Sunça no Cinema – Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa (2021)

Em Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, Peter Parker (Tom Holland) precisará lidar com as consequências da sua identidade como o herói mais querido do mundo após ter sido revelada pela reportagem do Clarim Diário, com uma gravação feita por Mysterio (Jake Gyllenhaal) no filme anterior. Incapaz de separar sua vida normal das aventuras de ser um super-herói, além de ter sua reputação arruinada por acharem que foi ele quem matou Mysterio e pondo em risco seus entes mais queridos, Parker pede ao Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) para que todos esqueçam sua verdadeira identidade. Entretanto, o feitiço não sai como planejado e a situação torna-se ainda mais perigosa quando vilões de outras versões de Homem-Aranha de outro universos acabam indo para seu mundo. Agora, Peter não só deter vilões de suas outras versões e fazer com que eles voltem para seu universo original, mas também aprender que, com grandes poderes vem grandes responsabilidades como herói.

148 min – 2021 – EUA, Islândia

Dirigido por Jon Watts e roteirizado por Chris McKenna e Erik Sommers. Com Tom Holland, Zendaya, Benedict Cumberbatch, Jacob Batalon, Jon Favreau, Jamie Foxx, Willem Dafoe, Alfred Molina, Benedict Wong, Tony Revolori, Marisa Tomei, Angourie Rice, Arian Moayed, Paula Newsome, Hannibal Buress, Martin Starr, J.B. Smoove, J.K. Simmons, Haroon Khan, Thomas Haden Church.

Uma crítica de cinema não é uma validação de qualidade de um longa. Nem mesmo tem a função de dizer se determinada produção deve ou não ser assistida. Todo filme deve ser assistido. Ela pode ser um estudo e uma análise técnica sobre os elementos de uma obra. Também é as impressões, observações e percepções de uma determinada pessoa. A crítica é sim algo pessoal. Homem-Aranha é o personagem que tenho mais lembranças antigas. Ele sempre esteve presente em minha vida. Sou fascinado por seus quadrinhos, filmes, séries animadas e games. Tudo relacionado ao Aranha tem um lugar especial em meu coração. E isso não atrapalha meu olhar crítico, apenas faz parte dele e de minha experiência. Eu amo o Homem-Aranha.   

“Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” encerra a trilogia de Tom Holland à frente do personagem. O que chamou atenção do grande público e fez com que o filme batesse recordes de bilheteria se tornando um dos filmes mais bem sucedidos do Universo Cinematográfico da Marvel, é a aparição do multiverso. Porém o destaque fica para a história de amadurecimento desse Peter Parker. Ele agora se torna um herói. Nas franquias anteriores fomos apresentados a outros aracnídeos. Nos longas de Sam Raimi, Tobey Maguire era o nerd clássico que conhecemos nas hqs, mas deixava a desejar quando se tornava o brucutu Aranha. Já nas produções de Marc Webb o Peter de Andrew Garfield era descolado e sofria muito com seus problemas psicológicos, porém quando vestia o uniforme sua movimentação era incrível. Saltava, lutava e disparava piadas. Com as obras de Jon Watts, temos o personagem de Tom Holland que apresenta problemas no colégio e com sua tia. Um adolescente que queria ser herói e que quando combatia o crime trazia consigo a inexperiência de um garoto, porém com o sentimento de tentar fazer o que é certo. 

Eu gosto muito do Aranha de Tom Holland, mas algumas mudanças incomodaram fãs puristas do personagem. Ele é um garoto deslumbrado com a nova vida em que foi colocado, Peter queria ser um Vingador e queria impressionar Tony Stark. Tony se tornou seu mentor e fornecia ao herói uniformes tecnológicos. Tio Ben nunca apareceu, assim como seu ensinamento sobre responsabilidade. O Teioso não lida bem com sua vida dupla em momentos chave abre mão de estar com seus amigos e sua família para fazer seus deveres como herói. Porém seguia abraçado com a vida que queria e gostaria de levar como Peter Parker. Ingênuo, foi jogado em meio a batalhas gigantes e heróis invencíveis. “Sem Volta para Casa” pede ajuda às franquias anteriores do aracnídeo para que esse garoto possa olhar para si mesmo, rever suas escolhas, decisões e se transformar em um verdadeiro herói. Ele se corrige, mas sem perder a sua essência. 

