Sunça no Streaming – Din e o Dragão Genial – Netflix (2021)

Din e o Dragão Genial acompanha Din, um estudante universitário de origem humilde que possui grandes sonhos. Em um belo dia, o jovem conhece Long, um dragão com grandes poderes e capaz de atender desejos. Juntos, partem em uma aventura muito engraçada em Xangai em busca da amiga de infância de Din e de respostas para seus questionamentos da vida.

93 min – 2021 – China, EUA

Dirigido por Chris Appelhans. Roteirizado por Xiaocao Liu e Chris Appelhans. Com John Cho, Jimmy Wong, Natasha Liu Bordizzo, Constance Wu, Will Yun Lee, Bobby Lee, Jimmy O. Yang, Ian Chen, Alyssa Abiera, Max Charles, Alexandre Chen, Gabriel Lee.

“Din e o Dragão Genial” é uma animação sobre origens e cultura. Nela Din (Voz original de Jimmy Wong) é um garoto de origem simples que vê sua amiga de infância mudar de classe social e crescer em uma vida rica longe da vila em que nasceram. Ele conhece um dragão mágico e ganha a possibilidade de fazer três pedidos. Resolve utilizá-los para impressionar o pai rico de Li Na (Voz original de Natasha Liu Bordizzo) sua antiga amiga. O longa se estabelece como uma releitura chinesa da história clássica do Aladim. Porém é sobre amizade, origens simples e uma crítica a constante busca por riquezas. Além de retratar bem a dificuldade nas relações sociais entre classes na China e em outros lugares no mundo. 

Din quer reencontrar Li Na, eles ficaram dez anos separados e o protagonista vai fazer de tudo para se reaproximar da amiga. É um rapaz estudioso e respeitoso mas que acaba perdendo de vista sua família e suas origens.  Long (Voz original de John Cho), o dragão, quer realizar os desejos de seu mestre o mais rápido possível para se livrar de sua maldição e de seu bule de chá. Enquanto realiza seus desejos, Din é perseguido por capangas de um homem que deseja o bule de chá a qualquer custo. Até aqui temos uma história conhecida e bastante difundida em filmes, livros e animações. Porém, é no personagem do dragão que a obra acerta e inova. Long observa Din em sua vida, e, aos poucos, passa a perceber o valor da simplicidade, a importância do carinho e do amor. É o dragão mágico que realmente se modifica e têm uma lição a aprender com Din.  

Tematicamente o filme aborda as diferenças de classes e a valorização da família e origens. Além de expor como em algumas sociedades mulheres ainda têm pouca autonomia em suas decisões. Visualmente possui cores vibrantes e um design de personagens cativante e interessante. A vila pobre onde o casal cresceu é retratada com muitas cores alegres e vibrantes. Já a Shanghai moderna tem cores frias e clima triste.  O diretor Chris Appelhans faz um bom trabalho na direção. 

“Din e o Dragão Genial” tem um visual lindo e personagens carismáticos. Apresenta temas importantes, mas não se aprofunda em sua crítica social. Long entende seu “trabalho” como uma forma de enriquecer seu mestre, não vê valor na amizade. Nem mesmo hesita dizer que é desperdício gastar um  desejo com amizade. É com Din que ele aprende o valor da família, de suas origens e a importância da simplicidade. São conceitos atualmente esquecidos e que precisam ser resgatados.

 

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Sunça no Streaming – A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas – Netflix (2021)

Em A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, Katie Mitchell é aceita na faculdade de cinema dos seus sonhos e seu pai decide aproveitar para realizar uma viagem em família para levá-la à universidade. Porém, seus planos são interrompidos por uma revolução robótica e agora os Mitchells terão que unir forças em família para trabalhar juntos para salvar o mundo.

113 min – 2021 – EUA

Dirigido e roteirizado por Michael Rianda, Jeff Rowe. Com Abbi Jacobson, Danny McBride, Maya Rudolph, Michael Rianda, Eric André, Olivia Colman, Fred Armisen, Beck Bennett, Chrissy Teigen, John Legend, Charlyne Yi, Blake Griffin, Conan O’Brien, Doug the Pug, Melissa Sturm, Doug Nicholas, Madeleine McGraw.

Em 2009 Phil Lord e Christopher Miller escreveram e dirigiram “Tá Chovendo Hambúrguer” a animação chamou atenção com seus personagens interessantes em uma trama louca e cativante. Suas participações em longas animados sempre são inventivas, bem humoradas e impulsionam a mídia para novas possibilidades. Um bom exemplo é o excelente “Homem-Aranha no Aranhaverso” de 2018. O qual eles escreveram e produziram. Agora em 2021 a dupla produz o filme “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas” que é escrito e dirigido por Michael Rianda e Jeff Rowe. Seguindo a linha das animações mencionadas encontramos um visual que impressiona, personagens cativantes com designs interessantes e uma linguagem ousada que mescla referências com interferências visuais e a estética das redes sociais e aplicativos de interação dos smartphones. A dupla de diretores, que fez parte da equipe da ótima série animada “Gravity Falls: Um Verão de Mistérios”,  é hábil em trabalhar com referências. Sabendo incorporá-las na história e nos arcos narrativos.  

Com personagens excêntricos e uma estética e identidade própria, a obra utiliza diversas técnicas para trazer a linguagem e os formatos da internet para a trama. A combinação entre animação 2D e animação 3D junto com os grafismos que vemos na tela deixa tudo com um tom novo, jovial e inventivo. Grafismos que muitas vezes fazem link direto com filtros e máscaras muito utilizados na internet.   Katie Mitchell (Com a voz original de Abbi Jacobson) é aceita na faculdade de cinema da Califórnia. Seu pai Rick (Com a voz original de Danny McBride), em uma tentativa de se reaproximar da filha, organiza uma viagem em família para levá-la à universidade. Durante o percurso acontece uma revolta das máquinas e os membros da família Mitchell são os únicos humanos não capturados. Cabe a eles resolverem seus conflitos e salvar o mundo. A assistente pessoal PAL (Com a voz original de Olivia Colman) é a vilã do longa. Porém, o apocalipse é apenas pano de fundo para uma história íntima, pessoal e um debate sobre a dificuldade de comunicação entre as pessoas. 

