Sunça no Cinema – Malditos Cartunistas (2011)

Malditos Cartunistas é o 1o longa-metragem sobre humor gráfico no Brasil. Realizado de forma independente por Daniel Garcia e Daniel Paiva, cartunistas e editores da revista Tarja Preta aborda temas como a rotina de trabalho, censura, arte e mercado editorial. Numa conversa descontraída os autores retratam a história recente do Brasil, traçando um panorama sobre a profissão de desenhista de humor no Brasil desde o Pasquim nos anos 60 até os dias de hoje.

94 min – 2011 – Brasil

Dirigido e roteirizado por Daniel Paiva e Daniel Garcia. Com Adão Iturrusgarai, Allan Sieber, André Dahmer, Angeli, Arnaldo Branco, Caco Galhardo, Chiquinha, Danilo, Fábio Zimbres, Fernando Gonsales, Glauco, Guazzelli, Jaguar, Laerte, Leonardo, Lourenço Mutarelli, Marcatti, Márcio Baraldi, Maurício de Souza, Nani, Ota, Reinaldo, Schiavon, Spacca e Ziraldo.

Em 2011 os diretores Daniel Paiva e Daniel Garcia, que editaram e fizeram parte da equipe da hq independente “Tarja Preta”, lançaram o primeiro longa-metragem sobre o humor gráfico no Brasil. O documentário independente “Malditos Cartunistas” é uma conversa descontraída com quatro gerações diferentes de cartunistas. A partir de depoimentos o filme busca retratar a rotina de trabalho, como funciona o mercado editorial, o processo criativo e traçar um panorama da profissão cartunista e do humor gráfico entre os anos 60 e o início dos anos dois mil. Em 2011, o documentário ganhou o Troféu HQ Mix na categoria “melhor produção em outras linguagens”, também foi premiado no Festival CineSul e no Festival Nacional de Cinema de Petrópolis.

E agora, devido a pandemia do novo coronavírus os autores disponibilizaram na íntegra o documentário em seu canal no Youtube, o “Danieis ltda”. (https://www.youtube.com/user/Danieisltda)

Com pouco equipamento, pouca verba, mas bons contatos os “Danieis” entrevistaram vinte e cinco cartunistas. E a partir dos bate-papos fizeram um recorte onde esses grandes nomes conversam sobre o universo do cartum. Essa conversa, ilustrada com desenhos, cartuns e animações, contou com depoimentos gravados de 2007 a 2010 com os nomes: Adão Iturrusgarai, Allan Sieber, André Dahmer, Angeli, Arnaldo Branco, Caco Galhardo, Chiquinha, Danilo, Fábio Zimbres, Fernando Gonsales, Glauco, Guazzelli, Jaguar, Laerte, Leonardo, Lourenço Mutarelli, Marcatti, Márcio Baraldi, Maurício de Souza, Nani, Ota, Reinaldo, Schiavon, Spacca e Ziraldo.

O documentário conta com uma das ultimas entrevista de Glauco, o criador de Geraldão,  que faleceu em 2010. Glauco é um mestre dos cartuns que junto Laerte e Angeli, influenciou toda uma geração de jovens cartunistas. (Eu fui um deles) “Los Três Amigos” eram chamados.  

A estética é simples e eficiente. São quadros com as imagens dos entrevistados e pequenas inserções de imagens de suas obras e algumas animações. São vários cortes e uma montagem ágil e dinâmica que funciona bem para a proposta do longa.  Como o próprio título demonstra estamos diante de um humor ácido, com depoimentos auto-depreciativos sobre o que é ser um cartunista. Escutamos histórias, casos e experiências que mostram como é viver de humor gráfico, e como é vivenciar esse mercado. Rotinas, carreiras, sucessos e fracassos, as grandes revistas como Pasquim, Chiclete com Banana e Dum Dum tudo isso tem seu espaço e momento dedicado. Também são feitas algumas provocações como: “Quadrinho é arte?”, “É banal?” e “É coisa de criança?”. O roteiro estruturado pelos diretores é rápido e certeiro na maior parte do tempo. Porém em alguns momentos é nítida uma queda no ritmo. Um exemplo é a visita a Maurício de Souza Produções, passagem que parece um pouco fora de contexto.

