Sunça no Cinema – Star Wars: A Ascensão Skywalker (2019)

Com o retorno do Imperador Palpatine, todos voltam a temer seu poder e, com isso, a Resistência toma a frente da batalha que ditará os rumos da galáxia. Treinando para ser uma completa Jedi, Rey (Daisy Ridley) ainda se encontra em conflito com seu passado e futuro, mas teme pelas respostas que pode conseguir a partir de sua complexa ligação com Kylo Ren (Adam Driver), que também se encontra em conflito pela Força.

142 min – 2019 – EUA

Dirigido por J.J. Abrams e roteirizado por J.J. Abrams e Chris Terrio. Com Daisy Ridley, John Boyega, Oscar Isaac, Adam Driver, Carrie Fisher e Kelly Marie Tran, Domhnall Gleason, Mark Hamill, Billy Dee Williams, Keri Russell, Ian McDiarmid.

Em 2015 “Star Wars: O Despertar da força” chegou aos cinemas. Para quem, assim como eu, ama a saga, o retorno da franquia foi um grande acontecimento. Dez anos depois de “Star Wars: A Vingança dos Sith”, encerrar a trilogia mais contestada da série, o diretor J.J. Abrams apostou na nostalgia. E acertou. Abrams conseguiu resgatar o que a série tinha de melhor. Não inovou, mas estabeleceu novos e interessantes personagens. Uma catadora “zé ninguém” que descobre a força, um Stormtrooper desertor, o piloto símbolo da Resistência e o Padawan prodígio que abraça o lado negro da força. O sucesso do retorno a amada Ópera espacial, abriu as portas para o excelente “Star Wars: Os Últimos Jedi” do diretor e roteirista Rian Johnson em 2017. 

Se o embate entre a luz e o lado negro, o bom versus o mal, sempre foi o ponto central de Star Wars, Johnson quebrou esse paradigma ao nos mostrar que os tradicionais lados do embate não eram tão opostos assim. A luz e a escuridão se confundem, andam lado a lado e convivem no mesmo espaço. O longa subverteu lugares-comuns da série, nos mostrou que os acontecimentos do passado devem servir como aprendizado e apresentou a ideia de que a força pode despertar em qualquer lugar e em qualquer “zé ninguém”. O diretor tomou decisões corajosas, empurrou a franquia para frente e inovou. O que, é claro, causou discussões e não agradou os fãs mais conservadores. A trilogia final focada na família Skywalker teve um ótimo início e um excelente desenvolvimento. E agora em 2019 J.J. Abrams retorna e dá um final sem graça e satisfatório para a saga.  

“Star Wars: A Ascensão Skywalker” não se preocupa em surpreender e não pretende inovar. O foco é fazer mais do mesmo. E restabelece a dualidade da força, ou você é bom ou você é mau. Se afasta das boas ideias propostas por “Os Últimos Jedi” e até mesmo ignora várias delas. É um filme feito para agradar o fã que “teve a infância arruinada” quando Rian Johnson expandiu arcos dramáticos de personagens já estabelecidos, aumentou o universo de possibilidades e mostrou que uma antiga franquia poderia se inovar aprendendo com o passado e traçar um rumo diferente para seu futuro. “A Ascensão Skywalker” é um filme que mostra para o fã conservador o que ele sempre quis ver, do jeito que ele queria ver, sem problematizar contextos, ideias e possibilidades. E tudo isso em uma trama que conta com “esquecimentos”, retornos mirabolantes, ameaças terríveis que são facilmente batidas, vários Deus ex machina e truques baratos de dramaturgia, como por exemplo mortes falsas para causar emoção (Sim, e mais de uma vez).

