Sunça no Streaming – Um Príncipe em Nova York 2 – Amazon Prime Video (2021)

Em Um Príncipe em Nova York 2, no luxuoso país da realeza de Zamunda, o recém-coroado Rei Akeem (Eddie Murphy) descobre que tem um filho que ele não conhece e que pode ser herdeiro do trono — apesar do nobre já uma filha preparada para assumir o governo. Na produção do Amazon Prime Video, Akeem e seu confidente Semmi (Arsenio Hall) embarcam em uma hilária jornada que os levará ao redor do mundo: de sua grande nação africana, de volta ao Queens, bairro de Nova York.

110 min – 2021 – EUA

Dirigido por Craig Brewer. Roteirizado por David Sheffield, Kenya Barris, Justin Kanew e Barry W. Blaustein. Com Eddie Murphy, Arsenio Hall, Paul Bates, James Earl Jones, Jermaine Fowler, Leslie Jones, John Amos, Shari Headley, Tracy Morgan, Louie Anderson, KiKi Layne, Wesley Snipes, Teyana Taylor, Nomzamo Mbatha, Clint Smith, Bella Murphy, Vanessa Bell Calloway, Morgan Freeman, Luenell, Trevor Noah, Rotimi, Akiley Love.

Em 1988 “Um Príncipe em Nova York” confrontou a imagem estereotipada da África em Hollywood e destacou um elenco negro em um filme de sucesso no mundo. O clássico, que tem alguns elementos e piadas misóginas, apresentou o príncipe de um reino africano fictício (Zamunda) que viaja para o Queens em busca de uma esposa. Traz à tona uma crítica sobre classes sociais e como elas afetam as nossas relações. Eddie Murphy deu vida ao príncipe Akeem que desafiou seu pai e a tradição de sua sociedade que lhe impunha um casamento. Em 2021 Murphy retorna ao papel em “Um Príncipe em Nova York 2” que falha em trazer a mistura de crítica, humor pastelão e drama do original. 

Trinta e três anos se passaram e Akeem continua casado com Lisa McDowell (Shari Headley) com quem teve três filhas. Após a morte de seu pai o Rei Jaffe Joffer (James Earl Jones) o príncipe e seu companheiro Semmi (Arsenio Hall) têm que retornar a América em busca de seu filho bastardo que vive no Queens. Akeem e seu filho, o jovem Lavelle (Jermaine Fowler), retornam para Zamunda e Lavelle tem de aprender a ser rei enquanto lida com as diferenças e com os costumes do reino. 

A trama nos propõe três arcos narrativos. A pouco inspirada e pouco engraçada empreitada do filho bastardo se tornando rei. Em segundo a ideia de que os anos, o dinheiro e o estilo de vida mudaram Akeem. Ele não é mais o jovem combativo aos antigos costumes e aberto a novas experiências e  novas visões de mundo que conhecemos no primeiro filme. Ainda nesse arco, vemos como o ex-príncipe e agora rei, lida com o engraçado e divertido General Izzi (Wesley Snipes) que pretende forçar um casamento político. A terceira é menos explorada e é a mais interessante de todas. A busca de reconhecimento da filha primogênita de Akeem. Meeka (Kiki Layne) demonstra querer quebrar as tradições machistas do reino e ser a sucessora ao trono. Afinal, em 2021 recuperar um filho bastardo para assumir seu lugar não é uma ideia que agrada as filhas e a esposa do rei. Os arcos são apressados e não são bem construídos. Em sua maioria funcionam como uma sequência de esquetes e piadas soltas intervaladas por sequências musicais.  

