição tanto em motivação, tom e visual. O Lagarto de Rhys Ifans me pareceu o mais mal aproveitado, não adicionando muito a narrativa, ele é só mais um vilão a ser batido e gera algumas piadinhas de dinossauro. É interessante perceber como o filme permite a esses personagens evoluir em seus arcos dramáticos e participar novamente da formação de um Homem-Aranha. 

Tom Holland é um bom ator, e neste encerramento de sua trilogia, ele está excelente. Holland recebe muito mais material dramático, o qual, ele executa com maestria. Em meio a um elenco com grandes nomes, mais uma vez, ele consegue se destacar e impressionar. Marisa Tomei também recebe cenas fortes e intensas e se sai muito bem. Zendaya continua construindo sua MJ forte e interessante. O par romântico funciona e a química dos dois é ótima. Jacob Batalon é o alívio cômico e o protagonista de ações que testam nossa suspensão de descrença. Benedict Cumberbatch não tem muito material para trabalhar e seu Doutor Estranho é logo colocado de escanteio de uma maneira fraca e contestável.   

O filme está repleto de participações especiais e de easter eggs. Ter muitos segredos, forçou a produção a executar muitas filmagens em estúdio. Isso prejudicou um pouco. Jon Watts filmou várias cenas de ação diante de um fundo digital e a falta de inventividade do diretor, deixa alguns momentos artificiais. O roteiro em diversos momentos se apoia em diálogos expositivos e não consegue desenvolver bem todos os seus personagens. Temos muitas piadas e diálogos bobos e explicações desnecessárias. Apesar de problemático o texto constrói uma aventura excelente, uma ode as referência e ao que significa ser o Homem-Aranha. Importantes traumas acontecem, motivações do herói são construídas, sacrifícios são feitos e novos rumos tomados. O mestre ensina o aprendiz e o colega lhe mostra o caminho.       

“Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” é um evento tão grande como “Vingadores: Ultimato”. É a culminação de toda uma trajetória do personagem no cinema. É um final digno para quem precisava, um encerramento para o que estava aberto e um novo recomeço. Um retcon mascarado de nostalgia que evoca risos, saltos de aflição e choro nas salas de cinema. Em “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” o retorno do herói para a Marvel parecia acertado. Agora em 2021 ele se mostrou ideal. Aguardo com ansiedade para ver mais deste novo Homem-Aranha e as possibilidades que ele promete. A trilogia de Tom Holland nos mostrou um garoto que sonhava em ser herói e que aprende da forma mais dura o que é necessário para isso. “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” é o teste definitivo dessa encarnação do herói.  

Obs. São duas cenas pós-créditos. A primeira é extremamente desnecessária e demonstra as pretensões da Sony. A segunda ao final de todos os créditos é um teaser do próximo filme do Doutor Estranho (que já está disponível online). Fica aqui minha indignação, este encerramento de trilogia não precisava de cenas pós.

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Sunça no Cinema – O Mágico de OZ (1939)

Em Kansas, Dorothy (Judy Garland) vive em uma fazenda com seus tios. Quando um tornado ataca a região, ela se abriga dentro de casa. A menina e seu cachorro são carregados pelo ciclone e aterrisam na terra de Oz, caindo em cima da Bruxa Má do Leste e a matando. Dorothy é vista como uma heroína, mas o que ela quer é voltar para Kansas. Para isso, precisará da ajuda do Poderoso Mágico de Oz que mora na Cidade das Esmeraldas. No caminho, ela será ameaçada pela Bruxa Má do Oeste (Margaret Hamilton), que culpa Dorothy pela morte de sua irmã, e encontrará três companheiros: um Espantalho (Ray Bolger) que quer ter um cérebro, um Homem de Lata (Jack Haley) que anseia por um coração e um Leão covarde (Bert Lahr) que precisa de coragem. Será que o Mágico de Oz conseguirá ajudar todos eles?

112 min – 1939 – EUA

Dirigido por Victor Fleming e roteirizado por Noel Langley, Florence Ryerson e Edgar Alan Woolf (baseado no romance The Wonderful Wizard of Oz, de L. Frank Baum). Com Judy Garland, Frank Morgan, Ray Bolger, Jack Haley, Bert Lahr.

“O Mágico de OZ” é um clássico. A imagem de cinco personagens visualmente diferentes caminhando pela estrada de tijolos amarelos é inesquecível. Assim como a maravilhosa canção “Somewhere Over The Rainbow”. Marcadas na memória também estão as frases: “Totó, acho que não estamos mais no Kansas” e “Não há lugar como o lar”. O longa é baseado no primeiro livro da série escrita por L. Frank Baum. Nele acompanhamos a história de Dorothy uma jovem do Kansas que através de um tornado é levada ao mágico mundo de OZ. No Kansas conhecemos sua família e seus afetos e desafetos. Esses personagens criam um paralelo com as novas amizades e inimizades criadas em OZ. 

Na trama Dorothy (Judy Garland) acidentalmente mata a bruxa má do leste, o que deixa os moradores locais, os muchkins, muito felizes. Agrada também a bruxa boa do Norte, Glinda (Billie Burke). Quem não fica feliz é a irmã da falecida, a bruxa má do oeste (Margaret Hamilton), que resolve se vingar. Dorothy e Totó partem em uma jornada para conseguir a ajuda do Mágico de OZ. No percurso ela fica amiga do Espantalho (Ray Bolger) que não têm um cérebro, um leão (Bert Lahr) que não tem coragem e um Homem de Lata (Jack Haley) que não têm um coração. Todos eles resolvem acompanhar Dorothy e pedir ajuda ao mágico para resolver seus problemas. 