O longa começa instantes após ao final de seu antecessor, “Homem-Aranha: Longe de Casa”.  Mysterio (Jake Gyllenhaal) revelou a identidade do Homem-Aranha através do Clarim Diário de J. Jonah Jameson (J.K. Simmons). Além de culpar o herói por sua morte. A vida de Peter Parker (Tom Holland) se transforma em um caos. Ele é investigado pela polícia, a imprensa o persegue e sua vida comum não existe mais. Algo que afeta também a vida de seus amigos e familiares. Peter parece suportar essa pressão, porém não consegue lidar com o fato de tudo isso afetar e machucar quem ele ama. Tia May (Marisa Tomei), MJ (Zendaya) e Ned Leeds (Jacob Batalon) também têm suas vidas despedaçadas. Desesperado, ele pede ajuda ao Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch), que cria um feitiço para fazer com que todos esqueçam que ele é o Homem-Aranha. Devido a intervenção de Peter a magia dá errado e seres de outros universos começam a surgir na sua realidade.

Na primeira etapa do filme vemos as consequências das ações de Mysterio. O clima é sempre de que algo ruim está para acontecer. As tentativas frustradas de Peter, MJ, e Ned, de entrar na universidade. Nos mostra, mais uma vez, como o herói não consegue se desapegar de seus planos como Peter Parker. Ele não abre mão da vida comum em detrimento a vida heroica. Peter não está preparado para fazer o grande sacrifício. Outro personagem que também é afetado é Happy (Jon Favreau), ele representa a segurança e o vínculo com o Homem de Ferro. Não à toa, ele está mais impotente e cada vez menos participativo na vida do Aranha. Atraídos pelo feitiço errado do Doutor Estranho, vilões de outros filmes do Homem-Aranha surgem nesse universo do MCU. São eles o Doutor Octopus (Alfred Molina), Duende Verde (Willem Dafoe) e Homem Areia (Thomas Haden Church) do universo de Tobey Maguire. Além de  Electro (Jamie Foxx) e Lagarto (Rhys Ifans) dos longas de Andrew Garfield. Essas participações tornam “Sem Volta para Casa” uma grande homenagem ao Homem-Aranha e seus filmes. A ideia de multiverso, que já tinha sido explorada no excelente “Homem-Aranha no Aranha Verso”, além de permitir a interação entre as franquias, possibilita fazer um conserto em todas elas. O que nos quadrinhos é conhecido como retcon. 

Na maior parte do tempo os personagens são bem aproveitados, o que é um grande feito para uma obra carregada deles. Mérito da dupla de roteiristas Chris McKenna e Erik Sommers. Alfred Molina está muito bem de volta ao papel de Doutor Octopus, ele parece se divertir e se emocionar. Willem Dafoe parece que nunca deixou de ser o Duende Verde, está intimidador, assustador e consegue explorar ainda mais seu personagem.  O Homem Areia de Thomas Haden Church teve seu arco muito bem resolvido no “Homem-Aranha 3” de Sam Raimi, logo, não teve muito a acrescentar e o texto teve que se virar para colocá-lo ao lado dos vilões. Jamie Foxx viveu mais uma vez o Electro, uma melhora significativa depois de sua última aparição tanto em motivação, tom e visual. O Lagarto de Rhys Ifans me pareceu o mais mal aproveitado, não adicionando muito a narrativa, ele é só mais um vilão a ser batido e gera algumas piadinhas de dinossauro. É interessante perceber como o filme permite a esses personagens evoluir em seus arcos dramáticos e participar novamente da formação de um Homem-Aranha. 

Tom Holland é um bom ator, e neste encerramento de sua trilogia, ele está excelente. Holland recebe muito mais material dramático, o qual, ele executa com maestria. Em meio a um elenco com grandes nomes, mais uma vez, ele consegue se destacar e impressionar. Marisa Tomei também recebe cenas fortes e intensas e se sai muito bem. Zendaya continua construindo sua MJ forte e interessante. O par romântico funciona e a química dos dois é ótima. Jacob Batalon é o alívio cômico e o protagonista de ações que testam nossa suspensão de descrença. Benedict Cumberbatch não tem muito material para trabalhar e seu Doutor Estranho é logo colocado de escanteio de uma maneira fraca e contestável.   

O filme está repleto de participações especiais e de easter eggs. Ter muitos segredos, forçou a produção a executar muitas filmagens em estúdio. Isso prejudicou um pouco. Jon Watts filmou várias cenas de ação diante de um fundo digital e a falta de inventividade do diretor, deixa alguns momentos artificiais. O roteiro em diversos momentos se apoia em diálogos expositivos e não consegue desenvolver bem todos os seus personagens. Temos muitas piadas e diálogos bobos e explicações desnecessárias. Apesar de problemático o texto constrói uma aventura excelente, uma ode as referência e ao que significa ser o Homem-Aranha. Importantes traumas acontecem, motivações do herói são construídas, sacrifícios são feitos e novos rumos tomados. O mestre ensina o aprendiz e o colega lhe mostra o caminho.       

“Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” é um evento tão grande como “Vingadores: Ultimato”. É a culminação de toda uma trajetória do personagem no cinema. É um final digno para quem precisava, um encerramento para o que estava aberto e um novo recomeço. Um retcon mascarado de nostalgia que evoca risos, saltos de aflição e choro nas salas de cinema. Em “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” o retorno do herói para a Marvel parecia acertado. Agora em 2021 ele se mostrou ideal. Aguardo com ansiedade para ver mais deste novo Homem-Aranha e as possibilidades que ele promete. A trilogia de Tom Holland nos mostrou um garoto que sonhava em ser herói e que aprende da forma mais dura o que é necessário para isso. “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” é o teste definitivo dessa encarnação do herói.  

Obs. São duas cenas pós-créditos. A primeira é extremamente desnecessária e demonstra as pretensões da Sony. A segunda ao final de todos os créditos é um teaser do próximo filme do Doutor Estranho (que já está disponível online). Fica aqui minha indignação, este encerramento de trilogia não precisava de cenas pós.

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Jungle Cruise (2021)

Jungle Cruise gira ao redor do malandro e brincalhão Frank Wolff (Dwayne Johnson), capitão do barco La Guilla. Ele é contratado pela Dra. Lily Houghton (Emily Blunt) e seu irmão McGregor (Jack Whitehall) para levá-los em uma missão pelas densas florestas amazônicas com a intenção de encontrar uma misteriosa árvore com poderes de cura que poderá mudar para sempre o futuro da medicina. No caminho, eles viverão inúmeros perigos, enfrentando animais selvagens e até mesmo forças sobrenaturais.Homem de Lata (Jack Haley) que anseia por um coração e um Leão covarde (Bert Lahr) que precisa de coragem. Será que o Mágico de Oz conseguirá ajudar todos eles?

127 min – 2021 – EUA

Dirigido por Jaume Collet-Serra e roteirizado por Michael Green, Glenn Ficarra, John Requa, John Norville e Josh Goldstein. Com Dwayne Johnson, Emily Blunt, Édgar Ramírez, Jack Whitehall, Jesse Plemons, Paul Giamatti, Veronica Falcón, Dani Rovira, Quim Gutiérrez, Andy Nyman.

“Jungle Cruise” é a nova tentativa da Disney de produzir uma franquia no estilo “Piratas do Caribe”. Ambas iniciativas foram criadas a partir de uma atração do parque que teve seus elementos expandidos e, ao seu redor, foi criado um universo mágico. A sequência está garantida pelo estúdio e a nova série foca na ação e aventura, com o enredo sobre caçadores de artefatos perdidos. Inspirado em clássicos como  “Tudo por Uma Esmeralda”, “Uma Aventura na África”, “A Joia do Nilo” e “As Minas do Rei Salomão”. A obra se constrói sobre um trio de protagonistas com a dinâmica de “A Múmia”, um vilão alemão estilo nazista que também está atrás do objeto em questão. Assim como em “Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida”. Tudo isso em um mundo mágico cheio de lendas, mistérios e inimigos amaldiçoados. Seguindo o caminho de “Piratas do Caribe”. 

Lembrar e se inspirar em filmes do gênero não é necessariamente algo ruim, mas pode soar repetitivo e cansativo. Dito isso, “Jungle Cruise” começa bem, dedicando sequências de apresentação a cada um de seus personagens, desenvolvendo suas personalidades e colocando o trio protagonista junto para assim iniciar a jornada.  No início somos surpreendidos com o cenário onde tudo vai acontecer, a Amazônia. Quando chegamos na cidade de Porto Velho em Rondônia, percebemos como é pobre a representação brasileira no filme. A caracterização do Brasil se dá através de menções a dengue e a anaconda, nossa cultura e costumes não são representados. A imagem do indigena é estereotipada e a falta de cuidado é tamanha que fica sugerido que no Brasil se fala espanhol. Vale notar que, para a obra, a cento e cinco anos atrás a moeda brasileira era o Real. Os roteiristas sequer imaginaram que nestes anos todos poderíamos ter mudado de papel-moeda. Essa falta de pesquisa histórica empobrece o filme e na prática o que temos é uma aventura genérica que poderia se passar em qualquer rio próximo a uma floresta.   