Lavelle é um jovem esperto e descontraído criado nas ruas do Queens que agora têm de lidar com uma vida de luxo Zamunda. O que é uma inversão do original onde o mimado e inocente Akeem enfrenta uma Nova York caótica e uma sociedade cruel. Uma inversão promissora e mal aproveitada, que nasce de uma sequência terrivelmente apressada e forçada. Onde presenciamos como o bastardo teria sido gerado anos atrás. Um problema ao assistir hoje o filme anterior são as piadas misóginas, a exposição da figura feminina e a voz das mulheres. Nisso o longa atual se sai melhor dando espaço ao empoderamento feminino (Ainda que pouco) e subvertendo algumas piadas do original. Mas falha apostando em chacotas datadas e contestáveis com por exemplo uma cena que envolve sexo não consentido.  

O design de produção e de figurino são muito bons, não ignoram o trabalho feito anteriormente e trazem também elementos e aspectos contemporâneos. O que pode ser comprovado na sequência inicial e no ótimo funeral do Rei Jaffe Joffer, o melhor momento do filme. “Um Príncipe em Nova York 2” traz um elenco pouco inspirado em um texto fraco e com uma direção no automático. Falha na construção de seus personagens e no desenvolvimento de seus arcos narrativos e exagera em cenas de propaganda e merchandising. Uma homenagem que não consegue evocar a nostalgia e que tenta forçá-la colocando em tela trechos e cenas do filme anterior. 

Nota do Sunça:

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Sunça no Streaming – Borat: Fita de Cinema Seguinte – Amazon Prime Video (2020)

Borat: Fita de Cinema Seguinte é a sequência do longa de sucesso Borat – O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América. O longa foi filmado na quarentena e conta mais uma história do icônico jornalista do Cazaquistão.

96 min – 2017 – EUA / Reino Unido

Dirigido por Jason Woliner e roteirizado por Sacha Baron Cohen, Anthony Hines, Dan Swimmer, Peter Baynham, Erica Rivinoja, Dan Mazer, Jena Friedman e Lee Kern. Com Sacha Baron Cohen, Maria Bakalova, Tom Hanks, Dani Popescu, Manuel Vieru, Miroslav Toji, Alin Popa.

A alguns anos atrás, o discurso de ódio, a intolerância e o preconceito eram velados. Hoje, são ditos e escritos abertamente. Não é difícil encontrá-los intrinsecamente ligado à política, religião e grupos sociais. A ciência é negada, o “achismo” vale mais do que o fato e a moralidade não importa mais.  É nesse contexto que Borat Sagdiyev (Sacha Baron Cohen) retorna. A nova empreitada, lançada pela plataforma de streaming Amazon Prime Video, é “Borat: Fita de Cinema Seguinte”. Em sua primeira aparição, o desafio do jornalista cazaquistão era escancarar e trazer a tona o preconceito, a intolerância, o racismo e a homofobia das pessoas com quem interagia. Quatorze anos se passaram desde o primeiro longa “Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América”. E agora, na sequência Borat e sua filha Tutar (Maria Bakalova) logo percebem que não é preciso muito esforço para trazer a tona todo esse discurso de ódio. Basta trocar algumas frases certeiras e as pessoas, mesmo sabendo da presença da câmera, não têm o menor pudor de dizer atrocidades. A obra sabe disso. Logo de início em uma rápida montagem vemos Trump e suas amizades pelo mundo, uma demonstração de como nosso planeta está cada vez mais intolerante. Se esta conversa lhe parece familiar, é porque é. Não à-toa o Brasil está representado nessa montagem na figura de Bolsonaro.

É nesse contexto, onde uma vendedora de bolo não tem problemas em escrever uma frase antissemita no produto, um pastor se preocupa mais com um aborto do que com o abuso sexual de um pai e um medico que assume não ter problemas em cometer um assedio a uma adolescente de 15 anos, que Borat recebe sua nova missão. Após ter feito seu país virar motivo de piada no mundo inteiro com o primeiro filme, o jornalista passou quatorze anos preso. Ele é convocado por seu governo para uma importante missão. Borat é encarregado de entregar um macaco de presente a Mike Pence o vice-presidente dos Estados Unidos, com o objetivo do Cazaquistão cair nas graças de Donald Trump. Um cara que eles idolatram. Quando o macaco tragicamente sai de cena, sua filha Tutar passa a ser a oferenda. O diretor Jason Woliner e Sacha Baron Cohen não escondem as intenções anti-Trump que a obra se propẽ, mas atingem algo muito maior com essa sequência onde realidade e ficção se misturam de forma orgânica.  

