Sunça no Cinema – As Caça-Fantasmas (2016)

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Atualmente uma respeitada professora da Universidade de Columbia, Erin Gilbert (Kristen Wiig) escreveu anos atrás um livro sobre a existência de fantasmas em parceria com a colega Abby Yates (Melissa McCarthy). A obra, que nunca foi levada a sério, é descoberta por seus pares acadêmicos e Erin perde o emprego. Quando Patty Tolan (Leslie Jones), funcionária do metrô de Nova York, presencia estranhos eventos no subterrâneo, Erin, Abby e Jillian Holtzmann (Kate McKinnon) se unem e partem para a ação pela salvação da cidade e do mundo.

116 min – 2016 – EUA

Dirigido por Paul Feig, roteirizado por Paul Feig e Katie Dippold. Com Kristen Wiig, Melissa McCarthy, Leslie Jones, Kate McKinnon, Chris Hemsworth, Neil Casey, Cecily Strong, Andy Garcia, Ed Begley Jr., Zach Woods, Charles Dance, Karan Soni, Bill Murray, Dan Aykroyd, Ernie Hudson, Sigourney Weaver, Annie Potts, Toby Huss, Michael McDonald, Nate Corddry, Michael Kenneth Williams, Matt Walsh, Steve Higgins.

Foi com muito receio e incerteza que encarei esse remake de Os Caça-Fantasmas. O longa original é um dos meus favoritos, cresci acompanhando o grupo. Constantemente revejo os filmes, as animações e releio os quadrinhos. Sou um grande fã do universo criado. Então, estava torcendo muito para o sucesso e qualidade desde filme. É claro que o fato desse novo longa ser protagonizado por mulheres, não me incomodava. A ausência de meus queridos Peter Venkman, Dr. Ray Stantz, Dr. Egon Spengler e Winston Zeddmore, apesar de me deixar triste, também não me preocupava. O que eu queria era ter aquele clima/sentimento de volta. E fico feliz de dizer que ao assistir ao filme, me diverti com as novas personagens, me comovi com as homenagens ao original, arrepiei quando após dez minutos de filme escutamos pela primeira vez a famosa “Who your gonna call?” e ri e me emocionei com as participações do elenco original. Sim, o filme é bom. Sim, ele respeita o original e sim, As Caça-Fantasmas são ótimas e engraçadas.

O filme é bem humorado, com boas cenas de ação e consegue inovar e ampliar a franquia. É mais um trabalho competente de Paul Feig, quem vêm apresentando bons filmes sempre dando destaque e valorizando suas protagonistas. E aqui não é diferente, entrega um de seus melhores trabalhos dosando bem o humor com as cenas de ação e nos presenteia com várias sequências hilárias. Se um grande desafio era a sombra do elenco anterior, os talentosos: Dan Aykroyd, Harold Ramis, Ernie Hudson e Bill Murray que domina o filme em uma de suas melhores performances, ele tira isso de letra com a maestria e competência de Melissa McCarthy, Kristen Wiig, Leslie Jones e Kate McKinnon que está sensacional como a Holtzmann. Todas elas têm destaque e cada uma têm seu momento para brilhar. É interessante notar que as personagens principais não tentam emular os caça-fantasmas originais, pelo contrário são diferentes e têm suas próprias características. É um grande elenco com boa química.     

Erin Gilbert (Kristen Wiig) é uma respeitada professora da Universidade de Columbia. Anos atrás ela e Abby Yates (Melissa McCarthy) escreveram um livro pouco conhecido que afirma que fantasmas são reais. Quando o antigo livro reaparece e ela vira piada no meio acadêmico e Erin perde o emprego. Patty Tolan (Leslie Jones), funcionária do metrô de Nova York, presencia estranhos eventos no subterrâneo. E quando fantasmas de verdade invadem nosso mundo, Erin, Abby, Jillian Holtzmann (Kate McKinnon) e Patty se unem e partem para salvar a cidade e do mundo. É comum nos blockbusters de hoje que eles sejam cada vez maiores e exagerados e culminem em um grandioso climax, no caso, uma gigante batalha na Times Square. Mas antes de chegar lá o longa nos entrega ótimos momentos como o design dos fantasmas inicias que remetem um visual clássico de horror e algumas cenas como a sequência na mansão Aldridge, o ataque Fantasma no Metrô e uma sequência com um manequim são filmadas com filme de  terror e até causam medo. E é claro que nosso querido fantasma têm seu momento especial.  