É um roteiro eficiente que transforma uma garota do interior cansada de sua rotina em uma heroína num mundo mágico repleto de descobertas e novos amigos. Uma mudança pontuada pela fotografia e pelo diretor do longa. As cenas no Kansas são retratadas em tons sépia e as cenas em OZ em belas cores technicolor. A parte técnica do filme merece destaque. A fotografia com cores vibrantes, os cenários extremamente bem feitos e os efeitos visuais de qualidade nos deixam maravilhados e nos colocam dentro de OZ. São planos e sequências que parecem pinturas. O diretor Victor Fleming faz um ótimo trabalho nas coreografias e sequências musicais. Além de contar com interpretações ótimas, que criam personagens caricatos e divertidos. A maquiagem é incrível e nos deixa acreditar em espantalhos, homens de lata, leões e bruxas malvadas.

“O Mágico de OZ” é um filme infantil, que apresenta uma mensagem de afeto e bondade. Traz a ideia de “Não há lugar como nosso lar” e a temática de que aquilo que procuramos está em nós mesmos. São debates bem construídos e passíveis de várias interpretações. Ainda temos toda uma camada crítica. A relação abusiva entre a bruxa má e os munchkins e as atitudes autoritárias de OZ são bons exemplos. Dorothy sempre teve tudo o que precisava para derrotar a bruxa má, assim como seus amigos já tinham tudo aquilo que buscavam. “O Mágico de OZ” nos convida a perceber como é mágica nossa própria vida e como somos mais fortes e capazes do que imaginamos.  

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Cry Macho: O Caminho para Redenção (2021)

Cry Macho – O Caminho Para a Redenção conta a história de Mike Milo (Clint Eastwood), um ex-astro de rodeio e criador de cavalos fracassado, que, em 1979, aceita uma proposta de trabalho de um ex-chefe para trazer Rafa (Eduardo Minett), o jovem filho desse homem, de volta do México para casa. A dupla improvável enfrenta uma jornada inesperadamente desafiadora, durante a qual o cavaleiro cansado do mundo pode encontrar seu próprio senso de redenção ensinando ao menino o que significa ser um bom homem.

101 min – 2021 – EUA

Dirigido por Clint Eastwood e roteirizado por Nick Schenk, N. Richard Nash (baseado no romance Cry Macho, de N. Richard Nash). Com Clint Eastwood, Dwight Yoakam, Eduardo Minett, Natalia Traven, Fernanda Urrejola, Horacio Garcia Rojas, Alexandra Ruddy, Ana Rey e Paul Lincoln Alay.

Em 1971 Clint Eastwood apresentou seu primeiro trabalho de direção, o longa: “Perversa Paixão”. Cinquenta anos se passaram, e agora, em 2021, Clint aos 91 anos estrela e dirige “Cry Macho: O Caminho para a Redenção”. A obra não esconde a idade de seu protagonista. Ele é um nonagenário e isso dita a narrativa e o ritmo da obra. Não à toa, em determinado momento ele afirma: “Eu não posso curar velhice”. A trama do filme se passa em 1979 e Eastwood é o ex-caubói Mike Milo, que recebe uma missão de um antigo chefe. Essa simples premissa é o que se faz necessário para a construção de uma ponte entre o personagem e a própria vida e carreira do ator. O importante é o debate entre o velho e o novo, a interação entre o mestre e seu aprendiz e a desconstrução da cultura do macho.

Situações, acontecimentos, outros personagens e até seu próprio preparo físico, relembram Mike de sua idade. Assim a obra se coloca como uma vivência cotidiana, um senhor de idade avançada que se vê obrigado a viver novas aventuras e perceber que a vida ainda é repleta de oportunidades. O protagonista é um peão de rodeio aposentado que perde seu atual emprego. Um ano depois recebe de seu ex-chefe, Howard Polk (Dwight Yoakam), a tarefa de buscar seu filho de treze anos no México. O garoto rebelde, Rafo (Eduardo Minett), sofre abusos de sua mãe e o pai o quer de volta. Mike Milo encontra o garoto em uma briga de galos com seu animal campeão nomeado: “Macho”. Os dois partem em uma viagem de volta ao Texas. Mike e Rafo apresentam uma química confortável apesar de o roteiro não entregar profundidade para a relação. 

Durante o percurso os dois se tornam amigos e juntos vivem uma jornada repleta de descobertas. A trama funciona como um faroeste moderno, apesar de não se preocupar em sugerir uma grande importância para seus acontecimentos. Seus planos são claros, limpos e diretos. O ritmo é lento e suas sequências têm mais tempo que o de costume para acontecer. Seus conflitos e momentos dramáticos não recebem destaque e em sua maioria são resolvidos de forma cômica ou anticlimática. Os momentos simples e cotidianos são o que realmente importam e o que nos trazem reflexões. O protagonista está sempre tentando ajudar os demais personagens e aos poucos abraçando as novas oportunidades de uma vida que parecia sem perspectivas.   

A narrativa é simples, conta uma história clichê, com um romance apressado e alguns diálogos expositivos. Porém esses problemas não conseguem tirar o brilho do debate que o diretor propõe sobre a velhice, sua carreira e a desconstrução da masculinidade idealizada. Mike Milo tenta mostrar a Rafo que a ideia de “macho” é uma grande bobagem. Rejeitando os ideais de masculinidade que o próprio Clint Eastwood representou por anos nas telas. Milo percebe que é no cotidiano e na generosidade que se encontra alguma satisfação e alegria.  

“Cry Macho: O Caminho para a Redenção” é a experiência de assistir Clint Eastwood aos 91 anos desconstruir e reconstruir a si mesmo. Não é sobre a proximidade da morte ou sobre o fim da vida. Mas sobre a necessidade de fazer escolhas e tomar decisões. É sobre o dia-a-dia e as oportunidades que ele nunca para de nos oferecer.

