Salve-se Quem Puder #13 – Celular é amor!

Na vida adquirimos virtudes, com muita luta conquistamos posses e geramos oportunidades. Estamos sempre lutando para atingir algo, normalmente conseguimos patavinas. Mas, às vezes, alcançamos glórias como um bom pileque ou curtidas em redes sociais que rendem a ilusão de que somos felizes e amados. Passamos por muitas experiências em nossa frustrada existência, paixões, brigas, empregos, barraquinhas com vários sabores de churros, almoços de família, o amor verdadeiro que não é verdadeiro porque acaba e as crises existenciais. É da nossa praxe valorizar, estimar e endeusar o patrimônio considerado por nós, primatas bípedes semi-evoluídos, mais importante. O telefone celular.

Ah os smartphones! Que obra dos Deuses. Um elixir maravilhoso que agrada e deixa a vida mais efêmera e nula. Um parceiro que nos acompanha diariamente, diz como está o dia, a temperatura, as novidades, o trânsito, as horas e permite a conversa entre os humanos. Diálogo esse, que pode ser resumido ao compartilhamento instantâneo de “bom dia” com flores, fotos de nossas refeições, memes e a tão bem vinda pornografia. Tudo o que precisamos para nossa sobrevivência encontramos nesses aparelhos mágicos. Uma outra forma para realizar tudo isso seria sair de casa, interagir uns com os outros e analisar a natureza a nosso redor. Mas afinal, quem têm tempo para isso? Prezamos tanto por nosso telefone que ele nos acompanha no trabalho, academia, banheiro, em todos os lugares, até os levamos para a cama. E durante todo esse tempo ele escuta nossas mágoas, nos conforta quando estamos tristes,  guarda nossos segredos e até mesmo protege nossos primorosos nudes. Eles são bons companheiros

Não é à toa o nosso ciúme criminoso e possessivo por nossos smartphones. É um procedimento comum receber algo ou alguém que demonstra interesse e/ou tenta encostar em nosso telefone, com um imediato e robusto tapa na fuça. Somos apegados a nossas máquinas do amor. Quem não se lembra do deslumbre que é uma nova? Nós adoramos as novinhas. É lindo quando tudo é novidade, a empatia flui, todas as nossas demandas são bem atendidas e, em geral, o convívio funciona bem. Também é fácil lembrar de nossos acessos de ódio quando falharam ligeiramente ou quando não agem conforme o esperado. Só é difícil lembrar dos modelos anteriores que passaram por nossas vidas, não por questões mal resolvidas ou porque ainda nos fere por dentro, é só falta de interesse mesmo. Até porque qual o sentido de tentar consertar algo importante para você se é comum e aceitável apenas dispensar e trocar por outro telefone. E se ao invés de um aparelho danificado o seu um dia “acabar”, a solução é igualmente simples. Consiste em enfiá lo em uma gaveta e fingir que nada aconteceu e que até mesmo você nunca teve um celular. Basta colocar um dinheiro no bolso chamar os amigos (as) e partir para as compras nos passadiços finais de semana. É habitual testar o máximo possível de modelos antes de tomar sua decisão.

O ser humano ama seu smartphone. Essas máquinas fantásticas transformam nossa existência e mudam nossas vidas. Sem elas passariamos por maus bocados. Então seguimos com esse relacionamento complexo e unilateral (Assim como fazemos com todas nossas convivências) na esperança de que tudo é perfeito, mágico e vai durar para sempre. E, se não permanece, pouco ligamos. No mercado sempre saem novos modelos. Mais jovens, modernos, atraentes e onerosos.

Celular é amor.

Bjundas


Ministério do sarcasmo adverte:

Acreditar e/ou levar a sério informações desse texto é um atestado de bestialidade.


O autor:

Sunça é publicitário e cartunista. Mestre e doutorando em autossabotagem desde 1986.

Salve-se Quem Puder #11 – Banheiro de clube

Na vida temos momentos bons e momentos ruins. É comum encontrar pessoas que acreditam que ela é de fato toda ruim. Acreditam também, que nunca deveríamos ter saído do aconchego do ventre materno e que o ideal era mesmo boiar por toda nossa existência no útero de nossas matriarcas. Os demais dípodes oriundos dos símios acreditam que nossa presença no universo é um erro e que devíamos tê-lo deixado vazio e em paz. Ele era mais feliz assim. Fato é, que a vida é conturbada e em sua totalidade é, desnecessariamente porém extremamente, confusa. Além de sofrida e demasiadamente doída. Nela, assim como no banheiro de clube, presenciamos cenas de horror, passamos por torturas e acabamos agilizando todo o processo na esperança de que tudo acabe de forma abreviada e gentil.

Ao entrar no banheiro de um clube, nunca sabemos o que esperar. Confiantes sempre esperamos o melhor:  O recinto vai estar vazio, ou então com seres humanos mais comportados. Também temos a inocência de aspirar por uma experiência rápida, indolor e que o aroma seja no mínimo respirável. Já que esperar por um aroma que não causa náuseas em um lavabo comum seria uma demonstração de ignorância. Mais uma vez a esperança é a arma de nossa destruição, ao adentrar na casa de banho o que acontece é frustração, olhos dormentes e ardidos e pulmões repletos de um aroma desagradável que é quase exatamente igual, porém ligeiramente diferente a um grande pote de estrume.

Você mal cabe no vestiário. Todos os urinóis lotados, as privadas devidamente ocupadas em seu dever de enviar longos e extensos faxes. (E quando estão vazias, sempre guardam um presentinho) Além do inebriante aroma que rege o recinto, que certamente se origina de defuntos em decomposição. E, é claro, a primeira experiência que você presencia é um idoso(a) nu(a) a desfilar! Não porque você gostaria de examiná-lo, ou porque algumas partes de sua frouxa genitália chamam atenção ao quase tocar o chão. Mas sim, porque ele simplesmente atravessa o banheiro em sua direção, lava as mãos, o rosto, arruma o cabelo e ainda passa pela balança próxima a saída. Suas vestimentas lhe aguardam tranquilamente a uns cinquenta metros de distância.

No toalete, quando sua vontade é a de enviar um fax para os países baixos não há latrinas disponíveis. Se o problema é aliviar a água do joelho, os locais apropriados estão ocupados. Só pretende trocar de roupa e guardar seus pertences, não tem lugar. Tudo está ocupado e nada é possível. Nos chuveiros encontramos o reino dos idosos(as) nus(as) a desfilar. Também temos jovens nus a desfilar, e alguns nem tão jovens assim. Um acontecimento igualmente desagradável de ser testemunhar. Na minha humilde e primorosa opinião, só devemos ver um corpo desnudo com a devida autorização de seu dono(a) e com nossa própria aceitação e/ou vontade. O mesmo vale para nossos próprios corpos. Para muitos isso não faz sentido e é uma grande bobagem, afinal, quem sou eu para dizer algo a respeito de meu próprio corpo e/ou do que quero ou não quero presenciar.

E assim também acontece na vida. Tudo o que queremos, não conseguimos. As pessoas que amamos não nos amam, o sucesso e satisfação pessoal é tão distante que parece inacessível. Tão longe que a chance de atingi-los é a mesma de não encontrar uma pessoa de idade desnuda a perambular nas estranhas casas de banho de clubes. O objetivo da ida ao banheiro compartilhado têm o propósito de nos lembrar que nada é fácil, toda conquista vêm de luta e que nos momentos de dificuldades as vezes precisamos fechar os olhos, prender a respiração e seguir em frente. Um aprendizado para a vida.

Nesse carteado, de cartas marcadas maltrapilhas e incompletas onde sair com uma mão decente é impossível que chamamos de vida, é provável que o caminho seja fazer assim como fazemos nos vestiários de clubes. Encarar de frente os problemas, decepções e as desilusões, mesmo que para isso seja necessário abrir mão de sua visão e interromper a troca de oxigênio de seus pulmões.

Vale lembrar que existe a opção de respirar fundo, segurar e tentar resolver o “problema” em casa.

Mas qual a graça disso?

Bjundas


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O autor:

Sunça é publicitário e cartunista. Mestre e doutorando em autossabotagem desde 1986.

Salve-se Quem puder #10 – Carnaval é aprendizado

“Pior do que tá não fica!” A mas fica, fica sim. Sou a prova viva disso, aliás, todos nós bípedes descendentes da ordem dos primatas somos. Na ânsia de acreditar que um dia vamos conseguir ser felizes, acabamos nos esquecendo de que nos raros momentos em que a felicidade é encontrada ela é efêmera. Na busca incessante pela alegria tudo o que conseguimos é causar dor, tristeza e infelicidade uns nos outros. E, principalmente, para nós mesmos. Uma das consequências mais graves e severas causada por essa perseguição implacável que aflige a nossa existência, são as excessivas comédias românticas que tanto nos auto-obrigamos a assistir e chorar discretamente acreditando no amor. (Essas são na realidade as verdadeiras ficções científicas.)

Sendo assim, o rabugento Grinch que vive dentro de nós é o grande responsável pela a auto-sabotagem de nossa própria felicidade. Como, para a maioria das pessoas, encerrar sua vida com as próprias mãos parece excessivo, as mais comuns formas de lidar com toda essa situação é bebida, sexo e droga. E é aí que entra o carnaval.

O carnaval é a prova mais incontestável de que a felicidade é passageira. Não que ele seja ruim, não é. Ruim é só o ser humano mesmo. A real verdade, é que seria bem bom se o carnaval fosse eterno. Bom até demais. Mas assim como o amor verdadeiro, ele acaba. Existem tentativas de prolongá-lo, esticá-lo e tornar a coisa toda cotidiana, mas nunca acaba bem. Geralmente em brigas, acidentes de trânsito e depressão. E é aí que está o problema, não temos que prolongar o carnaval, temos que aprender com ele. Nele bebida quente, é bom. pular/andar/correr no sol escaldante é bom. (O mesmo pode ser dito para os momentos de tempestade.) Pegar pessoas em estados normalmente não aceitáveis, muitas vezes em situação deplorável, é bom. E ali, é um dos lugares que mora a felicidade.

Mas um dia a vida volta ao normal. E como nós, os habitantes abestados desse dispositivo eletrônico obsoleto e antiquado eternamente travado e sem bateria que chamamos de vida, não guardamos em nossas mentes tolas o sábio ensinamento do carnaval e a tristeza volta a reinar. Como somos deprimidos no cotidiano buscamos na esperança a salvação. Passamos a dizer uns para os outros, tudo vai melhorar! Mas não vai. E não melhora. A esperança é a grande arma do maléfico Grinch que habita nossos corações.

O que o sábio carnaval realmente quer nos ensinar, é que se tudo que poderia vir a ser ruim é na verdade bom, tudo está certo. Se o que é ruim é bom e nossa existência é em sua maioria é ruim, deu bom. Porque não trazer isso para nosso dia-a-dia? Devíamos parar de dizer coisas como: “Pior do que tá, não fica!” e aceitar que: “Quanto pior, melhor!”. Perdeu o emprego? Que beleza! Foi feito de trouxa? Maravilha! Levou um soco no coração? Esplêndido! Você vive na calçada só tem uma caneca e um cachorro e ele te troca por uma moita mais carismática? Aí sim, deu bom! Se a tristeza é uma certeza, quando ela chega ficamos felizes, satisfeitos e com a sensação de missão cumprida. Nós podemos e devemos nos enclausurar voluntariamente e de forma hiperbólica nesse looping ilógico.

Pronto. Solucionamos boa parte dos problemas dos habitantes do facebook. Os seres que habitam o instagram não sofrem desse problema, eles tem sua própria forma de lidar com a infelicidade. Que é simples e parece funcionar. É a simulação momentânea e constante do regozijo.

Então, seguimos aguardando pelo pior e assim seremos felizes. Porque a tristeza nem tarda e nem falha.

“Tristeza não tem fim, felicidade sim…” Tom Jobim e Vinicius de Moraes

Eu amo o carnaval.

Bjundas


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Sunça é publicitário e cartunista. Mestre e doutorando em autossabotagem desde 1986.

Salve-se Quem puder #09 – Tiozão

Um dia vão escrever um filme sobre um garoto, que ao chegar aos trinta percebeu que ele não conquistou tudo o que idealizou, mas que sim, conquistou tudo o que ele precisava. Esse garoto não sou eu. O filme sobre minha vida é na verdade uma comédia fraca e sem graça onde tudo o que pode dar errado, dá. Nele o que realmente prevalece é a zueira.

E o dia chegou. O marco decisivo, incisivo e miserável, o rito de passagem que todo bípede masculino descendente da ordem dos primatas têm que se submeter. O fim chegou. Muitos tentam fugir, correr e desviar desse acontecimento lazarento, mas as tentativas são inúteis. Não há escapatória. A única forma de se evitar este rito é a morte antecipada e juvenil. E como, para a maioria das pessoas, essa não é uma opção viável, métodos comportamentais foram desenvolvidos para tentar amenizar esse desagradável acontecimento. Estou falando da chegada dos trinta. Conhecida mundialmente como o rito de passagem de um jovem garoto feliz e promissor para um tiozão infeliz e fracassado. É pessoal, deu ruim.

E aqui me encontro, o fim está próximo. Hoje completo trinta anos de existência nesta monstruosa conspiração, com o objetivo de  impedir todo e qualquer tipo de realização, que chamo de vida. Realmente é uma época brutal de se viver. E os métodos de superação desenvolvidos para este grande trauma obrigatório na vida de um homem, basicamente consiste em gastar enormes quantias em automóveis de luxo e/ou consumir exorbitantes quantias de álcool. Porém não me conformei com a chegada do fim, e resolvi comprovar que completar os trinta não é tão ruim assim. Então, o tiozão aqui enumerou três metas que comprovariam, caso uma ou mais delas fossem atingidas,  que a chegada aos trinta não foi um fracasso. (Difícil, mas vamos lá.) Bem o Sunça de quinze anos diria que nessa altura do campeonato uma dessas metas deveria ter sido alcançada:

  • Constituir família
  • Ficar extremamente rico
  • Sucesso e fama profissional (Seja como publicitário ou como cartunista e/ou qualquer outra coisa)

E hoje, primeiro de novembro de dois mil e dezesseis, posso afirmar com certeza e confiança de que não conquistei nenhuma das opções anteriores. Mediante a essa realidade resolvi, assim como o amigo Indiana Jones, dobrar as mangas e partir para ação.  Vou conseguir uma esposa, dinheiro e sucesso e se tudo falhar tenho uma cartada final, genuína e decisiva, vou correr para os braços de minha mamãe e chorar as pitangas em uma extensa sessão de terapia materna.

Então esse ex-pimpolho, uma vez conhecido como um garoto cheio de ideias mirabolantes e planos fantasiosos, agora um tiozão, conhecido como um idoso de idéias falhas e planos não conquistados, pegou seu chapéu, seu fiel companheiro o Bilau e partiu para uma (des)incrível aventura para tentar mudar o desfecho de sua triste existência. (Não sei porque mudei para terceira pessoa neste parágrafo, mas prometo voltar ao normal no próximo. Afinal, sou eu mesmo falando de ieumesmis.)

Constituir família. Isso parece inviável para um rapaz que foge de relacionamentos como Bandit Darville foge da polícia e que, neste momento, está namorando todo mundo. Na verdade o mais próximo de um relacionamento saudável e duradouro que cheguei é meu bromance com o Bilau.  Sendo assim, só me restou uma opção, recorrer aos amigos Gary Wallace e Wyatt Donnelly e utilizar seu supercomputador milagroso para encontrar a parceira perfeita. Depois de uma longa conversa com meu confidente Bilau, estava certo de que a mistura entre Jennifer Aniston, Margot Robbie, Marina Ruy Barbosa, Rosario Dawson, Cleo Pires e a Princesa Jamine era a ideal. E realmente, eu estava certo, uma das mulheres mais bonitas que já vi, magicamente surgiu na minha frente. Forte, empoderada e segura de si. E como não estamos mais nos machistas anos oitenta, o magnífico exemplar feminino que alegrou momentaneamente minha existência, se tocou que as mulheres são donas do próprio corpo e muito melhor do que os homens e chegou a conclusão de que era um mulherão e areia demais para meu fusquinha. Em suas próprias palavras:

Té mais Tio!

Deu meia volta e foi embora (Bebendo sua sukita) ser dona de sua própria vida. Doeu? Doeu! Mas segui em frente, ainda me restavam duas opções. Liguei para o amigo Josh Baskin que quando ficou grande conseguiu unir seus gostos pessoais ao sucesso profissional, pedi dicas e uma oportunidade de trabalho. E não é que ele me ajudou, me dei bem na loja de brinquedos. Minhas ideias criaram toda uma nova gama de produtos, fui considerado um visionário. O único problema é mais da metade de toda minha renda era gasta com os próprios brinquedos que eu criava, que eram muito divertidos, mas extremamente caros. A outra metade do dinheiro gastava na vida boêmia, eu Ferris Bueller e Cameron Frye curtiamos a vida adoidado. Gastando mais do que podia e tirando mais “days of” do que o necessário acabei me endividando, perdendo meus bens e fui mandado embora sob ameaças. Durante a demissão meu ex chefe dizia:

– Você se sente com sorte, pivete?

Mas assim como John Rambo, sou um sobrevivente. Aprendi com Rocky Balboa a não desistir, a receber as pancadas da vida e seguir em frente, então juntei meus cacos e parti para minha última e derradeira opção, até porque não posso me estender mais. Esse conto já está parecendo uma história sem fim. Pensei em pedir ajuda para o Beetlejuice mas isso é sempre perigoso, e com a morte do senhor Miyagi um treinamento para o sucesso parecia distante. Então me dei conta de que com a ajuda de Marty McFly e Doc Brown eu podia mudar meu infeliz destino. É caro viajar no tempo e seguindo o conselho de Arthur Dent, peguei o delorean emprestado com a promessa de depositar uma grana na conta do Doc assim que chegasse no ano de 2001, quinze anos depois o dinheiro teria rendido bem. Parti então para o passado com a intenção de instruir melhor o Sunça de quinze anos para assim mudar meu futuro. Fez sentido? Não, neh. Mas assim como os Gremlins, muitas coisas na vida não fazem sentido.