Frank (Dwayne Johnson) é um capitão de barco que sobrevive tirando proveito dos turistas. O ano é 1916 e a cidade de Porto Velho também atrai gananciosos que buscam se enriquecer com lendas. A Doutora Lily Houghton (Emily Blunt) e seu irmão MacGregor Houghton (Jack Whitehall) chegam na Amazônia em busca de uma árvore, que segundo a lenda, as pétalas podem curar todas as doenças. No Brasil Lily contrata Frank para levá-los em busca da lenda. 

Frank é um personagem que não é confiável, mas pede desculpas após trair alguém. Faz piadas de tiozão, ele é o brucutu bonzinho. Um personagem que funciona pelo grande carisma do The Rock. Lily é aventureira e inteligente, uma figura forte e determinada. Porém seu arco dramático se resume a busca pelo item mágico e infelizmente ela perde o protagonismo ao longo da trama. Seu irmão Jack é um personagem interessante e cômico. Ele discretamente assume sua sexualidade em uma conversa com Frank, o que é um marco importante para os filmes família da Disney. Mas o texto do longa o coloca como uma figura frágil, vaidosa e em situações de mal gosto. Uma representação estereotipada que enfraquece o personagem e a importante iniciativa da empresa. Príncipe Joachin (Jesse Plemons) é um protótipo de nazista caricato que busca as pétalas para usar em seu exército e vencer a primeira guerra mundial. O que surpreende nesse personagem é como Jesse consegue “entrar na brincadeira” e construir um personagem eficiente. 

O diretor Jaume Collet-Serra não sabe aproveitar o potencial da ambientação na selva amazônica e do rio Amazonas. São cenários que oferecem muitas possibilidades e pouco foi utilizado. As cenas de luta e ação são bem construídas e misturam o humor com a tensão. Muitas dessas sequências parecem planejadas para evocar a sensação de se estar em uma atração da Disney. No geral é um trabalho de direção padrão. Apesar de um bom primeiro ato que sabe apresentar seus personagens, utilizando suas características em conjunto com os cenários e o encanto da ambientação. Os efeitos especiais não ajudam. Ambientes são bem construídos e passam a ideia de grandiosidade e beleza. Mas o CGI falha em alguns momentos, ficando claro que os atores estão atuando diante de telas verdes e que os animais com os quais interagem não estão lá.  

“Jungle Cruise” é um divertido filme para toda a família. Mas se estabelece como uma produção genérica. A árvore mágica e suas pétalas existem apenas para que várias situações aconteçam, sem ter um impacto maior na trama.  Os vilões amaldiçoados tem pouco tempo de tela e aparecem pontualmente para mover os personagem de um local para o outro. Durante toda a trama existe a construção de um romance que não funciona. São bons personagens em um mundo fantástico passando por aventuras genéricas. É um filme inspirado em vários clássicos mas que se esquece de criar sua própria experiência. 

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – O Mágico de OZ (1939)

Em Kansas, Dorothy (Judy Garland) vive em uma fazenda com seus tios. Quando um tornado ataca a região, ela se abriga dentro de casa. A menina e seu cachorro são carregados pelo ciclone e aterrisam na terra de Oz, caindo em cima da Bruxa Má do Leste e a matando. Dorothy é vista como uma heroína, mas o que ela quer é voltar para Kansas. Para isso, precisará da ajuda do Poderoso Mágico de Oz que mora na Cidade das Esmeraldas. No caminho, ela será ameaçada pela Bruxa Má do Oeste (Margaret Hamilton), que culpa Dorothy pela morte de sua irmã, e encontrará três companheiros: um Espantalho (Ray Bolger) que quer ter um cérebro, um Homem de Lata (Jack Haley) que anseia por um coração e um Leão covarde (Bert Lahr) que precisa de coragem. Será que o Mágico de Oz conseguirá ajudar todos eles?

112 min – 1939 – EUA

Dirigido por Victor Fleming e roteirizado por Noel Langley, Florence Ryerson e Edgar Alan Woolf (baseado no romance The Wonderful Wizard of Oz, de L. Frank Baum). Com Judy Garland, Frank Morgan, Ray Bolger, Jack Haley, Bert Lahr.