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – O Esquadrão Suicida (2021)

Liderados por Sanguinário (Idris Elba), Pacificador (John Cena), Coronel Rick Flag (Joel Kinnaman), e pela psicopata favorita de todos, Arlequina (Margot Robbie), o Esquadrão Suicida está disposto a fazer qualquer coisa para escapar da prisão. Armados até os dentes e rastreados pela equipe de Amanda Waller (Viola Davis), eles são jogados (literalmente) na remota ilha Corto Maltese, repleta de militantes adversários e forças de guerrilha. O grupo de supervilões busca destruição, mas basta um movimento errado para que acabem mortos.

132 min – 2021 – EUA

Dirigido e roteirizado por James Gunn. Com Margot Robbie, Viola Davis, Joel Kinnaman, Jai Courtney, Idris Elba, John Cena, Sylvester Stallone, Peter Capaldi, David Dastmalchian, Daniela Melchior, Dee Bradley Baker, Michael Rooker, Alice Braga, Pete Davidson, Nathan Fillion, Sean Gunn, Flula Borg, Mayling Ng, Steve Agee, Taika Waititi, Storm Reid, Jennifer Holland e Ernesto Álvarez.

Após dois filmes de sucesso dos “Guardiões da Galáxia” na Marvel, James Gunn, assume o comando de “O Esquadrão Suicida” na DC. Tendo assim a difícil missão de arrumar a casa depois do fraco “Esquadrão Suicida” de 2016. Gun aposta no deboche e em elementos “trash” dos filmes B para construir seu universo irônico onde nada importa e tudo é descartável.  Sangue, violência gráfica e estilizada, palavrões e xingamentos, constroem o clima anárquico e ridículo daquela equipe e sua missão. O longa não se leva a sério mas não esconde as consequências das atitudes sanguinárias de seus personagens. É justamente no contraste entre o humor leve e a violência gráfica, ou, entre a empatia e o desprezo, que a obra cria sua identidade.

O diretor e roteirista James Gunn, cria um novo patamar de ridículo ao encontrar nos arquivos da DC personagens esquecidos e irrelevantes da editora. São vilões e poderes esdrúxulos.  Para citar alguns, temos o Doninha (Sean Gunn), o O.C.D. (Nathan Fillion) e o  Bolinhas (David Dastmalchian). Bolinhas tem um superpoder absurdo e é incrível como o diretor e o ator nos mostram isso em tela. São muitos personagens, todos interessantes e descartáveis. A importância deles não é nula apenas para a chefe Amanda Waller (Viola Davis), mas também para a obra. São mortes exageradas e inventivas em sequências esteticamente lindas. Portanto, não se apegue a ninguém.   

“O Esquadrão Suicida” é uma sequência do longa de 2016, porém é também um novo começo para a franquia. A nova equipe é formada por Sanguinário (Idris Elba), Pacificador (John Cena), Caça-Ratos 2 (Daniela Melchior), Tubarão-Rei (Voz de Sylvester Stallone) e Bolinhas. Juntos a eles, temos os já conhecidos Rick Flag (Joel Kinnaman) e a Arlequina (Margot Robbie). O novo time é enviado para a ilha Corto Maltese que acabou de sofrer um golpe militar. O objetivo é destruir o Projeto Starfish para que o novo governo não seja capaz de utilizá-lo. Essa é a trama. Uma explosão absurda, ridícula e cômica. O filme também funciona como uma crítica ao imperialismo e a política externa dos Estados Unidos. O verdadeiro motivo da missão do esquadrão, deixa claro como o intervencionismo externo estadunidense destrói nações e justificam atrocidades. Sempre alegando a falsa busca pela paz. A personificação dessa postura incoerente e rasa é o personagem Pacificador. Em suas próprias palavras: “Valorizo a paz com todo meu coração, não importa quantos homens, mulheres e crianças eu terei que matar para consegui-la”.  

O roteiro não suaviza a vilania dos personagens, eles fazem atrocidades sem hesitar. O time de vilões não pensa duas vezes antes de dizimar uma vila de nativos. Para apenas depois de toda aniquilação se perguntar quem eram aquelas pessoas, ou, se deveriam mesmo estar fazendo aquilo. Como a personalidade de cada membro é bem definida, do convívio deles resulta ótimas sequências. A equipe principal funciona muito bem, a interação dinâmica entre os personagens e seus diálogos incisivos evidenciam os contrastes entre aqueles seres. Sanguinário é o líder cínico que tem uma bússola moral própria, o Pacificador é o brucutu pastelão que não percebe suas incoerências e a Caça Ratos 2 é a moralidade e a empatia do grupo. Ainda temos o Tubarão Rei, um tubarão antropomórfico sanguinário e com pouca inteligência. Um ótimo trabalho de voz do Stallone. O estranho Bolinhas e seus poderes bizarros possibilitam ótimas sequências, com destaque para a forma como ele externa seus traumas.  Margot Robbie é cada vez melhor como a Arlequina. Em uma sequência violenta e esteticamente bela,  podemos ver como sua realidade é separada do mundo real à sua volta.

A trama se passa ao longo de uma missão. A montagem do longa deixa tudo mais ágil ao saltar entre passado, futuro e presente. Gun sabe amarrar tudo com sequências memoráveis, inventivas e bonitas. É nítida a preocupação de deixar a ação clara e criar ritmo e energia para o filme. Porém ao final fica a sensação de uma ruptura com toda a proposta inicial, seja no contexto da crítica política ou no caos proposto. Ainda que seja possível a interpretação de que o maldito imperialismo sempre vence. (O que a cena pós-créditos deixa bem claro) É triste pensar que após a revelação do real motivo da missão os personagens seriam coniventes com as autoridades, das quais, acabaram se rebelando momentos antes.                

