Sunça no Cinema – O Mágico de OZ (1939)

Em Kansas, Dorothy (Judy Garland) vive em uma fazenda com seus tios. Quando um tornado ataca a região, ela se abriga dentro de casa. A menina e seu cachorro são carregados pelo ciclone e aterrisam na terra de Oz, caindo em cima da Bruxa Má do Leste e a matando. Dorothy é vista como uma heroína, mas o que ela quer é voltar para Kansas. Para isso, precisará da ajuda do Poderoso Mágico de Oz que mora na Cidade das Esmeraldas. No caminho, ela será ameaçada pela Bruxa Má do Oeste (Margaret Hamilton), que culpa Dorothy pela morte de sua irmã, e encontrará três companheiros: um Espantalho (Ray Bolger) que quer ter um cérebro, um Homem de Lata (Jack Haley) que anseia por um coração e um Leão covarde (Bert Lahr) que precisa de coragem. Será que o Mágico de Oz conseguirá ajudar todos eles?

112 min – 1939 – EUA

Dirigido por Victor Fleming e roteirizado por Noel Langley, Florence Ryerson e Edgar Alan Woolf (baseado no romance The Wonderful Wizard of Oz, de L. Frank Baum). Com Judy Garland, Frank Morgan, Ray Bolger, Jack Haley, Bert Lahr.

“O Mágico de OZ” é um clássico. A imagem de cinco personagens visualmente diferentes caminhando pela estrada de tijolos amarelos é inesquecível. Assim como a maravilhosa canção “Somewhere Over The Rainbow”. Marcadas na memória também estão as frases: “Totó, acho que não estamos mais no Kansas” e “Não há lugar como o lar”. O longa é baseado no primeiro livro da série escrita por L. Frank Baum. Nele acompanhamos a história de Dorothy uma jovem do Kansas que através de um tornado é levada ao mágico mundo de OZ. No Kansas conhecemos sua família e seus afetos e desafetos. Esses personagens criam um paralelo com as novas amizades e inimizades criadas em OZ. 

Na trama Dorothy (Judy Garland) acidentalmente mata a bruxa má do leste, o que deixa os moradores locais, os muchkins, muito felizes. Agrada também a bruxa boa do Norte, Glinda (Billie Burke). Quem não fica feliz é a irmã da falecida, a bruxa má do oeste (Margaret Hamilton), que resolve se vingar. Dorothy e Totó partem em uma jornada para conseguir a ajuda do Mágico de OZ. No percurso ela fica amiga do Espantalho (Ray Bolger) que não têm um cérebro, um leão (Bert Lahr) que não tem coragem e um Homem de Lata (Jack Haley) que não têm um coração. Todos eles resolvem acompanhar Dorothy e pedir ajuda ao mágico para resolver seus problemas. 

É um roteiro eficiente que transforma uma garota do interior cansada de sua rotina em uma heroína num mundo mágico repleto de descobertas e novos amigos. Uma mudança pontuada pela fotografia e pelo diretor do longa. As cenas no Kansas são retratadas em tons sépia e as cenas em OZ em belas cores technicolor. A parte técnica do filme merece destaque. A fotografia com cores vibrantes, os cenários extremamente bem feitos e os efeitos visuais de qualidade nos deixam maravilhados e nos colocam dentro de OZ. São planos e sequências que parecem pinturas. O diretor Victor Fleming faz um ótimo trabalho nas coreografias e sequências musicais. Além de contar com interpretações ótimas, que criam personagens caricatos e divertidos. A maquiagem é incrível e nos deixa acreditar em espantalhos, homens de lata, leões e bruxas malvadas.

“O Mágico de OZ” é um filme infantil, que apresenta uma mensagem de afeto e bondade. Traz a ideia de “Não há lugar como nosso lar” e a temática de que aquilo que procuramos está em nós mesmos. São debates bem construídos e passíveis de várias interpretações. Ainda temos toda uma camada crítica. A relação abusiva entre a bruxa má e os munchkins e as atitudes autoritárias de OZ são bons exemplos. Dorothy sempre teve tudo o que precisava para derrotar a bruxa má, assim como seus amigos já tinham tudo aquilo que buscavam. “O Mágico de OZ” nos convida a perceber como é mágica nossa própria vida e como somos mais fortes e capazes do que imaginamos.  