Pois bem, cheguei no ano de dois mil e um e fui encontrar o Sunça de quinze anos na banca de revistas onde eu costumava esperar minha mãe depois da aula. E lá estava, o pequeno Assumpção de camisa do Galo, um gibi do Frauzio na mão e um albúm do Lucky Luke debaixo do braço. E aquele pimpolho promissor logo me reconheceu.

 Você é quem eu penso que você é? Diz o garoto.

– Creio que sim. Respondi

– Legal tio, me vê um churros então.

– Churros? Eu não vendo churros…

– Uai?!? Você não falou que era você?

– Não. Eu sou você!

– Entendi. Disse Sunçazinho desinteressado e pegando uma hq do Homem-Aranha.

– Eu sou o Assumpção e vim do futuro para guiar-te. Disse com veemência.

– Para o quê?

– Te guiar. Respondi.

– Não! Guaio…. Hahahaha Proliferou o jovem aos risos.

– Sério mesmo?  Eu falei incrédulo.

– Hahaha… Mas diz aí tio, quem é você?

– Eu sou você com 30 anos.  

– Ham ham. Beleza.

– Não, é verdade. Eu sou você!

– Prova! Contestou o moleque.

– Você é apaixonado pela Jennifer Aniston, queria ser o Homem-Aranha, gasta muito tempo assistindo Cartoon Network e pensa o tempo inteiro no Galo.  

 Todo mundo sabe disso. – Desdenhou o menino – O que você faz?

– Sou apaixonado pela Jennifer Aniston, acho que ainda existe a chance de um dia me tornar o Homem-Aranha, gasto muito tempo assistindo desenhos no Netflix e penso o tempo inteiro no Galo.

– Ok. Faz sentido! – Acreditou o pimpolho – E o que você quer comigo?

– Te instruir, para que nosso futuro seja melhor!

– Muito bom! E como vai nossa esposa e filhos.

– Não temos.

– E nossas hqs e comerciais de sucesso?

– Não temos.

– Somos ricos pelo menos?

– Não.

– E é você que vai me instruir?

– Ok. Faz sentido. Reconheci envergonhado.

– Tudo bem, te dou uma chance. Me diz aí como somos no futuro?

Resolvi que seria uma boa ideia dar um panorama geral a mim mesmo antes de partir para os conselhos e planos futuros. Quando disse que não tínhamos constituído família e que nosso relacionamento mais longo e duradouro era com um cachorro de plástico (Que ele iria conhecer daí a quatro anos), ele compreendeu.  Ao saber que não atingimos o estrelato com nossos quadrinhos e nossas propagandas também foi paciente. Escutando que o pouco dinheiro que ganhamos, gastamos com aluguel, cerveja, pinga e quadrinhos ele aceitou ainda tranquilo. Lhe disse que sabia que ele queria mudar o mundo, mas que o mais próximo disso que chegamos foi fazer tiras sobre um bêbado que acha que é um super-herói, ele relutou, mas ainda assim se conformou. Pensei então em partir para nossa tática para melhorar o futuro, mas ele quis fazer algumas perguntas antes e infelizmente nunca chegamos a nossos planos.

As respostas para as perguntas foram demais para o pobre garoto. Quando descobriu que não me tornei o Clint Eastwood, não conheci o Johnny Cash nem fiquei amigo do Adam West, ele surtou. E sem perceber que o Sunça de quinze anos estava prestes a estourar, soltei um “Finish Him”. Falei que não vivia no universo de Debi & Loide e que estava longe de me tornar o Homem-Aranha. Essa foi a gota d’água. E no melhor estilo Buddy Revell prometeu me pegar na porrada lá fora. Não tive outra opção, piquei a mula rapidamente e nem tive tempo para dizer “I’ll be back”. Voltei para dois mil e dezesseis. E na falta de um clube dos cinco que rolasse um conta comigo no estilo goonies, resolvi que assim como Roger Rabbit eu estava melhor sozinho, afinal sou duro de matar. Parei de procurar por assombrações do passado/presente/futuro, mesmo sendo o mais perto que já cheguei de ser um Caça Fantasmas, e vim tomar uma no Seu Romão. (De onde lhes conto os recentes acontecimentos)

E foi assim que cheguei onde estou. Trintão, tiozão. Deu ruim. (Mãe, se a senhora estiver lendo meus lamentos, mais tarde passo aí em casa para um lanche/terapia.)

Bjundas

Obs.01 Você jovem ainda não pegou nenhuma das referências neh?!? Viu como estou velho!

Obs.02 Agora tiozão sou obrigado por contrato a fazer a piada do pavê ou pra comê pelo menos uma vez por dia.

Obs.03 A barriga de chopp não é obrigatória, porém é muito usual.


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Sunça é publicitário e cartunista. Mestre e doutorando em autossabotagem desde 1986.

Salve-se Quem puder #08 – Feriados são efêmeros

A felicidade é algo tão longe e inalcançável para nós, homens e mulheres humanos, que, em nossa incapacidade de percebê-la em nossa práxis diária somos ludibriados, por nós mesmos, a pensar que ela não existe ou não quer saber da nossa existência, ou ainda que casou mudou e não nós convidou. E temos a certeza de que ela migrou para o fim de semana e que casou com nosso vizinho(a).