“Malditos Cartunistas” têm noventa e três minutos de duração, porém foram mais de sessenta horas de filmagem. Com todo esse material extra, não utilizado no longa, e novos nomes como: Daniel Lafayette, Stevz, Tiago Lacerda, Cynthia B., Clara Gomes, Ciça, Tito e Luís Guerreiro, em 2012 nasceu “Malditos Cartunistas a série”. A produção contou com treze episódios e foi veiculada no Canal Brasil. Os capítulos tiveram duração entre dez e treze minutos, foram separados por temas e abordaram novos assuntos. Salões de humor, quadrinhos independentes, internet, adaptação aos computadores foram algumas das novas conversas. A série ainda contou com uma homenagem ao Glauco assassinado em 2010. Todos os episódios também estão disponíveis no canal da dupla no You Tube. Em 2013, a série de TV ganhou o Troféu HQ Mix novamente na categoria “melhor produção em outras linguagens” (https://www.youtube.com/playlist?list=PLfoWJdQ1RsQH78l4z8_WPWPp_qdu9Zi83)

Seis anos depois, em 2018, a saga continuou e tivemos a websérie “Mais Malditos Cartunistas”. A série online seguiu a mesma linha e estrutura, trouxe novos nomes mais contemporâneos, em episódios menores com cerca de cinco minutos de duração. Os nomes da vez foram: Andrício de Souza, Cynthia B., Laerte, Guabiras, Ciça, Paulo Caruso, Clara Gomes, João Montanaro, Luiz Gê e Bruno Maron. Os episódios também estão disponíveis no Youtube, no canal “Danieis ltda”. (https://www.youtube.com/playlist?list=PLfoWJdQ1RsQEa8WGNqVkchdawwB_qQuaO)

Acredito que o documentário gere interesse e que cause um impacto também no público não familiarizado com o mundo dos cartuns. Mas quem gosta da área e já teve algum contato, vai sair da exibição com uma experiência bastante prazerosa.  Um cartum é engraçado e inteligente, ele é certeiro e passa uma mensagem. Muitas vezes não é um desenho bonito mas sempre causa uma reflexão e te apresenta coisas novas. E assim é o documentário “Malditos Cartunistas” um retrato da profissão, através de relatos de quatro gerações diferentes de consagrados cartunistas.

Malditos Cartunistas – https://www.youtube.com/watch?v=GTuHGSeL0QU

Nota do Sunça:

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A realização de uma convenção de youtubers em um hotel atrai influenciadores de todo tipo e, é claro, seus fãs. A estrela maior do evento é Uesley (Gusta Stockler), um arrogante youtuber que destrata todos à sua volta e apenas se importa com a própria popularidade. Ao publicar em seu canal o flagra do beijo entre Mateus (Felipe Castanhari) e Natalia (Pathy dos Reis), Uesley sem querer impulsiona a popularidade da dupla, que passa a conquistar fãs como casal e, consequentemente, ofuscá-lo. Paralelamente, três amigos fazem uma aposta para que Vepê (Teddy) seduza Barbarinha (Polly Marinho), em troca de uma passagem para Los Angeles, e duas amigas, Malu (Thaynara OG) e Fabi (Gabi Lopes), chegam ao hotel sem saber que o local será palco de uma convenção de youtubers. Há ainda Cesinha Passos (Rafinha Bastos), que precisa aprender a lidar com a má fama que possui ao mesmo tempo em que convive com Adalgamir (Paulinho Serra), um fã que passa a trabalhar com ele, e também Paulinho (Rafael Cellbit), especialista em Street Fighter que se fantasia como youtuber e agora sofre a ameaça de ser desmascarado.