Katie é fã de cinema e viciada em internet, é através dela que são trabalhadas a maioria das referências. Ela procura seu lugar no mundo e a sua “tribo”. Um comportamento comum dos jovens adultos, aliás, um comportamento comum para humanos de todas as idades. Katie não se dá bem com o pai e fica aliviada com a possibilidade de ir para longe da família. Rick se esforça para interagir com a filha mas eles não conseguem se comunicar. Katie e o irmão Aaron (Com a voz original de Michael Rianda) se dão muito bem, já na relação com sua mãe, Linda (Com a voz original de Maya Rudolph), o diálogo existe apesar de acontecer alguns conflitos. É na dificuldade do diálogo e de entendermos uns aos outros que está o foco da trama. Um debate que se estende por toda a obra. O desentendimento da vilã PAL com seu criador Mark Bowman (Com a voz original de Eric André) nasce de uma falha de comunicação. Os robôs não conseguem compreender o cachorro pug da família Monchi (Com a voz original de @itsdougthepug). O caçula da família, Aaron, só se dá bem com dinossauros e não consegue interagir com a vizinha. Esses são alguns dos vários exemplos de elementos, arcos e sequências que refletem a dificuldade na comunicação. A Família Mitchell têm que salvar o mundo, mas o principal é não perder a relação entre eles e se entenderem melhor uns com os outros.

Uma animação divertida, inventiva e atual. Que apresenta um visual inovador com uma linguagem ousada em ritmo frenético. São muitas as referências à cultura pop e ao cinema. A obra também traz um debate e uma crítica às grandes empresas de tecnologia que visando lucro e crescimento comercializam nossos dados, criam algoritmos, assistentes pessoais e inteligências artificiais que interferem diretamente em nossa sociedade. As empresas não se preocupam com nosso bem estar e a tecnologia que poderia facilitar nossas relações pessoais, acaba dificultando nossa capacidade de entender o outro.                      

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Sunça no Streaming – Cabras da Peste – Netflix (2021)

Na trama, Bruceuilis (Filho) é um policial do interior do Ceará que, para resgatar Celestina, uma cabra considerada patrimônio da cidade, viaja até São Paulo. Lá encontra Trindade (Nachtergaele), um escrivão da polícia que resolve se aventurar em campo, mesmo não sendo sua especialidade. O longa tem o estilo conhecido como buddy cop, mas com um toque à brasileira.

97 min – 2021 – Brasil

Dirigido por Vitor Brandt. Roteirizado por Vitor Brandt e Denis Nielsen. Com Edmilson Filho, Matheus Nachtergaele, Leandro Ramos, Letícia Lima, Juliano Cazarré, Evelyn Castro, Falcão, Rossicléa, Victor Allen, Jéssica Tamochunas, Eyrio Okura, Renan Medeiros, Marianna Armellini, Emerson Ceará, Cristiane Wersom, Bolachinha, Rafael Portugal, Haroldo Guimarães.

Em 2013 o diretor Halder Gomes trouxe uma nova modalidade de comédia para o cinema brasileiro. “Cine Holliúdy” apresentava o humor cearense e trazia brasilidade, uma característica pouco vista em nossas produções. A novidade foi bem sucedida e também pelas mãos de Halder Gomes tivemos em 2016 “O Shaolin do Sertão” e em 2018 a continuação “Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral”. Além do diretor e estilo de humor, todos esses filmes tinham outra peça em comum, o ator Edmilson Filho. Agora em 2021 Edmilson junto com o diretor Vitor Brandt apresentam o encontro do humor cearense com o estilo de filme “buddy cop”. “Cabras da Peste” é uma sátira aos longas policiais que faz referência a vários clássicos do gênero. Parece uma paródia de “Um Tira da Pesada”, trazendo até mesmo uma versão em forró da música de abertura da comédia com o Eddie Murphy. A canção “The Heat Is On” de Glenn Frey se torna “Calor do Cão” na voz de Gaby Amarantos, Junior Groovador e Gustavo Garbato.

Dois policiais com personalidades diferentes e conflitantes são forçados a trabalhar juntos. Uma trama comum mas que traz consigo toda a brasilidade que a cena de abertura do longa nos mostra. Ela cria piadas visuais e apresenta a pequena Guaramobim, cidade natal de Bruceuilis Nonato (Edmilson Filho) o “tira arretado”. Rapidamente também conhecemos Renato Trindade (Matheus Nachtergaele) o “policial de escritório”.  A união dessa dupla improvável, um policial de uma cidade pacata e um policial da capital paulista, tem como estopim o sequestro de uma cabra por um caminhão de rapadura. Uma trama com enorme potencial cômico, que infelizmente, acaba um pouco desperdiçada. O filme não se leva a sério, faz graça com tudo e com todos. Atuações caricatas, muitas coincidências movem o roteiro e frases de efeito que são verdadeiros “trocadilhos de efeito”. O sequestro da cabra se comprova como uma peça de um grande e previsível quebra cabeça. A previsibilidade da narrativa não é necessariamente um problema. O foco é o deboche e a piada. A paródia e a sátira são a principal proposta do longa, e é justamente no excesso delas que encontramos um dos problemas do filme.