Para a maioria dos primatas é no sábadabado e domingo onde podemos nos deleitar em satisfação praticando uma inatividade ociosa. Muitos dizem que os demais dias da semana de nada servem e que deveriam ser abolidos de nossas vidas fajutas, junto com o trabalho, o esforço e os demais elementos que engrandecem o homem. Afinal, de que serve ser uma pessoa melhor se no fundo não estamos nem aí para a sociedade e para o mundo, a única coisa que importa é que nosso respectivo time seja campeão no Brasileirão. Importa também, ingerir colossais quantias de álcool antes, durante e depois das partidas. Saber o placar, quem jogou bem ou até qual seu nome e onde você mora são questões triviais. O importante mesmo é gritar a esmo como um louco completamente embriagado no néctar dos deuses que é a cerveja gelada. Que para muitos é também um dos locais onde reside a felicidade.

Então trabalhamos a semana inteira. Acordamos cedo e nos arrastamos para nossos respectivos trabalhos, enchemos nossas fuças de café e nos alimentamos com balas e salgados. Em meio a tudo isso analisamos freneticamente e cuidadosamente nossos telefones celulares enquanto trabalhamos vagarosamente e displicentemente. Tudo isso com um sol tórrido em nossas cabeças no clima abrasador de nossos escritórios. E tudo vale a pena. Precisamos do dinheiro para o sustento do deleite da felicidade que acontece no fim de semana, normalmente chuvoso, frio e inerte. O que é injusto e cruel. Nessa motoneta enguiçada remendada e provavelmente sem reparo que chamamos de vida, tudo o que queremos (ou que pensamos querer) é, ou parece ser, inatingível. Então como nós bípedes da ordem dos primatas não encontramos a felicidade na mesmice dos finais de semana fizemos o que costumamos fazer com nossos problemas, nossos sentimentos e nossos entes queridos quando estão demasiados longevos em sua vivência. A transferimos de local.     

E sua nova morada foi o feriado, ali é onde mora a felicidade. O feriado tem a capacidade de estender o fim de semana e, quando bem sucedido, pode ampliá-lo em até dois dias. Nele não existe o marasmo do final de semana, podemos  nos deleitar em satisfação praticando as mesmas inatividades ociosas. Também conseguimos satisfatoriamente encher o bucho de álcool, tanto quanto em qualquer dia em que costumamos frequentar nossos tão estimados botecos (Normalmente semanalmente, obrigatoriamente, de quinta-feira a domingo. Os demais dias são opcionais). Podemos dormir, comer e assistir tv como em qualquer outro dia, mas com um gozo especial já que de fato ali podemos e encontramos a felicidade. Aproveitamos tudo até nossa existência seguir seu rumo normal e cotidiano e perceber mais uma vez que continuamos infelizes. Fazendo como sempre as exatas coisas que nos deixam extremamente malcontentes, a única diferença é que executamos tudo mais embriagados que o normal (Na tentativa usual e cotidiana de encontrar satisfação na garrafa de pinga) e com a sensação de que tudo passa e acaba rápido demais. Como já diria o esperto e sábio Tom Jobim, “Tristeza não tem fim, felicidade sim…”. Atravessamos nossa existência tristes e alcoolizados em buscas dos feriados que são velozes e passageiros. Ironicamente quanto maior o feriado mais acelerado, vide as malditas férias que vêm e que passam tão rápidas quanto nossos breves relacionamentos amorosos, enquanto que a vida segue firme e forte como uma vaca gorda entalada em uma cerca no meio de um pasto maltrapilho e enlameado.

Feriados são efêmeros.

Bjundas  


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Salve-se Quem puder #07 – Coitado do Fantasma

Coitado do fantasma. Vagar sozinho pela eternidade na pós existência sem saber o que fazer, quem é ou até mesmo qual seu objetivo/lugar/papel nesse mandato conturbado que sofre um processo de impeachment constante, também conhecido como vida (no caso pós vida), não é fácil. E o pior é que uma vez expostos as manifestações de tal criatura nunca mais somos os mesmos. E ainda assim é ele quem sofre com isso. É interessante como o pós vida amofina a mente humana e extremamente irônico que durante toda nossa existência não conseguimos pensar em outra coisa. Nossa preocupação e interesse mórbido na pós existência é tamanha que até mesmo maldizemos, maltratamos e matamos uns aos outros por termos diferentes teses sobre o que acontece por lá. E acabamos descontando no coitado do fantasma, que apenas quer entender o que é, e o que afinal de contas está rolando por lá. Já que tudo parece igual, ele sente a mesma coisa e têm até as mesmas dúvidas.

Na tentativa de explorar o pós vida as almas penadas tentam construir e tocar suas vidas eternas na esperança de que um dia tudo vai ser explicado. Em seus primeiros passos póstumos tentam aprender a manusear e controlar o ambiente ao seu redor e depois tentam se comunicar. Acredito que seja muito difícil encontrar outras assombrações, logo apelam para a comunicação com os vivos. A partir daí a locomoção passa a ser o foco, a busca por um corpo material também. E na sequência conquistar a casa própria, depois sonham encontrar um outro espectro com quem possam compartilhar todas as suas conquistas e o resto de sua eternidade. E quem sabe, juntos um dia entender qual o objetivo da vida, do universo e tudo mais. Infelizmente, todas essas tentativas são entendidas completamente errada por nós, os bípedes vivos. Afinal de contas, estamos mais preocupados em saber quem somos, o que devemos fazer e qual nosso objetivo/lugar/papel. E isso tudo leva tempo, dinheiro e uma extrema capacidade de não se importar com mais ninguém além de você mesmo sua família e seu telefone celular. Então seguimos nossa existência ignorando as demais, principalmente se a outra existência em questão é diferente da nossa ou teve um vivência diferente da nossa. Isso porque se ela têm uma opinião diferente da nossa não só a ignoramos como a devidamente taxamos de idiota, ignorante e não estudada. E nas raras vezes em que percebemos outra existência, como a do fantasma, ela é extremamente mal compreendida. O que pessoalmente, considero uma grande injúria.  

