Sunça no Cinema – Debi & Lóide: Dois Idiotas em Apuros (1994)

Lloyd Christmas (Jim Carrey) e Harry Dunne (Jeff Daniels) são dois homens extremamente estúpidos. Quando Lloyd leva até o aeroporto Mary Swanson (Lauren Holly), uma bela mulher que vai para Aspen, Colorado, acredita que Mary perdeu uma mala. Na verdade ela “esqueceu” no saguão, pois dentro dela está uma grande soma para pagar o resgate do marido, mas antes que os seqüestradores peguem a valise Lloyd a recupera e tenta lhe entregar. Como o vôo já partiu e ele se sente atraído por Mary, convence Harry para irem até Aspen para devolver o dinheiro. Na viagem se envolvem em várias confusões, além de serem perseguidos pelos seqüestradores.

107 min – 1994 – EUA

Dirigido por Peter Farrelly. Roteirizado por Peter Farrelly, Bennett Yellin e Bobby Farrelly. Com Jim Carrey, Jeff Daniels, Lauren Holly, Mike Starr, Karen Duffy, Charles Rocket, Victoria Rowell.

Não existe em “Debi & Lóide” uma crítica social forte. Nem mesmo um chamado a uma reflexão sobre nossos conceitos e nossas vidas. O que temos é um convite para rir sobre as grandes bobagens da vida, que normalmente encaramos com seriedade e preocupação. O longa de estreia dos irmãos Peter e Bobby Farrelly apresenta uma trama despretensiosa com protagonistas ingênuos em uma estrutura narrativa simples. O humor, que a primeira vista pode soar estúpido, causa risadas espontâneas em uma experiência agradável.   

O filme entrou em cartaz no Brasil em 1995, eu tinha nove anos. Desde então assisti a produção diversas vezes. Eu era também uma grande fã da série animada “Os Debiloides” produzida pela Hanna-Barbera. Vinte e cinco anos se passaram desde a estreia da obra, e ao assistir novamente me peguei dando risadas em piadas que eu já sabia de cor. Dando gargalhadas espontâneas ao relembrar momentos inspirados de Jim Carrey e Jeff Daniels. Seria mais fácil e mais impressionante elogiar ou enaltecer um longa que apresente um humor inteligente ou reflexivo. Mas a verdade é que fazer rir é difícil, o que é engraçado para um é indiferente para o outro. Imagine então analisar uma comédia. Mas continuar rindo de uma produção, vinte cinco anos depois de sua estreia. Me mostra que o filme não só é bem sucedido em seu objetivo principal, mas que também existe mais do que apenas idiotices naquelas piadas e interpretações. Se você revira os olhos só de pensar nesse filme e não tem paciência para seus gracejos. Respira fundo, deixe a pretensão de lado e pega na mão do “Tio Sunça”. Eu vou te mostrar que esse besteirol, não é tão besta assim. É besta, mas é também uma das grandes comédias dos anos noventa.

Na trama, escrita por Peter Farrelly, Bennett Yellin e Bobby Farrelly, acompanhamos o ex motorista de limusine Lloyd Christmas (Jim Carrey) e ex cuidador de cães Harry Dunne (Jeff Daniels). São amigos fracassados, que moram juntos e almejam abrir uma loja para vender minhocas. Ambos perdem seus empregos e decidem atravessar o país de carro para entregar uma maleta para Mary Swanson (Lauren Holly). Mary foi a última passageira de Lloyd e esqueceu a mala no aeroporto. O que eles não sabiam é que bandidos estavam interessados naquela bagagem de mão e passam a ser perseguidos enquanto viajam em sua van canina tranquilamente pelo país.   

A dupla protagonista é carismática. Harry e Lloyd são sim estúpidos, mas é na ingenuidade e infantilidade dos personagens que está o encanto. São duas crianças em um mundo de adultos. Eles não seguem as mesma regras e não respeitam os limites impostos por nossa sociedade. A dinâmica entre os atores é ótima o que deixa a simpatia por aqueles sujeitos ainda maior. O carisma dos dois é impressionante. É legal perceber, que a sua maneira, um completa o outro. Lloyd o infantil e sonhador e Harry o mais realista e preocupado. Mas ambos longe de serem maduros, é claro. Carrey e Daniels entregam tão bem essas crianças em corpos de adultos, que piadas com um potencial para falhar funcionam. Frases como  “Quer ouvir o som mais chato do mundo?” ou “De acordo com este mapa, só andamos dez centímetros” nos fazem rir. Comportamentos como vender um periquito sem cabeça para um menino cego e lamber metal congelado nos parece algo natural. E causa gargalhadas. 

O humor do longa superficialmente é besta. Mas existe um esforço dos irmãos Farrelly em colocar piadas mais trabalhadas e de ousar nos gracejos. Boas sacadas como Lloyd comemorar a chegada do homem a lua, estão presentes em toda a trama. Na obra temos sequências politicamente incorretas, um exemplo, é quase tudo o que envolve o periquito Petey. Algumas piadas chegam a flertar com a escatologia. A sequência do policial bebendo sua “cervejinha” nos mostra isso.  E o que dizer de uma das cenas mais marcantes, e engraçadas, que envolve Harry e o laxante. É admirável a coragem dos diretores de tentar fazer com que os espectadores deixem de lado seus códigos morais e altivez, para rir dos acontecimentos banais do filme e das nossas vidas.   