“O Mágico de OZ” é um clássico. A imagem de cinco personagens visualmente diferentes caminhando pela estrada de tijolos amarelos é inesquecível. Assim como a maravilhosa canção “Somewhere Over The Rainbow”. Marcadas na memória também estão as frases: “Totó, acho que não estamos mais no Kansas” e “Não há lugar como o lar”. O longa é baseado no primeiro livro da série escrita por L. Frank Baum. Nele acompanhamos a história de Dorothy uma jovem do Kansas que através de um tornado é levada ao mágico mundo de OZ. No Kansas conhecemos sua família e seus afetos e desafetos. Esses personagens criam um paralelo com as novas amizades e inimizades criadas em OZ. 

Na trama Dorothy (Judy Garland) acidentalmente mata a bruxa má do leste, o que deixa os moradores locais, os muchkins, muito felizes. Agrada também a bruxa boa do Norte, Glinda (Billie Burke). Quem não fica feliz é a irmã da falecida, a bruxa má do oeste (Margaret Hamilton), que resolve se vingar. Dorothy e Totó partem em uma jornada para conseguir a ajuda do Mágico de OZ. No percurso ela fica amiga do Espantalho (Ray Bolger) que não têm um cérebro, um leão (Bert Lahr) que não tem coragem e um Homem de Lata (Jack Haley) que não têm um coração. Todos eles resolvem acompanhar Dorothy e pedir ajuda ao mágico para resolver seus problemas. 

É um roteiro eficiente que transforma uma garota do interior cansada de sua rotina em uma heroína num mundo mágico repleto de descobertas e novos amigos. Uma mudança pontuada pela fotografia e pelo diretor do longa. As cenas no Kansas são retratadas em tons sépia e as cenas em OZ em belas cores technicolor. A parte técnica do filme merece destaque. A fotografia com cores vibrantes, os cenários extremamente bem feitos e os efeitos visuais de qualidade nos deixam maravilhados e nos colocam dentro de OZ. São planos e sequências que parecem pinturas. O diretor Victor Fleming faz um ótimo trabalho nas coreografias e sequências musicais. Além de contar com interpretações ótimas, que criam personagens caricatos e divertidos. A maquiagem é incrível e nos deixa acreditar em espantalhos, homens de lata, leões e bruxas malvadas.

“O Mágico de OZ” é um filme infantil, que apresenta uma mensagem de afeto e bondade. Traz a ideia de “Não há lugar como nosso lar” e a temática de que aquilo que procuramos está em nós mesmos. São debates bem construídos e passíveis de várias interpretações. Ainda temos toda uma camada crítica. A relação abusiva entre a bruxa má e os munchkins e as atitudes autoritárias de OZ são bons exemplos. Dorothy sempre teve tudo o que precisava para derrotar a bruxa má, assim como seus amigos já tinham tudo aquilo que buscavam. “O Mágico de OZ” nos convida a perceber como é mágica nossa própria vida e como somos mais fortes e capazes do que imaginamos.  

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – Cry Macho: O Caminho para Redenção (2021)

Cry Macho – O Caminho Para a Redenção conta a história de Mike Milo (Clint Eastwood), um ex-astro de rodeio e criador de cavalos fracassado, que, em 1979, aceita uma proposta de trabalho de um ex-chefe para trazer Rafa (Eduardo Minett), o jovem filho desse homem, de volta do México para casa. A dupla improvável enfrenta uma jornada inesperadamente desafiadora, durante a qual o cavaleiro cansado do mundo pode encontrar seu próprio senso de redenção ensinando ao menino o que significa ser um bom homem.

101 min – 2021 – EUA

Dirigido por Clint Eastwood e roteirizado por Nick Schenk, N. Richard Nash (baseado no romance Cry Macho, de N. Richard Nash). Com Clint Eastwood, Dwight Yoakam, Eduardo Minett, Natalia Traven, Fernanda Urrejola, Horacio Garcia Rojas, Alexandra Ruddy, Ana Rey e Paul Lincoln Alay.

Em 1971 Clint Eastwood apresentou seu primeiro trabalho de direção, o longa: “Perversa Paixão”. Cinquenta anos se passaram, e agora, em 2021, Clint aos 91 anos estrela e dirige “Cry Macho: O Caminho para a Redenção”. A obra não esconde a idade de seu protagonista. Ele é um nonagenário e isso dita a narrativa e o ritmo da obra. Não à toa, em determinado momento ele afirma: “Eu não posso curar velhice”. A trama do filme se passa em 1979 e Eastwood é o ex-caubói Mike Milo, que recebe uma missão de um antigo chefe. Essa simples premissa é o que se faz necessário para a construção de uma ponte entre o personagem e a própria vida e carreira do ator. O importante é o debate entre o velho e o novo, a interação entre o mestre e seu aprendiz e a desconstrução da cultura do macho.