Quando as almas penadas aprendem a manusear e controlar objetos e o ambiente ao seu redor não ficamos orgulhos e satisfeitos, e sim amedrontados com a sua levitação e movimentação aparentemente aleatórias. Quando tentam se comunicar e não são confundimos com uma interferência, sentimos um terror gélido debaixo de nossa pele ao ver o rádio sintonizar sozinho. Ao nos hipnotizar e utilizar com o simples objetivo de se locomover e ter um corpo material, fugimos aterrorizados dos humanos possuídos, ou então impomos a eles estranhas sessões/tratamentos com estranhos assessórios/ferramentas, tudo isso para consertar um estranho comportamento e acabar com a possessão. E quando depois de muita luta, depois de uma longa pós vida de conquistas e trabalho árduo, o fantasma conquista sua casa própria, normalmente gritamos, esperneamos, borramos nossas calças e fazemos de tudo ao nosso alcance para os despejar de sua morada. Existem empresas e entidades que ganham exorbitantes quantidades de dinheiro fazendo e/ou oferecendo esse tipo de serviço, um bom exemplo são Os Caça Fantasmas e/ou os irmãos Winchester. E quando tudo isso acontece ao mesmo tempo damos o nome de “Casa mal assombrada”. Quanta ignorância.

Ao meu ver, todos devem ser respeitados. Principalmente os mais velhos e os seres que já se foram e que retornaram ao nosso mundo apenas para tentar entender o sentido de tudo isso ou simplesmente porque não tinham nada melhor para fazer. Se eu fosse um ser ectoplasmático vagando por esta dimensão, me sentiria completamente injuriado por este termo e pelas demais constatações dos humanos vivos. Até porque, se consideramos que todas as nossas constatações, erradas e preconceituosas, estão certas. O termo ainda assim não se aplica e se demonstra plenamente inexato. As casas não seriam mal assombradas, e sim bem assombradas, já que de forma satisfatória e talentosa o assombro amedrontaria a residência. Talvez seja esse o objetivo de morte e pós vida de uma alma penada, nos mostrar que não devemos taxar tudo e todos e que sim, talvez a existência seja mais legal e produtiva quando percebemos as demais existências.

Deixa o fantasma em paz.

Bjundas


Ministério do sarcasmo adverte:

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Sunça é publicitário e cartunista. Mestre e doutorando em autossabotagem desde 1986.

Salve-se Quem puder #06 – O Chuveiro e o Sucesso

Na hora do banho, assim como na vida, o ser humano mantêm um de seus comportamentos mais comuns e cotidianos, sua busca implacável e interrupta pelo sucesso. Ser bem sucedido é de crucial importância para nós, somos capazes de tudo ou quase tudo para atingir esse status. Nossa vida (E o que fazemos dela), nossas ações (E como as escolhemos), nossos sentimentos (Como os entendemos/escolhemos/fingimos) e nossos auto-enganos, são pautados por essa procura. O chuveiro sabe muito bem disso, ele se esforça para nos dizer que essa caçada excessiva pelo sucesso não deveria afetar nossa saúde corporal e nossa saúde mental, ele também tenta demonstrar que o máximo que conseguimos com essa perseguição implacável é nos queimar, machucar e um grito frustrado devido a um arrepio gélido que sobe por toda nossa coluna. Os chuveiros sabem das coisas.

É claro que não percebemos isso. Durante um agradável e demorado banho estamos preocupados com os problemas de nosso dia, normalmente causados pela busca incessante do sucesso, estamos preocupados com as contas que temos que pagar, que são extremamente altas e exorbitantes e ironicamente esse tipo de banho demorado e relaxante tão comum em nosso cotidiano é um extremo agravante delas, além de desperdiçar água e energia recursos importantes para nosso planeta. Mas esse tipo de informação é exatamente a que nossos cérebros primatas preferem deixar passar despercebidas. (Muitos entendem o banho como um momento de onanismo, especialmente os adolescentes, mas isso só gera mais desperdício e situações constrangedoras.)  Enquanto nos preocupamos com nossa própria existência o chuveiro se esforça para nos mostrar que estamos encarando a vida de forma errada, e que o caminho que seguimos leva a infelicidade e a frustração. E por um fricote antipático desse game over em looping que chamamos de vida e por sermos seres obtusos na preocupação com o próximo e com o ambiente em que vivemos, essas mesmas tentativas do chuveiro são entendidas por nós como uma falha mecânica/técnica o que nos causa infelicidade e frustração.

Quando estamos no banho utilizamos nossa concentração e habilidade máxima para atingir a temperatura ideal da água. Parece fácil, mas é uma atividade extremamente complexa e para alguns impossível. Girar milimetricamente a torneira de um lado para o outro ou então tentar encontrar a sintonia perfeita entre a torneira de água quente e a da água fria é uma etapa que consome grande parte do tempo destinado ao banho, e quase sempre culmina em uma grande e humilhante derrota. Sempre comemorada por gritos histéricos e agonizantes quando atingidos pela água gélida e/ou gritos de dor e tortura quando atingidos pela água tórrida. É uma atividade que demonstra bem como estamos quase sempre próximos do sucesso e que quando estamos prestes a conquistá-lo fracassamos miseravelmente. Vale ressaltar que muitas vezes fracassamos pelo excesso de tentativa, uma vez que já estamos com a temperatura da água agradável. Só que queremos sempre mais e melhor. Nossa busca pelo sucesso nunca termina e consequentemente nossa infelicidade e nossos banhos gélidos e/ou tórridos também não.

Essa é a nobre criatura que conhecemos como chuveiro. Ela passa o dia esperando pela oportunidade de ser utilizada, esperando para exercer sua função e se possível ser bem sucedida em sua existência. Porém esse nobre ser troca tudo isso por uma inútil oportunidade de tentar nos fazer repensar nossas vidas, atitudes e objetivos. Um banho pode ser relaxante, pode ser frustante, mas pode e deveria ser um aprendizado de vida. Encontrar a temperatura ideal de um bom banho é saber que nem sempre temos controle sobre nossas próprias vidas e que nosso sucesso não deve ser medido pelo o oque achamos que queremos mas pela temperatura que conseguimos calibrar para nosso descanso e relaxamento. Tudo dentro de um tempo aceitável, evitando excessos e desperdícios. Até porque o chuveiro também merece descanso e como não é atendido por leis trabalhistas acaba na maioria das vezes sendo escravizado, mas nunca desiste de tentar passar sua mensagem e nos tornar pessoas melhores. Como são ingênuos.