O sucesso do longa anterior deixou mais difícil a produção desse novo projeto. Borat se tornou uma figura conhecida e cultuada na cultura pop, no início vemos pessoas pedindo autógrafos e perseguindo o cazaquistão. A solução encontrada, é também um grande mérito desse novo trabalho, o jornalista se vê obrigado a usar disfarces e assumir novas personas. É surpreendente ver Sacha Baron Cohen interpretando um personagem que interpreta outros personagens. Borat assume personalidades de vários tipos culminando em uma cena estilo “Missão: Impossível” em que ele adentra uma conferência republicana “disfarçado” de klus klus klan e termina fantasiado de  Donald Trump carregando sua filha nos braços como oferenda a Mike Pence. Uma troca de vestimenta que nos faz refletir.  Em “Fita de Cinema Seguinte” são utilizadas mais cenas roteirizadas, logo, a trama é mais forte e define arcos narrativos para seus personagens. O roteiro trabalha a relação entre o pai e a filha. Maria Bakalova impressiona e assim como Sacha Baron Cohen, nunca sai de seu papel. Mesmo nas situações mais absurdas, loucas e perigosas. Assim acompanhamos pai e filha em momentos de improviso nas situações reais, interações chocantes e as sequências de vergonha alheia. Culminando na “participação” comprometedora do o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani, um dos principais aliados de Trump. Tutar expõe os preconceitos que as mulheres sofrem e Borat mostra o discurso de ódio presente nos cidadãos norte americanos. Para isso, ambos colocam suas vidas em risco, um bom exemplo é o momento em que o jornalista cazaquistão canta para uma multidão de supremacistas brancos alcoolizados e armados. 

A obra tem seus momentos de ternura, gentileza e carinho. Um cuidado dos oito roteiristas (Sim, oito) para que o espectador não desista da humanidade. É na caricatura e no exagero que o filme constrói seu humor, nos faz rir pelo desconforto, pelas terríveis realidades que retrata e pelo absurdo que é a sociedade em que vivemos. Quatorze anos depois Borat se mostra ainda necessário, “desenha” a hipocrisia dos discursos de ódio, “escreve” o absurdo que é o negacionismo a ciência (Abordando até mesmo a pandemia de COVID-19 já que ela começa durante as filmagens) e mostra o perigo e poder destruidor das fake news. É assim, desenhando, escrevendo e mostrando que “Borat: Fita de Cinema Seguinte” evidencia a piada de mau gosto que chamamos de mundo. É impressionante, que em meio a tudo isso, o longa ainda tenha tempo para uma das melhores reviravoltas de Hollywood.

Nota do Sunça:

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Sunça no Streaming – A Vingança de Lefty Brown – Amazon Prime Video (2017)

Lefty Brown (Bill Pullman) é um ajudante de 63 anos que toda a sua vida ficou ao lado da lenda do faroeste Eddie Johnson (Peter Fonda). Johnson foi apontado como senador de Montana e, apesar das objeções da esposa Laura, planeja deixar Lefty em cargo do rancho. Quando um ladrão mata Johnson, Lefty é confrontado pela sombra do parceiro e das feias realidades da justiça na fronteira.

111 min – 2017 – EUA

Dirigido e roteirizado por Jared Moshé. Com Bill Pullman, Kathy Baker, Jim Caviezel, Peter Fonda, Tommy Flanagan, Diego Josef.

Eu adoro faroestes. O bangue-bangue, como carinhosamente chamo os filmes do gênero, me fascina. Além de reassistir grandes clássicos presentes em minha coleção de dvds e blu-rays, é comum me encontrar pesquisando por obras de western nas plataformas de streaming. E foi assim, “garimpando ouro” que encontrei no Amazon Prime Video “A Vingança de Lefty Brown”. Filme de 2017, inédito no Brasil e que chegou a plataforma em fevereiro de 2020.