96 min – 2017 – Brasil

Dirigido por Filippo Capuzzi Lapietra, roteirizado por Rafinha Bastos. Com Gusta Stockler, Teddy, Rafinha Bastos, Felipe Castanhari, Pathy dos Reis, Cauê Moura, Julio Cocielo, Thaynara OG, Rafael Cellbit, Mr. Poladoful, Mauro Nakada, Igão Underground, Gabi Lopes, Paulinho Serra, Polly Marinho, Mr. Catra, Victor Meyniel e Micheli Machado.

O youtube vêm se consagrando como a “nova televisão”. Muitos jovens já não acompanham a tv aberta e os canais a cabo, dedicam seu tempo cada vez mais a vloggers e bloggers. E, é claro que o cinema não iria perder a chance de fazer dinheiro em cima dos milhões de inscritos nos canais dessas webcelebridades. O que não é um problema, desde que o produto final seja bem produzido e que almeje algo mais do que apenas o sucesso financeiro. Mas as tentativas recentes nos mostram que o objetivo é mesmo ganhar em cima da popularidade já conquistada por esses youtubers. Os fracos “É Fada” e “Eu fico Loko” são bons exemplos da tendência atual do mercado, até mesmo o bom “Contrato Vitalício” acaba depondo contra as tentativas de “levar o youtube” para a telona.

Em “Internet: O filme” a proposta é justamente tirar proveito de alguns famosos do Youtube. O objetivo é claro, lotar os cinemas de fãs. Uma pena que para isso não se preocupe com o produto que está entregando. A cena inicial mostra isso, é um plano sequência que nos mostra todos os personagens. Na verdade o que ela diz é: “Dá só uma olhada no tanto de webcelebridades que está nesse filme, não vai perder né?”. E a partir daí o que acompanhamos é uma série de quadros sem nenhuma conexão mas que se passam no mesmo evento. Não existe uma trama guia, nem a tentativa de nos contar uma história. São amigos que apostam quem vai pegar a gordinha, um cãozinho deprimido, duas amigas que aparecem por lá, um casal queridinho, um sequestro e Rafinha Bastos se auto-intitulando de cuzão. (Mais ou menos uma centena de vezes.) Para muitos os youtubers não têm um propósito, só querem ser conhecidos e obter a fama (E dinheiro). O que me parece bastante injusto afirmar desses produtores de conteúdo, mas bem razoável para descrever esse filme.   

Então, o longa de Fillippo Lapietra têm uma estrutura simples.  São planos fechados, cenários no estilo “A praça é nossa” e “Zorra total”, uma edição ágil focada nas piadas rápidas e com a intervenção de títulos, vídeos e memes. Lembrando bastante os vídeos dos vloggers que atuam na obra. Um conhecimento prévio de quem são aqueles youtubers se faz necessário, uma vez que “Internet: O filme”, além de ridicularizar os diversos “tipos” de apresentadores do Youtube, parece estar sempre brincando com as reais personas de seus atores. O reclamão está sempre reclamando, a snapchater famosa não gosta de snapchat, o gamer mau é um “bundão” e o Rafinha Bastos nas próprias palavras: É um cuzão. O que até causa algumas risadas, mas acaba nos tirando de dentro do filme a todo instante. Estamos sempre nos perguntamos qual youtuber é aquele, ou como são mesmo os vídeos dele?

Sem narrativa, sempre na busca da piada fácil e com a excessiva utilização de memes esse é o “Internet: O filme”. Que promete ter uma vida tão curta em nossas memórias quanto os diversos vídeos que assistimos diariamente em nossos dispositivos. Vale ressaltar a ironia de em um filme, onde a internet é o foco, as melhores participações serem de Raul Gil, Palmirinha e na melhor sacada do longa o Mr. Catra.   

Nota do Sunça:


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