Bjundas


Ministério do sarcasmo adverte:

Acreditar e/ou levar a sério informações desse texto é um atestado de bestialidade.


O autor:

Sunça é publicitário e cartunista. Mestre e doutorando em autossabotagem desde 1986.

Salve-se Quem puder #05 – Coitado do Pato

Humanos são seres culpados. Nessa vida baldia, inaudível e impalpável nos sentimos responsáveis por tudo, mas não necessariamente por todos. Aliás estendemos essa culpa e preocupação no máximo a nossa família, amigos e ao mendigo que mora em nossa rua e/ou bairro e que é nosso brother. Existe uma sensação que reina no universo de que deveríamos ser mais do que realmente somos, de que devíamos fazer mais do que realmente fazemos e de que fazemos parte de algo a mais. (O que provavelmente não é verdade.) E nos sentimos culpados por tudo isso. Por isso, não é estranho que a prática mais comum entre nós seja a transferência da culpa. Em alguns casos, como na justiça, a delegação da culpa.

Vivemos apontando o dedo uns para os outros, gritando uns com os outros, batendo um nos outros e matando uns aos outros. O que não faz sentido nenhum, uma vez que depois de morto fica difícil comprovar de que fulano de tal é que gosta de Chiquititas e não você. Um defunto não assiste tv, ele têm outras coisas para se preocupar: a decomposição, vermes e minhocas, a fome por cérebros humanos, curtir o fim de semana com Larry Wilson e Richard Parker e até mesmo assombrar a sua própria cozinha. Nosso translado de culpa foi tão longe, que chegamos a envolver um Pato.

E afinal, quem é esse Pato? Quem deve dinheiro a ele? Porque as pessoas não o pagam? Quem em sã consciência pegaria dinheiro emprestado de um Pato? Deixar um Pato pagar uma conta enquanto você foge pela janela do banheiro é algo que posso entender. E uma prática comum entre os bípedes da ordem dos primatas, mas tentar resolver seus problemas financeiros fazendo um empréstimo com um Pato é inaceitável e inviável. Até porque o mais rico deles é extremamente pão duro. Nossa represa de culpa é tão grande que decidimos, conscientemente, acomodar a culpa em uma ave. Depois de acessar sites pornos, evacuar ofensas na internet, no trânsito, nas revista e jornais nossa maior expertise é transferir as consequências de nossas ações e/ou atitudes para outras pessoas. E alguém sempre paga a conta. (No caso o Pato)

Há quem diga que a expressão “Pagar o Pato” se originou no séc. XV, quando um camponês que andava livre leve e solto com um pato debaixo de seu braço, passa em frete a uma casa e a moradora do local se interessa pelo pato. Uma atitude comum, raramente homens e mulheres demonstram interesse uns pelos outros e/ou se importam com as vidas alheias, exceto é claro, quando o sexo está na jogada. O camponês, que demonstrou interesse na moradora, oferece então o pato como forma de pagamento por atos sexuais. (Eu bem que avisei) A moradora, que tinha um estapafúrdio interesse pelo pato,  aceita o negócio. Mas como tudo não são flores,  a mulher decidiu que já tinham feito sexo suficiente, porém o camponês não concordou e eles começaram a discutir. Neste momento o marido da mulher chega em casa, rapidamente ela diz que a discussão é acerca do pagamento do pato. Para acabar com a confusão o marido pagou o camponês que foi embora. Como sempre, em nenhum momento, passou pela cabeça dos humanos quais as necessidades, vontades e desejos daquela pobre ave. É de conhecimento geral e comum que animais só existem para nos satisfazer.

O marido pagou pelo pato, a mulher pagou pelo pato e o camponês não pagou nada recebeu duas vezes e cedeu o pato. Mentiras, traições, falcatruas e desonestidades essas são as relações humanas. O marido provavelmente se sentia culpado por não dar um pato a esposa, a esposa se sentia culpada pela traição e o camponês se sentia culpado por ter trocado/abandonado seu companheiro de longa data por uma rapidinha. Mas rapidamente e habilmente os três transferiram a culpa para o Pato. Quem paga é sempre o Pato. O que é íntegro e justo já que Homer Simpson, um grande sábio da humanidade, uma vez afirmou: “A culpa e minha e eu boto em quem eu quiser!”

Humanos são seres culpados. Mas quem paga é o Pato!

Bjundas


Ministério do sarcasmo adverte:

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O autor:

Sunça é publicitário e cartunista. Mestre e doutorando em autossabotagem desde 1986.

Salve-se Quem puder #04 – Batman Vs Superman – Mentiras, falsidades e picuinhas

A existência é injusta, e boa parte da culpa é dos próprios humanos. Nossa sociedade busca controlar tudo, entender tudo e conquistar tudo. O que é ironicamente problemático já que nunca, ou quase nunca, conseguimos efetivar esses objetivos. O primata tenta controlar o tempo, não consegue. Tenta entender a época, não consegue. Tenta conquistar o momento, não consegue. E a única forma de se iludir de que conseguiu alguma dessas glórias é subjugando outros primatas. E assim nasce nossa percepção de poder e/ou percepção de acensão social. Vivemos em busca, sempre, de mais pujança e poderosos são corruptos. Um bom exemplo é o confronto: Batman Vs Superman.

O Superman ou Super-homem já foi retratado em diversas mídias. Recentemente, foi parte fundamental do longa Batman Vs Superman: A Origem da Justiça. No filme ele enfrenta outro personagem (Também muito retratado em diversas mídias), o homem morcego. O filme foi, e ainda é, alvo de muita polêmica, muita discussão e muita troca de conhecimento intelectual advindo de sabedoria adquirida de leite de pera. Esse tipo de saber é muito comum na internet hoje em dia, os estudiosos o definem com o termo técnico: Mimimi. “O Batman não mata!” “O Superman não mata” “Que a mulher maravilha tá fazendo em um avião?” “Sério? Entrada USB ao lado da cozinha?” “O plano do Lex Luthor é só tocar o terror mesmo?” “Qual é a do teletransporte da Lois?” São algumas das muitas reclamações e constatações sobre esse famigerado encontro. São apurações válidas, porém, acredito que a maior parte dos bípedes da ordem dos primatas, já está tão acostumada coma injustiça que é essa ressaca moral que chamamos de vida, não percebeu as mentiras, falsidades e picuinhas ali retratadas.