Situações, acontecimentos, outros personagens e até seu próprio preparo físico, relembram Mike de sua idade. Assim a obra se coloca como uma vivência cotidiana, um senhor de idade avançada que se vê obrigado a viver novas aventuras e perceber que a vida ainda é repleta de oportunidades. O protagonista é um peão de rodeio aposentado que perde seu atual emprego. Um ano depois recebe de seu ex-chefe, Howard Polk (Dwight Yoakam), a tarefa de buscar seu filho de treze anos no México. O garoto rebelde, Rafo (Eduardo Minett), sofre abusos de sua mãe e o pai o quer de volta. Mike Milo encontra o garoto em uma briga de galos com seu animal campeão nomeado: “Macho”. Os dois partem em uma viagem de volta ao Texas. Mike e Rafo apresentam uma química confortável apesar de o roteiro não entregar profundidade para a relação. 

Durante o percurso os dois se tornam amigos e juntos vivem uma jornada repleta de descobertas. A trama funciona como um faroeste moderno, apesar de não se preocupar em sugerir uma grande importância para seus acontecimentos. Seus planos são claros, limpos e diretos. O ritmo é lento e suas sequências têm mais tempo que o de costume para acontecer. Seus conflitos e momentos dramáticos não recebem destaque e em sua maioria são resolvidos de forma cômica ou anticlimática. Os momentos simples e cotidianos são o que realmente importam e o que nos trazem reflexões. O protagonista está sempre tentando ajudar os demais personagens e aos poucos abraçando as novas oportunidades de uma vida que parecia sem perspectivas.   

A narrativa é simples, conta uma história clichê, com um romance apressado e alguns diálogos expositivos. Porém esses problemas não conseguem tirar o brilho do debate que o diretor propõe sobre a velhice, sua carreira e a desconstrução da masculinidade idealizada. Mike Milo tenta mostrar a Rafo que a ideia de “macho” é uma grande bobagem. Rejeitando os ideais de masculinidade que o próprio Clint Eastwood representou por anos nas telas. Milo percebe que é no cotidiano e na generosidade que se encontra alguma satisfação e alegria.  

“Cry Macho: O Caminho para a Redenção” é a experiência de assistir Clint Eastwood aos 91 anos desconstruir e reconstruir a si mesmo. Não é sobre a proximidade da morte ou sobre o fim da vida. Mas sobre a necessidade de fazer escolhas e tomar decisões. É sobre o dia-a-dia e as oportunidades que ele nunca para de nos oferecer.

Nota do Sunça:

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Sunça no Cinema – O Esquadrão Suicida (2021)

Liderados por Sanguinário (Idris Elba), Pacificador (John Cena), Coronel Rick Flag (Joel Kinnaman), e pela psicopata favorita de todos, Arlequina (Margot Robbie), o Esquadrão Suicida está disposto a fazer qualquer coisa para escapar da prisão. Armados até os dentes e rastreados pela equipe de Amanda Waller (Viola Davis), eles são jogados (literalmente) na remota ilha Corto Maltese, repleta de militantes adversários e forças de guerrilha. O grupo de supervilões busca destruição, mas basta um movimento errado para que acabem mortos.

132 min – 2021 – EUA

Dirigido e roteirizado por James Gunn. Com Margot Robbie, Viola Davis, Joel Kinnaman, Jai Courtney, Idris Elba, John Cena, Sylvester Stallone, Peter Capaldi, David Dastmalchian, Daniela Melchior, Dee Bradley Baker, Michael Rooker, Alice Braga, Pete Davidson, Nathan Fillion, Sean Gunn, Flula Borg, Mayling Ng, Steve Agee, Taika Waititi, Storm Reid, Jennifer Holland e Ernesto Álvarez.

Após dois filmes de sucesso dos “Guardiões da Galáxia” na Marvel, James Gunn, assume o comando de “O Esquadrão Suicida” na DC. Tendo assim a difícil missão de arrumar a casa depois do fraco “Esquadrão Suicida” de 2016. Gun aposta no deboche e em elementos “trash” dos filmes B para construir seu universo irônico onde nada importa e tudo é descartável.  Sangue, violência gráfica e estilizada, palavrões e xingamentos, constroem o clima anárquico e ridículo daquela equipe e sua missão. O longa não se leva a sério mas não esconde as consequências das atitudes sanguinárias de seus personagens. É justamente no contraste entre o humor leve e a violência gráfica, ou, entre a empatia e o desprezo, que a obra cria sua identidade.

