Sunça no Cinema – Jungle Cruise (2021)

Jungle Cruise gira ao redor do malandro e brincalhão Frank Wolff (Dwayne Johnson), capitão do barco La Guilla. Ele é contratado pela Dra. Lily Houghton (Emily Blunt) e seu irmão McGregor (Jack Whitehall) para levá-los em uma missão pelas densas florestas amazônicas com a intenção de encontrar uma misteriosa árvore com poderes de cura que poderá mudar para sempre o futuro da medicina. No caminho, eles viverão inúmeros perigos, enfrentando animais selvagens e até mesmo forças sobrenaturais.Homem de Lata (Jack Haley) que anseia por um coração e um Leão covarde (Bert Lahr) que precisa de coragem. Será que o Mágico de Oz conseguirá ajudar todos eles?

127 min – 2021 – EUA

Dirigido por Jaume Collet-Serra e roteirizado por Michael Green, Glenn Ficarra, John Requa, John Norville e Josh Goldstein. Com Dwayne Johnson, Emily Blunt, Édgar Ramírez, Jack Whitehall, Jesse Plemons, Paul Giamatti, Veronica Falcón, Dani Rovira, Quim Gutiérrez, Andy Nyman.

“Jungle Cruise” é a nova tentativa da Disney de produzir uma franquia no estilo “Piratas do Caribe”. Ambas iniciativas foram criadas a partir de uma atração do parque que teve seus elementos expandidos e, ao seu redor, foi criado um universo mágico. A sequência está garantida pelo estúdio e a nova série foca na ação e aventura, com o enredo sobre caçadores de artefatos perdidos. Inspirado em clássicos como  “Tudo por Uma Esmeralda”, “Uma Aventura na África”, “A Joia do Nilo” e “As Minas do Rei Salomão”. A obra se constrói sobre um trio de protagonistas com a dinâmica de “A Múmia”, um vilão alemão estilo nazista que também está atrás do objeto em questão. Assim como em “Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida”. Tudo isso em um mundo mágico cheio de lendas, mistérios e inimigos amaldiçoados. Seguindo o caminho de “Piratas do Caribe”. 

Lembrar e se inspirar em filmes do gênero não é necessariamente algo ruim, mas pode soar repetitivo e cansativo. Dito isso, “Jungle Cruise” começa bem, dedicando sequências de apresentação a cada um de seus personagens, desenvolvendo suas personalidades e colocando o trio protagonista junto para assim iniciar a jornada.  No início somos surpreendidos com o cenário onde tudo vai acontecer, a Amazônia. Quando chegamos na cidade de Porto Velho em Rondônia, percebemos como é pobre a representação brasileira no filme. A caracterização do Brasil se dá através de menções a dengue e a anaconda, nossa cultura e costumes não são representados. A imagem do indigena é estereotipada e a falta de cuidado é tamanha que fica sugerido que no Brasil se fala espanhol. Vale notar que, para a obra, a cento e cinco anos atrás a moeda brasileira era o Real. Os roteiristas sequer imaginaram que nestes anos todos poderíamos ter mudado de papel-moeda. Essa falta de pesquisa histórica empobrece o filme e na prática o que temos é uma aventura genérica que poderia se passar em qualquer rio próximo a uma floresta.   

Frank (Dwayne Johnson) é um capitão de barco que sobrevive tirando proveito dos turistas. O ano é 1916 e a cidade de Porto Velho também atrai gananciosos que buscam se enriquecer com lendas. A Doutora Lily Houghton (Emily Blunt) e seu irmão MacGregor Houghton (Jack Whitehall) chegam na Amazônia em busca de uma árvore, que segundo a lenda, as pétalas podem curar todas as doenças. No Brasil Lily contrata Frank para levá-los em busca da lenda. 

Frank é um personagem que não é confiável, mas pede desculpas após trair alguém. Faz piadas de tiozão, ele é o brucutu bonzinho. Um personagem que funciona pelo grande carisma do The Rock. Lily é aventureira e inteligente, uma figura forte e determinada. Porém seu arco dramático se resume a busca pelo item mágico e infelizmente ela perde o protagonismo ao longo da trama. Seu irmão Jack é um personagem interessante e cômico. Ele discretamente assume sua sexualidade em uma conversa com Frank, o que é um marco importante para os filmes família da Disney. Mas o texto do longa o coloca como uma figura frágil, vaidosa e em situações de mal gosto. Uma representação estereotipada que enfraquece o personagem e a importante iniciativa da empresa. Príncipe Joachin (Jesse Plemons) é um protótipo de nazista caricato que busca as pétalas para usar em seu exército e vencer a primeira guerra mundial. O que surpreende nesse personagem é como Jesse consegue “entrar na brincadeira” e construir um personagem eficiente. 