Já em seus primeiros minutos o longa enquadra a entrada de um saloon em uma noite chuvosa. Um tiro ecoa e um homem cai morto. A uma dupla se aproxima e um deles entra pela porta da frente e o outro fica de vigia na saída. O clima clássico de um bom velho oeste está posto. Após a resolução do assassinato, na lei cruel daqueles tempos, os homens cavalgam de volta para casa. O primeiro é o lendário xerife Eddie Johnson (Peter Fonda) e o segundo é seu parceiro, companheiro e amigo a quarenta anos, Lefty Brown (Bill Pulman).

A obra que traz uma nova perspectiva ao gênero, é repleta de referências aos grandes clássicos. E faz constantes acenos aos fãs do oeste selvagem. Presenciamos a chegada do “progresso”, e junto a ele, novas ambições, novos perigos e a necessidade de se adaptar.  Eddie foi eleito senador e está a caminho de Washington, vai abandonar sua carreira de xerife e pretende deixar seu rancho para Lefty. O que não agrada nenhum pouco a sua esposa Laura (Kathy Baker) que não acredita no potencial do ajudante desajeitado. Lefty Brown reconhece que não é inteligente ou esperto e se mostra envergonhado por nunca ter aprendido a ler. Seu caminhar é desajeitado e manca constantemente. Sua voz é rouca e esganiçada e o tom dela assume toques levemente cômicos. Mas sua lealdade e honestidade é inquestionável, por isso a decisão de seu amigo Eddie. Mas todo o cenário muda quando o lendário herói é assassinado.  

Lefty parte em busca de vingança e justiça. No caminho encontra o garoto Jeremiah Perkins (Diego Josef), o jovem sonha em se tornar pistoleiro e logo se mostra um fã dos grandes nomes do Oeste. Um leitor das revistinhas e baladas sobre as lendas do faroeste. Um personagem como Lefty nunca aparece nesses relatos fantasiosos, por isso o título original do filme “The Ballad of Lefty Brown”. Dois amigos antigos de Eddie e Lefty tentam ajudar Laura nesse momento difícil e acabam se envolvendo na busca. Jimmy Bierce (Jim Caviezel) atual governador de Montana e o xerife Tom (Tommy Flanagan). Saindo da posição de ajudante e coadjuvante e assumindo o protagonismo, Lefty Brown têm que enfrentar diversas reviravoltas, tiroteios, interesses maldosos e corrupção política.  Ele é injustiçado, ridicularizado e humilhado. Seu protagonismo é colocado a prova. O diretor e roteirista Jared Moshe é cuidadoso ao não alterar as características de Brown, ele assume as rédeas da trama e passa a controlar a narrativa mas sem nunca deixar de ser o desajeitado que é. O que não o impede de se mostrar um herói e uma lenda do oeste.  

Acompanhamos essa saga com a linda fotografia de David McFarland, as paisagens de Montana são belas e bem utilizadas. Os cenários se tornam um dos personagens que ajuda no clima épico de toda a trama que presenciamos. Nos demais personagens arquétipos clássicos estão presentes. O jovem que pretende ser pistoleiro, o herói que afoga suas mágoas em uma garrafa de uísque e o político inescrupuloso. Tudo isso afina o clima de bangue-bangue. Para melhorar o acerto as performances são ótimas, Peter Fonda em seus poucos minutos como Eddie consegue evocar uma figura forte e virtuosa. Kathy Baker apresenta Laura como uma mulher forte e decidida. Diego Josef é o jovem aprendiz que passar a perceber em Lefty todas as virtudes que Eddie vê e aprecia. Porém o mais importante para o sucesso da obra é a performance de Lefty Brown, e Bill Pullman faz um trabalho incrível. Lefty tem uma personalidade própria, é carismático e cativante. Um personagem leve e cômico cheio de excentricidades e com coração.