“O Esquadrão Suicida” mantém um nível alto de humor ao longo de todo o filme. Sabe lidar com o absurdo e ridículo de sua trama, sem ter medo de colocar em cena um monstro de proporções exageradas. Vale um elogio a alegoria que esse “monstro” do ato final representa. É válida a crítica ao imperialismo e aos governos autoritários e seus seguidores. Também se faz presente a ideia de que nem sempre o inimigo do meu inimigo é meu amigo. Isso na figura dos guerrilheiros combatentes ao regime ditatorial, que se aliam a um mal para evitar outro mal. A história nos mostra que isso nunca é uma boa ideia. Uma obra com estética incrível que consegue ser sombria e extremamente brilhante e colorida. James Gunn cumpre a sua missão de resgatar o esquadrão, e agora, pode voltar tranquilo para a Marvel.

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Se Meu Fusca Falasse (1968)

Herbie, um Fusca com personalidade própria, desprezado por um mau caráter que dono de uma agência de automóveis de luxo e piloto de corridas. Mas o Fusca acolhido por um piloto boa praça (Dean Jones) e, em gratidão, o pequeno carro lhe dá diversas vitórias, acabando com a maré de azar do piloto, que inicialmente não entende que foi o fusquinha quem ganhou as corridas. Porém, ele aos poucos entende que o carrinho o principal responsável pelas vitórias e decide correr sempre com ele. Mas ambos terão que lutar contra um rico rival, que usa toda a espécie de golpes sujos para derrotá-los.

108 min – 1968 – EUA

Dirigido por Robert Stevenson. Roteirizado por Bill Walsh, Don DaGradi (baseado em história de Gordon Buford). Com Dean Jones, Michele Lee, David Tomlinson, Buddy Hackett, Joe Flynn, Benson Fong, Joe E. Ross, Iris Adrian, Gary Owens, Chick Hearn, Andy Granatelli, Ned Glass, Robert Foulk, Gil Lamb.

Um Fusca atrapalhado, consciente e com sentimentos. Esse é Herbie o corredor número cinquenta e três, que ganhou nossos corações e se tornou um dos carro mais icônicos do cinema. Talvez, o carro mais icônico do cinema.  “Se Meu Fusca Falasse” é um filme de família clássico. Tenho ótimas lembranças de assistir ao filme com minha avó. É bem provável, que nesses momentos de diversão tenha surgido minha paixão (fixação) pelos fuscas. Herbie fez muito sucesso e protagonizou cinco longas, uma série de TV com cinco episódios e revistas em quadrinhos. A obra foi a última produção da Disney com a participação de Walt Disney. Infelizmente ele faleceu em 1966 e não assistiu ao filme pronto. Walt sugeriu a adaptação do conto “Car, Boy, Girl” de Gordon Bufford. Então, os roteiristas Bill Walsh e Don DaGrandi escreveram essa comédia com estrutura episódica que exala simpatia.  O diretor Robert Stevenson, responsável por vários filmes do estúdio, mesclou a comédia com emoção e capturou belas coreografias de corrida com planos de câmera certeiros. 

Jim Douglas (Dean Jones) é um piloto de corrida fracassado e mora com o amigo Tennessee Steinmetz (Buddy Hackett). Jim encontra o “pequeno carro” em uma loja de automóveis sofisticados e importados. Ele acaba se envolvendo com a vendedora Carole Bennett (Michele Lee). Seu patrão Peter Thorndyke (David Tomlinson) é o dono da loja e um verdadeiro “Dicky Vigarista”. Thorndyke acusa Jim de roubar o Fusca e o obriga a comprar o carro. A história é simples e de forma certeira não se preocupa em explicar porque Herbie tem vontade própria. Ele é super veloz e Jim passa a vencer várias corridas em Laguna Seca e Riverside. O que não agrada Thorndyke, o atual campeão nacional da SCCA (Sports Car Club of America). Uma curiosidade interessante é que no filme o motor do Fusca foi substituído pelo motor do Porsche 356 para dar velocidade ao carro. Herbie tem personalidade forte e demonstra bem suas emoções sem apelar para olhos e bocas ou uma narração subjetiva. Ele é ciumento e impulsivo e percebemos isso em suas ações. Jim é pessimista e egoísta, é na convivência com o “pequeno carro” que ele se desenvolve e cresce como pessoa. Carole é forte e independente. E o amigo Tennessee é hilário e o único que sabe o segredo de Herbie desde o início.  

A direção é competente nas cenas de corrida e nos momentos em que visualmente nos são mostradas as habilidades de nosso querido Fusca. Ele corre, empina, escala montanhas e pula sobre lagos criando cenas engraçadas e memoráveis. Efeitos especiais e práticos convincentes, que podem parecer defasados hoje em dia, mas funcionam e são visualmente bonitos. Tudo isso com sua memorável e ótima música tema composta por George Bruns. O que incomoda no longa é sua estrutura episódica. Os episódios são longos e, em alguns momentos, não se costuram bem para formar a trama. “Se Meu Fusca Falasse” é divertido e engraçado, um filme de família caprichado e que tem um Fusca. Pronto! Já gostei.    

 

Nota do Sunça:

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Sunça no Streaming – Luca – Disney Plus (2021)

Em Luca, acompanhamos uma história de amadurecimento sobre um jovem que vive um verão inesquecível repleto de sorvetes, massas e passeios intermináveis de scooter. Luca compartilha essas aventuras com seu novo melhor amigo, mas toda a diversão é ameaçada por um segredo profundamente bem guardado: eles são monstros marinhos de outro mundo, logo abaixo da superfície da água.