Mas existe um outro vilão que As Caça-Fantasmas tiveram que enfrentar, e encaram com maestria esse trabalho. Ao ser divulgado o primeiro trailer do filme uma reação extremamente negativa surgiu na internet, apenas pela troca de sexo dos protagonistas. Ofensas e atrocidades foram ditas, não apenas sobre o reboot mas também sobre todos os envolvidos. Não é atoa que o vilão principal é um homem triste e solitário, um esquisitão patife que têm a missão de limpar o mundo e que não pensa duas vezes antes de dizer algo como: “Vocês atiram como garotas”. E durante todo o filme encontramos boas respostas a toda essa reação negativa, quando por exemplo em determinado momento temos Abby Yates lendo um comentário do youtube, “Nenhuma vadia vai caçar fantasmas!” ou então quando em um momento importante elas “literalmente” dão um “chute” no saco do vilão. Vale um destaque para o personagem Kevin, um ótimo alívio cômico para o filme que têm como principal função ser um garoto objeto abobado. Foi um bom trabalho de Chris Hemsworth o rostinho bonito que é responsável por várias risadas do filme.  

Caça-Fantasmas é um bom reinicio,  é coerente com os primeiros longas e com os demais produtos da franquia. Realmente Feig era o homem para esse trabalho que atualmente está redefinindo os padrões atuais de Hollywood, com boas personagens femininas em suas comédias. Da mesma forma que no passado o talentoso Harold Ramis (Roteirista e ator no original) fez com várias comédias focadas em bons personagens masculinos. Paul Feig além de trazer ótimas cenas de ação e hilárias cenas de comédia, utiliza o 3D de uma forma interessante, em vários momentos os fantasmas parecem sair do enquadramento causando uma sensação literal de que são almas penadas de outro plano. O design de produção é ótimo e respeita o longa original, os uniformes são parecidos, a logo e a base das caça-fantasmas são semelhantes, as cores e os feixes de prótons são iguais, mas também inova trazendo novas armas e estética assustadora.  Algumas piadas são excessivas, mas certamente isso não compromete o filme. Posso afirmar que a partir de agora sou um grande fã de As Caça-Fantasmas.

Obs. Na cabine de imprensa foram exibidas cenas durante os créditos e uma pós-créditos. Então senta a bunda na cadeira e fica até o final.

Nota do Sunça:

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Salve-se Quem puder #07 – Coitado do Fantasma

Coitado do fantasma. Vagar sozinho pela eternidade na pós existência sem saber o que fazer, quem é ou até mesmo qual seu objetivo/lugar/papel nesse mandato conturbado que sofre um processo de impeachment constante, também conhecido como vida (no caso pós vida), não é fácil. E o pior é que uma vez expostos as manifestações de tal criatura nunca mais somos os mesmos. E ainda assim é ele quem sofre com isso. É interessante como o pós vida amofina a mente humana e extremamente irônico que durante toda nossa existência não conseguimos pensar em outra coisa. Nossa preocupação e interesse mórbido na pós existência é tamanha que até mesmo maldizemos, maltratamos e matamos uns aos outros por termos diferentes teses sobre o que acontece por lá. E acabamos descontando no coitado do fantasma, que apenas quer entender o que é, e o que afinal de contas está rolando por lá. Já que tudo parece igual, ele sente a mesma coisa e têm até as mesmas dúvidas.