Bruceuílis adora os clássicos de ação policial e demonstra um enorme orgulho por seu trabalho e pela pequena cidade de Guaramobim. Edmilson Filho apresenta um policial durão, que é preocupado com seu parceiro e demonstra muito carinho pela Celestina, a cabra. Tem um bom humor físico e é o protagonista das cenas de luta. Trindade, o seu parceiro, é um policial burocrata e medroso que quer impressionar sua chefe Priscila (Letícia Lima). Basicamente essa é a composição que Matheus Nachtergaele apresenta para seu personagem. O elenco conta com talentosos humoristas vindos dos mais variados tipos de humor. Leandro Ramos, Victor Allen, Evelyn Castro, Falcão e Rossicléa são alguns dos nomes que encontramos no elenco. As brigas exageradas merecem destaque Bruceuílis não carrega arma de fogo, o que rende boas piadas como quando encara criminosos armados com uma toalha molhada. O núcleo policial da capitã Priscila é caricato, fazendo muitas piadas e dando alfinetadas no modo de operar da polícia brasileira. Falcão protagoniza o núcleo político e ironiza nosso modo de fazer política e nossos políticos atuais. Alfinetadas bem dadas, mas que não se propõe a uma discussão e/ou debate sobre o tema. Ao longo de todo o filme damos risadas de piadas engraçadas, e algumas nem tão engraçadas assim, que devido ao talento da boa equipe de comediantes são bem sucedidas. Porém, em alguns momentos, incomoda a insistência em um tipo de humor datado, ofensivo e besta. No final da obra piadas recorrentes nos cansam, a trama opta por escolhas fáceis e o exagero do besteirol deixam a experiência desagradável.

“Cabras da Peste” acerta em cheio quando sua trama está na pacata Guaramobim. Esse núcleo é engraçado, besta e apresenta um deboche refinado. É uma pena que a maior parte do longa se passa em São Paulo. Um filme que nos faz rir e que a habilidade e carisma de seu elenco nos segura até o final. Uma ótima premissa que deixa uma sensação de trama desperdiçada.

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Sunça no Streaming – Relatos do Mundo – Netflix (2021)

Em Relatos do Mundo, no ano de 1870, o Capitão Jefferson Kyle Kidd, um viúvo que já lutou em duas guerras, viaja através do Texas oferecendo notícias do mundo para as pessoas, apesar dos jornais estarem se tornando cada vez mais acessíveis. Ele aceita uma proposta para levar uma menina de 10 anos, Johanna, até seus familiares. Criada pela tribo Kiowa, ela não conhece sua família e tem um comportamento hostil com as pessoas ao seu redor, mas acaba criando um vínculo com Kidd, forçando os dois a lidarem com as difíceis escolhas sobre o futuro.

118 min – 2021 – EUA

Dirigido por Paul Greengrass. Roteirizado por Paul Greengrass e Luke Davies (Baseado no livro de Paulette Jiles). Com Tom Hanks, Helena Zengel, Michael Covino, Fred Hechinger, Neil Sandilands, Thomas Francis Murphy, Mare Winningham, Elizabeth Marvel, Chukwudi Iwuji, Ray McKinnon, Bill Camp.

“Relatos do mundo” é o primeiro faroeste do diretor Paul Greengrass, o longa é baseado no livro de mesmo nome de Paulette Jiles. Paul foi o responsável pelos três últimos filmes, estrelados por Matt Damon, da saga Jason Bourne. O diretor se reencontra com Tom Hanks após terem trabalhado juntos em “Capitão Phillips”. A jovem Helena Zengel se une aos dois, e o trio apresenta uma obra bonita e emocionante. Trazendo à tona a diversidade entre os norte-americanos e os diferentes modos de pensar em uma desconstrução do western e da personalidade texana “padrão”. 

Acompanhamos o Capitão Jefferson Kyle Kidd (Tom Hanks) poucos anos após o fim da Guerra Civil, a trama se passa em 1870. Para os sulistas o clima de derrota ainda persiste. Não concordam com o pagamento das dívidas de guerra e têm muita dificuldade em aceitar a abolição da escravidão e o direito ao voto dos ex-escravos. É um ótimo contexto histórico que diz muito sobre as discordâncias ainda existentes na população dos Estados Unidos. Nas entrelinhas do longa encontramos importantes discussões: preconceito, racismo, xenofobia  e até mesmo fake news. O capitão é um dos derrotados na guerra, ele perdeu tudo e viaja de cidade em cidade lendo as notícias de jornais para os habitantes locais. Durante um de seus trajetos pelas perigosas estradas do velho oeste, ele encontra a pequena Johanna (Helena Zengel) que escapou de um assalto a diligência que a transportava. A menina viveu anos com o povo indigena Kiowa após ter sido sequestrada de sua família alemã. Sua família Kiowa é assassinada pelo exército americano e a garota estava sendo transportada para viver com seus tios. Kidd acaba aceitando a missão de levar Johana para sua nova casa. É essa jornada longa e perigosa de um sulista ex-combatente na guerra civil e uma garota alemã criada por indígenas que acompanhamos. 

A dupla protagonista é fascinante, Helena Zengel impressiona com uma atuação de impacto em uma difícil personagem. A garota de doze anos fala três línguas diferentes e passa por situações extremas em um papel que exige muito. Ao seu lado Tom Hanks demonstra sua já consagrada habilidade sabendo evocar muito bem o homem durão com traumas do passado que reencontra uma razão de viver. Porém, ele não é o cowboy clássico dos bangue-bangues, e sim alguém que é levado a tomar atitudes e ações dignas de um pistoleiro. Mesmo que a todo momento ele as tente evitar. Ambos têm de superar traumas, enfrentar as dificuldades do presente e encontrar seu lugar no mundo enquanto viajam pela linda fotografia de Dariusz Wolski. Durante a jornada temos algumas cenas pontuais de ação, impactantes e bem realizadas têm o objetivo de causar tensão e suspense. Mas todas elas também funcionam em prol da narrativa, seja deixando a dupla mais próxima, causando empatia em ambos ou mostrando mais a fundo como cada um daqueles personagens é.  

Em “Relatos do Mundo” encontramos um homem e uma garota que perderam seu lugar no mundo e suas histórias. Em meio a grandes empecilhos e dificuldades, conseguiram se reencontrar e almejar um futuro juntos contando histórias.

