Sunça no Cinema – Cry Macho: O Caminho para Redenção (2021)

Cry Macho – O Caminho Para a Redenção conta a história de Mike Milo (Clint Eastwood), um ex-astro de rodeio e criador de cavalos fracassado, que, em 1979, aceita uma proposta de trabalho de um ex-chefe para trazer Rafa (Eduardo Minett), o jovem filho desse homem, de volta do México para casa. A dupla improvável enfrenta uma jornada inesperadamente desafiadora, durante a qual o cavaleiro cansado do mundo pode encontrar seu próprio senso de redenção ensinando ao menino o que significa ser um bom homem.

101 min – 2021 – EUA

Dirigido por Clint Eastwood e roteirizado por Nick Schenk, N. Richard Nash (baseado no romance Cry Macho, de N. Richard Nash). Com Clint Eastwood, Dwight Yoakam, Eduardo Minett, Natalia Traven, Fernanda Urrejola, Horacio Garcia Rojas, Alexandra Ruddy, Ana Rey e Paul Lincoln Alay.

Em 1971 Clint Eastwood apresentou seu primeiro trabalho de direção, o longa: “Perversa Paixão”. Cinquenta anos se passaram, e agora, em 2021, Clint aos 91 anos estrela e dirige “Cry Macho: O Caminho para a Redenção”. A obra não esconde a idade de seu protagonista. Ele é um nonagenário e isso dita a narrativa e o ritmo da obra. Não à toa, em determinado momento ele afirma: “Eu não posso curar velhice”. A trama do filme se passa em 1979 e Eastwood é o ex-caubói Mike Milo, que recebe uma missão de um antigo chefe. Essa simples premissa é o que se faz necessário para a construção de uma ponte entre o personagem e a própria vida e carreira do ator. O importante é o debate entre o velho e o novo, a interação entre o mestre e seu aprendiz e a desconstrução da cultura do macho.

Situações, acontecimentos, outros personagens e até seu próprio preparo físico, relembram Mike de sua idade. Assim a obra se coloca como uma vivência cotidiana, um senhor de idade avançada que se vê obrigado a viver novas aventuras e perceber que a vida ainda é repleta de oportunidades. O protagonista é um peão de rodeio aposentado que perde seu atual emprego. Um ano depois recebe de seu ex-chefe, Howard Polk (Dwight Yoakam), a tarefa de buscar seu filho de treze anos no México. O garoto rebelde, Rafo (Eduardo Minett), sofre abusos de sua mãe e o pai o quer de volta. Mike Milo encontra o garoto em uma briga de galos com seu animal campeão nomeado: “Macho”. Os dois partem em uma viagem de volta ao Texas. Mike e Rafo apresentam uma química confortável apesar de o roteiro não entregar profundidade para a relação. 

Durante o percurso os dois se tornam amigos e juntos vivem uma jornada repleta de descobertas. A trama funciona como um faroeste moderno, apesar de não se preocupar em sugerir uma grande importância para seus acontecimentos. Seus planos são claros, limpos e diretos. O ritmo é lento e suas sequências têm mais tempo que o de costume para acontecer. Seus conflitos e momentos dramáticos não recebem destaque e em sua maioria são resolvidos de forma cômica ou anticlimática. Os momentos simples e cotidianos são o que realmente importam e o que nos trazem reflexões. O protagonista está sempre tentando ajudar os demais personagens e aos poucos abraçando as novas oportunidades de uma vida que parecia sem perspectivas.   

A narrativa é simples, conta uma história clichê, com um romance apressado e alguns diálogos expositivos. Porém esses problemas não conseguem tirar o brilho do debate que o diretor propõe sobre a velhice, sua carreira e a desconstrução da masculinidade idealizada. Mike Milo tenta mostrar a Rafo que a ideia de “macho” é uma grande bobagem. Rejeitando os ideais de masculinidade que o próprio Clint Eastwood representou por anos nas telas. Milo percebe que é no cotidiano e na generosidade que se encontra alguma satisfação e alegria.  

“Cry Macho: O Caminho para a Redenção” é a experiência de assistir Clint Eastwood aos 91 anos desconstruir e reconstruir a si mesmo. Não é sobre a proximidade da morte ou sobre o fim da vida. Mas sobre a necessidade de fazer escolhas e tomar decisões. É sobre o dia-a-dia e as oportunidades que ele nunca para de nos oferecer.

