Sunça no Streaming – Relatos do Mundo – Netflix (2021)

Em Relatos do Mundo, no ano de 1870, o Capitão Jefferson Kyle Kidd, um viúvo que já lutou em duas guerras, viaja através do Texas oferecendo notícias do mundo para as pessoas, apesar dos jornais estarem se tornando cada vez mais acessíveis. Ele aceita uma proposta para levar uma menina de 10 anos, Johanna, até seus familiares. Criada pela tribo Kiowa, ela não conhece sua família e tem um comportamento hostil com as pessoas ao seu redor, mas acaba criando um vínculo com Kidd, forçando os dois a lidarem com as difíceis escolhas sobre o futuro.

118 min – 2021 – EUA

Dirigido por Paul Greengrass. Roteirizado por Paul Greengrass e Luke Davies (Baseado no livro de Paulette Jiles). Com Tom Hanks, Helena Zengel, Michael Covino, Fred Hechinger, Neil Sandilands, Thomas Francis Murphy, Mare Winningham, Elizabeth Marvel, Chukwudi Iwuji, Ray McKinnon, Bill Camp.

“Relatos do mundo” é o primeiro faroeste do diretor Paul Greengrass, o longa é baseado no livro de mesmo nome de Paulette Jiles. Paul foi o responsável pelos três últimos filmes, estrelados por Matt Damon, da saga Jason Bourne. O diretor se reencontra com Tom Hanks após terem trabalhado juntos em “Capitão Phillips”. A jovem Helena Zengel se une aos dois, e o trio apresenta uma obra bonita e emocionante. Trazendo à tona a diversidade entre os norte-americanos e os diferentes modos de pensar em uma desconstrução do western e da personalidade texana “padrão”. 

Acompanhamos o Capitão Jefferson Kyle Kidd (Tom Hanks) poucos anos após o fim da Guerra Civil, a trama se passa em 1870. Para os sulistas o clima de derrota ainda persiste. Não concordam com o pagamento das dívidas de guerra e têm muita dificuldade em aceitar a abolição da escravidão e o direito ao voto dos ex-escravos. É um ótimo contexto histórico que diz muito sobre as discordâncias ainda existentes na população dos Estados Unidos. Nas entrelinhas do longa encontramos importantes discussões: preconceito, racismo, xenofobia  e até mesmo fake news. O capitão é um dos derrotados na guerra, ele perdeu tudo e viaja de cidade em cidade lendo as notícias de jornais para os habitantes locais. Durante um de seus trajetos pelas perigosas estradas do velho oeste, ele encontra a pequena Johanna (Helena Zengel) que escapou de um assalto a diligência que a transportava. A menina viveu anos com o povo indigena Kiowa após ter sido sequestrada de sua família alemã. Sua família Kiowa é assassinada pelo exército americano e a garota estava sendo transportada para viver com seus tios. Kidd acaba aceitando a missão de levar Johana para sua nova casa. É essa jornada longa e perigosa de um sulista ex-combatente na guerra civil e uma garota alemã criada por indígenas que acompanhamos. 

A dupla protagonista é fascinante, Helena Zengel impressiona com uma atuação de impacto em uma difícil personagem. A garota de doze anos fala três línguas diferentes e passa por situações extremas em um papel que exige muito. Ao seu lado Tom Hanks demonstra sua já consagrada habilidade sabendo evocar muito bem o homem durão com traumas do passado que reencontra uma razão de viver. Porém, ele não é o cowboy clássico dos bangue-bangues, e sim alguém que é levado a tomar atitudes e ações dignas de um pistoleiro. Mesmo que a todo momento ele as tente evitar. Ambos têm de superar traumas, enfrentar as dificuldades do presente e encontrar seu lugar no mundo enquanto viajam pela linda fotografia de Dariusz Wolski. Durante a jornada temos algumas cenas pontuais de ação, impactantes e bem realizadas têm o objetivo de causar tensão e suspense. Mas todas elas também funcionam em prol da narrativa, seja deixando a dupla mais próxima, causando empatia em ambos ou mostrando mais a fundo como cada um daqueles personagens é.  

Em “Relatos do Mundo” encontramos um homem e uma garota que perderam seu lugar no mundo e suas histórias. Em meio a grandes empecilhos e dificuldades, conseguiram se reencontrar e almejar um futuro juntos contando histórias.

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Jason Bourne (2016)

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Fora do radar como lutator de rua, Jason Bourne (Matt Damon) é surpreendido por Nicky Parsons (Julia Stiles), que o procura oferecendo novas informações sobre seu passado. Inicialmente resistente, ele acaba voltando aos Estados Unidos para continuar a investigação e entra na mira do ex-chefe Robert Dewey (Tommy Lee Jones), que teme mais um vazamento de dados. Dentro na CIA, no entanto, a novata Heather Lee (Alicia Vikander) acredita que tentar recrutar Bourne para a agência seja a melhor solução.