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Sunça no Streaming – Rebecca – A Mulher Inesquecível – Netflix (2020)

Uma jovem de origem humilde (Joan Fontaine) se casa com um riquíssimo nobre inglês (Laurence Olivier), que ainda vive atormentado por lembranças de sua falecida esposa. Após o casamento e já morando na mansão do marido, ela vai gradativamente descobrindo surpreendentes segredos sobre o passado dele.

121 min – 2020 – EUA

Dirigido por Ben Wheatley e roteirizado por Jane Goldman, Joe Shrapnel, Anna Waterhouse (baseado em romance de Daphne Du Maurier). Com Lily James, Armie Hammer, Kristin Scott Thomas, Keeley Hawes, Ann Dowd, Sam Riley, Tom Goodman-Hill, Mark Lewis Jones, John Hollingworth, Bill Paterson, Ben Crompton, Jane Lapotaire e Ashleigh Reynolds.

“Rebecca – A Mulher Inesquecível” é a nova adaptação do romance de Daphne du Maurier. No cinema os livros da autora encontraram em Alfred Hitchcock o condutor ideal para suas tramas de suspense. Foram três: “A Estalagem Maldita”, “Rebecca” e “Os Pássaros”. Ao assistir a nova obra, é impossível evitar a comparação com o longa de estreia de Hitchcock e vencedor do Oscar de melhor filme daquele ano. A refilmagem apresenta uma ótima produção, são ambientações e cenários lindos. Um bom elenco e um grande cuidado com o visual do filme. Mas peca no suspense e na falta de profundidade da trama e seus personagens. É engraçado como o trabalho de Hitchcock, que em 2020 fez oitenta anos, parece muito mais atual e relevante do que essa nova produção da Netflix. 

Uma jovem humilde (Lily James) se casa com um rico nobre, Maxim de Winter (Armie Hammer) e se muda para sua mansão na costa da Inglaterra. A nova Senhora de Winter logo percebe que o fantasma da antiga esposa de Maxim, a falecida Rebecca, é presente na vida e na casa de seu marido.  Ela passa a viver às sombras da a misteriosa esposa e aos poucos descobre segredos sobre o passado. Enquanto a versão de Alfred Hitchcock aposta no suspense, mistério e talento de seu elenco. A versão de 2020 foca em um visual bonito, com um lindo design de produção e figurinos elaborados. O diretor Ben Wheatley tenta construir o suspense e mistério pela ambientação e atmosfera. Porém seus planos coloridos e iluminados não conseguem captar o clima de uma história opressiva e assustadora. Em uma Trama surpreendente como a de “Rebecca” a narrativa é falha em construir suas várias reviravoltas. Faltam elementos que ao longo da trama nos preparem para certos acontecimentos e atitudes dos personagens. Um bom exemplo é a virada final que não ganha tempo suficiente para ser desenvolvida, acontece de forma acelerada e desleixada.  

“Rebecca – A Mulher Inesquecível” flerta com o horror psicológico e passa superficialmente pelo suspense e mistério. Com um ritmo lento apresenta revelações importantes sem o devido destaque.  Falha na construção de um clima claustrofóbico e não dá o devido valor a seus personagens. Uma refilmagem que deixa a desejar.

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Sunça no Streaming – Enola Holmes – Netflix (2020)

Enola Holmes (Millie Bobby Brown) é uma menina adolescente cujo irmão, 20 anos mais velho, é o renomado detetive Sherlock Holmes (Henry Cavill). Quando sua mãe desaparece, fugindo do confinamento da sociedade vitoriana e deixando dinheiro para trás para que ela faça o mesmo, a menina inicia uma investigação para descobrir o paradeiro dela, ao mesmo tempo em que precisa ir contra os desejos de seu irmão, Mycroft (Sam Claflin), que quer mandá-la para um colégio interno só de meninas.

123 min – 2020 – EUA

Dirigido por Harry Bradbeer. Roteirizado por Jack Thorne (Baseado nos livros de Nancy Springer, inspirados na obra de Arthur Conan Doyle). Com Millie Bobby Brown, Henry Cavill, Sam Claflin, Helena Bonham Carter, Louis Partridge, Adeel Akhtar, Fiona Shaw, Frances de la Tour, Susie Wokoma, Burn Gorman, David Bamber, Hattie Morahan.

“Enola Holmes” traz uma abordagem mais informal e descontraída para figuras já consagradas do universo do detetive criado por Arthur Conan Doyle. A produção têm a intenção de agradar e atrair o público jovem, e para isso, aposta em retratar a jornada de amadurecimento da jovem Enola Holmes (Millie Bobby Brown). Ela está sozinha pela primeira vez e têm que aprender a se virar. A protagonista é cativante e tem uma personalidade forte, Enola não exita em confrontar seus irmãos mais velhos Mycroft (Sam Claflin) e Sherlock (Henry Cavill). No dia do seu aniversário de dezesseis anos sua mãe Eudoria (Helena Bonham Carter) desaparece e essa é a fagulha que inicia a trama de auto-descoberta e investigação da garota. Em sua busca pela mãe  a detetive acaba salvando o jovem lorde Tewkesbury (Louis Patridge) e assim seu primeiro caso “cai” literalmente em seu caminho.  

A trama parte da ideia de busca da figura materna e assim permite que a personagem expanda seus horizontes e viva experiências se descobrindo a cada etapa do percurso. Para isso o diretor Harry Bradbeer escolhe um enfoque dinâmico e ágil. Harry recentemente trabalhou na série “Fleabag”, alguns aspectos e elementos narrativos muito utilizados na série repercutem nesta obra, que têm sua história baseada em uma série de livros “Os Mistérios de Enola Holmes” da autora Nancy Springer. Seguimos em um ritmo acelerado que nos leva a vários cenários diferentes acompanhados por uma trilha sonora que ajuda a deixar a investigação mais dinâmica. Millie Bobby Brown é carismática e consegue trazer a arrogância dos Holmes ao mesmo tempo em que nos cativa e deixa interessados em suas buscas e experiências. Suas constantes quebras da quarta parede inicialmente surgem como uma interação simpática e funciona em prol da narrativa. Porém ao decorrer do filme se torna um elemento repetitivo e didático. 

