Sunça no Streaming – Space Jam: Um Novo Legado – HBO Max (2021)

Em Space Jam: Um Novo Legado, a inteligência artificial, Al G (Dom Cheadle) sequestra o filho de Lebron James e envia o lendário jogador dos Los Angeles Lakers para uma realidade paralela, onde vivem apenas os personagens de desenho animado da Warner Bros. Para resgatar o seu filho, ele precisará vencer uma partida épica de basquete contra superversões digitais das maiores estrelas da história da NBA e da WNBA. Para essa dura missão, King James terá a ajuda de Pernalonga, Patolino, Lola Bunny, dentre outros personagens consagrados de Looney Tunes.

115 min – 2021 – EUA

Dirigido por Malcolm D. Lee. Roteirizado por Juel Taylor, Tony Rettenmaier, Keenan Coogler, Terence Nance, Jesse Gordon, Celeste Ballard. Com LeBron James, Don Cheadle, Cedric Joe, Khris Davis, Sonequa Martin-Green, Ceyair J Wright, Harper Leigh, Xosha Roquemore, Stephen Kankole, Jalyn Hall, Wood Harris, Jordan Thomas, Sue Bird, Anthony Davis, Draymond Green, Damian Lillard, Klay Thompson, Nneka Ogwumike, Diana Taurasi, Aja Wilson, Randy Mims, Gerald ‘Slink’ Johnson, Sarah Silverman, Steven Yeun, Ernie Johnson, Lil Rel Howery, Michael B. Jordan, Jeff Bergman, Zendaya, Gabriel Iglesias, Eric Bauza, Candi Milo, Bob Bergen, Fred Tatasciore, Rosario Dawson, Justin Roiland, Kimberly Brooks.

Em 1996 “Space Jam: O Jogo do Século” colocou Michael Jordan ao lado dos Looney Tunes em uma partida de basquete para salvar a vida de nossos queridos personagens animados. Agora em 2021 a Warner repete a parceria de um grande astro da NBA com Pernalonga e sua turma em “Space Jam: Um Novo Legado”. O primeiro longa tinha uma história simples apenas para justificar o encontro dos desenhos e Michael. Apesar de falho é lembrado com muito carinho por todos que o assistiram na época. Eu sou um deles. A sequência retrata o encontro dos cartuns com o jogador, e astro da NBA, LeBron James. 

“Space Jam: Um Novo Legado” falha ao não evocar o sentimento de nostalgia. Tirando algumas pequenas menções e o fato de os Looney Tunes demonstrarem que lembram dos acontecimentos do primeiro filme, a sequência evita o assunto. O que frustra os fãs que ficam eternamente esperando uma referência, e olha, que referências não faltam. A obra tem como um de seus pilares mencionar e remeter a produções da Warner, todas presentes na HBO Max. Logo, a projeção funciona como uma grande propaganda do catálogo do serviço de streaming. É estranho pensar que o próprio longa original é parte desse acervo, e, logo, poderia facilmente estar presente na trama. O Tune Squad merecia relembrar os seus tempos de glória. “Um Novo Legado” não é um reboot e também não é uma sequência. Mas se mostra como um resgate de Pernalonga e sua turma, sem vergonha de apontar o dedo para a Warner e dizer que a empresa deixou seus personagens de lado. Nesse ponto acerta em cheio, valorizando e trazendo à tona os Looney Tunes que tanto amamos. 

Na trama a inteligência artificial Al G Rhythm (Don Cheadle) sequestra o filho de Lebron James e força o jogador a entrar em uma realidade virtual (Acervo da HBO Max) onde estão todos os personagens de filmes e franquias da Warner. Lebron tem que convocar um time e vencer uma partida de basquete para ter seu filho de volta. Dessa vez não são os Looney Tunes que precisam de ajuda, e sim, o astro da NBA. Como James pode optar por qualquer personagem/pessoa dentro deste catálogo, os cartuns não eram sua primeira opção. Lebron acaba aceitando os desenhos animados em seu time por falta de opção. O filme dedica um bom tempo a seleção e convocação dos jogadores, e ao invés de trazer piadas divertidas com os personagens em franquias do estúdio, opta pelo caminho mais fácil apenas retratando cada um deles em outras obras do serviço de streaming. Fazendo assim um passeio pelo catálogo da HBO Max. O aguardado encontro de Lebron com Pernalonga, Patolino, Lola e os demais, demora a acontecer. Quando acontece é frustrante, ao invés da versão em carne e osso do jogador é uma versão cartunesca e animada que conhece os Looney Tunes. Essa é a “forma” do jogador por boa parte da projeção.       

O vilão Al G Rhythm é uma opção interessante. A pronúncia de seu nome é “Algoritmo” e seu plano é como os algoritmos de redes sociais e streamings funcionam. Com todo o banco de dados da Warner a sua disposição, ele queria produzir diversos filmes e séries com o astro da NBA unindo diferentes franquias com o único objetivo de gerar lucro. Quando Lebron James nega o convite, ele surta e rapta seu filho. Os algoritmos são um grande problema que enfrentamos hoje em dia, acho extremamente louvável debatê-los e criticá-los. Realmente me parece uma ótima ideia colocá-lo como vilão. O problema é que “Space Jam: Um Novo Legado” parece exatamente uma das obras que Al G Rhythm queria produzir.    

Don Cheadle é um vilão caricato e megalomaníaco. Lebron James demonstra carisma e um nível de atuação melhor do que o de Michael Jordan. A família de Lebron no filme são atores o que faz o longa perder um pouco a magia. No original tivemos a família verdadeira de Michel o que perdeu em qualidade de atuação, porém agrega em verossimilhança. Outro problema é que a obra dedica boa parte de seu tempo a uma relação problemática entre Lebron e seu filho Dom James (Cedric Joe). Um problema entre pai e filho que não evolui e toda vez que aparece em cena é a mesma problemática piegas. 

