Sunça no Streaming – Borat: Fita de Cinema Seguinte – Amazon Prime Video (2020)

Borat: Fita de Cinema Seguinte é a sequência do longa de sucesso Borat – O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América. O longa foi filmado na quarentena e conta mais uma história do icônico jornalista do Cazaquistão.

96 min – 2017 – EUA / Reino Unido

Dirigido por Jason Woliner e roteirizado por Sacha Baron Cohen, Anthony Hines, Dan Swimmer, Peter Baynham, Erica Rivinoja, Dan Mazer, Jena Friedman e Lee Kern. Com Sacha Baron Cohen, Maria Bakalova, Tom Hanks, Dani Popescu, Manuel Vieru, Miroslav Toji, Alin Popa.

A alguns anos atrás, o discurso de ódio, a intolerância e o preconceito eram velados. Hoje, são ditos e escritos abertamente. Não é difícil encontrá-los intrinsecamente ligado à política, religião e grupos sociais. A ciência é negada, o “achismo” vale mais do que o fato e a moralidade não importa mais.  É nesse contexto que Borat Sagdiyev (Sacha Baron Cohen) retorna. A nova empreitada, lançada pela plataforma de streaming Amazon Prime Video, é “Borat: Fita de Cinema Seguinte”. Em sua primeira aparição, o desafio do jornalista cazaquistão era escancarar e trazer a tona o preconceito, a intolerância, o racismo e a homofobia das pessoas com quem interagia. Quatorze anos se passaram desde o primeiro longa “Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América”. E agora, na sequência Borat e sua filha Tutar (Maria Bakalova) logo percebem que não é preciso muito esforço para trazer a tona todo esse discurso de ódio. Basta trocar algumas frases certeiras e as pessoas, mesmo sabendo da presença da câmera, não têm o menor pudor de dizer atrocidades. A obra sabe disso. Logo de início em uma rápida montagem vemos Trump e suas amizades pelo mundo, uma demonstração de como nosso planeta está cada vez mais intolerante. Se esta conversa lhe parece familiar, é porque é. Não à-toa o Brasil está representado nessa montagem na figura de Bolsonaro.

É nesse contexto, onde uma vendedora de bolo não tem problemas em escrever uma frase antissemita no produto, um pastor se preocupa mais com um aborto do que com o abuso sexual de um pai e um medico que assume não ter problemas em cometer um assedio a uma adolescente de 15 anos, que Borat recebe sua nova missão. Após ter feito seu país virar motivo de piada no mundo inteiro com o primeiro filme, o jornalista passou quatorze anos preso. Ele é convocado por seu governo para uma importante missão. Borat é encarregado de entregar um macaco de presente a Mike Pence o vice-presidente dos Estados Unidos, com o objetivo do Cazaquistão cair nas graças de Donald Trump. Um cara que eles idolatram. Quando o macaco tragicamente sai de cena, sua filha Tutar passa a ser a oferenda. O diretor Jason Woliner e Sacha Baron Cohen não escondem as intenções anti-Trump que a obra se propẽ, mas atingem algo muito maior com essa sequência onde realidade e ficção se misturam de forma orgânica.  

O sucesso do longa anterior deixou mais difícil a produção desse novo projeto. Borat se tornou uma figura conhecida e cultuada na cultura pop, no início vemos pessoas pedindo autógrafos e perseguindo o cazaquistão. A solução encontrada, é também um grande mérito desse novo trabalho, o jornalista se vê obrigado a usar disfarces e assumir novas personas. É surpreendente ver Sacha Baron Cohen interpretando um personagem que interpreta outros personagens. Borat assume personalidades de vários tipos culminando em uma cena estilo “Missão: Impossível” em que ele adentra uma conferência republicana “disfarçado” de klus klus klan e termina fantasiado de  Donald Trump carregando sua filha nos braços como oferenda a Mike Pence. Uma troca de vestimenta que nos faz refletir.  Em “Fita de Cinema Seguinte” são utilizadas mais cenas roteirizadas, logo, a trama é mais forte e define arcos narrativos para seus personagens. O roteiro trabalha a relação entre o pai e a filha. Maria Bakalova impressiona e assim como Sacha Baron Cohen, nunca sai de seu papel. Mesmo nas situações mais absurdas, loucas e perigosas. Assim acompanhamos pai e filha em momentos de improviso nas situações reais, interações chocantes e as sequências de vergonha alheia. Culminando na “participação” comprometedora do o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani, um dos principais aliados de Trump. Tutar expõe os preconceitos que as mulheres sofrem e Borat mostra o discurso de ódio presente nos cidadãos norte americanos. Para isso, ambos colocam suas vidas em risco, um bom exemplo é o momento em que o jornalista cazaquistão canta para uma multidão de supremacistas brancos alcoolizados e armados. 