O diretor Jaume Collet-Serra não sabe aproveitar o potencial da ambientação na selva amazônica e do rio Amazonas. São cenários que oferecem muitas possibilidades e pouco foi utilizado. As cenas de luta e ação são bem construídas e misturam o humor com a tensão. Muitas dessas sequências parecem planejadas para evocar a sensação de se estar em uma atração da Disney. No geral é um trabalho de direção padrão. Apesar de um bom primeiro ato que sabe apresentar seus personagens, utilizando suas características em conjunto com os cenários e o encanto da ambientação. Os efeitos especiais não ajudam. Ambientes são bem construídos e passam a ideia de grandiosidade e beleza. Mas o CGI falha em alguns momentos, ficando claro que os atores estão atuando diante de telas verdes e que os animais com os quais interagem não estão lá.  

“Jungle Cruise” é um divertido filme para toda a família. Mas se estabelece como uma produção genérica. A árvore mágica e suas pétalas existem apenas para que várias situações aconteçam, sem ter um impacto maior na trama.  Os vilões amaldiçoados tem pouco tempo de tela e aparecem pontualmente para mover os personagem de um local para o outro. Durante toda a trama existe a construção de um romance que não funciona. São bons personagens em um mundo fantástico passando por aventuras genéricas. É um filme inspirado em vários clássicos mas que se esquece de criar sua própria experiência. 

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Se Meu Fusca Falasse (1968)

Herbie, um Fusca com personalidade própria, desprezado por um mau caráter que dono de uma agência de automóveis de luxo e piloto de corridas. Mas o Fusca acolhido por um piloto boa praça (Dean Jones) e, em gratidão, o pequeno carro lhe dá diversas vitórias, acabando com a maré de azar do piloto, que inicialmente não entende que foi o fusquinha quem ganhou as corridas. Porém, ele aos poucos entende que o carrinho o principal responsável pelas vitórias e decide correr sempre com ele. Mas ambos terão que lutar contra um rico rival, que usa toda a espécie de golpes sujos para derrotá-los.

108 min – 1968 – EUA

Dirigido por Robert Stevenson. Roteirizado por Bill Walsh, Don DaGradi (baseado em história de Gordon Buford). Com Dean Jones, Michele Lee, David Tomlinson, Buddy Hackett, Joe Flynn, Benson Fong, Joe E. Ross, Iris Adrian, Gary Owens, Chick Hearn, Andy Granatelli, Ned Glass, Robert Foulk, Gil Lamb.

Um Fusca atrapalhado, consciente e com sentimentos. Esse é Herbie o corredor número cinquenta e três, que ganhou nossos corações e se tornou um dos carro mais icônicos do cinema. Talvez, o carro mais icônico do cinema.  “Se Meu Fusca Falasse” é um filme de família clássico. Tenho ótimas lembranças de assistir ao filme com minha avó. É bem provável, que nesses momentos de diversão tenha surgido minha paixão (fixação) pelos fuscas. Herbie fez muito sucesso e protagonizou cinco longas, uma série de TV com cinco episódios e revistas em quadrinhos. A obra foi a última produção da Disney com a participação de Walt Disney. Infelizmente ele faleceu em 1966 e não assistiu ao filme pronto. Walt sugeriu a adaptação do conto “Car, Boy, Girl” de Gordon Bufford. Então, os roteiristas Bill Walsh e Don DaGrandi escreveram essa comédia com estrutura episódica que exala simpatia.  O diretor Robert Stevenson, responsável por vários filmes do estúdio, mesclou a comédia com emoção e capturou belas coreografias de corrida com planos de câmera certeiros. 

Jim Douglas (Dean Jones) é um piloto de corrida fracassado e mora com o amigo Tennessee Steinmetz (Buddy Hackett). Jim encontra o “pequeno carro” em uma loja de automóveis sofisticados e importados. Ele acaba se envolvendo com a vendedora Carole Bennett (Michele Lee). Seu patrão Peter Thorndyke (David Tomlinson) é o dono da loja e um verdadeiro “Dicky Vigarista”. Thorndyke acusa Jim de roubar o Fusca e o obriga a comprar o carro. A história é simples e de forma certeira não se preocupa em explicar porque Herbie tem vontade própria. Ele é super veloz e Jim passa a vencer várias corridas em Laguna Seca e Riverside. O que não agrada Thorndyke, o atual campeão nacional da SCCA (Sports Car Club of America). Uma curiosidade interessante é que no filme o motor do Fusca foi substituído pelo motor do Porsche 356 para dar velocidade ao carro. Herbie tem personalidade forte e demonstra bem suas emoções sem apelar para olhos e bocas ou uma narração subjetiva. Ele é ciumento e impulsivo e percebemos isso em suas ações. Jim é pessimista e egoísta, é na convivência com o “pequeno carro” que ele se desenvolve e cresce como pessoa. Carole é forte e independente. E o amigo Tennessee é hilário e o único que sabe o segredo de Herbie desde o início.  