95 min – 2021 – EUA

Dirigido por Enrico Casarosa. Roteirizado por Jesse Andrews, Mike Jones, Enrico Casarosa e Simon Stephenson. Com Jacob Tremblay, Jack Dylan Grazer, Emma Berman, Saverio Raimondo, Maya Rudolph, Marco Barricelli, Jim Gaffigan, Peter Sohn, Marina Massironi, Sandy Martin, Giacomo Gianniotti, Elisa Gabrielli, Mimi Maynard, Sacha Baron Cohen, Francesca Fanti, Jonathan Nichols, Enrico Casarosa e Jim Pirri.

“Luca” é a estreia do diretor Enrico Casarosa em um longa-metragem. Enrico trabalhou no departamento de arte de vários outros filmes da pixar e dirigiu o belíssimo curta “La Luna”.  O diretor apresenta uma história sobre transformação, Luca (Voz original de Jacob Tremblay) é um monstro marinho que assume a forma humana ao sair da água. Assim que sua pele é molhada a região volta a ter escamas. Essa é a transformação física que o filme nos apresenta, porém a narrativa vai além e traz um conto sobre um garoto que quer se entender,se encontrar e descobrir o mundo onde vive.  Junto a isso temos um debate sobre como o contato com o desconhecido e o estranho pode causar reações fortes e levar ao preconceito.

Luca vive com sua família no fundo do mar e foi criado com a ideia de que a superfície e seu povo são monstros perigosos que devem ser evitados. Mesmo assim, o jovem demonstra interesse e curiosidade sobre a vida acima da água. Em um momento que Luca desobedece aos ensinamentos de seus pais ele conhece Alberto (Voz original de Dylan Grazer) que é um monstro marinho que vive fora d’água em uma ilha. Quando descobre que com a pele seca ele também se transforma em humano, Luca passa a dedicar seus dias a se aventurar com Alberto experimentando a vida na terra. Quando conhecem a jovem humana Giulia (Voz original de Emma Berman) o trio de desajustados está completo e o objetivo do grupo é ganhar uma competição de triatlo que tem como prêmio uma Vespa (motocicleta).   

Luca teve uma educação rigorosa dos pais, os quais tem dificuldade de aceitar o filho como ele é. Alberto é órfão e foi abandonado por seu pai que não aceitava o estilo de vida do filho. A amizade entre eles é definidora para que ambos possam se entender e lutar para ser quem são. Seu mantra “Silenzio, Bruno” é a forma que os garotos têm de se livrar de preconceitos, medos e da pressão da sociedade. Podendo assim ter novas experiências, viver e se encontrar. A obra discute a ideia de aceitação, dos pais, da sociedade e por si mesmo. O protagonista se aventura, rompe a barreira e passa a ocupar espaços que lhe eram negados.  É uma alegoria a todas as pessoas que sofrem algum tipo de discriminação e intolerância. Uma das várias leituras que cabem nessa proposta é a de alguém que busca assumir a sua identidade homoafetiva. Uma história de descobrimento e aceitação. São alusões explícitas, porém não abertamente assumidas pelo roteiro. Luca e Alberto buscam o sonho da liberdade que, para eles, se materializou em uma Vespa. Eles querem conhecer o mundo e fugir das amarras e barreiras da sociedade.

O visual é lindo. São cores vibrantes que retratam um cenário paradisíaco em uma pequena vila costeira na Itália. A ambientação se completa nas expressões italianas nas falas dos personagens, em uma deliciosa massa ao molho pesto e uma bela trilha sonora.  Os cenários parecem pinturas e o conjunto da obra não só dá gosto de ver, como nos faz exclamar: “Santa mozzarella!”. O roteiro é cativante mas não inova em seu formato e estrutura. “Luca” é uma história simples, visualmente maravilhosa que discute intolerância, preconceito e aceitação. Uma obra que te convida a deixar de lado os pré-julgamentos e abraçar o desconhecido e o diferente. Tudo isso, enquanto acompanhamos a busca de um jovem pelo autoconhecimento.  

 

Nota do Sunça:

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Sunça no Streaming – Raya e o Último Dragão – Disney Plus (2021)

Em Raya e o Último Dragão, Kumandra é um reino habitado por uma vasta e antiga civilização conhecida por ter passado gerações venerado os dragões, seus poderes e sua sabedoria. Porém, com as criaturas desaparecidas, a terra é tomada por uma força obscura. Quando uma guerreira chamada Raya, convencida de que a espécie não foi extinta, decide sair em busca do último dragão, sua aventura pode mudar o curso de todo o mundo.

114 min – 2021 – EUA

Dirigido por Don Hall e Carlos López Estrada. Roteirizado por Qui Nguyen e Adele Lim. Argumento de Paul Briggs, Don Hall, Adele Lim, Carlos López Estrada, Kiel Murray, Qui Nguyen, John Ripa, Dean Wellins. Com Kelly Marie Tran, Awkwafina, Izaac Wang, Gemma Chan, Daniel Dae Kim, Benedict Wong, Jona Xiao, Sandra Oh, Thalia, Lucille Soong, Alan Tudyk.

“Raya e o Último Dragão” chegou aos cinemas no dia quatro de março de 2021. No mesmo dia,  estreou também na plataforma de streaming Disney Plus, mediante um pagamento adicional. Apenas no dia vinte e três de março ficou disponível no catálogo sem custos adicionais. Esse planejamento de estreia demonstra uma nova forma da Disney de pensar seu conteúdo, uma inovação devido aos tempos de pandemia. As novidades permeiam por toda a obra, desde sua finalização durante os regimes de lockdown e em sistema de trabalho remoto. Até no visual caprichado e cuidadoso com os detalhes estéticos e narrativos. Temos diferentes tipos de animação utilizados em prol da narrativa e na criação do novo universo. Um discurso que condiz com nossos dias atuais e uma mensagem importante nos tempos em que estamos vivendo. 