123 min – 2016 – EUA

Dirigido por Paul Greengrass, roteirizado por Christopher Rouse e Paul Greengrass. Com Matt Damon, Alicia Vikander, Julia Stiles, Tommy Lee Jones e Vincent Cassel

Particularmente gosto muito da franquia de Jason Bourne, com exceção do fraco O Legado Bourne (De 2012 protagonizador por Jeremy Renner e dirigido por Tony Gilroy). Em seu primeiro filme, Identidade Bourne (2002) com direção de Doug Liman, o personagem causou um impacto no gênero, forçando uma mudança nos filmes de espionagem, detetive e ação em geral. Tudo isso foi fortalecido e mais estabelecido em Supremacia Bourne (2004) e O Ultimato Bourne (2007) ambos dirigidos por Paul Greengrass. Esses filmes construíram a parceria entre o diretor e o ator Matt Damon. A trilogia (Apenas os longas protagonizados por Damon) teve tamanho impacto no mercado que forçou uma mudança no então já estabelecido James Bond. E a dupla retorna mais uma vez e produz um bom filme para a saga de Jason Bourne.

O longa se torna relevante na medida em que traz a tona um tema importante e atual, a pesar de não o explorar a fundo. É uma discussão sobre a segurança nacional e os excessos de vigilância e invasão de privacidade sobre nós cidadãos. A vigilância online ganha papel de destaque, aproveitando dos eventos protagonizados por Snowden (Mencionado diversas vezes ao longo do filme) nossas redes sociais, aparelhos eletrônicos e vida cada vez mais exposta devido a excessiva utilização da internet é explorado. A cada cena de ação e luta os personagens utilizam comunicadores, vigilância por satélites, software de reconhecimento de faces dentre outros. Em determinado momento a personagem de Alicia Vikander apaga arquivos de um notebook hackeando um celular que estava próximo ao aparelho, em outra cena ela consegue invadir o sistema elétrico de Reykjavik.

No filme Jason Bourne (Matt Damon) sobrevive como lutador de rua até que Nicky Parsons (Julia Stiles) o encontra e oferece novas informações sobre seu passado e pede ajuda para expor projetos da CIA. O diretor da CIA Robert Dewey (Tommy Lee Jones) passa a perseguir Bourne, ele teme mais um vazamento de dados, uma vez que Jason foi responsável pelo vazamento anterior, o projeto Blackbriar. Ele conta com a ajuda de um agente brutal chamado de Asset (Vincent Cassel) e com sua subordinada Heather Lee (Alicia Vikander) que acredita ser possível trazer Bourne de volta para a agência. Com cenas de ação empolgantes  e bem filmadas, Paul Greengrass e sua câmera sempre em movimento consegue nos colocar no meio da ação e evocar um sentimento de urgência. É interessante perceber como o filme encaixa bem a tecnologia atual nas cenas de perseguição, sem que elas fiquem cansativas e/ou desinteressantes. A proposta (Iniciada nos filmes anteriores)  de manter as cenas de ação “realistas” sem mantêm, quando o protagonista briga sentimos a intensidade de cada golpe e na perseguição final, que não utiliza de telas verdes e excessivos efeitos digitais, percebemos toda a destruição causada. Mais um bom trabalho de Greengrass que nunca nos deixa perdidos em suas perseguições e cenas de ação, por mais grandiosas que sejam.

Jason Bourne conta com um bom elenco, Alicia Vikander constrói uma personagem forte e ambiciosa. Que sabe muito bem como utilizar “suas cartas” para se fortalecer no “jogo”. Tommy Lee Jones está muito bem, é um bom diretor da CIA extremamente ameaçador em diversos momentos. Matt Damon continua convencendo como um astro de ação e seu personagem não assume um dos lados, segue defendendo seus interesses, chega até mesmo a dizer para um dos hackers do filme: “Não estou do seu lado”. É legal que Bourne continua a utilizar “ferramentas” que encontra ao seu redor para auxiliar nos momentos de ação, uma perna de mesa e uma alavanca de um caça níquel são valiosos instrumentos em suas mãos.  

Logo no início do longa o protagonista diz que lembra de tudo, o que não se concretiza no decorrer da trama. Jason sofre vários acessos de lembranças perdidas. E não acontece atoa, o objetivo de vincular seu passado a trama atual é claro. Um dos pontos fracos é justamente a necessidade em excesso de vincular os acontecimentos atuais ao protagonista gerando uma ligação desnecessária entre Bourne e o personagem de Vincent Cassel. É uma trama exagerada (Como nos demais filmes da franquia) mas bem desenvolvida e trabalhada. O estilo realista de ação leva o filme a diversas locações na Europa, visitamos a Islândia, Berlim, Londres, Washington e ate somos presenteados com uma empolgante cena em um protesto na Grécia. O filme entrega o Jason Bourne que queríamos com a ação que queríamos em um trama que tateia um tema de relevante importância. É um bom retorno da dupla Matt Damon e Paul Greengrass para a franquia.

Nota do Sunça:

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