A obra tem seus momentos de ternura, gentileza e carinho. Um cuidado dos oito roteiristas (Sim, oito) para que o espectador não desista da humanidade. É na caricatura e no exagero que o filme constrói seu humor, nos faz rir pelo desconforto, pelas terríveis realidades que retrata e pelo absurdo que é a sociedade em que vivemos. Quatorze anos depois Borat se mostra ainda necessário, “desenha” a hipocrisia dos discursos de ódio, “escreve” o absurdo que é o negacionismo a ciência (Abordando até mesmo a pandemia de COVID-19 já que ela começa durante as filmagens) e mostra o perigo e poder destruidor das fake news. É assim, desenhando, escrevendo e mostrando que “Borat: Fita de Cinema Seguinte” evidencia a piada de mau gosto que chamamos de mundo. É impressionante, que em meio a tudo isso, o longa ainda tenha tempo para uma das melhores reviravoltas de Hollywood.

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Blade Runner 2049 (2017)

Trinta anos depois dos acontecimentos do primeiro filme, um novo Blade Runner desenterra um segredo que tem o potencial de transformar em caos o que resta da sociedade.

164 min – 2017 – EUA

Dirigido por Denis Villeneuve e roteirizado por Hampton Fancher e Michael Green. Com Ryan Gosling, Harrison Ford, Jared Leto, Ana de Armas, Sylvia Hoeks, Robin Wright, Dave Bautista, Mackenzie Davis e Carla Juri.

Texto originalmente publicado no site Cinema e Cerveja.

Em 1982 chegou aos cinemas “Blade Runner, o caçador de Andróides”. O retrato de um futuro pessimista e sombrio. Um filme contemplativo que, acompanhado da melancólica trilha sonora de Vangelis, trazia um debate sobre a humanidade, o preconceito e escravidão. Nele o objetivo de seus “vilões” é apenas viver. É clara a futilidade da vida e da felicidade em um mundo onde replicantes são mais humanos do que as pessoas com quem “convivem”. E a difícil missão de reger a continuação do clássico de Ridley Scott caiu nas mãos do talentoso Denis Villeneuve. E o diretor do ótimo “A Chegada” se mostrou a escolha correta, apresentando uma obra que presta homenagem ao original, porém trazendo novos temas e debates com um ritmo próprio.

Villeneuve não têm pressa e nos apresenta com calma a atmosfera, seus personagens e suas temáticas. É um bom trabalho de direção. Estamos na mesma Los Angeles que antes era sempre chuvosa e fria, e agora, sempre gelada e nevando. “Blade Runner 2049”, assim como seu antecessor, é uma história de detetive. Um noir futurista que não foca em cenas de ação e cede espaço para suas reflexões. É um filme longo que assume um risco narrativo e entrega uma trama sombria e corajosa. Acompanhamos mais uma vez um policial, o K (Ryan Gosling), que têm como objetivo perseguir replicantes antigos que são capazes de se rebelar. A antiga “Tyrell Corporation” responsável pela produção dos andróides agora tem um novo dono, Niander Wallace (Jared Leto). Os novos seres sintéticos produzidos por Wallace são obedientes e não se rebelam. Falar mais do que isso sobre a trama pode estragar a experiência do espectador.