“A Vingança de Lefty Brown” é a balada de Lefty.  A canção e relato de seu grande feito, uma forma de relembrar e celebrar essa grande figura do oeste e seus atos de coragem. Uma obra divertida e emocionante. Carregada de referências aos clássicos e com um clima e sensação do velho oeste. Um longa que apresenta elementos do gênero e que sabe também subvertê-los. O eterno coadjuvante, o acompanhante do herói é colocado como protagonista e mostra que é uma das grandes lendas do faroeste.

Nota do Sunça:

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Sunça no Streaming – Vigiados – Amazon Prime Video (2020)

Em Vigiados, dois casais em um retiro à beira-mar começam a suspeitar de que o dono da casa alugada, aparentemente perfeita, pode estar espionando-os. Em pouco tempo, o que deveria ser uma viagem comemorativa de fim de semana se transforma em algo muito mais sinistro, à medida que segredos bem guardados são expostos e os quatro velhos amigos passam a se ver sob uma luz totalmente nova.

88 min – 2020 – EUA

Dirigido por Dave Franco. Roteirizado por Dave Franco, Joe Swanberg e Mike Demski. Com Dan Stevens, Jeremy Allen White, Alison Brie, Sheila Vand, Toby Huss, Connie Wellman.

Um grupo de jovens viaja para um lugar paradisíaco e isolado. Algo parece estranho e paira uma sensação de que eles não deviam estar ali. Coisas misteriosas acontecem e pequenas atitudes e decisões são tomadas. Elas iniciam uma “bola de neve” fatal. Essa é uma premissa muito conhecida dos cinéfilos e tão utilizada que já existem clássicos até mesmo em jogos de tabuleiro e vídeo  game. “Vigiados” é a primeira empreitada do diretor Dave Franco, que além de ser uma bonita homenagem ao gênero terror, traz algumas atualizações a uma mistura com o subgênero slasher.  

Na primeira parte da obra, que se estende durante a primeira hora, a atmosfera é de incerteza. Dave não poupa tempo para nos apresentar os ambientes e seus personagens. Desenvolve as relações entre eles e vai construindo a tensão pontualmente com pistas, movimentos de câmera e pequenas aparições. É comum assistirmos aos personagens enquadrados de longe o que sugere a todo momento que alguém os está observando. Charlie (Dan Stevens), sua esposa Michelle (Alison Brie), seu irmão Josh (Jeremy Allen White) e sua sócia, e namorada de Josh, Mina (Sheila Vand), alugam uma casa de luxo a beira mar para um fim de semana de descanso, festa e curtição. Por lá, coisas estranhas acontecem.   

É interessante perceber como desde o ínicio existem sinais claros de que o final de semana não iria acabar bem, tanto no aspecto pessoal, social e íntimo do grupo. Quanto no aspecto sinistro de toda a viagem. Em alguns momentos a trama sugere que o potencial desastre vai ser causado pelo próprio grupo de jovens. E em boa parte é. Decisões erradas são tomadas, delitos são cometidos e todas as ações têm consequência e não são perdoadas pelo roteiro.  Durante a atmosfera de incerteza que reina no o início da obra o terror vêm das mentiras, manipulações e falhas humanas. Até que de fato surge, na segunda metade do filme, a grande ameaça. Que pode até soar como punição. Como tivemos um bom tempo com esses personagens, antes dessa revelação, nos importamos com eles o que é fundamental para que toda a etapa final seja eficaz. 

“Vigiados” é uma bonita homenagem e um bom filme de terror. Dave Franco têm uma estreia bem sucedida na direção, é possível perceber suas influências apesar de seu filme ter uma personalidade própria.

Nota do Sunça:

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Sunça no Streaming – Guava Island – Amazon Prime Video (2019)

Deni Maroon (Donald Glover) é um jovem músico que possui o sonho de unir todo o seu povo em prol de um grande mesmo objetivo. Ele, então, se aventura a criar um festival de música com os poucos recursos que possui e promete a si mesmo que irá libertar a população da Ilha de Guava, nem que seja por apenas um dia.