São poucas as sequências em que a investigação é o destaque, e as constantes explicações da protagonista deixam tudo ainda mais banal. Sabemos tudo o que ela pensa, tudo o que ela faz e tudo o que pretende fazer. O caso é simples, e já na metade da trama é possível saber seu desfecho. Outro recurso utilizado ao extremo são os flashbacks de Enola e sua Mãe. É um acerto do longa focar na jovem Holmes e tirar de cena seus irmãos mais famosos. Henry Cavill e Sam Claflin estão bem muito bem em seus personagens, são elegantes e trazem uma abordagem mais clássica para os irmãos. Mesmo com poucas participações eles geram interesse e chamam atenção. Por causa disso, talvez fosse mais interessante que os personagens tivessem menos importância no roteiro. Mycroft vê a irmã como uma “criatura selvagem” e está constantemente irritado com ela. Sherlock segue suas investigações frias e no decorrer dos acontecimentos passa dar atenção a irmã, porém de início é indiferente a ela. 

As constantes explicações de tudo que vemos em tela incomoda. Elas vão além dos mistérios e passam também pelo texto da obra. Todas as reflexões sobre a emancipação feminina, sobre os abusos que mulheres sofriam na época e a luta por direitos iguais são bem vindas e necessárias. Mas poderiam ser menos didáticas, a impressão que fica é de que o roteiro a todo momento está com medo de que o espectador não esteja entendo seus acontecimentos e suas importantes discussões. O texto enaltece a todo momento a emancipação feminina, por isso, incomoda um pouco que em alguns momentos Enola precise de resgates e ajudas de personagens masculinos, principalmente nas figuras do lorde Tewkesbury e de Sherlock Holmes.

Eudoria cria sua filha para que se torne uma mulher independente e forte. E isso acontece. “Enola Holmes” funciona como o primeiro episódio de uma série, introduz uma protagonista carismática e com personalidade que pode e deve se aventurar em seus próprios mistérios e investigações.

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Sunça no Streaming – Estou Pensando em Acabar com Tudo – Netflix (2020)

Um homem leva sua namorada para viajar e, assim, conhecer seus pais. Porém, um desvio inesperado transforma a viagem do casal numa jornada terrível rumo a fragilidade psicológica e pura tensão.

134 min – 2020 – EUA

Dirigido por Charlie Kaufman. Roteirizado por Charlie Kaufman (baseado na obra de Iain Reid). Com Jesse Plemons, Jessie Buckley, Toni Collette, David Thewlis, Guy Boyd, Hadley Robinson, Gus Birney, Abby Quinn, Colby Minifie, Anthony Robert Grasso, Teddy Coluca, Jason Ralph, Oliver Platt, Frederick Wodin, Ryan Steele.

 Somos formados de várias personas e temos interesses nas mais variadas áreas. Me considero um cartunista, publicitário, quadrinista, radialista, pintor, escritor dentre várias outras atividades. Além de ser também um amálgama de diferentes pessoas. Por exemplo, já fui um guitarrista de uma banda de garagem mundialmente famosa. Também sou o Homem-Aranha e em determinado momento fui um astronauta que salvou o planeta ao som de “I Don’t Want To Miss A Thing”. E como esquecer as diversas vezes em que salvei vilarejos ao vencer duelos de bangue-bangue. Ostento com muito orgulho os diversos Oscars que recebi ensaboado no chuveiro. Na minha cabeça meio louca e mal compreendida (Por mim mesmo), já fui de tudo um pouco. Minhas memórias e criações coabitam e interagem formando quem eu sou.  

O diretor e roteirista Charlie Kaufman tem a incrível habilidade de adentrar no inconsciente humano. “Estou pensando em acabar com tudo” é um convite de Kaufman para uma jornada onde vemos a vida, o que ela foi ou o que poderia ter sido, ou até mesmo o que Jake (Jesse Plemons) gostaria que tivesse sido. É compreensível que ao rever sua vida alguém coloque em cheque suas escolhas, decisões e que misture realidade e ficção, para que seu fim seja algo mais justo em sua própria percepção. Ao rever o passado a “realidade” são suas memórias e aqui entra outro ponto chave da narrativa. Memórias são subjetivas e se misturam com nossas percepções e emoções.  Esse registro distorcido de nossa existência influencia sobre como interpretamos nosso presente e como nos enxergamos nele. Daí a discussão presente no longa sobre os humanos serem os únicos animais não capazes de viver no presente.   

Na trama a personagem creditada com jovem mulher (Jessie Buckley) viaja com o namorado Jake sob uma tempestade de neve para conhecer os pais do Rapaz, interpretados por Toni Collette e David Thewlis. Eles namoram a poucas semanas, aliás, a protagonista sequer se lembra o tempo exato. O que é um sinal de que as coisas não caminham bem. Está aí uma das leituras do título e a mais literal.  “Estou pensando em acabar com tudo” é um filme que vai dialogar com cada um de uma forma única. O longa é bem estruturado e sabe unir várias narrativas e gêneros em seus segmentos. Já no início em uma conversa claustrofóbica e opressora dentro do carro percebemos a inconsistência na jovem mulher. Sua personalidade muda a todo momento, ela demonstra falta de interesse em poesia e alguns segundos depois recita de memória um poema que acredita ser seu. Poema, que mais tarde percebemos ser da poeta Eva H.D. autora de um livro que Jake guarda em seu quarto. Sua profissão e nome também mudam constantemente, ela foi bióloga, física, garçonete e ao longo do enredo é chamada de “Lucy”, “Lúcia”, “Louise”, “Amy” e “Tonya”. 