Kal-El nasceu no planeta Krypton. Foi mandado à Terra por Jor-El, seu pai, e adotado pelo casal de fazendeiros Jonathan e Martha Kent. Esse é o Super-homem. Um alienígena extremamente poderoso que se passa por um homem. Utilizando a inteligente tática de se disfarçar com um par de óculos, ele pode se fingir de bom moço enquanto na verdade (Quando sem os óculos) atende todas as suas vontades. Salva, mata e ajuda quem bem entender. O que funciona bem já que estamos mais preocupados com nossas vidas e com nossas séries de tv, do que em avaliar bem se os atuais poderosos atendem aos nossos desejos e/ou se estão tentando fazer o melhor por nós. Após testemunhar o assassinato de seus pais o milionário Bruce Wayne jura vingança contra criminosos, treina seu corpo, sua mente e cria uma persona para combater o crime. E como todo milionário usa sua superabundante fortuna para se equipar e conseguir poder. Um humano extremamente comum que se passa por um ser super poderoso. Utilizando a inteligente tática de destruir toda e qualquer forma mais poderosa do que ele empregando tudo o que sua grana pode comprar. O que funciona bem, já que não estamos preocupados uns com os outros e sim com a repercussão das ações desses seres poderosos na nossa própria, individual e particular existência. Aliás estamos mais preocupados em pensar no que faríamos a a grana de tal poderoso estivesse em nossa própria conta e não em um paraíso fiscal qualquer.

Um alienígena que se finge de homem para fazer o que quiser, um homem que se finge de super e usa sua grana para destruir seres mais poderosos e aumentar sua influência, se unem a uma deusa, princesa e amazona que se passa por mulher. (Mulher-Maravilha) Mas é claro, que esses poderosos apenas se uniram porque precisavam derrubar um outro poderoso que “ameaçava” a supremacia deles. Afinal, temos que controlar tudo, entender tudo e conquistar tudo.  Então sigo junto com o Homem-Aranha. Que, na situação em que se encontra, tenta usar seus poderes da melhor forma possível. E os utiliza sempre de acordo com seus princípios, independente se na sua vida pessoal só rola merda. E como rola merda.

Poderosos são corruptos.

Bjundas


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Sunça é publicitário e cartunista. Mestre e doutorando em autossabotagem desde 1986.

Salve-se Quem puder #03 – Coletivos me incomodam

Coletivos me incomodam.

Esses substantivos criados com o objetivo de reunir determinados  grupos, além de dizer muito mais de nossa sociedade e sobre o comportamento humano, são estranhos, inadequados e irônicos. Aos olhos de um primata comum podem parecer inofensivos mas são uma bela demonstração da discrepância que existe nem nossa sociedade e como o que reina na vida é a injustiça.

Um conjunto de chaves é molho, o de lobos é alcateia e já o de vadios é matula. O substantivo coletivo indica um agrupamento, mostra a multiplicidade de seres de uma mesma espécie, apesar de ser uma palavra completamente avulsa e no singular. Uma cabra é feliz. Leva sua vida honestamente e ensina suas crias abestadas como seguir por esse trio elétrico moribundo, mequetrefe e com um motor de fusca que chamamos de vida. Cabras são legais. E têm uma grande consideração pelos humanos, convivem conosco a muitos anos sendo meio de transporte, vestimenta, fonte de alimentação e até companhia. Os humanos, que tiveram a mesma vivência, preferem estimar, amar e acariciar seus telefones celulares. E na hora de nomear um grupo de cabras optou por: Fato.  Meu Deus. Não sei como elas não vivem em uma constante crise de identidade. (Eu vivo)

O indivíduo é um, único e especial. Mas quando está em grupo se torna uma palavra diferente e indiferente, perde sua individualidade e passa a ser mais um em uma massa insossa e genérica. Para nós, bípedes da ordem dos primatas, é esse o estilo de vida que nossos milhares de anos de existência nos mostraram ser um caminho fidedigno, justo e feliz. Mas que diabos as cabras têm a ver com nossas escolhas infelizes? E não só as cabras, o conjunto de cebolas é: Réstia.  Réstia! E se isso já não fosse injustiça o suficiente, o substantivo comum tem que seguir as regras gramaticais, existe pural, singular e etc. Os soberbos e superiores coletivos, não. Estão sempre no singular. Como bem dito na Revolução dos bichos: “…Todos são iguais mas alguns são mais iguais que outros…”

Um porco é um belo animal. É um bonito ser, com suas próprias características. Você sabe como é um porco, não existe dúvidas. Já uma vara, pode ser qualquer coisa. Como é uma vara? O que ela quer? O que pensa da vida? Porque diabos continua vivendo nesse planeta onde os seres, que se acham os mais inteligentes, nomeiam tudo a Deus dará e brincam com a identidade das coisas, dos animais e de tudo ao seu redor apenas por que não sabem quem são, de onde vieram, para onde vão e nem tem a menor ideia do que deveriam estar fazendo? Eu sou uma pessoa, você é uma pessoa (Pelo menos eu acho.) e juntos somos: mais?, amigos?, idiotas?, não. Somos: Chusma. (Ainda acha que sabe quem você é?)      

Talvez o balido das cabras seja um aviso. É extremamente provável que estejam dizendo que devíamos parar um pouco de brigar uns com os outros e de nomear as coisas. Para elas, devíamos gastar mais tempo de nossas vidas injustas e inábeis nas montanhas e parar um pouco para cheirar o peido. (Técnica divulgada pelo ator Joey Tribiani.)

Cabras são legais.

Bjundas


Ministério do sarcasmo adverte:

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O autor:

Sunça é publicitário e cartunista. Mestre e doutorando em autossabotagem desde 1986.