Não é surpresa que o melhor de “Space Jam: Um Novo Legado” seja justamente o jogo de basquete. A sequência que a obra dedica menos tempo, ao longo de sua duração. O texto inclusive interrompe o jogo para voltar com o conflito piegas de pai e filho. Porém quando os Looney Tunes colocam em quadra seu humor pastelão e trejeitos característicos é quando tudo ganha vida. Assistir a partida exige um esforço, já que o longa, literalmente, nos obriga a ver e procurar referências vazias ao longo de toda a sequência final. “Um Novo Legado” nos permite matar as saudades de nossos queridos cartuns, demonstra amor por esses personagens e uma vontade de voltar a dá-los o destaque merecido. Pena que isso aconteça em um filme de referências vazias, e que se recusa a referenciar o seu original. Insiste em um drama bobo que não evolui e faz mais propaganda do que devia sem ao menos saber tirar proveito do catálogo que tanto exibe.

Nota do Sunça:

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Sunça no Streaming – Um Príncipe em Nova York 2 – Amazon Prime Video (2021)

Em Um Príncipe em Nova York 2, no luxuoso país da realeza de Zamunda, o recém-coroado Rei Akeem (Eddie Murphy) descobre que tem um filho que ele não conhece e que pode ser herdeiro do trono — apesar do nobre já uma filha preparada para assumir o governo. Na produção do Amazon Prime Video, Akeem e seu confidente Semmi (Arsenio Hall) embarcam em uma hilária jornada que os levará ao redor do mundo: de sua grande nação africana, de volta ao Queens, bairro de Nova York.

110 min – 2021 – EUA

Dirigido por Craig Brewer. Roteirizado por David Sheffield, Kenya Barris, Justin Kanew e Barry W. Blaustein. Com Eddie Murphy, Arsenio Hall, Paul Bates, James Earl Jones, Jermaine Fowler, Leslie Jones, John Amos, Shari Headley, Tracy Morgan, Louie Anderson, KiKi Layne, Wesley Snipes, Teyana Taylor, Nomzamo Mbatha, Clint Smith, Bella Murphy, Vanessa Bell Calloway, Morgan Freeman, Luenell, Trevor Noah, Rotimi, Akiley Love.

Em 1988 “Um Príncipe em Nova York” confrontou a imagem estereotipada da África em Hollywood e destacou um elenco negro em um filme de sucesso no mundo. O clássico, que tem alguns elementos e piadas misóginas, apresentou o príncipe de um reino africano fictício (Zamunda) que viaja para o Queens em busca de uma esposa. Traz à tona uma crítica sobre classes sociais e como elas afetam as nossas relações. Eddie Murphy deu vida ao príncipe Akeem que desafiou seu pai e a tradição de sua sociedade que lhe impunha um casamento. Em 2021 Murphy retorna ao papel em “Um Príncipe em Nova York 2” que falha em trazer a mistura de crítica, humor pastelão e drama do original. 

Trinta e três anos se passaram e Akeem continua casado com Lisa McDowell (Shari Headley) com quem teve três filhas. Após a morte de seu pai o Rei Jaffe Joffer (James Earl Jones) o príncipe e seu companheiro Semmi (Arsenio Hall) têm que retornar a América em busca de seu filho bastardo que vive no Queens. Akeem e seu filho, o jovem Lavelle (Jermaine Fowler), retornam para Zamunda e Lavelle tem de aprender a ser rei enquanto lida com as diferenças e com os costumes do reino. 

A trama nos propõe três arcos narrativos. A pouco inspirada e pouco engraçada empreitada do filho bastardo se tornando rei. Em segundo a ideia de que os anos, o dinheiro e o estilo de vida mudaram Akeem. Ele não é mais o jovem combativo aos antigos costumes e aberto a novas experiências e  novas visões de mundo que conhecemos no primeiro filme. Ainda nesse arco, vemos como o ex-príncipe e agora rei, lida com o engraçado e divertido General Izzi (Wesley Snipes) que pretende forçar um casamento político. A terceira é menos explorada e é a mais interessante de todas. A busca de reconhecimento da filha primogênita de Akeem. Meeka (Kiki Layne) demonstra querer quebrar as tradições machistas do reino e ser a sucessora ao trono. Afinal, em 2021 recuperar um filho bastardo para assumir seu lugar não é uma ideia que agrada as filhas e a esposa do rei. Os arcos são apressados e não são bem construídos. Em sua maioria funcionam como uma sequência de esquetes e piadas soltas intervaladas por sequências musicais.  

Lavelle é um jovem esperto e descontraído criado nas ruas do Queens que agora têm de lidar com uma vida de luxo Zamunda. O que é uma inversão do original onde o mimado e inocente Akeem enfrenta uma Nova York caótica e uma sociedade cruel. Uma inversão promissora e mal aproveitada, que nasce de uma sequência terrivelmente apressada e forçada. Onde presenciamos como o bastardo teria sido gerado anos atrás. Um problema ao assistir hoje o filme anterior são as piadas misóginas, a exposição da figura feminina e a voz das mulheres. Nisso o longa atual se sai melhor dando espaço ao empoderamento feminino (Ainda que pouco) e subvertendo algumas piadas do original. Mas falha apostando em chacotas datadas e contestáveis com por exemplo uma cena que envolve sexo não consentido.  

O design de produção e de figurino são muito bons, não ignoram o trabalho feito anteriormente e trazem também elementos e aspectos contemporâneos. O que pode ser comprovado na sequência inicial e no ótimo funeral do Rei Jaffe Joffer, o melhor momento do filme. “Um Príncipe em Nova York 2” traz um elenco pouco inspirado em um texto fraco e com uma direção no automático. Falha na construção de seus personagens e no desenvolvimento de seus arcos narrativos e exagera em cenas de propaganda e merchandising. Uma homenagem que não consegue evocar a nostalgia e que tenta forçá-la colocando em tela trechos e cenas do filme anterior. 

Nota do Sunça:

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Sunça no Streaming – Rebecca – A Mulher Inesquecível – Netflix (2020)

Uma jovem de origem humilde (Joan Fontaine) se casa com um riquíssimo nobre inglês (Laurence Olivier), que ainda vive atormentado por lembranças de sua falecida esposa. Após o casamento e já morando na mansão do marido, ela vai gradativamente descobrindo surpreendentes segredos sobre o passado dele.