É passeando pelo tempo e espaço que vamos conhecendo mais sobre esse casal. Saltamos do dia para a noite na velocidade de uma palavra e de um ambiente para o outro em um piscar de olhos. É um trabalho primoroso de montagem que nos deixa inquietos, interessados e incomodados. A razão de aspecto reduzida sufoca sua protagonista e compartilha conosco a angústia da jovem mulher.  É na dinâmica e no diálogo entre o casal que montamos o quebra cabeça que é a vida de Jake.  Jesse Plemons mistura carisma com estranhamento sabendo mostrar fragilidade e insegurança. Um bom trabalho de atuação que nos diz muito sobre o amadurecimento conturbado daquele personagem.  Jessie Buckley faz um ótimo trabalho com a protagonista complexa que o roteiro lhe entrega. Sabendo ser uma projeção criada e ao mesmo tempo uma pessoa independente com suas próprias vontades. Em vários momentos ela representa as angústias e incita importantes reflexões. Suas percepções acabam se unindo a nossa e assim conhecemos os pais de Jake, através das memórias dele. E vemos seus pais nas mais variadas idades e etapas da vida. Sempre com diferentes sensações e emoções, seja em momentos uma visão repulsiva e em outras carinhosa, protetora e até mesmo opressiva e raivosa.   

A jovem também nos permite conhecer Jake, já que nas constantes mudanças de comportamento e interesses faz várias referências culturais. Mudanças que podem se justificar na mistura de mulheres idealizadas pelo rapaz e até mesmo no que ele próprio gostaria de ter sido. Ela pinta as mesmas pinturas Jake e que na verdade são obras de Ralph Albert Blakelock. Ao discutirem sobre o filme “Uma Mulher Sob Influência” repete a crítica escrita por Pauline Kael. E isso é natural, constantemente recriamos elementos da cultura e sociedade que nos influenciam e cativam. Jake chega a interpretar trechos do musical Oklahoma. Em momentos de estranheza a Jovem mulher percebe que seu namorado parece saber o que ela está pensando. Sentimento que é reforçado ao chegar na fazenda que só têm ovelhas, ver o cachorro da família e perceber sua fotografia de infância no mesmo local que a de Jake. O desconforto ao longo da obra é progressivo e caminha até o momento em que a protagonista não sabe mais onde está. Seu encontro com o zelador do colégio (Guy Boyd) e o simples ato de reconhecer de quem são aqueles chinelos nos revelam a figura criadora por trás de tudo e direciona a narrativa para a leitura mórbida do título. 

“Estou pensando em acabar com tudo” nos lembra também de como é viver. De como nossas memórias e interesses ao longo de nossa jornada nos transforma em quem somos. Nossas alegrias, felicidades, dores e frustrações. O zelador reve suas decisões e opções percebendo seus erros quando é tarde demais para fazer algo a respeito. Talvez por isso, em alguns momentos,  a jovem mulher quebre a quarta parede com um olhar de desprezo. Afinal, no fim da vida o que queremos é acabar reconhecidos e premiados fazendo um belo discurso como John Nash interpretado por Russell Crowe no filme “Uma Mente Brilhante” e não enterrados na neve em uma vida, aparentemente, sem afeto.

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Sunça no Streaming – Power – Netflix (2020)

Em Power, a notícia de que uma nova pílula capaz de liberar superpotências para cada um que a experimentar começa a se espalhar nas ruas de Nova Orleans. Poderes como pele à prova de balas, super força e invisibilidade apareceram em usuários, porém, é impossível saber o vai realmente acontecer até tomá-la. Mas tudo muda quando a pílula acaba aumentando o crime na cidade, fazendo com que o policial local (Joseph Gordon-Levitt) se una a um traficante adolescente (Dominique Fishback) e um ex-soldado com sede de vingança (Jamie Foxx) para combater o poder com poder, chegando na origem da pílula.

111 min – 2020 – EUA

Dirigido por Henry Joost e Ariel Schulman. Roteirizado por Mattson Tomlin. Com Jamie Foxx, Joseph Gordon-Levitt, Dominique Fishback, Rodrigo Santoro, Courtney B. Vance, Amy Landecker, Colson Baker, Tait Fletcher, Allen Maldonado, Andrene Ward-Hammond, Kyanna Simone Simpson, C.J. LeBlanc, CG Lewis, Joseph Poliquin, Jazzy De Lisser.

“Power” é a tentativa da plataforma Netflix de entrar no lucrativo gênero de filmes de super-herói. O novo longa da produtora, mistura elementos do cinema policial com reflexões raciais e violência gore em um universo de herói. A premissa é boa e promete subverter o gênero dos super humanos. O que não acontece. A trama sobre corrupção, traficantes, policiais honestos e corruptos se perde em um roteiro fraco que apela para os caminhos mais comuns presentes no gênero. Funciona como um bom filme de ação, ainda que algumas sequências sejam confusas e mal planejadas. Os efeitos especiais têm qualidade e o longa apresenta uma estética visual muito bonita. É um elenco de peso Dominique Fishback,  Jamie Foxx, Joseph Gordon-Levitt e Rodrigo Santoro. Todos se esforçam, e tentam tirar o máximo de seus personagens unidimensionais. 

Em “Power “ os diretores Henry Joost e Ariel Schulman apresentam a cidade de Nova Orleans em um futuro próximo. Um traficante conhecido como Biggie (Rodrigo Santoro) surge com uma droga experimental que dá super poderes à seus usuários. Cada um reage a droga de uma forma diferente e durante o tempo de cinco minutos ganha um poder especial. A droga causa interesse nos cidadãos e nos criminosos que a utilizam para auxiliar em atividades ilegais. Acompanhamos três personagens, Frank (Joseph Gordon-Levitt) um policial que usa a droga para combater os bandidos super poderosos. Ele é amigo de Robin (Dominique Fishback), uma adolescente que entra para o tráfico para conseguir pagar o tratamento da mãe, enquanto sonha em se tornar rapper. E Art (Jamie Foxx) um ex-soldado, que está atrás do criador da substância para encontrar a sua filha sequestrada. Os personagens não possuem arcos narrativos e essa apresentação é tudo o que é apresentado sobre eles. Os protagonistas nem mesmo têm um sobrenome. Seria bom o brasileiro Rodrigo Santoro rever seus projetos. Além de dar vida a mais um vilão unidimensional e caricato, o próprio filme parece não se importar com ele. A produção cria uma escalada para o “chefão” que poderia ser uma grande ameaça ao final da projeção. Mas no decorrer da trama descarta o personagem com uma facilidade incrível e parte para um novo vilão que ainda não tinha sido apresentado.   