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Sunça no Cinema – O Esquadrão Suicida (2021)

Liderados por Sanguinário (Idris Elba), Pacificador (John Cena), Coronel Rick Flag (Joel Kinnaman), e pela psicopata favorita de todos, Arlequina (Margot Robbie), o Esquadrão Suicida está disposto a fazer qualquer coisa para escapar da prisão. Armados até os dentes e rastreados pela equipe de Amanda Waller (Viola Davis), eles são jogados (literalmente) na remota ilha Corto Maltese, repleta de militantes adversários e forças de guerrilha. O grupo de supervilões busca destruição, mas basta um movimento errado para que acabem mortos.

132 min – 2021 – EUA

Dirigido e roteirizado por James Gunn. Com Margot Robbie, Viola Davis, Joel Kinnaman, Jai Courtney, Idris Elba, John Cena, Sylvester Stallone, Peter Capaldi, David Dastmalchian, Daniela Melchior, Dee Bradley Baker, Michael Rooker, Alice Braga, Pete Davidson, Nathan Fillion, Sean Gunn, Flula Borg, Mayling Ng, Steve Agee, Taika Waititi, Storm Reid, Jennifer Holland e Ernesto Álvarez.

Após dois filmes de sucesso dos “Guardiões da Galáxia” na Marvel, James Gunn, assume o comando de “O Esquadrão Suicida” na DC. Tendo assim a difícil missão de arrumar a casa depois do fraco “Esquadrão Suicida” de 2016. Gun aposta no deboche e em elementos “trash” dos filmes B para construir seu universo irônico onde nada importa e tudo é descartável.  Sangue, violência gráfica e estilizada, palavrões e xingamentos, constroem o clima anárquico e ridículo daquela equipe e sua missão. O longa não se leva a sério mas não esconde as consequências das atitudes sanguinárias de seus personagens. É justamente no contraste entre o humor leve e a violência gráfica, ou, entre a empatia e o desprezo, que a obra cria sua identidade.

O diretor e roteirista James Gunn, cria um novo patamar de ridículo ao encontrar nos arquivos da DC personagens esquecidos e irrelevantes da editora. São vilões e poderes esdrúxulos.  Para citar alguns, temos o Doninha (Sean Gunn), o O.C.D. (Nathan Fillion) e o  Bolinhas (David Dastmalchian). Bolinhas tem um superpoder absurdo e é incrível como o diretor e o ator nos mostram isso em tela. São muitos personagens, todos interessantes e descartáveis. A importância deles não é nula apenas para a chefe Amanda Waller (Viola Davis), mas também para a obra. São mortes exageradas e inventivas em sequências esteticamente lindas. Portanto, não se apegue a ninguém.   

“O Esquadrão Suicida” é uma sequência do longa de 2016, porém é também um novo começo para a franquia. A nova equipe é formada por Sanguinário (Idris Elba), Pacificador (John Cena), Caça-Ratos 2 (Daniela Melchior), Tubarão-Rei (Voz de Sylvester Stallone) e Bolinhas. Juntos a eles, temos os já conhecidos Rick Flag (Joel Kinnaman) e a Arlequina (Margot Robbie). O novo time é enviado para a ilha Corto Maltese que acabou de sofrer um golpe militar. O objetivo é destruir o Projeto Starfish para que o novo governo não seja capaz de utilizá-lo. Essa é a trama. Uma explosão absurda, ridícula e cômica. O filme também funciona como uma crítica ao imperialismo e a política externa dos Estados Unidos. O verdadeiro motivo da missão do esquadrão, deixa claro como o intervencionismo externo estadunidense destrói nações e justificam atrocidades. Sempre alegando a falsa busca pela paz. A personificação dessa postura incoerente e rasa é o personagem Pacificador. Em suas próprias palavras: “Valorizo a paz com todo meu coração, não importa quantos homens, mulheres e crianças eu terei que matar para consegui-la”.  