121 min – 2020 – EUA

Dirigido por Ben Wheatley e roteirizado por Jane Goldman, Joe Shrapnel, Anna Waterhouse (baseado em romance de Daphne Du Maurier). Com Lily James, Armie Hammer, Kristin Scott Thomas, Keeley Hawes, Ann Dowd, Sam Riley, Tom Goodman-Hill, Mark Lewis Jones, John Hollingworth, Bill Paterson, Ben Crompton, Jane Lapotaire e Ashleigh Reynolds.

“Rebecca – A Mulher Inesquecível” é a nova adaptação do romance de Daphne du Maurier. No cinema os livros da autora encontraram em Alfred Hitchcock o condutor ideal para suas tramas de suspense. Foram três: “A Estalagem Maldita”, “Rebecca” e “Os Pássaros”. Ao assistir a nova obra, é impossível evitar a comparação com o longa de estreia de Hitchcock e vencedor do Oscar de melhor filme daquele ano. A refilmagem apresenta uma ótima produção, são ambientações e cenários lindos. Um bom elenco e um grande cuidado com o visual do filme. Mas peca no suspense e na falta de profundidade da trama e seus personagens. É engraçado como o trabalho de Hitchcock, que em 2020 fez oitenta anos, parece muito mais atual e relevante do que essa nova produção da Netflix. 

Uma jovem humilde (Lily James) se casa com um rico nobre, Maxim de Winter (Armie Hammer) e se muda para sua mansão na costa da Inglaterra. A nova Senhora de Winter logo percebe que o fantasma da antiga esposa de Maxim, a falecida Rebecca, é presente na vida e na casa de seu marido.  Ela passa a viver às sombras da a misteriosa esposa e aos poucos descobre segredos sobre o passado. Enquanto a versão de Alfred Hitchcock aposta no suspense, mistério e talento de seu elenco. A versão de 2020 foca em um visual bonito, com um lindo design de produção e figurinos elaborados. O diretor Ben Wheatley tenta construir o suspense e mistério pela ambientação e atmosfera. Porém seus planos coloridos e iluminados não conseguem captar o clima de uma história opressiva e assustadora. Em uma Trama surpreendente como a de “Rebecca” a narrativa é falha em construir suas várias reviravoltas. Faltam elementos que ao longo da trama nos preparem para certos acontecimentos e atitudes dos personagens. Um bom exemplo é a virada final que não ganha tempo suficiente para ser desenvolvida, acontece de forma acelerada e desleixada.  

“Rebecca – A Mulher Inesquecível” flerta com o horror psicológico e passa superficialmente pelo suspense e mistério. Com um ritmo lento apresenta revelações importantes sem o devido destaque.  Falha na construção de um clima claustrofóbico e não dá o devido valor a seus personagens. Uma refilmagem que deixa a desejar.

Nota do Sunça:

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Sunça no Streaming – É o Bicho! – Netflix (2020)

Em É o Bicho!, uma família recebe, como parte de uma herança, um circo e uma caixa mágica de biscoitos. Aquele que come algum biscoito dessa caixa, logo se transforma em um animal. Quando o tio Horatio P. Huntington começa a desejar se tornar dono do circo, eles farão de tudo para impedir que a atração caia em suas garras maléficas.

105 min – 2020 – EUA

Dirigido por Tony Bancroft, Scott Christian Sava e Jaime Maestro. Roteirizado por Dean Lorey, Scott Christian Sava (baseado na graphic novel Animal Crackers). Com John Krasinski, Emily Blunt, Lydia Rose Taylor, Ian McKellen, Danny DeVito, James Arnold Taylor, Tara Strong, Sylvester Stallone, Raven-Symoné, Wallace Shawn e Patrick Warburton.

A colorida e charmosa nova animação da Netflix, narra a história de um circo mágico. Trama que é levemente baseada nos quadrinhos “Animal Crackers” de Scott Christian Sava, um dos diretores e roteiristas do longa, e que conta com um elenco de peso. Emily Blunt, John Krasinski, Danny DeVito, Sir. Ian McKellen e Sylvester Stallone são alguns dos nomes envolvidos no projeto. Um filme divertido e agitado que certamente vai captar a atenção das crianças, mas que ignora a possibilidade de cativar e envolver um público adulto. “É o Bicho!” foca no público infantil apostando na multiplicidade de cores, vários animais e gags visuais, mas têm um roteiro raso e superficial. 

Nos anos sessenta somos apresentados a Horatio P. Huntington (Sir. Ian McKellen) o apresentador e estrela do circo Irmãos Huntington. Um personagem vaidoso que busca a fama e fortuna. Seu irmão Buffalo Bob (James Arnold Taylor) é simpático, bondoso e amigo de todos do circo. O que Bob realmente quer é entreter o público. Quando a personagem Talia (Tara Strong) entra para o espetáculo, ela passa a ser cobiçada pelos dois que acabam se tornando rivais pelo amor da moça. Tália e Bob se casam e Horatio deixa o circo. Como presente de casamento o casal recebe uma caixa mágica que traz o segredo dos animais. Esse é o prólogo narrado pelo palhaço Chesterfield (Danny DeVito). No presente e conhecemo o casal Owen (John Krasinski) e Zoe (Emily Blunt) e sua filha Mackenzee (Lydia Rose Taylor). Eles recebem de herança o circo e a caixa mágica e tem que lutar para reunir a família e salvar o espetáculo das garras de um antigo rival.

Em 2020 optar contar uma história que se passa em um circo de animais é uma escolha controversa. São espaços onde atualmente os bichinhos são proibidos, ambientes que ficaram marcados pelos maus tratos e torturas em treinamentos. Os animais como parte do show só se justifica dentro da trama pelo fato de serem mágicos e que os artistas e o público sabem disso. É um show de magia e encantamento. Mesmo assim, me incomoda a ideia de um filme infantil relacionar a diversão e alegria de um circo aos animais. Ainda que tenha o cuidado de torná-los mágicos e fantasiosos.  