O Roteiro é simples, Kylo Ren (Adam Driver), após a morte de Snoke, se torna o novo Líder Supremo da primeira ordem. Rey (Daisy Ridley) continua seu treinamento para se tornar uma Jedi junto a uma resistência abandonada, desgastada e que tenta se reconstruir. Quando rumores de uma antiga e terrível ameaça aparecem, todos passam a temê-la e buscar formas de combatê-la, inclusive Kylo Ren. Um ressurgimento que surge do nada e que acaba com a mesma velocidade e impacto com o qual apareceu. Não foram apenas as inovações e decisões “polêmicas” que a obra decidiu esquecer, características importantes estabelecidas também parecem ter sofrido uma “nova interpretação”. Um bom exemplo é que nos episódios anteriores Poe Dameron (Oscar Isaac) era o melhor piloto da aliança, algo que não parece mais ser verdade. Fin (John Boyega), que ao lado de Rose (Kelly Marie Tran), teve contato com o lado cinza da galáxia, com seres que simplesmente não se importavam com a luta do bem contra o mal. Agora parece ter se esquecido de todo o aprendizado e remete muito mais ao personagem apresentado no “Despertar da força”.

A faceta humana de Rey e Kylo Rey apresentada no episódio anterior, mostrando um paralelo e a ligação entre os personagens, representado de forma física através da força. É aproveitada no capítulo final. Uma decisão acertada que se mostrou um dos maiores acertos do filme. A ligação estabelecida pela força é levada ao extremo, a ideia da díade é bem aproveitada e podemos ver bem as fraquezas e dúvidas dos protagonistas. Tudo é representado na tela em uma montagem elegante e visualmente interessante. Ainda que me pareça forçado o discurso de redenção e perdão. O Visual do longa e a criação da atmosfera impressiona. Remetem ao que temos de melhor na série e rendem belos duelos entre Rey e Kylo Ren. As cenas de ação são eficazes. Sequências de batalhas e confrontos vão ficar marcadas na memória. A homenagem a General Leia Organa (Carrie Fisher) é linda. Ela é incorporada a trama de forma orgânica, com truques de câmera e cenas não utilizadas em filmes anteriores.  Fisher faleceu em 2016, antes das filmagens de “A Ascensão Skywalker”. Não podemos dizer o mesmo da participação de Lando Calrissian (Billy Dee Williams), que têm aparições pontuais para empurrar a trama e servir como um dos vários Deus ex machina presentes na projeção.   

Em “Star Wars: A Ascensão Skywalker” os personagens têm motivações fracas, acontecimentos e aparições que apenas servem para faze-los deslocar de um lado para o outro no espaço e ameaças e obstáculos terríveis e impossíveis que são facilmente superados. O ponto central da trama depende de uma “carta na manga” controversa e vários acontecimentos e decisões justificadas como a “vontade da força”. Para encerrar uma saga iniciada em 1977, “A Ascensão Skywalker” opta pela nostalgia e por mais do mesmo. Abandona tudo de inovador e restabelece antigos parâmetros. Apresenta uma aventura espacial com estética bonita, ritmo acelerado e vínculo emocional. Um encerramento satisfatório, que aposta nas decisões seguras e que não faz jus ao legado da franquia.

Nota do Sunça:

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Após encontrar o mítico e recluso Luke Skywalker (Mark Hammil) em uma ilha isolada, a jovem Rey (Daisy Ridley) busca entender o balanço da Força a partir dos ensinamentos do mestre jedi. Paralelamente, o Primeiro Império de Kylo Ren (Adam Driver) se reorganiza para enfrentar a Aliança Rebelde.

152 min – 2017 – EUA

Dirigido e roteirizado por Rian Johnson. Com Mark Hamill, Daisy Ridley, John Boyega, Oscar Isaac, Laura Dern, Domhnall Gleason, Andy Serkis, Adam Driver, Carrie Fisher e Kelly Marie Tran.