  O roteirista Mattson Tomlin sabe aproveitar bem a droga e seus efeitos aleatórios. Utiliza a imprevisibilidade das pílulas e seu efeito de curta duração para criar a sensação de urgência e ansiedade no espectador. É um texto criativo, mas que em momentos chave opta pelo caminho mais fácil e, portanto, o mais previsível. O relacionamento entre os personagens é um ponto forte que causa empatia e nos faz acreditar que eles realmente se importam uns com os outros e com o que estão fazendo em tela. Ainda que seja a maior fraqueza da obra o roteiro rende boas sequências, como por exemplo quando Art persegue o homem em chamas, quando Frank corre atrás do homem invisível e as cenas de ação do clímax final.  Nesses momentos temos um bom trabalho da dupla de diretores que usa o movimento de câmera e efeitos especiais para construir uma ação dinâmica e empolgante.    

O longa tenta trazer reflexões políticas e raciais. Frank menciona o Katrina e critica a atuação das autoridades. Art conversa com Robin sobre poderes e reflete sobre a sociedade e os problemas raciais. Faz uma colocação sobre os grupos minoritários e como devem ser fortes e encontrar sua habilidade para sobreviver. Mas para por aí e não se aprofunda nessas interessantes e relevantes discussões. Robin é a protagonista que nos representa no filme, uma garota negra de uma parcela marginalizada da sociedade. Essa opção merece destaque, é certamente um ponto forte da trama. Positivo também, é a piada da personagem ser uma “ajudante”, usar as cores vermelho, amarelo e verde e se chamar Robin. É uma pena que o filme precise evidenciar isso em seus diálogos.

“Power” têm uma montagem elétrica com uma trilha empolgante e uma fotografia linda. Mas toda essa estilização não é usada em prol da narrativa, não ajuda no desenvolvimento dos personagens e nem mesmo no impacto das sequências de ação. Acaba sendo só um espetáculo visual lindo, que logo vai ser esquecido. A tendência das recentes produções da Netflix de sempre tentar forçar uma continuação, também não ajuda.

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Sunça no Streaming – Rede de Ódio – Netflix (2020)

Em Rede de Ódio, um jovem passa a fazer sucesso incitando o ódio em campanhas nas redes sociais, atacando desde influenciadores virtuais a políticos renomados. O que ele não contava é que toda essa crueldade no mundo virtual cobraria seu preço no mundo real, complicando sua vida.

135 min – 2020 – Polônia

Dirigido por Jan Komasa. Roteirizado por Mateusz Pacewicz. Com Maciej Musialowski, Vanessa Aleksander, Danuta Stenka, Jacek Koman, Agata Kulesca, Maciej Stuhr.

“Rede de Ódio” é o novo filme exclusivo da Netflix, e a segunda obra do diretor polonês Jan Komasa que também dirigiu “Corpus Christi” indicado ao  Oscar de Melhor Filme Internacional em 2020.  A obra é ambientada nos bastidores de uma rede de criação e distribuição de fake news. Utiliza disso para discutir sobre os efeitos da manipulação de informação digital e disseminação de discursos de ódio. Incita um debate sobre a polarização política, a intolerância e comportamentos nocivos. Em uma trama que aproveita desse cenário para construir um ótimo suspense, onde acompanhamos um protagonista ambicioso e inteligente. Um personagem frio e sagaz que não hesita em executar ações completamente questionáveis.

Quando somos apresentados a Tomasz Giemza (Maciej Musialowski) ele está sendo jubilado da universidade de direito por plágio. Ele é um jovem do interior que têm seus estudos pagos por Robert (Jacek Koman) e sua esposa Zofia (Danuta Stenka). Tomasz tem uma paixão não correspondida pela filha do casal a Gabi Krasucka (Vanessa Aleksander). O que ele quer é conquistar Gabi e cair nas graças da família. A vida do protagonista muda, quando ele consegue um emprego numa agência de marketing com foco em destruir reputações e pessoas. É uma premissa simples que o roteirista Mateusz Pacewicz sabe aproveitar ao máximo. Tomasz é uma pessoa que deseja atenção e poder, e seu ambiente natural parece ser o ódio e a intolerância muito presente nas redes sociais.  É um sociopata que passa a unir seu trabalho inescrupuloso as suas intenções narcisistas. Durante a obra acompanhamos a construção psicológica do protagonista, ele inicia o longa como um infrator de plágio e termina como alguém que não exita em cometer qualquer tipo de crime para conquistar seus objetivos. É um ótimo trabalho de Maciej Musialowski, uma atuação baseada em detalhes e pequenos gestos. Seus olhos sempre vidrados nas telas observando as redes sociais também nos mostram o prazer do personagem em manipular pessoas e sair impune de suas terríveis ações. 

Enquanto caminhamos junto de Tomasz e conhecemos seu psicológico quebrado, também adentramos no mundo das fake news e da manipulação online de informação e de pessoas. Um ambiente cruel que vai nos fazer refletir sobre o contexto polarizador em que vivemos, a cultura de cancelamento de pessoas e celebridades, homofobia, intolerância e o discurso de ódio. São questões complexas e atuais que o roteiro sabe tirar proveito nesse impactante thriller. “Rede de Ódio” demonstra que sabe muito bem o que está fazendo quando coloca seu personagem principal caminhando pelos dois lados da polarização criada. O roteiro tem o cuidado de gerar uma pequena simpatia por seu protagonista, mas não para justificar seus atos e sim para evitar o cansaço que poderíamos sentir ao acompanhar alguém tão egoísta e repugnante. Afinal sempre que chegamos próximos de um sentimento de empatia por Tomasz ele toma uma atitude terrível sem demonstrar remorso. Em algumas sequências a obra adota uma curiosa montagem que coloca momentos de passado e de presente em paralelo, que aumenta ainda mais a dualidade de Tomasz. Além de gerar uma proposital desorientação, nessa interessante reflexão sobre mentira e impunidade que a produção apresenta. 