A animação apresenta um design de personagem genérico, mas capricha nas sequências de ação. Os espetáculos no circo e as cenas de transformação em animais são cheia de energia, organizadas e bem ambientadas. Owen assume a forma de diversos animais e com alguns detalhes no design e com o trabalho de voz de John Krasinski o longa consegue dar unidade a todas essas formas e criações. O personagem Homem-Bala de Sylvester Stallone merece uma menção por evocar boas risadas. A direção de Jaime Maestro, Scott Christian Sava e Tony Bancroft, é ágil e rápida. Com um visual colorido animais e humanos se misturam em cenas de ação, aventura, humor e números musicais. Nessa correria o roteiro de Dean Lorey e Scott  Christian Sava, ignora e torce para que não tenhamos tempo de pensar por exemplo: Quem são os pais de Owen? Ou então que mágica é essa e de onde vêm. Nas palavras do sábio palhaço Chesterfield: “Maldição cigana, farinha velha, ácaros radioativos – quem sabe? Quem se importa? É mágico!”

“É o Bicho!” têm várias subtramas em uma narrativa acelerada que não perde tempo com explicações. Sua história possui três saltos temporais o que gera um efeito negativo de falta de conexão entre personagens importantes. O que faz falta ao longo da produção uma vez que no fundo seu tema é sobre família e relações familiares. Uma produção simpática e interessante, mas uma experiência que com o tempo é fadada ao esquecimento. 

Nota do Sunça:

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Sunça no Streaming – Wasp Network – Rede de Espiões – Netflix (2020)

Em Wasp Network: Rede de Espiões, durante a década de 1990, o governo de Cuba decidiu instalar um grupo de espiões em plena Flórida, no intuito de combater movimentos instalados no local, que buscavam desestabilizar o país com o objetivo de derrubar Fidel Castro.

133 min – 2020 – EUA

Dirigido por Olivier Assayas. Roteirizado por Olivier Assayas, Fernando Morais. Com Moura, Penélope Cruz, Edgar Ramírez, Gael García Bernal, Ana de Armas, Harlys Becerra, Julia Flynn, Gisela Chipe, Brannon Cross, Michael Vitovich, Steve Howard.

“Wasp Network: Rede de Espiões” novo longa da Netflix promete contar a história de uma ação do governo cubano para instalar um grupo de espiões na Flórida. O objetivo dos agentes era se infiltrar em movimentos que buscavam derrubar Fidel Castro. De fato, aqui existe uma boa história a ser contada. Porém, com uma trama muito fragmentada e sequências que não trabalham em conjunto para avançar a narrativa. A produção parece perdida e nunca decide qual é a história que vamos presenciar. É um elenco estrelado, que na medida do possível, apresenta bons trabalhos. A sensação que fica é de desperdício. O longa tem uma boa premissa e um bom elenco, mas não consegue nos apresentar uma experiência narrativa satisfatória. 

O diretor Olivier Assayas apresenta um filme sobre uma rede de espionagem sem espiões. Assayas opta por nos esconder a identidade dos agentes durante o primeiro ato da produção. Inicialmente acompanhamos um drama de desertores do governo de Fidel. Percebemos o impacto das ações de René González (Edgar Ramírez) em sua família e como sua esposa Olga Salanueva (Penélope Cruz) lida com a situação. Ao mesmo tempo acompanhamos o relacionamento de Juan Pablo Roque (Wagner Moura) e Ana margarita martinez (Ana de Armas). Em um segundo momento, a obra resolve nos revelar a rede de espionagem que lhe rendeu seu nome. Através de diálogos expositivos, letreiros e narração em off. Narração, que surge de repente, se repete mais uma vez em outra sequência e desaparece. Também some da trama os personagens de Wagner Moura e Ana de Armas. O arco do casal de nada acrescenta à narrativa que o longa tenta contar.  E é dessa forma rasa que é exposta todas as informações e tramas sobre a espionagem do filme. 

A narrativa retalhada é um dos fatores que atrapalham a experiência proporcionada. Mas não é a única. Diálogos artificiais deixam sequências truncadas e prejudicam os arcos dramáticos de determinados personagens. Como ponto positivo temos o elenco. Wagner Moura consegue roubar a cena em alguns momentos e Penélope Cruz apresenta uma ótima performance conseguindo demonstrar as fragilidades e a força de Olga. Uma personagem desperdiçada. Mulher forte que passa por dificuldades terríveis. São dois momentos de luta e superação em situações inversas mas que se repetem. 

O roteiro adota um tom neutro quanto ao seu posicionamento político. Mas o impacto disso na narrativa é uma falta de profundidade ao tema. Pela obra não é possível se ter uma noção histórica boa dos acontecimentos. E toda a história se passa na crise de Cuba durante a década de noventa, apresentando Fidel Castro, suas políticas e o relacionamento com os EUA de Bill Clinton. O que, sem uma base histórica forte se mostrou inviável. “Wasp Network – Rede de Espiões” é um filme fragmentado, com personagens em excesso, perdido em seu estilo narrativo e sem aprofundamento histórico.

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Judy: Muito Além do Arco-Íris (2020)

Inverno de 1968. Com a carreira em baixa, Judy Garland (Renée Zellweger) aceita estrelar uma turnê em Londres, por mais que tal trabalho a mantenha afastada dos filhos menores. Ao chegar ela enfrenta a solidão e os conhecidos problemas com álcool e remédios, compensando o que deu errado em sua vida pessoal com a dedicação no palco.

118 min – 2020 – EUA

Dirigido por Rupert Goold e roteirizado por Tom Edge. Com Renée Zellweger, Rufus Sewell, Finn Wittrock, Michael Gambon, Richard Cordery, Jessie Buckley, Bella Ramsey, John Dagleish, Gemma-Leah Devereux, Tim Ahern, Bentley Kalu.