O roteiro não suaviza a vilania dos personagens, eles fazem atrocidades sem hesitar. O time de vilões não pensa duas vezes antes de dizimar uma vila de nativos. Para apenas depois de toda aniquilação se perguntar quem eram aquelas pessoas, ou, se deveriam mesmo estar fazendo aquilo. Como a personalidade de cada membro é bem definida, do convívio deles resulta ótimas sequências. A equipe principal funciona muito bem, a interação dinâmica entre os personagens e seus diálogos incisivos evidenciam os contrastes entre aqueles seres. Sanguinário é o líder cínico que tem uma bússola moral própria, o Pacificador é o brucutu pastelão que não percebe suas incoerências e a Caça Ratos 2 é a moralidade e a empatia do grupo. Ainda temos o Tubarão Rei, um tubarão antropomórfico sanguinário e com pouca inteligência. Um ótimo trabalho de voz do Stallone. O estranho Bolinhas e seus poderes bizarros possibilitam ótimas sequências, com destaque para a forma como ele externa seus traumas.  Margot Robbie é cada vez melhor como a Arlequina. Em uma sequência violenta e esteticamente bela,  podemos ver como sua realidade é separada do mundo real à sua volta.

A trama se passa ao longo de uma missão. A montagem do longa deixa tudo mais ágil ao saltar entre passado, futuro e presente. Gun sabe amarrar tudo com sequências memoráveis, inventivas e bonitas. É nítida a preocupação de deixar a ação clara e criar ritmo e energia para o filme. Porém ao final fica a sensação de uma ruptura com toda a proposta inicial, seja no contexto da crítica política ou no caos proposto. Ainda que seja possível a interpretação de que o maldito imperialismo sempre vence. (O que a cena pós-créditos deixa bem claro) É triste pensar que após a revelação do real motivo da missão os personagens seriam coniventes com as autoridades, das quais, acabaram se rebelando momentos antes.                

“O Esquadrão Suicida” mantém um nível alto de humor ao longo de todo o filme. Sabe lidar com o absurdo e ridículo de sua trama, sem ter medo de colocar em cena um monstro de proporções exageradas. Vale um elogio a alegoria que esse “monstro” do ato final representa. É válida a crítica ao imperialismo e aos governos autoritários e seus seguidores. Também se faz presente a ideia de que nem sempre o inimigo do meu inimigo é meu amigo. Isso na figura dos guerrilheiros combatentes ao regime ditatorial, que se aliam a um mal para evitar outro mal. A história nos mostra que isso nunca é uma boa ideia. Uma obra com estética incrível que consegue ser sombria e extremamente brilhante e colorida. James Gunn cumpre a sua missão de resgatar o esquadrão, e agora, pode voltar tranquilo para a Marvel.

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Sunça no Cinema – O Último Jogo (2021)

Dois vilarejos separadas por 9km e uma rivalidade ferrenha. Do lado brasileiro, os habitantes de Belezura, uma pequena cidade que vive de empregos na indústria moveleira, está prestes a encarar dois eventos que mudarão suas vidas: o fechamento da fábrica e a última partida de futebol contra os arquirrivais argentinos do povoado vizinho, o que para eles torna-se a última partida de futebol antes do fim do mundo. E em um ponto todos concordam – é preciso vencer, nem que para isso tenham que dar a própria vida.

100 min – 2021 – Brasil

Dirigido por Roberto Studart. Roteirizado por Ecila Pedroso e Roberto Studart. Com Pedro Lamin, Juliana Schalch, Bruno Bellarmino, Betty Barco, Norberto Presta.

Em “O Último Jogo” o diretor Roberto Studart faz uma homenagem ao futebol e a rivalidade entre o Brasil e a Argentina. Para isso, opta pelo humor nonsense e irônico, com uma fotografia colorida e saturada, e um contexto atemporal e fabulesco. Uma piada de boteco que diverte, provoca algumas risadas, em alguns momentos te deixa indiferente e é efêmera em sua natureza.  

 A trama se passa na pacata cidade fictícia brasileira, Belezura. Por lá conhecemos vários personagens inusitados e caricatos que estão diante de um dilema. Belezura têm fronteira com a cidade argentina Guapa e os cidadãos de ambas localidades demonstram uma enorme rivalidade que toma tons agressivos nos jogos futebolísticos dominicais. A cidade brasileira sobrevive devido a uma fábrica que emprega a todos. Ela está prestes a fechar. Com o fim próximo os moradores de Belezura tem um único objetivo, ganhar a última partida de futebol de várzea, que vai acontecer dali a sete dias. Califórnia (Pedro Lamin) é o craque do time de Belezura, mas ele só quer saber de beber pinga, escrever poesia e pintar quadros. Fumar também, fuma o tempo inteiro. O treinador Arlindo (Norberto Presta) está prestes a desistir quando surge o misterioso Expedito, o “Fantasista da Bola Branca” (Bruno Bellarmino). Os torcedores passam a tentar de tudo para que Expedito seja a arma secreta do time de Belezura na derradeira partida. 