A trama acaba facilitando a vida de seu personagem principal em alguns momentos e, por ser uma obra ficcional, sua narrativa toma algumas liberdades e comete alguns exageros. Sua ascensão política é rápida e fácil, em alguns momentos Tomasz consegue entrar em casas, clubes e prédios com tranquilidade. Mas não é algo que cause impacto na suspensão de descrença do espectador. O encerramento é ousado e poderoso. A fragilidade do “final feliz” está estampada no olhar do protagonista e se confirma pelo enquadramento final do diretor Jan Komasa que emoldura seu personagem principal como antes observamos uma de suas vítimas. “Rede de Ódio” é um filme para se assistir, pensar, debater e refletir. 

Nota do Sunça:

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Sunça no Streaming – É o Bicho! – Netflix (2020)

Em É o Bicho!, uma família recebe, como parte de uma herança, um circo e uma caixa mágica de biscoitos. Aquele que come algum biscoito dessa caixa, logo se transforma em um animal. Quando o tio Horatio P. Huntington começa a desejar se tornar dono do circo, eles farão de tudo para impedir que a atração caia em suas garras maléficas.

105 min – 2020 – EUA

Dirigido por Tony Bancroft, Scott Christian Sava e Jaime Maestro. Roteirizado por Dean Lorey, Scott Christian Sava (baseado na graphic novel Animal Crackers). Com John Krasinski, Emily Blunt, Lydia Rose Taylor, Ian McKellen, Danny DeVito, James Arnold Taylor, Tara Strong, Sylvester Stallone, Raven-Symoné, Wallace Shawn e Patrick Warburton.

A colorida e charmosa nova animação da Netflix, narra a história de um circo mágico. Trama que é levemente baseada nos quadrinhos “Animal Crackers” de Scott Christian Sava, um dos diretores e roteiristas do longa, e que conta com um elenco de peso. Emily Blunt, John Krasinski, Danny DeVito, Sir. Ian McKellen e Sylvester Stallone são alguns dos nomes envolvidos no projeto. Um filme divertido e agitado que certamente vai captar a atenção das crianças, mas que ignora a possibilidade de cativar e envolver um público adulto. “É o Bicho!” foca no público infantil apostando na multiplicidade de cores, vários animais e gags visuais, mas têm um roteiro raso e superficial. 

Nos anos sessenta somos apresentados a Horatio P. Huntington (Sir. Ian McKellen) o apresentador e estrela do circo Irmãos Huntington. Um personagem vaidoso que busca a fama e fortuna. Seu irmão Buffalo Bob (James Arnold Taylor) é simpático, bondoso e amigo de todos do circo. O que Bob realmente quer é entreter o público. Quando a personagem Talia (Tara Strong) entra para o espetáculo, ela passa a ser cobiçada pelos dois que acabam se tornando rivais pelo amor da moça. Tália e Bob se casam e Horatio deixa o circo. Como presente de casamento o casal recebe uma caixa mágica que traz o segredo dos animais. Esse é o prólogo narrado pelo palhaço Chesterfield (Danny DeVito). No presente e conhecemo o casal Owen (John Krasinski) e Zoe (Emily Blunt) e sua filha Mackenzee (Lydia Rose Taylor). Eles recebem de herança o circo e a caixa mágica e tem que lutar para reunir a família e salvar o espetáculo das garras de um antigo rival.

Em 2020 optar contar uma história que se passa em um circo de animais é uma escolha controversa. São espaços onde atualmente os bichinhos são proibidos, ambientes que ficaram marcados pelos maus tratos e torturas em treinamentos. Os animais como parte do show só se justifica dentro da trama pelo fato de serem mágicos e que os artistas e o público sabem disso. É um show de magia e encantamento. Mesmo assim, me incomoda a ideia de um filme infantil relacionar a diversão e alegria de um circo aos animais. Ainda que tenha o cuidado de torná-los mágicos e fantasiosos.  

A animação apresenta um design de personagem genérico, mas capricha nas sequências de ação. Os espetáculos no circo e as cenas de transformação em animais são cheia de energia, organizadas e bem ambientadas. Owen assume a forma de diversos animais e com alguns detalhes no design e com o trabalho de voz de John Krasinski o longa consegue dar unidade a todas essas formas e criações. O personagem Homem-Bala de Sylvester Stallone merece uma menção por evocar boas risadas. A direção de Jaime Maestro, Scott Christian Sava e Tony Bancroft, é ágil e rápida. Com um visual colorido animais e humanos se misturam em cenas de ação, aventura, humor e números musicais. Nessa correria o roteiro de Dean Lorey e Scott  Christian Sava, ignora e torce para que não tenhamos tempo de pensar por exemplo: Quem são os pais de Owen? Ou então que mágica é essa e de onde vêm. Nas palavras do sábio palhaço Chesterfield: “Maldição cigana, farinha velha, ácaros radioativos – quem sabe? Quem se importa? É mágico!”

“É o Bicho!” têm várias subtramas em uma narrativa acelerada que não perde tempo com explicações. Sua história possui três saltos temporais o que gera um efeito negativo de falta de conexão entre personagens importantes. O que faz falta ao longo da produção uma vez que no fundo seu tema é sobre família e relações familiares. Uma produção simpática e interessante, mas uma experiência que com o tempo é fadada ao esquecimento. 

Nota do Sunça:

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