A trama nos apresenta um passado remoto onde humanos e dragões coexistiam. Kumandra era um reino onde homens, mulheres e crianças de diferentes etnias viviam juntos em harmonia. Mas criaturas malignas conhecidas como Drunns surgem e passam a transformar seres vivos em pedras. Os dragões se sacrificam para salvar os humanos e aprisionar os Drunns. Tudo o que restou desse passado distante é uma relíquia “A Joia do Dragão”. Conhecemos então a jovem Raya (Com a voz original de Kelly Marie Tran) que vive em um mundo sem magia. Os humanos não conseguiram se entender e se separaram em cinco reinos. Todos nomeados a partir de partes do corpo do dragão, como por exemplo: Presa e Coluna. A protagonista é uma descendente do Reino Coração, onde está guardada a Joia do Dragão. Seu pai, o Chief Benja (Com a voz original de Daniel Dae Kim) reúne os cinco povos em uma tentativa de restaurar Kumandra.  Para isso a confiança entre os reinos é necessária, porém o que vemos é a ganância e a falta de empatia. O plano falha. A joia acaba quebrada em cinco partes e a ameaça dos Drunns é libertada e volta a transformar os seres vivos em pedra.  Seis anos se passam e Raya é uma guerreira solitária em um mundo apocalíptico, cabe a ela encontrar Sisu (Com a voz original de Awkwafina) a lendária última dragoa e salvar a humanidade.

O longa sabe bem os temas que deseja debater: egoísmo, desconfiança e a falta de empatia entre os povos. A união dos reinos e a confiança entre eles é importante. Só assim poderão se proteger e vencer esse mal etéreo que ameaça a existência. (Soa familiar não é?) Os problemas se iniciam em uma traição, uma cicatriz que a protagonista carrega consigo e que a faz acreditar que o sonho de seu pai, uma Kumandra unida novamente, é uma utopia. Raya busca Sisu e os pedaços da joia para salvar a humanidade, mas seu motivo principal para entrar nessa aventura é egoísta. É na jornada que passa pelos cinco reinos que sua crença na humanidade é resgatada. A jovem recebe e dá carinho e afeto por onde passa, formando um grupo inusitado que mostra a força da união e a empatia e semelhança entre os diferentes povos.

O Drunn é apresentado como um terrível mal, algo etéreo que paralisa através do medo. Não é aprofundado e nem me parece a intenção. Sua função é ajudar a narrativa a caminhar, o verdadeiro vilão é a indiferença e separação dos humanos. A antagonista retratada na personagem de Namaari (Com a voz original de Gemma Chan) é apenas alguém que tem uma vivência de mundo conflitante com a vivência de Raya. Uma personagem que tem peso e um arco narrativo interessante e bem construído. A protagonista é uma mulher independente e forte. Carrega consigo um trauma que gera uma interessante relação com Sisu. A dragoa representa a ingenuidade, é um ser puro que acredita no potencial dos humanos. É um longa de ação que flerta com tramas políticas e que não acredita no certo e no errado e sim na dualidade de causa e consequência.  

As sequências de ação são bem planejadas e executadas. São diferentes técnicas de animação que exalam qualidade e exaltam a diversidade dos personagens e contextos. As cores e a fotografia são lindas, trazem inspirações diretamente da Malásia e do Vietnã. O design dos personagens é cuidadoso ao retratar as diferentes etnias presentes na história. Todos esses elementos são importantes para criar o mundo em que estamos inseridos e cumprem muito bem essa função. Um cenário bem construído e bem apresentado. Porém são utilizados também para fortalecer a mensagem e o texto da obra. São ferramentas narrativas. “Raya e o Último Dragão” é uma animação que busca nas diferenças a solução dos problemas. Mostra a força da união e que a confiança e empatia podem ser o caminho para viver em harmonia.

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Sunça no Streaming – A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas – Netflix (2021)

Em A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, Katie Mitchell é aceita na faculdade de cinema dos seus sonhos e seu pai decide aproveitar para realizar uma viagem em família para levá-la à universidade. Porém, seus planos são interrompidos por uma revolução robótica e agora os Mitchells terão que unir forças em família para trabalhar juntos para salvar o mundo.

113 min – 2021 – EUA

Dirigido e roteirizado por Michael Rianda, Jeff Rowe. Com Abbi Jacobson, Danny McBride, Maya Rudolph, Michael Rianda, Eric André, Olivia Colman, Fred Armisen, Beck Bennett, Chrissy Teigen, John Legend, Charlyne Yi, Blake Griffin, Conan O’Brien, Doug the Pug, Melissa Sturm, Doug Nicholas, Madeleine McGraw.

Em 2009 Phil Lord e Christopher Miller escreveram e dirigiram “Tá Chovendo Hambúrguer” a animação chamou atenção com seus personagens interessantes em uma trama louca e cativante. Suas participações em longas animados sempre são inventivas, bem humoradas e impulsionam a mídia para novas possibilidades. Um bom exemplo é o excelente “Homem-Aranha no Aranhaverso” de 2018. O qual eles escreveram e produziram. Agora em 2021 a dupla produz o filme “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas” que é escrito e dirigido por Michael Rianda e Jeff Rowe. Seguindo a linha das animações mencionadas encontramos um visual que impressiona, personagens cativantes com designs interessantes e uma linguagem ousada que mescla referências com interferências visuais e a estética das redes sociais e aplicativos de interação dos smartphones. A dupla de diretores, que fez parte da equipe da ótima série animada “Gravity Falls: Um Verão de Mistérios”,  é hábil em trabalhar com referências. Sabendo incorporá-las na história e nos arcos narrativos.  