A comédia mostra o cotidiano pacato da cidade e assume tons poéticos típicos de lugarejos perdidos no mapa. A ideia de fantasia e surrealismo da ambientação passa também pelos personagens da obra que assumem papéis lineares e estereótipos. A esposa abandonada que só pensa em sexo, o presidiário bom de bola, o treinador que respira e vive do futebol, o argentino agressivo e carrancudo e o narrador. Esse é o melhor personagem da obra. Ele, o veterinário da cidade, narra as partidas utilizando jargões médicos. A estrutura assumida pelo filme é a de uma série de eventos cômicos onde os habitantes de Belezura tentam convencer Expedito a ficar para a partida. Assim temos sequências engraçadas, inusitadas, indiferentes, vergonha alheia e sem graça. O problema nessas passagens, é que as ações não têm consequências. As tentativas de convencer Expedito nos geram expectativas de problemas a frente na trama como: Situações desconfortáveis, brigas, revelações e etc. Porém a grande maioria não gera efeito algum na narrativa. Um bom exemplo é o tempo dedicado a sensualidade e sedução que geram traições, intrigas e especulações. Porém resultam em nada. 

“O Último Jogo” apresenta belas cenas de futebol. Durante as partidas as jogadas têm sincronia, são rápidas e habilidosas, passando bem a emoção de se acompanhar a uma peleja.  Mas a sensação final é a de uma boa ideia desperdiçada. Uma bela e divertida homenagem ao futebol e a rivalidade entre o Brasil e a Argentina, mas que soa efêmera e não memorável.

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – O Auto da Boa Mentira (2021)

Dizem que mentira tem perna curta. Se isso é verdade, a bichinha corre rápido, viu! Em quatro histórias inspiradas em contos bem humorados de Ariano Suassuna, cada uma criada a partir de frases do poeta paraibano, conhecemos Helder (Leandro Hassum), Fabiano (Renato Góes), Pierce (Chris Mason) e Lorena (Cacá Ottoni), vivendo diferentes situações onde, ironicamente, a mentira é sempre a protagonista. 

100 min – 2021 – Brasil

Dirigido por José Eduardo Belmonte. Roteirizado por João Falcão, Tatiana Maciel e Célio Porto. Com Leandro Hassum, Rocco Pitanga, Nanda Costa, Giselle Batista, Michelle Batista, Mariana Bassoul, Renato Góes, Matheus Dantas, Cassia Kis, Jackson Antunes, Romulo Marinho, Carlos Gregório, Flávia Prosdocimi, Andrely, Chris Mason, Serjão Loroza, Jesuita Barbosa, Marcelo Magano, Duda Senna, Bruno Bebiano, Cacá Ottoni, Luis Miranda, Johnny Massaro, Leo Bahia, Letícia Novaes, Letícia Isnard, Karina Ramil, Rodrigo Garcia, Silvio Guindane, Juliana Poggi.

Tudo o que esbarra ou encosta em Ariano Suassuna parece ganhar imediatamente uma qualidade única. Ariano era um gênio da brasilidade e uma daquelas pessoas iluminadas que parece ser consciente de seu papel aqui neste planeta. O longa “O Auto da Boa Mentira” que chega aos cinemas nesta semana é um bom exemplo disso. Dirigido por José Eduardo Belmonte o filme se inspira em falas, entrevistas e anedotas de Suassuna. Belmonte conta quatro histórias que têm a mentira como tema central, todas com tempo para se desenvolver e nos deixar aprofundar em cada uma. Em alguns momentos o ritmo inconstante incomoda e é inevitável a comparação entre as histórias já que diferem em qualidade e humor. 

Em uma das tramas temos Helder (Leandro Hassum) um funcionário do RH que é confundido com um famoso comediante. Ele conhece Caetana (Nanda Costa) e ambos acabam se “ajudando”. Na sequência temos o melhor dos quatro contos, nele Fabiano (Renato Góes)  descobre que sua mãe (Cassia Kis) mentiu sobre a verdadeira identidade de seu pai. Nas palavras dela: “Mãe mente para filho toda hora!”. E essa mentira leva o rapaz a ter de lidar com o Palhaço Romeu (Jackson Antunes). Na terceira história conhecemos o gringo carioca e mentiroso Pierce (Chris Mason), que por preguiça de ir a um evento social do amigo Zeca (Serjão Loroza) conta uma mentira que acaba levando os dois a um encontro com o chefe do morro (Jesuíta Barbosa). Finalizando a obra a estagiária Lorena (Cacá Ottoni) solta umas inverdades que acabam com a festa de natal da empresa.    