São atuações impecáveis com um humor certeiro e um filme de estrada com uma ótima trilha sonora. Crash Test Dummies, Butthole Surfers, Deee-Lite e The Primitives são alguns dos nomes presentes nas canções do longa. Ouvir Pretty Woman de Roy Orbison enquanto eles se arrumam para o baile, é um deleite. Quando eles brigam e se separam temos “Mmm Mmm Mmm Mmm” do Crash Test Dummies. O que dizer de quando Lloyd é assaltado por uma senhora ao som de “Red Right Hand” de Nick Cave & The Bad Seeds. 

Jim Carrey e Jeff Daniels estão ótimos juntos, uma boa química que rende carisma e simpatia. São crianças brincando no mundo dos adultos e que nos convidam a brincar com elas. Se descermos momentaneamente de nossos pedestais e nos permitir brincar, podemos chegar a conclusão de que Lloyd só que ser aceito e que Harry se esforça para ajudar um amigo. Ou então, quem sabe, assim como a Marry, podemos nos divertir brincando na neve?

 Senso de humor varia de pessoa para pessoa, e no final o que importa para um filme do gênero é se ele te faz rir. “Debi & Loide” me faz gargalhar.

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Sonic: O Filme (2020)

Sonic, o porco-espinho azul mais famoso do mundo, se junta com os seus amigos para derrotar o terrível Doutor Eggman, um cientista louco que planeja dominar o mundo, e o Doutor Robotnik, responsável por aprisionar animais inocentes em robôs. A sinopse oficial ainda não foi divulgada.

90 min – 2020 – EUA

Dirigido por Jeff Fowler, roteirizado por Pat Casey e Josh Miller. Com James Marsden, Ben Schwartz, Tika Sumpter, e Jim Carrey

Em 1991 “Sonic The Headge Hog” chegou aos consoles. Aqui em terras tupiniquins eu o conheci através de meu Master System Compact. Com sua jogabilidade rápida, cenários fluidos, design cativante e cores gritantes, Sonic caiu no gosto popular. O ouriço é um dos personagens mais queridos dos games. Na minha opinião é o melhor personagem de videogame dos anos 90. Vinte e nove anos depois, o ouriço azul símbolo da SEGA, chega às telonas com “Sonic: O Filme”. Um longa bem humorado, que não se leva a sério, que trata o personagem com carinho e que agrada pela nostalgia.

A divulgação do filme foi conturbada. As primeiras imagens não agradaram e receberam duras críticas. O alvo dos comentários foi o design do protagonista. Isso causou uma atraso na finalização da obra. Devido a reação negativa dos fãs, a equipe da produção redesenhou o personagem título e refez todas as suas cenas. O novo visual menos realista e medonho agradou. Sonic ficou com os olhos maiores, menos dentes e pernas mais cartunescas e menos musculosas. O novo design deixou o personagem mais carismático e mais parecido com o visual dos games. No início da projeção o universo dos jogos já interage com os letreiros, os vários games da SEGA formam sua logo e os Anéis dos jogos do Sonic “brincam” com a abertura da Paramount Pictures. Temos a impressão de que o longa vai se dedicar ao universo do ouriço velocista, mas logo percebemos que se trata de mais uma obra que transporta personagens imaginários de seus mundos fantásticos para a nossa Terra. O que normalmente não funciona. Porém a opção de tornar os personagens “reais” em caricaturas e deixar nosso universo um pouco mais cartunesco, funciona e garante uma certa consistência à trama.

Sonic (Ben Schwartz) fugindo de uma ameaça em seu próprio mundo, acaba em nosso universo na pacata cidade de Green Hill, uma referência a Green Hill Zone do jogo. Ele se mantém escondido, o que não o impede de interagir com os moradores locais. Isso lhe concede uma interessante persona de aparição extraterrestre. O protagonista é amigo (stalker) de Tom Wachowski (James Marsden), que recebe o apelido carinhoso de “Lord Donut”. Em um momento de descontrole o ouriço usa seus poderes de forma excessiva. Sonic acaba chamando a atenção do governo dos Estados Unidos e do Dr. Ivo Robotnick (Jim Carrey), “carinhosamente” apelidado de Dr. Eggman (Mais uma referência aos games). Sonic e Tom têm que ir até São Francisco enquanto fogem de Robotnick.

Nessa estrutura de um roadmovie em meio a uma caçada, vemos a amizade entre os dois se estabelecer. As cenas de ação são bem filmadas e planejadas, as batalhas empolgam e o diretor Jeff Fowler consegue demonstrar bem os poderes do ouriço velocista. O roteiro de Patrick Casey e Josh Miller faz diversas referências ao universo dos games, mas não aproveita a fundo da mitologia do personagem. A fotografia do longa é extremamente colorida e saturada, e isso, ajuda na caracterização cartunesca do universo. É também uma opção que lembra o visual dos jogos. Jim Carrey está ótimo, exagerado ele constrói um Robotnik hilário, cheio de expressões, caretas e excentricidades. Sua performance ao som de “Where Evil Grows” é sensacional. James Marsden é o típico policial charmoso e bonzinho que está sempre pronto para ajudar. Sua esposa Maddie Wachowski (Tika Sumpter) e seu chefe Billy Robb (Adam Pally) pouco têm a fazer na trama, mas o elenco comprometido com o tom da obra. 

“Sonic: O Filme” entrega personagens caricatos em uma trama rasa e objetiva. É simples e divertido, despretensioso e bem humorado, com cenas de ação interessantes e que exala carinho por seu protagonista. Apesar dos vários ganchos para uma continuação, fica o sentimento de que algo faltou e que estamos diante de uma introdução e/ou epílogo. 

Obs. Na cabine de imprensa foi exibida uma cena logo após os créditos iniciais

Nota do Sunça:

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