Com personagens excêntricos e uma estética e identidade própria, a obra utiliza diversas técnicas para trazer a linguagem e os formatos da internet para a trama. A combinação entre animação 2D e animação 3D junto com os grafismos que vemos na tela deixa tudo com um tom novo, jovial e inventivo. Grafismos que muitas vezes fazem link direto com filtros e máscaras muito utilizados na internet.   Katie Mitchell (Com a voz original de Abbi Jacobson) é aceita na faculdade de cinema da Califórnia. Seu pai Rick (Com a voz original de Danny McBride), em uma tentativa de se reaproximar da filha, organiza uma viagem em família para levá-la à universidade. Durante o percurso acontece uma revolta das máquinas e os membros da família Mitchell são os únicos humanos não capturados. Cabe a eles resolverem seus conflitos e salvar o mundo. A assistente pessoal PAL (Com a voz original de Olivia Colman) é a vilã do longa. Porém, o apocalipse é apenas pano de fundo para uma história íntima, pessoal e um debate sobre a dificuldade de comunicação entre as pessoas. 

Katie é fã de cinema e viciada em internet, é através dela que são trabalhadas a maioria das referências. Ela procura seu lugar no mundo e a sua “tribo”. Um comportamento comum dos jovens adultos, aliás, um comportamento comum para humanos de todas as idades. Katie não se dá bem com o pai e fica aliviada com a possibilidade de ir para longe da família. Rick se esforça para interagir com a filha mas eles não conseguem se comunicar. Katie e o irmão Aaron (Com a voz original de Michael Rianda) se dão muito bem, já na relação com sua mãe, Linda (Com a voz original de Maya Rudolph), o diálogo existe apesar de acontecer alguns conflitos. É na dificuldade do diálogo e de entendermos uns aos outros que está o foco da trama. Um debate que se estende por toda a obra. O desentendimento da vilã PAL com seu criador Mark Bowman (Com a voz original de Eric André) nasce de uma falha de comunicação. Os robôs não conseguem compreender o cachorro pug da família Monchi (Com a voz original de @itsdougthepug). O caçula da família, Aaron, só se dá bem com dinossauros e não consegue interagir com a vizinha. Esses são alguns dos vários exemplos de elementos, arcos e sequências que refletem a dificuldade na comunicação. A Família Mitchell têm que salvar o mundo, mas o principal é não perder a relação entre eles e se entenderem melhor uns com os outros.

Uma animação divertida, inventiva e atual. Que apresenta um visual inovador com uma linguagem ousada em ritmo frenético. São muitas as referências à cultura pop e ao cinema. A obra também traz um debate e uma crítica às grandes empresas de tecnologia que visando lucro e crescimento comercializam nossos dados, criam algoritmos, assistentes pessoais e inteligências artificiais que interferem diretamente em nossa sociedade. As empresas não se preocupam com nosso bem estar e a tecnologia que poderia facilitar nossas relações pessoais, acaba dificultando nossa capacidade de entender o outro.                      

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Charada (1963)

Em Paris a americana Regina Lambert (Audrey Hepburn), que recentemente ficou viúva, tenta entender que tipo de vida o marido levava e onde podem estar escondidos os US$ 250 mil que muitos acreditam estar com ela.

113 min – 1963 – EUA

Dirigido por Stanley Donen. Roteirizado por Peter Stone (Baseado no livro de Peter Stone e Marc Behm). Com Cary Grant, Audrey Hepburn, Walter Matthau, James Coburn, George Kennedy, Dominique Minot, Ned Glass, Jacques Marin, Paul Bonifas, Thomas Chelimsky.

Em 1963 dizer que a dupla protagonista do filme era Audrey Hepburn e Cary Grant já era o suficiente para garantir o interesse do público. E, entre os cinéfilos, até hoje é algo que chama atenção. A dupla de atores se encontrou em “Charada”, uma comédia romântica criminal dirigida por Stanley Donen. Donen foi o responsável por “Cantando na Chuva” e “Um dia em Nova York”, ambos com Gene Kelly. Além da inédita dupla de protagonistas, o longa marca o reencontro do diretor Stanley Donen e Audrey Hepburn após trabalharem juntos em “Cinderela em Paris”. Alie o protagonismo de peso e seu diretor gabaritado com uma trama misteriosa, bem humorada, com suspense e cheia de reviravoltas. Assim é “Charada”, uma obra interessante e bem construída que sabe prender a atenção e interesse de seus espectadores.

Os psicodélicos e coloridos créditos iniciais nos lembram um bom filme de James Bond. Com setas, linhas, formas e labirintos em movimento, nos introduzem ao clima de mistério e investigação ao som de “Charade” composta por Henry Mancini. De forma abrupta vemos um corpo ser arremessado de um trem em movimento e assim entramos na trama. O roteiro de Peter Stone é uma adaptação do livro que ele mesmo escreveu em parceria com Marc Behm. Reggie Lampert (Audrey Hepburn) é uma mulher rica que está de férias em Paris. Ela pretende se divorciar de seu marido, eles têm uma relação de indiferença. Após tentar fugir com duzentos e cinquenta mil dólares seu marido é assassinado. O dinheiro desaparece após o crime. Porém essa pequena fortuna é cobiçada por muitas pessoas, inclusive pelo governo americano. Reggie não sabe nada sobre a vida do marido e nem do paradeiro do dinheiro, mas isso não impede que a moça se torne alvo de assassinos. Em meio a tudo isso ela conhece Peter Joshua (Cary Grant) que a ajuda (Ou não) na solução desse mistério. 