É surpreendente que o roteiro escrito por João Falcão, Tatiana Maciel e Célio Porto surja a partir de frases, comentários, entrevistas e piadas de Ariano Suassuna. Os respectivos trechos que inspiram cada história estão na montagem do longa e permeiam os contos transformando Suassuna em uma espécie de narrador. Elemento que poderia ter sido melhor aproveitado, uma vez que é um dos pontos altos da projeção. Apesar dos roteiros inspirados e a boa direção, sabe dosar o humor e o drama dos “causos”. São quatro histórias diferentes em tom, ritmo e qualidade. Inevitavelmente escolhemos as nossas preferidas e as comparamos umas com as outras o que quebra o ritmo e a coesão da obra.  O conjunto é sim divertido e evoca o humor do Suassuna, ainda que, em diversos momentos, opte por suavizar o sarcasmo e amenizar as resoluções.

“O Auto da Boa Mentira” é um filme agradável e divertido, uma bela homenagem a Ariano Suassuna. Em um momento onde o mundo, e principalmente o Brasil, tornou a mentira em arma e ferramenta de discurso de ódio. O gênio e mestre Suassuna  nos lembra que a mentira pode ser uma ferramenta para contar boas histórias, entreter, fazer rir e conviver em harmonia. Em suas próprias palavras: “Eu não gosto de quem mente para prejudicar os outros. Eu gosto do mentiroso que mente por amor a arte.”

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Sunça no Streaming – The Old Guard – Netflix (2020)

Em The Old Guard, Andy (Charlize Theron) e seus companheiros formam um grupo de soldados que possuem a inestimável virtude da vida eterna. Eles vivem através dos anos oferecendo seus serviços como mercenários para aqueles que podem pagar, se passando como seres humanos comuns dentre os demais. No entanto, tudo muda com a descoberta de que existe uma outra imortal que atua como fuzileira naval.

118 min – 2020 – EUA

Dirigido por Gina Prince-Bythewood. Roteirizado por Greg Rucka (baseado em HQ de Greg Rucka e Leandro Fernandez). Com Charlize Theron, KiKi Layne, Matthias Schoenaerts, Marwan Kenzari, Luca Marinelli, Chiwetel Ejiofor, Harry Melling, Van Veronica Ngo, Natacha Karam, Mette Towley, Anamaria Marinca, Micheal Ward, Shala Nyx, Majid Essaidi, Joey Ansah, Andrei Zayats, Olivia Ross.

O novo longa original da Netflix, mais uma vez, aposta na adaptação de um gibi. “The Old Guard” é baseado em uma hq, de mesmo nome, escrita pelo talentoso quadrinista Greg Rucka, que assina o roteiro do filme, e desenhada por Leandro Fernández. A obra traz como protagonista Andrômaca de Cítia ou “Andy” como é chamada a personagem de Charlize Theron. Em 2015 a atriz impressionou no excelente “Mad Max: Estrada da Fúria” e em 2017 se consagrou como uma estrela de ação no ótimo “Atômica”.  Theron brilha mais uma vez em um filme do gênero, mesmo que dessa vez, a obra apresente um resultado que não atinge seu potencial.

Em uma trama interessante e com potencial para sequências, spin-offs e filmes derivados. Somos apresentados a Andy uma guerreira que lidera um grupo de imortais. Os protagonistas lutaram em várias guerras ao longo da história, tentando sempre proteger os indefesos e ajudar a humanidade. No presente, atuam como um esquadrão de operações especiais trabalhando em missões e buscando fazer o bem no mundo. A líder Andy é a mais antiga do grupo, junto a ela temos Brooker (Matthias Schoenaerts) um sobrevivente das guerras napoleônicas, Joe (Marwan Kenzari) e Nicky (Luca Marinelli) ambos foram cavaleiros das Cruzadas, porém de lados opostos na batalha. O grupo passa a ser perseguido por uma empresa farmacêutica que pretende descobrir o segredo da imortalidade. No meio disso surge uma nova imortal, Nile (Kiki Layne) uma fuzileira do exército norte-americano.  