O grande mérito da obra é não recriar o original, ela o reconhece como parte do mesmo universo e expande sua mitologia. O longa não tenta esconder que se passaram trinta anos, pelo contrário, é nítido o cuidado para manter a coerência daquele mundo. As corporações existentes no primeiro continuam existindo e a tecnologia nitidamente evoluiu baseada no que nos foi apresentado. Os carros voadores estão presentes, a neve constante, painéis de neon e a sensação de um futuro decadente. As referências ao filme de Scott e ao livro de K. Dick que baseou o filme original, estão presentes. Agregam e ajudam a conduzir a trama e as novas reflexões. Roger Deakins faz um ótimo trabalho, a fotografia de “Blade Runner 2049” é belíssima, remete ao filme inicial e vai além. O visual impressiona transmite bem a ideia de solidão e constrói um mundo seco, sério e preconceituoso. Cada cor, cenário e enquadramento é fundamental no desenvolvimento dos personagens e seus dilemas.

O roteiro de Hampton Fancher e Michael Green expande a mitologia do universo, trazendo novidades. Uma descoberta de K logo na primeira missão que acompanhamos promete mudar aquele universo, e isso é o que desencadeia a trama. A narrativa é feita a partir de longos e demorados planos que nos permitem contemplar bem o mundo e seus personagens. Esse ritmo muda após a aparição de Rick Deckard (Harrison Ford) no terceiro ato, que acelera os acontecimentos até o final da obra. É interessante que Deckard venha acompanhado de “fantasmas do passado” como Elvis Presley, Marilyn Monroe e Frank Sinatra. A obra conta sim com reviravoltas e revelações, porém essas não são o foco. O importante são suas discussões temáticas, sobre alma e nascimento, escravidão, preconceito e o que é ser humano de verdade. Para isso temos cenas emblemáticas como vários momentos entre Joi (Ana de Armas) e K. E esses são apenas alguns dos vários questionamentos que o longa nos traz.   

“Blade Runner 2049” têm um ritmo intencionalmente lento, é contemplativo e busca fazer o espectador questionar seus sentimentos e ideias. Cenários envolventes e atraentes compõe ambientação que ajuda a ressaltar o questionamento do que é real ou humano. Villeneuve faz um ótimo trabalho, apresenta uma ótima continuação que funciona muito bem sozinha. Um filme que faz jus ao original. Cenas de ações e momentos engraçados se fazem presentes, mas nunca são o foco e nem nos retiram da narrativa. O importante em “Blade Runner” é o questionamento sobre o que é a vida.

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016)

232521.jpg-r_640_600-b_1_D6D6D6-f_jpg-q_x-xxyxxApós os eventos de O Homem de Aço, Superman (Henry Cavill) divide a opinião da população mundial. Enquanto muitos contam com ele como herói e principal salvador, vários outros não concordam com sua permanência no planeta. Bruce Wayne (Ben Affleck) está do lado dos inimigos de Clark Kent e decide usar sua força de Batman para enfrentá-lo. Enquanto os dois brigam, porém, uma nova ameaça ganha força.

151min – 2016 – EUA

Dirigido por Zack Snyder e roteirizado por Chris Terrio e David S. Goyer. Com: Ben Affleck, Henry Cavill, Amy Adams, Jesse Eisenberg, Gal Gadot, Diane Lane e Jeremy Irons.

Batman Vs Superman – A Origem da Justiça sofre de um problema muito comum nos blockbusters atuais. Seus trailers e clips de divulgação entregam a trama e boa parte de suas reviravoltas. Quem assistiu aos três trailers internacionais já sabe basicamente o  que vai ocorrer, o plano de fundo está ali. (Principalmente no segundo trailer) Mas é interessante que o filme ainda consiga surpreender e trazer novos elementos. Então é sim uma experiência divertida, mesmo para quem já está a par do que vai acontecer.

O filme é repleto de easter eggs, fã service e referências ao universo cinematográfico que Zack Snyder pretende criar para a DC Comics. Ao longo de suas duas horas e meia vemos novos personagens, possíveis novas tramas e até futuros apoteóticos e alternativos. A duração do longa inclusive, é um problema. Seus 180 minutos não passam despercebidos, é muito grande e você percebe isso. A vontade e necessidade de criar um universo traz personagens interessantes que acabam sendo mal aproveitados e  não acrescentam muito a trama. Um bom exemplo é a mulher Maravilha que não consegue mostrar a que veio, apesar de nos sacudir em nossos assentos com suas cenas de luta.

Mais uma vez Henry Cavill interpreta bem o Superman, se em O Homem de Aço temos um aprendiz de super-herói, aqui temos um “homem” que aprendeu com seus erros, que tenta repará-los e entender melhor seu papel como salvador/Messias/Herói. Ele possui falhas e a interpretação de Cavill causa empatia com esse ser super-poderoso. Em certos momentos, como nunca visto em outros longas, o heroi se torna ameaçador e dá medo. Se o filme tem um grande acerto esse certamente é o “Batfleck”, muito criticado quando escolhido para fazer o papel, Ben Affleck faz um ótimo trabalho. Seu Bruce Wayne é amargurado, cansado, desiludido e quando necessário um playboy beberão e mulherengo. Seu Batman é agressivo, violento, treinado e usa muito bem de seus equipamentos eletrônicos. (Melhor que nos demais filmes do herói) Suas lutas refletem em ótimas sequências de ação. (E sim. O Batman faz Crossfit!) Sempre preferi os filmes e o Batman de Tim Burton. Mas esse Batfleck é bom motivo para reconsiderar. (Tirando, é claro, o Adam West. Esse sim o melhor Batman de todos os tempos.) A relação entre Alfred e Bruce é ótima, ele é um amigo/pai/conselheiro/guia, e como podemos ver está sempre preparado para ajudar Bruce é um bom trabalho de Jeremy Irons. Lex Luthor é extravagante, excêntrico e louco. É um bom personagem e bem interpretado por Jesse Eisenberg. Amy Adams novamente faz um bom trabalho como Lois Lane e está longe de ser apenas uma donzela em perigo.

O longa segue os acontecimentos de O Homem de Aço, mas dá um grande destaque para o homem morcego. Já no início temos um flah back com sua origem, o que nos situa com seu posicionamento perante a destruição causada na batalha do Superman contra o General Zod. Bruce estava em Metropolis durante a batalha, tenta ajudar as vítimas se horroriza  e fica idgnado com tamanha devastação. O que serve como motivação extra para Bruce querer enfrentar o Homem de aço. A luta entre os dois é uma boa sequência, é bem construída ao logo do filme e não parece forçada. Existe uma sugestão de diferentes ideologias o que é interessante, mas o filme não ousa ir além de pequenos comentários políticos, como: “Se ele representa um por cento de chance de ser uma ameça temos que tomar como cem por cento e extermina-lo”. (Diálogo inclusive presente no trailer.) E no final o trauma de um deles serve como ponte para estabelecer um vinculo e uma conexão com o atual momento do outro.

Ao assistir Batman Vs Superman – A Origem da Justiça fica claro que o diretor Zack Snyder não só é fã de quadrinhos como os lê e acompanha. Fica claro também que ele está apar dos games e que os joga. São claras as referencias aos gibis e jogos. Em uma sequência de luta ficamos com a impressão de que estamos jogando um dos games da franquia Batman Arkham, somos presenteados com golpes, estratégias e ações táticas características do jogo.

O vilão Apocalipse representa uma grande ameaça. A batalha final é bem executada, com algumas explosões excessivas e flares desnecessários. Ver nossos três heróis em combate, lutando como um grupo cooperando entre si é algo empolgante. No fim o caminho para o filme da Liga da Justiça fica pronto. Fica traçado também uma possibilidade para filmes solos dos demais heróis presentes no longa. Apesar de  terem pouco tempo de tela, sua aparição vai empolgar os fãs. Dedicar menos tempo aos demais personagens é bom, já que essas cenas parecem deixar o filme mais longo, estendendo a trama demais e tirando o foco do que é realmente importante. É um bom início para a Liga da Justiça é um bom encontro entre Batman e Superman, mas poderia ser menos inchado, longo e não desperdiçar personagens interessantes. Mais uma vez Snyder utilizada da paleta de cor acinzenta e sem brilho, o que é cansativa, desinteressante e deixa o filme “feio”. Batman Vs Superman – A Origem da Justiça é um filme bastante descente que impressiona em seus bons momentos.

Obs. Na versão exibida na cabine de imprensa não tinha cena pós créditos.

Nota do Sunça:

 


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