“Judy: Muito Além do Arco-Íris” é uma cinebiografia de Judy Garland. A atriz, que já faleceu a cinquenta anos, estrelou “O Mágico de OZ” de 1939 quando tinha dezesseis anos. O título da obra já demonstra a tentativa de nos lembrar quem é Judy, já que, quando adulta, não foi um nome tão popular no Brasil. Garland foi uma cantora e atriz talentosa que estrelou outros filmes como “Agora seremos felizes” de 1944 e a segunda versão de “Nasce uma Estrela” de 1954. Judy é um ícone, com uma vida repleta de alto e baixos. O roteiro de Tom Edge escolhe retratar os últimos meses de sua vida, acompanhamos os abusos sofridos  pela atriz mirim, através de flashbacks, e podemos ver suas consequências na carreira e vida adulta da cantora. O longa do diretor Rupert Goold coloca Judy como uma figura triste e depressiva, que luta contra seus vícios em uma carreira decadente. 

Na obra Garland é uma mulher incerta de seu talento, viciada em antidepressivos, cigarro e álcool, que devido a alguns problemas financeiros têm de ficar longe de seus filhos. Alguém que sofre com a sensação de abandono e que foi explorada por seus talentos desde a infância. As sequências no passado, em sua maioria, se passam nos bastidores do longa “O Mágico de OZ”. Nelas Judy (Darci Shaw) é controlada e sofre abusos do produtor caricato Louis B. Mayer (Richard Cordery). A rotina da garota é controlada pelo estúdio MGM, ela é obrigada a tomar remédios para tirar a fome, remédios para a manter acordada e alerta, e remédios para dormir. Na fase adulta a atriz Renée Zellweger interpreta Judy Garland com muita dedicação, cuidado e talento. Além de emular fisicamente Judy, a atriz canta algumas das mais famosas canções que Garland interpretou. A voz de Renée impressiona e seus trejeitos e maneirismo remetem diretamente a Judy. Um trabalho que emociona e certamente vai lhe render premiações. 

Com foco na protagonista a obra acaba se esquecendo de seus personagens secundários que funcionam apenas como muletas para o arco narrativo da personagem título. Então o que temos são personagens como o namorado Mickey Deans (Finn Wittrock), a acompanhante Rosalyn Wilder (Jessie Buckley) e o ex-marido Sid Luft (Rufus Sewell). É um roteiro com problemas estruturais evidentes e personagens (Rasos e passageiros) com incoerências nas personalidades. Escolhe demonstrar Judy como alguém que teve um vida triste e depressiva, inferindo a culpa disso a abusos sofridos na infância. Com uma atriz principal dedicada e talentosa que apresenta uma performance emotiva, poderosa e cuidadosa. Performance que certamente vai ser o ponto forte e motivo de “Judy: Muito Além do Arco-Íris” ser lembrada daqui alguns anos.  

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Star Wars: A Ascensão Skywalker (2019)

Com o retorno do Imperador Palpatine, todos voltam a temer seu poder e, com isso, a Resistência toma a frente da batalha que ditará os rumos da galáxia. Treinando para ser uma completa Jedi, Rey (Daisy Ridley) ainda se encontra em conflito com seu passado e futuro, mas teme pelas respostas que pode conseguir a partir de sua complexa ligação com Kylo Ren (Adam Driver), que também se encontra em conflito pela Força.

142 min – 2019 – EUA

Dirigido por J.J. Abrams e roteirizado por J.J. Abrams e Chris Terrio. Com Daisy Ridley, John Boyega, Oscar Isaac, Adam Driver, Carrie Fisher e Kelly Marie Tran, Domhnall Gleason, Mark Hamill, Billy Dee Williams, Keri Russell, Ian McDiarmid.

Em 2015 “Star Wars: O Despertar da força” chegou aos cinemas. Para quem, assim como eu, ama a saga, o retorno da franquia foi um grande acontecimento. Dez anos depois de “Star Wars: A Vingança dos Sith”, encerrar a trilogia mais contestada da série, o diretor J.J. Abrams apostou na nostalgia. E acertou. Abrams conseguiu resgatar o que a série tinha de melhor. Não inovou, mas estabeleceu novos e interessantes personagens. Uma catadora “zé ninguém” que descobre a força, um Stormtrooper desertor, o piloto símbolo da Resistência e o Padawan prodígio que abraça o lado negro da força. O sucesso do retorno a amada Ópera espacial, abriu as portas para o excelente “Star Wars: Os Últimos Jedi” do diretor e roteirista Rian Johnson em 2017. 

Se o embate entre a luz e o lado negro, o bom versus o mal, sempre foi o ponto central de Star Wars, Johnson quebrou esse paradigma ao nos mostrar que os tradicionais lados do embate não eram tão opostos assim. A luz e a escuridão se confundem, andam lado a lado e convivem no mesmo espaço. O longa subverteu lugares-comuns da série, nos mostrou que os acontecimentos do passado devem servir como aprendizado e apresentou a ideia de que a força pode despertar em qualquer lugar e em qualquer “zé ninguém”. O diretor tomou decisões corajosas, empurrou a franquia para frente e inovou. O que, é claro, causou discussões e não agradou os fãs mais conservadores. A trilogia final focada na família Skywalker teve um ótimo início e um excelente desenvolvimento. E agora em 2019 J.J. Abrams retorna e dá um final sem graça e satisfatório para a saga.  

“Star Wars: A Ascensão Skywalker” não se preocupa em surpreender e não pretende inovar. O foco é fazer mais do mesmo. E restabelece a dualidade da força, ou você é bom ou você é mau. Se afasta das boas ideias propostas por “Os Últimos Jedi” e até mesmo ignora várias delas. É um filme feito para agradar o fã que “teve a infância arruinada” quando Rian Johnson expandiu arcos dramáticos de personagens já estabelecidos, aumentou o universo de possibilidades e mostrou que uma antiga franquia poderia se inovar aprendendo com o passado e traçar um rumo diferente para seu futuro. “A Ascensão Skywalker” é um filme que mostra para o fã conservador o que ele sempre quis ver, do jeito que ele queria ver, sem problematizar contextos, ideias e possibilidades. E tudo isso em uma trama que conta com “esquecimentos”, retornos mirabolantes, ameaças terríveis que são facilmente batidas, vários Deus ex machina e truques baratos de dramaturgia, como por exemplo mortes falsas para causar emoção (Sim, e mais de uma vez).