A personagem de Charlize Theron têm mais destaque, sua a performance e dedicação as cenas de luta elevam o filme. Sabemos um pouco mais sobre seu passado, seus traumas e seus objetivos. Mas sabemos muito pouco sobre os demais imortais. Suas origens e algumas informações do passado são reveladas e se mostram interessantes. São poucos elementos que acabam fazendo falta para os arcos e narrativas dos personagens. Não compreendemos suas motivações o que atrapalha a dinâmica do filme. Os antagonistas são ainda mais rasos, o ex-agente da CIA Copley (Chiwetel Ejiofor) têm propósito e motivações apresentadas, ainda que suas ações e crenças mudem conforme seja necessário na trama. Já Merrick (Harry Melling) é o vilão caricato e unidimensional. O roteiro de Greg Rucka apresenta uma história imersiva e curiosa. O longa propõe uma discussão sobre a imortalidade tentando abordar o lado emocional de se viver centenários. Reflete sobre as dores, o sofrimento e as inúmeras perdas que uma existência prolongada pode trazer.  Porém a falta de informações importantes e alguns arcos dramáticos incompletos atrapalham a narrativa do filme. Ao terminar a projeção a impressão é de assistir a um primeiro capítulo de uma série. O que de fato se comprova com o gancho narrativo proposto.

A violência é explícita, mortes gráficas e sanguinolentas, com efeitos especiais bem trabalhados. As cenas de luta merecem destaque, são bem filmadas e enquadradas pela diretora Gina Prince-Bythewood. Ela nos mantém com uma boa noção espacial durante as lutas e, em alguns planos estáticos, nos permite ver a ação de forma contínua. Aqui entra um outro elogio a coreografia das lutas e ao trabalho de dublês. A dedicação de Theron é perceptível, está muito bem nas cenas o que permite menos cortes e mais ação em suas lutas. 

“The Old Guard” é um bom filme de ação que consegue alcançar esse patamar devido ao carisma e talento de Charlize Theron. A coreografia de lutas e trabalho de dublês também são um ponto forte. Apresenta uma história interessante e uma boa discussão sobre a imortalidade e sobre a humanidade. Suas reflexões são rasas e a trama é apressada. A intenção criar uma nova franquia é explícita. O que não me parece algo ruim. O mundo criado é imersivo e, em uma possível sequência, aprofundar na mitologia dos imortais, no passado de seus personagens e na origem de seus poderes. É algo promissor.

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Os Oito Odiados (2015)

179

The Hateful Eight se passa de seis a oito anos depois do fim da Guerra Civil. A trama acompanha uma diligência qua cruza as invernais paisagens do Wyoming levando John Ruth (Kurt Russell) e sua fugitiva Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) para Red Rock. No caminho eles encontram dois estranhos Major Marquis Warren (Samuel L. Jackson), um ex-soldado transformado em caçador de recompensas, e Chris Mannix (Walton Goggins), um renegado do sul que diz ser o novo xerife da cidade. Depois de se perder em uma tempestade, o grupo busca abrigo no Armazém da Minnie, uma parada de diligência nas montanhas. Lá, no lugar da proprietária, eles encontram mais estranhos: Bob (Demian Bichir), encarregado de cuidar do armazém enquanto ela visita a mãe, Oswaldo Mobray (Tim Roth), o vaqueiro Joe Gage (Michael Madsen), e o General Confederado Sanford Smithers (Bruce Dern).

182min – 2015 – EUA

Dirigido e roteirizado por Quentin Tarantino. Com: Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Jennifer Jason Leigh, Walton Goggins, Bruce Dern, Demian Bichir, Michael Madsen, Tim Roth, James Parks, Channing Tatum, Dana Gourrier, Zoë Bell.

 

 

 

Os oito odiados pode facilmente enganar o espectador despreparado. Os longos e amplos planos iniciais podem insinuar que uma grande batalha/tiroteio está por vir, um final épico para uma tortuosa jornada. Não é o que acontece. Pelo contrário, os planos iniciais apesar de amplos causam uma sensação de claustrofobia. A carruagem cercada pela neve no meio do nada, ao fundo a brilhante trilha sonora de Ennio Morricone que diferente das tradicionais trilhas de faroeste remete diretamente a um clima de terror, já deixa claro o terrível rumo que o longa vai tomar.