O diretor e roteirista James Gunn, cria um novo patamar de ridículo ao encontrar nos arquivos da DC personagens esquecidos e irrelevantes da editora. São vilões e poderes esdrúxulos.  Para citar alguns, temos o Doninha (Sean Gunn), o O.C.D. (Nathan Fillion) e o  Bolinhas (David Dastmalchian). Bolinhas tem um superpoder absurdo e é incrível como o diretor e o ator nos mostram isso em tela. São muitos personagens, todos interessantes e descartáveis. A importância deles não é nula apenas para a chefe Amanda Waller (Viola Davis), mas também para a obra. São mortes exageradas e inventivas em sequências esteticamente lindas. Portanto, não se apegue a ninguém.   

“O Esquadrão Suicida” é uma sequência do longa de 2016, porém é também um novo começo para a franquia. A nova equipe é formada por Sanguinário (Idris Elba), Pacificador (John Cena), Caça-Ratos 2 (Daniela Melchior), Tubarão-Rei (Voz de Sylvester Stallone) e Bolinhas. Juntos a eles, temos os já conhecidos Rick Flag (Joel Kinnaman) e a Arlequina (Margot Robbie). O novo time é enviado para a ilha Corto Maltese que acabou de sofrer um golpe militar. O objetivo é destruir o Projeto Starfish para que o novo governo não seja capaz de utilizá-lo. Essa é a trama. Uma explosão absurda, ridícula e cômica. O filme também funciona como uma crítica ao imperialismo e a política externa dos Estados Unidos. O verdadeiro motivo da missão do esquadrão, deixa claro como o intervencionismo externo estadunidense destrói nações e justificam atrocidades. Sempre alegando a falsa busca pela paz. A personificação dessa postura incoerente e rasa é o personagem Pacificador. Em suas próprias palavras: “Valorizo a paz com todo meu coração, não importa quantos homens, mulheres e crianças eu terei que matar para consegui-la”.  

O roteiro não suaviza a vilania dos personagens, eles fazem atrocidades sem hesitar. O time de vilões não pensa duas vezes antes de dizimar uma vila de nativos. Para apenas depois de toda aniquilação se perguntar quem eram aquelas pessoas, ou, se deveriam mesmo estar fazendo aquilo. Como a personalidade de cada membro é bem definida, do convívio deles resulta ótimas sequências. A equipe principal funciona muito bem, a interação dinâmica entre os personagens e seus diálogos incisivos evidenciam os contrastes entre aqueles seres. Sanguinário é o líder cínico que tem uma bússola moral própria, o Pacificador é o brucutu pastelão que não percebe suas incoerências e a Caça Ratos 2 é a moralidade e a empatia do grupo. Ainda temos o Tubarão Rei, um tubarão antropomórfico sanguinário e com pouca inteligência. Um ótimo trabalho de voz do Stallone. O estranho Bolinhas e seus poderes bizarros possibilitam ótimas sequências, com destaque para a forma como ele externa seus traumas.  Margot Robbie é cada vez melhor como a Arlequina. Em uma sequência violenta e esteticamente bela,  podemos ver como sua realidade é separada do mundo real à sua volta.

A trama se passa ao longo de uma missão. A montagem do longa deixa tudo mais ágil ao saltar entre passado, futuro e presente. Gun sabe amarrar tudo com sequências memoráveis, inventivas e bonitas. É nítida a preocupação de deixar a ação clara e criar ritmo e energia para o filme. Porém ao final fica a sensação de uma ruptura com toda a proposta inicial, seja no contexto da crítica política ou no caos proposto. Ainda que seja possível a interpretação de que o maldito imperialismo sempre vence. (O que a cena pós-créditos deixa bem claro) É triste pensar que após a revelação do real motivo da missão os personagens seriam coniventes com as autoridades, das quais, acabaram se rebelando momentos antes.                

“O Esquadrão Suicida” mantém um nível alto de humor ao longo de todo o filme. Sabe lidar com o absurdo e ridículo de sua trama, sem ter medo de colocar em cena um monstro de proporções exageradas. Vale um elogio a alegoria que esse “monstro” do ato final representa. É válida a crítica ao imperialismo e aos governos autoritários e seus seguidores. Também se faz presente a ideia de que nem sempre o inimigo do meu inimigo é meu amigo. Isso na figura dos guerrilheiros combatentes ao regime ditatorial, que se aliam a um mal para evitar outro mal. A história nos mostra que isso nunca é uma boa ideia. Uma obra com estética incrível que consegue ser sombria e extremamente brilhante e colorida. James Gunn cumpre a sua missão de resgatar o esquadrão, e agora, pode voltar tranquilo para a Marvel.