O Roteiro é simples, Kylo Ren (Adam Driver), após a morte de Snoke, se torna o novo Líder Supremo da primeira ordem. Rey (Daisy Ridley) continua seu treinamento para se tornar uma Jedi junto a uma resistência abandonada, desgastada e que tenta se reconstruir. Quando rumores de uma antiga e terrível ameaça aparecem, todos passam a temê-la e buscar formas de combatê-la, inclusive Kylo Ren. Um ressurgimento que surge do nada e que acaba com a mesma velocidade e impacto com o qual apareceu. Não foram apenas as inovações e decisões “polêmicas” que a obra decidiu esquecer, características importantes estabelecidas também parecem ter sofrido uma “nova interpretação”. Um bom exemplo é que nos episódios anteriores Poe Dameron (Oscar Isaac) era o melhor piloto da aliança, algo que não parece mais ser verdade. Fin (John Boyega), que ao lado de Rose (Kelly Marie Tran), teve contato com o lado cinza da galáxia, com seres que simplesmente não se importavam com a luta do bem contra o mal. Agora parece ter se esquecido de todo o aprendizado e remete muito mais ao personagem apresentado no “Despertar da força”.

A faceta humana de Rey e Kylo Rey apresentada no episódio anterior, mostrando um paralelo e a ligação entre os personagens, representado de forma física através da força. É aproveitada no capítulo final. Uma decisão acertada que se mostrou um dos maiores acertos do filme. A ligação estabelecida pela força é levada ao extremo, a ideia da díade é bem aproveitada e podemos ver bem as fraquezas e dúvidas dos protagonistas. Tudo é representado na tela em uma montagem elegante e visualmente interessante. Ainda que me pareça forçado o discurso de redenção e perdão. O Visual do longa e a criação da atmosfera impressiona. Remetem ao que temos de melhor na série e rendem belos duelos entre Rey e Kylo Ren. As cenas de ação são eficazes. Sequências de batalhas e confrontos vão ficar marcadas na memória. A homenagem a General Leia Organa (Carrie Fisher) é linda. Ela é incorporada a trama de forma orgânica, com truques de câmera e cenas não utilizadas em filmes anteriores.  Fisher faleceu em 2016, antes das filmagens de “A Ascensão Skywalker”. Não podemos dizer o mesmo da participação de Lando Calrissian (Billy Dee Williams), que têm aparições pontuais para empurrar a trama e servir como um dos vários Deus ex machina presentes na projeção.   

Em “Star Wars: A Ascensão Skywalker” os personagens têm motivações fracas, acontecimentos e aparições que apenas servem para faze-los deslocar de um lado para o outro no espaço e ameaças e obstáculos terríveis e impossíveis que são facilmente superados. O ponto central da trama depende de uma “carta na manga” controversa e vários acontecimentos e decisões justificadas como a “vontade da força”. Para encerrar uma saga iniciada em 1977, “A Ascensão Skywalker” opta pela nostalgia e por mais do mesmo. Abandona tudo de inovador e restabelece antigos parâmetros. Apresenta uma aventura espacial com estética bonita, ritmo acelerado e vínculo emocional. Um encerramento satisfatório, que aposta nas decisões seguras e que não faz jus ao legado da franquia.

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Rambo: Até o Fim (2019)

O tempo passou para Rambo (Sylvester Stallone), agora ele vive recluso e trabalha em um rancho que fica na fronteira entre os Estados Unidos e o México. Sua vida antiga marcada por lutas violentas, mas quase sempre vitoriosas, ficou no passado. No entanto, quando a filha de um amigo é sequestrada, Rambo não consegue controlar seu ímpeto por justiça e resolve enfrentar um dos mais perigosos cartéis do México. 

100 min – 2019 – EUA

Dirigido por Adrian Grunberg, roteirizado por  Matthew Cirulnick e Sylvester Stallone. Com Sylvester Stallone, Adriana Barraza, Yvette Monreal, Paz Vega, Fenessa Pineda, Óscar Jaenada e Sergio Peris-Mencheta.

Trinta e sete anos atrás chegou às telas “Rambo: Programado para Matar”, no original “First Blood”. A franquia teve mais três episódios, “Rambo 2: A Missão”, “Rambo 3” e “Rambo 4”. Hoje chega aos cinemas o quinto e último filme da série “Rambo: Até o Fim”, no original “Last Blood”. É triste perceber que o personagem chega em 2019 descaracterizado e desatualizado. Ainda que apresente bons momentos, a impressão final é a de que assistimos a um filme de ação genérico e sanguinário. Apenas Sylvester Stallone a as ideias de um ex combatente atormentado e um exército de um homem só, fazem a ligação de que esse protagonista é de fato John Rambo.  

A obra dedica seus dois primeiros atos a um drama. Uma tentativa de estabelecer relações e vínculos que justifiquem toda a trama e a violência que vamos presenciar. O roteiro de Matthew Cirulnick e do próprio Stallone, coloca o veterano de guerra “aposentado” no rancho de sua família. Ali, em um lugarejo do Arizona, Rambo vive na companhia de duas pessoas, Maria (Adriana Barraza) e sua neta Gabrielle (Yvette Monreal). Elas são o mais próximo que ele já chegou de ter uma família. Infelizmente eles acabam se envolvendo com uma quadrilha mexicana que obriga John a sair da “aposentadoria”. Após os dois primeiros atos que, através de diálogos expositivos, buscam demonstrar os vínculos dos personagens e criar empatia do espectador com as novas “mãe” e “filha” do protagonista. Chegamos as cenas de ação que se concentram, em sua maioria, no último ato. Sequências repletas de violência gore, com muitos desmembramentos e vísceras. Tudo mostrado e evidenciado sem pudor.