Tarantino planeja bem o tempo de todo o filme, nas cenas inicias além de nos dar pistas do que está por vir cria tensão e ansiedade. Conhecemos os personagens com calma, temos tempo para saber como é cada um, quais suas características e objetivos. Isso é de extrema importância para o tipo de filme que vamos assistir. Quando os personagens estão todos confinados é necessário saibamos muito bem como cada um deles se sente e os possíveis conflitos que podem surgir da interação entre eles. Assim ficamos tensos mediante as possibilidades. Então, o filme segue com calma e toma o tempo necessário para nos deixar familiarizados com seus integrantes. É interessante notar que desde o início o longa coloca o caráter   de seus personagens em dúvida,  assim ficamos desconfiados de cada um deles. Seja pela ótima performance de seus atores ou através das rimas visuais e pistas que o diretor tanto gosta de nos entregar.

Plano detalhe de balas no chão, asas que aparecem quando determinado personagem perece, uma cruz enterrada na neve para mostrar a passagem do tempo e até mesmo que Deus está de fora do que vamos presenciar. É a forma do diretor de nos preparar, e até mesmo adiantar, o que está por vir. Um bom exemplo é quando vemos na carruagem inicial um cavalo branco e um negro lado a lado um bela dica do que veremos em um momento mais a frente no filme. Brincar com o “fazer cinema”, sempre com um propósito importante na narrativa, é uma característica constante nos filmes do Tarantino. Em um determinado momento quando o longa fica misterioso e parece um jogo de detetive, digno de romances de Arthur Conan Doyle, o diretor não exita em colocar uma narração em off (dele mesmo) e nos coloca de uma vez por todas em um jogo de adivinhação e análise. Tudo isso se confirma em uma cena bem elaborada com o personagem de Samuel Jackson.

No início acompanhamos o oficial John Ruth personagem de Kurt Russell, ele transporta a criminosa Daisy Domerge papel de Jennifer Jason Leigh para a cidade de Red Rock para ser levada a forca. Mas logo entram em contato com o Major Marquis Warren (Samuel Jackson) que de fato é o protagonista do filme. Jackson rouba a cena em diversos momentos e certamente têm os melhores diálogos do longa. Diálogos que são fortes e bem escritos. Leigh constroi uma personagem rica e dominadora, que cercada por homens e sofrendo abusos constantes, mostra sua força e consegue tomar o controle do filme de forma inteligente e insana. Walton Goggins não deixa a desejar na atuação e seu personagem o Chris Mannix, o Xerife (Será mesmo?) também ganha destaque. Esses personagens acabam confinados em um armazém/alojamento devido a pesada nevasca que os cerca. Junto com eles temos o carrasco (Tim Roth), um general aposentado (Bruce Dern), um vaqueiro (Michael Madsen), o mexicano (Demián Bichir), dentre outros. John Ruth logo fica desconfiado que um daqueles homens pretende matá-lo e libertar Daisy.

Tarantino usa do confinamento de seus personagens para colocar em pauta e discutir vários temas. Enquanto a maioria das pessoas fica esperando o inevitável banho de sangue que o encontro entre essas pessoas tão diferentes e controversas pode causar, o diretor toma seu tempo, constrói a tenção e debate sobre racismo, violência contra a mulher, preconceito contra imigrantes, guerra, questão armamentista, dentre outros. Aliás a divisão em capítulos que inicialmente pode parecer enjoativa e mais do mesmo se mostra interessante, um bom uso do processo narrativo em si e uma forma de pontuar os debates. O diretor se diverte nos fazendo assistir mais de uma vez a mesma cena e repetindo várias vezes a mesma informação (Você têm que chutar!). E em um dos capítulos vários elementos que normalmente seriam escondidos para causar mais impacto são escancarados. O planejamento das cenas é elaborado, a mise en scène é bem executa, e o cenário chama atenção por seu cuidado aos detalhes. Em um único espaço é possível perceber vários ambientes. A violência exagerada do filme não possui a intenção de chocar, na verdade é caricata e busca mais discutir a violência em si do que impressionar. Além, é claro, de ser uma marca do diretor.

Um filme com boas atuações, bons diálogos, boa direção e fotografia. Com boas cenas de ação e constituído quase completamente de diálogos. Uma ótima analogia com a história dos EUA. Um oficial, um negro, um racista, um vaqueiro, um xerife, uma criminosa, um mexicano e um britânico todos dividindo um mesmo espaço. Uma bela representação da América que ainda hoje sofre de todos os problemas que Tarantino coloca em debate.

Nota do Sunça:

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