A direção é competente nas cenas de corrida e nos momentos em que visualmente nos são mostradas as habilidades de nosso querido Fusca. Ele corre, empina, escala montanhas e pula sobre lagos criando cenas engraçadas e memoráveis. Efeitos especiais e práticos convincentes, que podem parecer defasados hoje em dia, mas funcionam e são visualmente bonitos. Tudo isso com sua memorável e ótima música tema composta por George Bruns. O que incomoda no longa é sua estrutura episódica. Os episódios são longos e, em alguns momentos, não se costuram bem para formar a trama. “Se Meu Fusca Falasse” é divertido e engraçado, um filme de família caprichado e que tem um Fusca. Pronto! Já gostei.    

 

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – WiFi Ralph: Quebrando a internet (2018)

Em WiFi Ralph, o mais famoso vilão dos videogames, Ralph, e Vanellope, sua companheira atrapalhada, iniciam mais uma arriscada aventura. Após a gloriosa vitória no Fliperama Litwak, a dupla viaja para a world wide web, no universo expansivo e desconhecido da internet. Dessa vez, a missão é achar uma peça reserva para salvar o videogame Corrida Doce, de Vanellope. Para isso, eles contam com a ajuda dos “cidadãos da Internet” e de Yess, a alma por trás do “Buzzztube”, um famoso website que dita tendências.

112 min – 2018 – EUA

Dirigido por Rich Moore, Phil Johnston. Roteirizado por Phil Johnston, Pamela Ribon. Com John C. Reilly, Sarah Silverman, Gal Gadot, Taraji P. Henson, Jack Mcbryer, Jane Lynch, Alan Tudyk, Alfred Molina, Ed O’Neill, Bill Hader, John DiMaggio, Irene Bedard, Kristen Bell, Jodi Benson, Auli’i Cravalho, Jennifer Hale, Kate Higgins, Linda Larkin, Kelly Macdonald, Idina Menzel, Mandy Moore, Paige O’Hara, Pamela Ribon, Anika Noni Rose, Ming-Na Wen, Roger Craig Smith.

“WiFI Ralph: Quebrando a internet” chegou aos cinemas em 2018, cinco anos após o ótimo “Detona Ralph”. O primeiro longa da dupla Ralph (John C. Reilly) e a Vanellope (Sarah Silverman) retratou com inventividade e criatividade o mundo dos video-games. Em sua segunda empreitada os protagonistas deixam de lado os games e nos proporcionam uma imersão ao “mundo” da internet. Aqui está o ponto mais forte da obra que com criatividade consegue retratar o irretratável. Ver em tela de forma concreta  conceitos abstratos como motores de busca, redes sociais, spams, memes e leilões virtuais é cativante e divertido. É ainda mais interessante que os diretores Phil Johnston e Rich Moore, utilizem desse universo para discutir relações tóxicas. Tanto no mundo online, quanto no mundo real.

A trama é simples e segue uma estrutura de causa e consequência. O jogo da Vanellope estraga, e para salvá-lo Ralph e a garota adentram a web em busca de um novo volante para que o game “Sugar Rush” não seja desligado de vez. Quando encontram a peça um novo problema surge e eles têm que lidar com suas consequências e resolvê-lo. Outro fator que nos prende no longa, além das representações e metáforas para as estruturas, comportamentos e as menções às grandes marcas da internet, é o carisma dos protagonistas.  Assim seguimos até o final do segundo ato, a partir do qual adentramos em uma nova trama, que até então, apenas havia sido sugerida. Assistimos a um segundo filme, que discute relações tóxicas e qual a real função de uma amizade. Ambos momentos são interessantes e trazem reflexões importantes, mas a partir do terceiro ato o problema inicial já está resolvido e seguimos uma nova estrutura, que nos coloca novas discussões e um novo conflito. Esse segundo filme acaba em um clímax grandioso e exagerado. Uma resolução confusa, perdida e um pouco entediante. A sorte é que já estamos presos na trama pela inventividade e criatividade dos atos anteriores. 

O que impressiona mesmo é o design de produção que retrata a internet como uma megalópole. Os grandes site são arranha-céus, sistemas de busca são grandes bibliotecas e a Deep web um terreno abandonado e sombrio. As representações de spam, pop-out e adblock são ótimas gags visuais. Passamos pelo site da Disney. É um momento deslocado e alheio a trama, mas que tem uma sequência ótima de interação entre Vanellope e as princesas.  Uma desconstrução das princesas da Disney e uma nova caracterização tão interessante que merecia um filme próprio. A obra ainda traz uma crítica sutil aos comportamentos impulsivos, destrutivos e predatórios da web. Em um determinado momento Ralph entra em uma sala e a trilha sonora muda, ela já nos indica que estamos em um ambiente inóspito e sombrio. É a sessão de comentários, um lugar tóxico e que têm um efeito negativo sobre ele.   

“WiFI Ralph: Quebrando a internet” é divertido, inventivo e criativo. Traz novos conceitos, como o das princesas que não precisam ser salvas, e debates interessantes sobre amizade, relacionamentos tóxicos e comportamentos na internet.  

Obs. São duas cenas pós créditos, e ambas são imperdíveis.

Nota do Sunça:

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