Na tentativa de explorar o pós vida as almas penadas tentam construir e tocar suas vidas eternas na esperança de que um dia tudo vai ser explicado. Em seus primeiros passos póstumos tentam aprender a manusear e controlar o ambiente ao seu redor e depois tentam se comunicar. Acredito que seja muito difícil encontrar outras assombrações, logo apelam para a comunicação com os vivos. A partir daí a locomoção passa a ser o foco, a busca por um corpo material também. E na sequência conquistar a casa própria, depois sonham encontrar um outro espectro com quem possam compartilhar todas as suas conquistas e o resto de sua eternidade. E quem sabe, juntos um dia entender qual o objetivo da vida, do universo e tudo mais. Infelizmente, todas essas tentativas são entendidas completamente errada por nós, os bípedes vivos. Afinal de contas, estamos mais preocupados em saber quem somos, o que devemos fazer e qual nosso objetivo/lugar/papel. E isso tudo leva tempo, dinheiro e uma extrema capacidade de não se importar com mais ninguém além de você mesmo sua família e seu telefone celular. Então seguimos nossa existência ignorando as demais, principalmente se a outra existência em questão é diferente da nossa ou teve um vivência diferente da nossa. Isso porque se ela têm uma opinião diferente da nossa não só a ignoramos como a devidamente taxamos de idiota, ignorante e não estudada. E nas raras vezes em que percebemos outra existência, como a do fantasma, ela é extremamente mal compreendida. O que pessoalmente, considero uma grande injúria.  

Quando as almas penadas aprendem a manusear e controlar objetos e o ambiente ao seu redor não ficamos orgulhos e satisfeitos, e sim amedrontados com a sua levitação e movimentação aparentemente aleatórias. Quando tentam se comunicar e não são confundimos com uma interferência, sentimos um terror gélido debaixo de nossa pele ao ver o rádio sintonizar sozinho. Ao nos hipnotizar e utilizar com o simples objetivo de se locomover e ter um corpo material, fugimos aterrorizados dos humanos possuídos, ou então impomos a eles estranhas sessões/tratamentos com estranhos assessórios/ferramentas, tudo isso para consertar um estranho comportamento e acabar com a possessão. E quando depois de muita luta, depois de uma longa pós vida de conquistas e trabalho árduo, o fantasma conquista sua casa própria, normalmente gritamos, esperneamos, borramos nossas calças e fazemos de tudo ao nosso alcance para os despejar de sua morada. Existem empresas e entidades que ganham exorbitantes quantidades de dinheiro fazendo e/ou oferecendo esse tipo de serviço, um bom exemplo são Os Caça Fantasmas e/ou os irmãos Winchester. E quando tudo isso acontece ao mesmo tempo damos o nome de “Casa mal assombrada”. Quanta ignorância.

Ao meu ver, todos devem ser respeitados. Principalmente os mais velhos e os seres que já se foram e que retornaram ao nosso mundo apenas para tentar entender o sentido de tudo isso ou simplesmente porque não tinham nada melhor para fazer. Se eu fosse um ser ectoplasmático vagando por esta dimensão, me sentiria completamente injuriado por este termo e pelas demais constatações dos humanos vivos. Até porque, se consideramos que todas as nossas constatações, erradas e preconceituosas, estão certas. O termo ainda assim não se aplica e se demonstra plenamente inexato. As casas não seriam mal assombradas, e sim bem assombradas, já que de forma satisfatória e talentosa o assombro amedrontaria a residência. Talvez seja esse o objetivo de morte e pós vida de uma alma penada, nos mostrar que não devemos taxar tudo e todos e que sim, talvez a existência seja mais legal e produtiva quando percebemos as demais existências.

Deixa o fantasma em paz.

Bjundas


Ministério do sarcasmo adverte:

Acreditar e/ou levar a sério informações desse texto é um atestado de bestialidade.


O autor:

Sunça é publicitário e cartunista. Mestre e doutorando em autossabotagem desde 1986.