Em Star Wars o ponto central sempre foi o embate luz e o lado negro da força. O bom versus o mal. Eis que o diretor Rian Johnson, e também roteirista, de “Star Wars: Os Últimos Jedi” nos apresenta uma obra focada em uma nova área, a cinza. Agora, no oitavo longa da franquia, fica claro que os tradicionais lados do embate não são tão opostos assim. Eles andam lado a lado, convivem no mesmo espaço e se confundem. Personagens como DJ (Benício Del Toro) e/ou uma passagem por cidade cassino pode parecer desnecessário ou subutilizado. Mas, na verdade, têm o objetivo de deixar ainda mais claro como os conceitos são misturados. A mescla da premissa tradicional do bem contra o mal permeia todo o longa e seus personagens.

A trama da sequência aos acontecimentos de “Star Wars: O despertar da força” e se divide em três linhas dramáticas. A Primeira Ordem, em posição de superioridade, persegue os rebeldes remanescentes. A Aliança Rebelde, liderada pela general Organa (Carrie Fisher), está enfraquecida perante os exércitos do líder supremo Snoke, liderados pelo general Hux (Domhnall Gleeson) e o aprendiz Kylo Ren (Adam Driver). O atormentado Ren continua sua luta para se provar um bom aprendiz do lado negro da força. Já Rey (Daisy Ridley), tenta convencer o exilado Luke Skywalker (Mark Hamill) a se unir a causa rebelde. Luke não se mostra interessado em lutar e nem em treinar a jovem. Enquanto isso Finn (John Boyega), Poe Dameron (Oscar Isaac) e a novata Rose (Kelly Marie Tran) precisam impedir que as naves da Primeira Ordem persigam as embarcações rebeldes.

O filme nos mostra uma faceta mais humana de seu personagens, é interessante como cria uma ligação e um paralelo entre Rey e Kylo Ren. Luke demonstra fraquezas e dúvidas está longe de ser a grandiosa lenda antes apresentada. São corajosas as decisões do diretor, elas renovam a saga e mudam estruturas tradicionais dos longas anteriores. “Os Últimos Jedi” provoca questionamentos e transforma seus personagens. (É comum a sensação de que os protagonistas não sabem qual caminho percorrer.) É equilibrado, traz mais humor que os longas passados combinados com momentos bem mais intensos do que alguns vistos em “Star Wars: O império contra-ataca”. E no fim, consegue ser inspirador. Uma questão importante que permeia todo o filme é o embate entre passado e presente. Se em “O Despertar da força” somos apresentados aos novos personagens e reencontramos os antigos, agora os novatos assumem a liderança.

Rey, cada vez menos inocente, continua carismática e protagoniza cenas memoráveis com o melhor Luke Skywalker visto no cinema. Hamill é engraçado, emociona e consegue demonstrar a imperfeição de seu personagem. Adam Driver mostra o conflito e a força de Kylo Ren enquanto percebemos sua fúria crescer gradativamente. Carrie Fisher recebe uma linda homenagem, e a general Organa é inspiradora e poderosa. Poe Dameron recebe mais destaque e Oscar Isaac consegue transformar o piloto em um personagem multifacetado. Poe é de fato o melhor piloto da aliança e protagoniza as batalhas espaciais mais dramáticas e emocionantes da saga. Isso devido ao ótimo trabalho de edição de som, mixagem e efeitos espaciais. Fin e Rose rendem bons alívios cômicos e seus arcos ilustram bem como a galáxia é cinza e nos mostra que nem todos seus seres estão engajados na guerra. Homenagens são feitas e o sentimento de nostalgia evocado, mas sempre de forma fluida no roteiro e ajudando a trama a caminhar adiante. Vale um destaque para a trilha de John Williams que sabe muito bem mesclar temas novos e antigos ao longo da obra.

É fácil afirmar que “Star Wars: Os Últimos Jedi” é o longa com o visual mais bonito da série. A batalha final prova isso. É também um filme que acredita em seus personagens, explora suas facetas e os deixa mais “humanos”. E essa dualidade é perceptível, é palpável. O diretor toma decisões corajosas, empurra a franquia para frente e inova. Uma boa aposta no verdadeiro equilíbrio da força.

Nota do Sunça:

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