São muitas reviravoltas, e várias delas centradas no personagem de Grant. Um texto bem escrito em que nada é o que parece ser, uma corrida pelo dinheiro onde não há regras e o preço pode ser a vida. De mentira em mentira passamos a desconfiar de tudo e de todos. De morte em morte passamos a formar novas teorias e possíveis linhas narrativas. Os assassinos que perseguem Reggie eram conhecidos de seu marido. São eles: Tex (James Coburn), Scobie (George Kennedy) e Gideon (Ned Glass). Completando o talentoso elenco de apoio temos o agente da CIA Hamilton Bartholomew (Walter Matthau). 

Repleto de diálogos insinuantes e cômicos, as frases e conversas nos permitem várias leituras. Trazendo até insinuações sexuais. Audrey e Grant demonstram competência e simpatia. A dupla se destaca pela química e por nos convencer como casal. É claro que, ao assistir em 2021, Reggie parece uma donzela em perigo que se apaixona facilmente por um homem que mente e que a engana. Ignorando esse elemento problemático, para a época, a personagem de Audrey era sim forte e contestadora. Dito isso, a relação entre o casal é construída com elegância e o carisma dos atores nos cativa.  

“Charada” é divertido, misterioso e com muitas surpresas. Uma trama bem escrita que te faz duvidar de tudo e de todos até seus momentos finais.

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Sunça no Streaming – Relatos do Mundo – Netflix (2021)

Em Relatos do Mundo, no ano de 1870, o Capitão Jefferson Kyle Kidd, um viúvo que já lutou em duas guerras, viaja através do Texas oferecendo notícias do mundo para as pessoas, apesar dos jornais estarem se tornando cada vez mais acessíveis. Ele aceita uma proposta para levar uma menina de 10 anos, Johanna, até seus familiares. Criada pela tribo Kiowa, ela não conhece sua família e tem um comportamento hostil com as pessoas ao seu redor, mas acaba criando um vínculo com Kidd, forçando os dois a lidarem com as difíceis escolhas sobre o futuro.

118 min – 2021 – EUA

Dirigido por Paul Greengrass. Roteirizado por Paul Greengrass e Luke Davies (Baseado no livro de Paulette Jiles). Com Tom Hanks, Helena Zengel, Michael Covino, Fred Hechinger, Neil Sandilands, Thomas Francis Murphy, Mare Winningham, Elizabeth Marvel, Chukwudi Iwuji, Ray McKinnon, Bill Camp.

“Relatos do mundo” é o primeiro faroeste do diretor Paul Greengrass, o longa é baseado no livro de mesmo nome de Paulette Jiles. Paul foi o responsável pelos três últimos filmes, estrelados por Matt Damon, da saga Jason Bourne. O diretor se reencontra com Tom Hanks após terem trabalhado juntos em “Capitão Phillips”. A jovem Helena Zengel se une aos dois, e o trio apresenta uma obra bonita e emocionante. Trazendo à tona a diversidade entre os norte-americanos e os diferentes modos de pensar em uma desconstrução do western e da personalidade texana “padrão”. 

Acompanhamos o Capitão Jefferson Kyle Kidd (Tom Hanks) poucos anos após o fim da Guerra Civil, a trama se passa em 1870. Para os sulistas o clima de derrota ainda persiste. Não concordam com o pagamento das dívidas de guerra e têm muita dificuldade em aceitar a abolição da escravidão e o direito ao voto dos ex-escravos. É um ótimo contexto histórico que diz muito sobre as discordâncias ainda existentes na população dos Estados Unidos. Nas entrelinhas do longa encontramos importantes discussões: preconceito, racismo, xenofobia  e até mesmo fake news. O capitão é um dos derrotados na guerra, ele perdeu tudo e viaja de cidade em cidade lendo as notícias de jornais para os habitantes locais. Durante um de seus trajetos pelas perigosas estradas do velho oeste, ele encontra a pequena Johanna (Helena Zengel) que escapou de um assalto a diligência que a transportava. A menina viveu anos com o povo indigena Kiowa após ter sido sequestrada de sua família alemã. Sua família Kiowa é assassinada pelo exército americano e a garota estava sendo transportada para viver com seus tios. Kidd acaba aceitando a missão de levar Johana para sua nova casa. É essa jornada longa e perigosa de um sulista ex-combatente na guerra civil e uma garota alemã criada por indígenas que acompanhamos. 

A dupla protagonista é fascinante, Helena Zengel impressiona com uma atuação de impacto em uma difícil personagem. A garota de doze anos fala três línguas diferentes e passa por situações extremas em um papel que exige muito. Ao seu lado Tom Hanks demonstra sua já consagrada habilidade sabendo evocar muito bem o homem durão com traumas do passado que reencontra uma razão de viver. Porém, ele não é o cowboy clássico dos bangue-bangues, e sim alguém que é levado a tomar atitudes e ações dignas de um pistoleiro. Mesmo que a todo momento ele as tente evitar. Ambos têm de superar traumas, enfrentar as dificuldades do presente e encontrar seu lugar no mundo enquanto viajam pela linda fotografia de Dariusz Wolski. Durante a jornada temos algumas cenas pontuais de ação, impactantes e bem realizadas têm o objetivo de causar tensão e suspense. Mas todas elas também funcionam em prol da narrativa, seja deixando a dupla mais próxima, causando empatia em ambos ou mostrando mais a fundo como cada um daqueles personagens é.  

Em “Relatos do Mundo” encontramos um homem e uma garota que perderam seu lugar no mundo e suas histórias. Em meio a grandes empecilhos e dificuldades, conseguiram se reencontrar e almejar um futuro juntos contando histórias.

Nota do Sunça:

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