O que move a trama é a vingança. E o que incomoda, é o atraso conceitual que coloca personagens femininas sofrendo abusos físicos e sexuais como catalisador da história. Mais uma vez um homem forte e implacável vinga abusos sofridos por mulheres indefesas. Com seu personagem principal, “Rambo: Até o Fim” tenta uma abordagem mais profunda. A sequência inicial de enchentes em meio a uma tempestade, têm o objetivo claro de contextualizar uma incapacidade do personagem de lidar com frustrações. Um homem violento, maltratado pela vida e marcado por perdas e dores. É uma tentativa válida, que funciona razoavelmente. Stallone consegue transmitir a figura de um homem amargurado e perdido, sempre em busca da paz. Para John, o outro é o inimigo e o mal. Esse comportamento é justificado por seu próprio conflito interno. Um homem violento que não muda e que sim se controla a todo momento para conviver na sociedade.    

Os outros personagens nada têm a oferecer, suas atitudes e ações são unidimensionais. Gabrielle a adolescente teimosa, Maria a mãe carinhosa, os vilões Victor (Óscar Jaenada) e Hugo Martínez (Sergio Peris-Mencheta) são os malvados e sádicos líderes do quartel. O protagonista ainda recebe a ajuda da jornalista investigativa Carmen Delgado (Paz Vega), que tem como função justamente auxiliar o herói em dois momentos pontuais. E finalizando, a amiga de Gabrielle, Jezel (Fenessa Pineda) a catalizadora da trama que aparece e desaparece num piscar de olhos. 

Ainda que de forma sutil, existe sim a tentativa de colocar John Ramo como um “monstro” criado após uma vida de violência, na qual ele foi submetido. Na sequência final no celeiro, o diretor Adrian Grunberg opta por uma câmera subjetiva na visão do vilão. Essa opção coloca Rambo como um “bicho”, uma força implacável que aterroriza. 

Mas é nítida outra escolha falha e até mesmo irresponsável de “Rambo: Até o Fim”. A opção do roteiro pela história se passar nos Estados Unidos e colocar um ex militar americano enfrentando mexicanos é problemática. Vivemos na época dos discursos de ódio e de propostas malucas como a construção de muros separatistas. Optar por colocar os mexicanos como vilões e retratá-los como traficantes, ladrões e estupradores é problemática. Para os fãs do personagem é uma despedida nostálgica, violenta e sanguinolenta.

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Venom (2018)

San Francisco, Estados Unidos. Eddie Brock (Tom Hardy) é um jornalista investigativo, que tem um quadro próprio em uma emissora local. Um dia, ele é escalado para entrevistar Carlton Drake (Riz Ahmed), o criador da Fundação Vida, que tem investido bastante em missões espaciais de forma a encontrar possíveis usos medicinais para a humanidade. Após acessar um documento sigiloso enviado à sua namorada, a advogada Anne Weying (Michelle Williams), Brock descobre que Drake tem feito experimentos científicos em humanos. Ele resolve denunciar esta situação durante a entrevista, o que faz com que seja demitido. Seis meses depois, o ainda desempregado Brock é procurado pela dra. Dora Skirth (Jenny Slate) com uma denúncia: Drake estaria usando simbiontes alienígenas em testes com humanos, muitos deles mortos como cobaias.

112 min – 2018 – EUA

Dirigido por Ruben Fleischer , roteirizado por Jeff Pinkner, Scott Rosenberg, Kelly Marcel e Will Beall. Com: Tom Hardy, Michelle Williams, Riz Ahmed, Reid Scott, Scott Haze, Jenny Slate, Michelle Lee e Wayne Pére.

No mesmo ano em que os fãs de quadrinhos e de cinema de heróis, foram presenteados com os ótimos “Deadpool 2” e “Vingadores: Guerra Infinita”. Chega às telas o medíocre “Venom”. O longa da Sony relembra os anos dois mil, um momento em que os estúdios apenas queriam lucrar com seus “produtos”, sem se preocupar com a qualidade dos filmes baseados em quadrinhos. Vide “Demolidor (2003)”, “Mulher-Gato (2004)” e “Elektra (2005)”. De início o longa já têm uma enorme limitação, contar a história de um vilão do Homem-Aranha sem a presença do aracnídeo. A obra foi produzida apenas pela Sony sem o envolvimento da Marvel. E por isso, toma algumas liberdades com a origem do personagem. Nas hqs um simbionte alienígena se une a Peter Parker que ao perceber os malefícios que o ser de outro planeta está causando, se esforça para separar dele. O simbionte acaba com Eddie Brock um jornalista sem escrúpulos que teve uma matéria desmentida por Peter. O ódio que ambos sentem pelo Aranha acaba os unindo e assim se tornam o Venom, que inicialmente apenas quer matar o herói. Mas tudo isso é ignorado, uma vez que a obra não se passa no mesmo universo de “Homem-Aranha: De Volta ao Lar”.

Nunca escondi meu fascínio e admiração pelo Homem-Aranha, isso fica claro em meus textos. Logo, seria possível dizer que apenas a desconstrução do personagem Venom seria o suficiente para me desagradar. Porém a descaracterização do vilão é apenas um dos vários problemas dessa nova adaptação cinematográfica. Algumas modificações na origem do protagonista são acertadas. Eddie Brock (Tom Hardy) é um jornalista investigativo celebridade, seu programa o “The Brock Report” ataca os poderosos. Para conseguir isso, Eddie não mede esforços. Vivendo em São Francisco com sua noiva Anne Weying (Michelle Williams) somos informados de um passado ruim em Nova Iorque. Uma óbvia referência a origem de Eddie nos quadrinhos. O jornalista é intimado a entrevistar Carton Drake (Riz Ahmed) empresário e dono da Fundação Vida. Brock tira proveito de sua proximidade com Anne, que é advogada do escritório que defende a empresa, e descobre que estão acobertando mortes de voluntários para experimentos. Ao expor isso ele acaba causando sua demissão e a de sua noiva que termina o relacionamento com o anti-herói. Após perder tudo Eddie é caracterizado como um fracassado patético. Meses depois o jornalista recebe a informação de que a fundação está fazendo experimentos com humanos e simbiontes alienígenas coletados no espaço.