Nota do Sunça:

Últimas críticas:

Últimos textos:

Sunça no Cinema – A Mula (2018)

Um horticultor e veterano da Segunda Guerra Mundial de 90 anos é pego transportando uma quantidade de cocaína equivalente a $3 milhões de dólares para um quartel de drogas mexicano.

116 min – 2018 – EUA

Dirigidor por Clint Eastwood. Roteirizado por Nick Sehenk. Com Clint Eastwood, Dianne Wiest, Alison Eastwood, Taissa Farmiga, Bradley Cooper, Michael Pena, Laurence Fishburne, Ignacio Serricchio, Andy Garcia.

São sessenta anos fazendo filmes. Atuando em mais de setenta e dois longas como ator e uma ótima carreira de diretor que conta com quarenta obras. Após tudo isso, Clint Eastwood chega aos oitenta e nove anos estrelando, dirigindo e produzindo o que pode ser seu último longa como ator. Sou um grande fã de Eastwood, e me parece justo que sua “despedida” seja uma espécie de amálgama de sua carreira.

Earl Stone (Clint Eastwood) é um florista falido de noventa anos. É um péssimo pai e marido, que sempre valorizou sua vida social e profissional acima de tudo. No momento em que perde tudo e todos, passa a atuar como mula para um cartel mexicano. A interessante premissa, que é baseada em uma história real, recebe uma direção eficiente e elegante de Clint Eastwood. Clint apresenta um bom trabalho como o protagonista, e são nesses aspectos que se encontra o grande valor desse longa. Já que o roteiro de Nick Sehenk não fornece muito material para seus personagens.

Earl esbanja charme, é sociável e popular nos eventos onde trabalha. Mas em sua vida pessoal, tem uma relação conturbada com sua esposa e filha. O filme não esconde que essa foi uma opção de seu protagonista que sempre valorizou mais a diversão e o desfrute da vida. Porém, agora no fim de sua jornada, Earl parece se arrepender de tais opções. Clint transmite bem essa personalidade magnética que cativa até mesmo os mal-encarados criminosos do cartel para quem passa a carregar drogas. Seu personagem é também um veterano da Guerra da Coreia que sabe ser durão quando o “bicho pega”, ele não é facilmente intimidado. Apesar do esforço do filme de colocar Earl “casualmente” no tráfico de drogas, é perceptível a má índole do protagonista que sabe bem o que está fazendo para ganhar dinheiro, popularidade em sua vida social e se reaproximar de sua família. Ele não se importa de buscar o caminho mais fácil para tal e gosta quando ganha “status” dentro do cartel.

A estrutura do longa o divide em três frentes. O envolvimento do protagonista com o cartel, seu supervisor Julio (Ignacio Serricchio) e o chefão Laton (Andy Garcia). Sua reaproximação com a ex-mulher Mary (Dianne Wiest) a filha Iris (Alison Eastwood) e a neta Ginny (Taissa Farmiga) e a investigação do DEA conduzida pelo agente Colin Bates (Bradley Cooper) e agente Trevino (Michael Pena) sobre a supervisão do agente especial interpretado por Laurence Fishburne.

Em diversas sequências a obra flerta com uma crítica social e racial. Em alguns momentos de forma bem humorada quando Earl parece mostrar “resquícios” de um passado preconceituoso quando diz “sapatas” e “pretos”, mas colocando-o como alguém que hoje aceita as diferenças e as diversidades. O próprio personagem chega a dizer “Acho que nunca tive filtro de nada”. A própria premissa do longa parte de uma crítica, já que o personagem se mostra uma boa mula para o narcotráfico, justamente por ser um senhor de idade, branco, veterano de guerra viajando em sua caminhonete. O que torna controversa a opção por retratar de forma estereotipada os mexicanos da projeção, sempre os colocando como criminosos. Além de em dois momentos específicos, objetificar as mulheres. Cenas desnecessárias que não ajudam em nada o desencadear da trama.

“A Mula” apresenta aspectos de roadmovie, suspense, passa pelo drama familiar e têm características de humor. Seu roteiro parece uma mistura de tonalidades das várias obras de seu diretor. Earl Stone parece fazer o mesmo, é brincalhão, durão e emotivo. Apresentando traços dos mais variados personagens de Clint. O que me parece, caso seja mesmo, uma boa despedida para a carreira de ator de Eastwood.

Nota do Sunça:

Últimas críticas:

Últimos textos: