Salve-se Quem Puder #13 – Celular é amor!

sunca_bilau

Salve-se Quem puder é um momento de inatividade ociosa onde o Sunça exercita sua exorbitante genitália intelectual abordando os temas mais relevantes para a existência humana.

Na vida adquirimos virtudes, com muita luta conquistamos posses e geramos oportunidades. Estamos sempre lutando para atingir algo, normalmente conseguimos patavinas. Mas, às vezes, alcançamos glórias como um bom pileque ou curtidas em redes sociais que rendem a ilusão de que somos felizes e amados. Passamos por muitas experiências em nossa frustrada existência, paixões, brigas, empregos, barraquinhas com vários sabores de churros, almoços de família, o amor verdadeiro que não é verdadeiro porque acaba e as crises existenciais. É da nossa praxe valorizar, estimar e endeusar o patrimônio considerado por nós, primatas bípedes semi-evoluídos, mais importante. O telefone celular.

Ah os smartphones! Que obra dos Deuses. Um elixir maravilhoso que agrada e deixa a vida mais efêmera e nula. Um parceiro que nos acompanha diariamente, diz como está o dia, a temperatura, as novidades, o trânsito, as horas e permite a conversa entre os humanos. Diálogo esse, que pode ser resumido ao compartilhamento instantâneo de “bom dia” com flores, fotos de nossas refeições, memes e a tão bem vinda pornografia. Tudo o que precisamos para nossa sobrevivência encontramos nesses aparelhos mágicos. Uma outra forma para realizar tudo isso seria sair de casa, interagir uns com os outros e analisar a natureza a nosso redor. Mas afinal, quem têm tempo para isso? Prezamos tanto por nosso telefone que ele nos acompanha no trabalho, academia, banheiro, em todos os lugares, até os levamos para a cama. E durante todo esse tempo ele escuta nossas mágoas, nos conforta quando estamos tristes,  guarda nossos segredos e até mesmo protege nossos primorosos nudes. Eles são bons companheiros

Não é à toa o nosso ciúme criminoso e possessivo por nossos smartphones. É um procedimento comum receber algo ou alguém que demonstra interesse e/ou tenta encostar em nosso telefone, com um imediato e robusto tapa na fuça. Somos apegados a nossas máquinas do amor. Quem não se lembra do deslumbre que é uma nova? Nós adoramos as novinhas. É lindo quando tudo é novidade, a empatia flui, todas as nossas demandas são bem atendidas e, em geral, o convívio funciona bem. Também é fácil lembrar de nossos acessos de ódio quando falharam ligeiramente ou quando não agem conforme o esperado. Só é difícil lembrar dos modelos anteriores que passaram por nossas vidas, não por questões mal resolvidas ou porque ainda nos fere por dentro, é só falta de interesse mesmo. Até porque qual o sentido de tentar consertar algo importante para você se é comum e aceitável apenas dispensar e trocar por outro telefone. E se ao invés de um aparelho danificado o seu um dia “acabar”, a solução é igualmente simples. Consiste em enfiá lo em uma gaveta e fingir que nada aconteceu e que até mesmo você nunca teve um celular. Basta colocar um dinheiro no bolso chamar os amigos (as) e partir para as compras nos passadiços finais de semana. É habitual testar o máximo possível de modelos antes de tomar sua decisão.

O ser humano ama seu smartphone. Essas máquinas fantásticas transformam nossa existência e mudam nossas vidas. Sem elas passariamos por maus bocados. Então seguimos com esse relacionamento complexo e unilateral (Assim como fazemos com todas nossas convivências) na esperança de que tudo é perfeito, mágico e vai durar para sempre. E, se não permanece, pouco ligamos. No mercado sempre saem novos modelos. Mais jovens, modernos, atraentes e onerosos.

Celular é amor.

Bjundas

Ministério do sarcasmo adverte:

Acreditar e/ou levar a sério informações desse texto é um atestado de bestialidade.

 O autor:

sunca_autorFelipe Assumpção Soares é Mestre e Doutorando em auto-sabotagem desde 1986.

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Salve-se Quem puder #10 – Carnaval é aprendizado

sunca_bilau

Salve-se Quem puder é um momento de inatividade ociosa onde o Sunça exercita sua exorbitante genitália intelectual abordando os temas mais relevantes para a existência humana.

“Pior do que tá não fica!” A mas fica, fica sim. Sou a prova viva disso, aliás, todos nós bípedes descendentes da ordem dos primatas somos. Na ânsia de acreditar que um dia vamos conseguir ser felizes, acabamos nos esquecendo de que nos raros momentos em que a felicidade é encontrada ela é efêmera. Na busca incessante pela alegria tudo o que conseguimos é causar dor, tristeza e infelicidade uns nos outros. E, principalmente, para nós mesmos. Uma das consequências mais graves e severas causada por essa perseguição implacável que aflige a nossa existência, são as excessivas comédias românticas que tanto nos auto-obrigamos a assistir e chorar discretamente acreditando no amor. (Essas são na realidade as verdadeiras ficções científicas.)

Sendo assim, o rabugento Grinch que vive dentro de nós é o grande responsável pela a auto-sabotagem de nossa própria felicidade. Como, para a maioria das pessoas, encerrar sua vida com as próprias mãos parece excessivo, as mais comuns formas de lidar com toda essa situação é bebida, sexo e droga. E é aí que entra o carnaval.

O carnaval é a prova mais incontestável de que a felicidade é passageira. Não que ele seja ruim, não é. Ruim é só o ser humano mesmo. A real verdade, é que seria bem bom se o carnaval fosse eterno. Bom até demais. Mas assim como o amor verdadeiro, ele acaba. Existem tentativas de prolongá-lo, esticá-lo e tornar a coisa toda cotidiana, mas nunca acaba bem. Geralmente em brigas, acidentes de trânsito e depressão. E é aí que está o problema, não temos que prolongar o carnaval, temos que aprender com ele. Nele bebida quente, é bom. pular/andar/correr no sol escaldante é bom. (O mesmo pode ser dito para os momentos de tempestade.) Pegar pessoas em estados normalmente não aceitáveis, muitas vezes em situação deplorável, é bom. E ali, é um dos lugares que mora a felicidade.

Mas um dia a vida volta ao normal. E como nós, os habitantes abestados desse dispositivo eletrônico obsoleto e antiquado eternamente travado e sem bateria que chamamos de vida, não guardamos em nossas mentes tolas o sábio ensinamento do carnaval e a tristeza volta a reinar. Como somos deprimidos no cotidiano buscamos na esperança a salvação. Passamos a dizer uns para os outros, tudo vai melhorar! Mas não vai. E não melhora. A esperança é a grande arma do maléfico Grinch que habita nossos corações.

O que o sábio carnaval realmente quer nos ensinar, é que se tudo que poderia vir a ser ruim é na verdade bom, tudo está certo. Se o que é ruim é bom e nossa existência é em sua maioria é ruim, deu bom. Porque não trazer isso para nosso dia-a-dia? Devíamos parar de dizer coisas como: “Pior do que tá, não fica!” e aceitar que: “Quanto pior, melhor!”. Perdeu o emprego? Que beleza! Foi feito de trouxa? Maravilha! Levou um soco no coração? Esplêndido! Você vive na calçada só tem uma caneca e um cachorro e ele te troca por uma moita mais carismática? Aí sim, deu bom! Se a tristeza é uma certeza, quando ela chega ficamos felizes, satisfeitos e com a sensação de missão cumprida. Nós podemos e devemos nos enclausurar voluntariamente e de forma hiperbólica nesse looping ilógico.

Pronto. Solucionamos boa parte dos problemas dos habitantes do facebook. Os seres que habitam o instagram não sofrem desse problema, eles tem sua própria forma de lidar com a infelicidade. Que é simples e parece funcionar. É a simulação momentânea e constante do regozijo.

Então, seguimos aguardando pelo pior e assim seremos felizes. Porque a tristeza nem tarda e nem falha.

“Tristeza não tem fim, felicidade sim…” Tom Jobim e Vinicius de Moraes

Eu amo o carnaval.

Bjundas

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