55 min – 2019 – EUA

Dirigido por Hiro Murai e roteirizado por Stephen Glover e Donald Glover. Com Donald Glover, Rihanna, Letitia Wright, Nonso Anozie e Renny Arozarena.

“Guava Island” é uma obra incomum no mercado cinematográfico atual.  Lançado em abril de 2019 e filmado em película 16mm, o filme mistura animação, fábula, live action e muita crítica política em seus cinquenta e cinco minutos de duração. Estrelado por Donald Glover e Rihanna, o curta tem direção de Hiro Murai, roteiro de Stephen Glover e fotografia de Christian Sprenger, todos eles envolvidos na produção da ótima série Atlanta. Hiro Murai também trabalhou com Glover em alguns de seus clipes, como por exemplo o maravilhoso “This is America”. 

A ilha de Guava impressiona por sua beleza. A fotografia do filme é excelente, apresenta uma mistura de povos africanos, caribenhos e até mesmo asiáticos. Essa combinação de gestos, características, cores e idiomas acontece sem cair no estereótipo da gente e cultura retratada. É uma homenagem e também um retrato social e cultural. Na “fábula” acompanhamos a história de Deni Maroon (Donald Glover) um músico que vive na ilha de Guava junto de sua namorada Kofi Novia (Rihanna). Deni quer organizar um festival musical e isso o coloca em conflito com Red Cargo (Nonzo Anozie) chefe da família que controla os negócios dessa nação. Isso porque a população se atrasaria para o trabalho no domingo pós festival, e todos na ilha trabalham de domingo a domingo nas fábricas de Red para a produção da seda azul. Muito valiosa em outros lugares do mundo. 

A trama se desenvolve como um thriller, porém é repleta de comédia e música. Nos momentos fabulescos temos sequências de animação. Uma delas é narrada por Rihanna e nos apresenta um sonho de liberdade. O que contrasta com o mundo que nos é apresentado, onde temos crianças armadas cometendo assaltos. Toda essa mistura narrativa, deixa a obra ainda mais especial. É uma crítica ao capitalismo excessivo que oprime povos, aumenta a desigualdade e miséria pensando apenas em lucro, produção e economia. E contra isso temos Deni que sonha em criar uma música que possa unificar o povo e o acordar para lutar contra a exploração diária na qual estão submetidos. É uma pena que a personagem interpretada por Rihanna, não lhe dê a oportunidade de cantar. Ela é uma mulher focada no trabalho, realista e pessimista. Um fruto da sociedade abusiva em que vive, seu objetivo é deixar a ilha para trás. A química entre o casal principal é boa, seus olhares, conversas e danças sempre acontecem de forma natural e ambos apresentam boas performances. 

Uma crítica atual que dialoga com prática comuns utilizadas em larga escala por todo o mundo. A ilha de Guava é um lugar paradisíaco. Sua população local trabalha sete dias por semana, sem descanso, para exportar as riquezas naturais da terra. Enquanto sonham com o dia em que terão dinheiro suficiente para alcançar uma vida melhor. Nas palavras do próprio Deni antes da sequência musical de “This is América” : “ A América é um conceito. Qualquer lugar onde, para que você fique rico, é necessário fazer com que alguém fique ainda mais rico, é a América.”

“Guava Island” tem um único conflito e uma trama pequena. E a obra sabe. Ela é rápida e objetiva com o que têm a dizer e apresentar. Assume a estrutura de uma história a ser contada, uma lenda. Não tenta criar um clímax grandioso ou se apresentar maior do que é. No embate final o diretor Hiro Murai tem total controle, cada plano é pensado e o ritmo construído é eficaz para potencializar o que acontece em tela.  Um filme bonito e festivo, que tem cada um de seus aspectos pensado para servir um propósito narrativo maior. A música é arma, é ideia e é união.

Nota do Sunça:

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