Um problema grave em “Venom” é a falta de tom na narrativa. De início temos a impressão de assistir a um longa de terror e suspense. A fotografia é sombria e as “possessões” dos seres de outro planeta aterrorizantes. Aos poucos o roteiro parece ir deixando de se levar a sério e passamos a ter uma sensação de despretensão. Situações extremas são facilmente resolvidas, as ações dos personagens perdem credibilidade e a narrativa ganha características de comédia. Outro problema é o excesso de diálogos expositivos ao longo de toda a trama. O que é escancarado quando o simbionte e Brock passam a dividir o corpo.  Eles então passam a conversar com diálogos risíveis. Alguns deles até parecem realmente ter o único propósito de divertir e fazer rir. Em determinado momento Venom “ensina” Anne como derrotá-lo, apenas porque essa informação é necessária ao final do longa.

Apesar da falta de coerência nas características dos personagens, Tom Hardy consegue fazer muito com o pouco que lhe é dado. Hardy têm carga dramática, timing cômico e trejeitos físicos exagerados que funcionam bem na narrativa. Outro acerto é o visual do vilão, a criatura parece ter saídos dos gibis. Exceto pela aranha branca no peito, por motivos óbvios. Já os demais personagens não apresentam o carisma e energia do protagonista, Carton Drake é o vilão com objetivos contestáveis e que no final apenas quer destruir o mundo. Michelle Williams parece estar sempre com preguiça e apresenta uma Anne Weying apática. Até nas cenas de ação, que deveriam ser um dos focos da obra “Venom” consegue falhar. São confusas, escuras demais e nada criativas. Na luta final é difícil entender o que acontece na tela. Com o objetivo claro de uma continuação e de iniciar um universo temos várias referências desde o jornal “Daily Globe”, a “She Venom” e até a série “Venom: The Madness”.

“Venom” é mais uma obra que não consegue aproveitar um personagem interessante. A relação Eddie Brock e simbionte, que é bem trabalhada nos quadrinhos aqui é reduzida a algumas boas piadas e lembretes a todo o momento de que não passamos de comida para o alienígena.

Obs. Existem duas cenas pós-créditos. A primeira, logo após aos créditos iniciais, mostra o objetivo claro de uma sequência. A segunda é um clip promocional de Homem-Aranha no Aranhaverso. Uma pequena cena que empolga mais que todo o filme que acabamos de presenciar.  

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Mentes Sombrias (2018)

Em um mundo apocalíptico, onde uma pandemia mata a maioria das crianças e adolescentes da América, alguns sobreviventes desenvolvem poderes sobrenaturais. Eles então são tirados pelo governo de suas famílias e enviados para campos de custódia. Entre elas está Ruby (Amandla Stenberg), que precisa se esconder entre as crianças sobreviventes devido ao poder que possui.

104 min – 2018 – EUA

Dirigido por Jennifer Yuh Nelson, roteirizado por Chad Hodge e Alexandra Bracken. Com: Amandla Stenberg, Harris Dickinson, Skylan Brooks, Miya Cech, Mandy Moore, Bradley Whitford e Gwendoline Christie.

Misture os poderes e causa mutante de “X-men”, acrescente a discriminação e separação por castas de “Divergente”. Some a distopia de “Maze Runner” e salpique o triângulo amoroso de “Crepúsculo”. Essa parece ser a receita de “Mentes Sombrias”, a nova tentativa de franquia da FOX. Sagas de sucesso focadas no público jovem adulto não são novidade. Porém, enquanto séries como “Harry Potter” apresentam universos fascinantes com riqueza de personagens e ideias, ou “Jogos Vorazes” que em seu interessante futuro distópico traz um questionamento político e a idéia de luta contra o sistema. “Mentes Sombrias” parece uma mistura apática das recentes produções com o foco nos adolescentes.

O filme, inspirado nos livros de Alexandra Bracken, demonstra uma preocupação de trazer um elenco diverso, o que é muito bom, e temas próprios de seu público alvo. Mas o roteiro de Chad Hodge e Alexandra Bracken aborda tudo de forma superficial e não inventivo. Um bom exemplo da falta de imaginação são os poderes das crianças que basicamente diferem entre telecinese, superinteligência, eletricidade, controle da mente e fogo. E porque a trama considera fogo muito mais perigoso que eletricidade ou levantar objetos com a mente, ainda permanece um mistério para mim.

Em um mundo apocalíptico uma pandemia erradica a maioria das crianças do planeta. As que sobrevivem à doença desenvolvem poderes sobre-humanos. O governo retira essas crianças de seus pais (Que parecem não se importar) e as colocam em campos de concentração onde são divididas por cores de acordo com seus respectivos poderes. Em meio a isso Ruby (Amandla Stenberg) escapa de uma dessas organizações governamentais e se reúne a um grupo de garotos, também fugidos, que buscam um lendário acampamento. O elenco está bem e não compromete. Amandla Stenberg demonstra talento sua Ruby emociona e se sai bem nas cenas de ação. Seu interesse romântico é Liam (Harris Dickinson), o alívio cômico fica na figura de Chubs (Skylan Brooks), traduzido como bolota. Completando o núcleo família temos a criança carismática Zu (Miya Cech). Os demais personagens pouco tem a apresentar, a Cate de Mandy Moore, que inicialmente dá a impressão de que vai participar mais da trama, logo some. O Presidente Gray de Bradley Whitford mal aparece e a Lady Jane de Gwendoline Christie, uma personagem interessante apresentada como grande ameaça no melhor estilo “Mad Max”, têm uma participação caricata e esquecível.

No fim, o que realmente incomoda em “Mentes Sombrias” é a impressão de ter assistido a um prólogo de quase duas horas. Com a intenção clara de iniciar uma franquia são deixadas várias pontas soltas e rumos a serem seguidos. E o pior é que uma continuação me parece pouco provável.

Nota do Sunça:

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