Nota do Sunça:

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Sunça no Streaming – Space Jam: Um Novo Legado – HBO Max (2021)

Em Space Jam: Um Novo Legado, a inteligência artificial, Al G (Dom Cheadle) sequestra o filho de Lebron James e envia o lendário jogador dos Los Angeles Lakers para uma realidade paralela, onde vivem apenas os personagens de desenho animado da Warner Bros. Para resgatar o seu filho, ele precisará vencer uma partida épica de basquete contra superversões digitais das maiores estrelas da história da NBA e da WNBA. Para essa dura missão, King James terá a ajuda de Pernalonga, Patolino, Lola Bunny, dentre outros personagens consagrados de Looney Tunes.

115 min – 2021 – EUA

Dirigido por Malcolm D. Lee. Roteirizado por Juel Taylor, Tony Rettenmaier, Keenan Coogler, Terence Nance, Jesse Gordon, Celeste Ballard. Com LeBron James, Don Cheadle, Cedric Joe, Khris Davis, Sonequa Martin-Green, Ceyair J Wright, Harper Leigh, Xosha Roquemore, Stephen Kankole, Jalyn Hall, Wood Harris, Jordan Thomas, Sue Bird, Anthony Davis, Draymond Green, Damian Lillard, Klay Thompson, Nneka Ogwumike, Diana Taurasi, Aja Wilson, Randy Mims, Gerald ‘Slink’ Johnson, Sarah Silverman, Steven Yeun, Ernie Johnson, Lil Rel Howery, Michael B. Jordan, Jeff Bergman, Zendaya, Gabriel Iglesias, Eric Bauza, Candi Milo, Bob Bergen, Fred Tatasciore, Rosario Dawson, Justin Roiland, Kimberly Brooks.

Em 1996 “Space Jam: O Jogo do Século” colocou Michael Jordan ao lado dos Looney Tunes em uma partida de basquete para salvar a vida de nossos queridos personagens animados. Agora em 2021 a Warner repete a parceria de um grande astro da NBA com Pernalonga e sua turma em “Space Jam: Um Novo Legado”. O primeiro longa tinha uma história simples apenas para justificar o encontro dos desenhos e Michael. Apesar de falho é lembrado com muito carinho por todos que o assistiram na época. Eu sou um deles. A sequência retrata o encontro dos cartuns com o jogador, e astro da NBA, LeBron James. 

“Space Jam: Um Novo Legado” falha ao não evocar o sentimento de nostalgia. Tirando algumas pequenas menções e o fato de os Looney Tunes demonstrarem que lembram dos acontecimentos do primeiro filme, a sequência evita o assunto. O que frustra os fãs que ficam eternamente esperando uma referência, e olha, que referências não faltam. A obra tem como um de seus pilares mencionar e remeter a produções da Warner, todas presentes na HBO Max. Logo, a projeção funciona como uma grande propaganda do catálogo do serviço de streaming. É estranho pensar que o próprio longa original é parte desse acervo, e, logo, poderia facilmente estar presente na trama. O Tune Squad merecia relembrar os seus tempos de glória. “Um Novo Legado” não é um reboot e também não é uma sequência. Mas se mostra como um resgate de Pernalonga e sua turma, sem vergonha de apontar o dedo para a Warner e dizer que a empresa deixou seus personagens de lado. Nesse ponto acerta em cheio, valorizando e trazendo à tona os Looney Tunes que tanto amamos. 

Na trama a inteligência artificial Al G Rhythm (Don Cheadle) sequestra o filho de Lebron James e força o jogador a entrar em uma realidade virtual (Acervo da HBO Max) onde estão todos os personagens de filmes e franquias da Warner. Lebron tem que convocar um time e vencer uma partida de basquete para ter seu filho de volta. Dessa vez não são os Looney Tunes que precisam de ajuda, e sim, o astro da NBA. Como James pode optar por qualquer personagem/pessoa dentro deste catálogo, os cartuns não eram sua primeira opção. Lebron acaba aceitando os desenhos animados em seu time por falta de opção. O filme dedica um bom tempo a seleção e convocação dos jogadores, e ao invés de trazer piadas divertidas com os personagens em franquias do estúdio, opta pelo caminho mais fácil apenas retratando cada um deles em outras obras do serviço de streaming. Fazendo assim um passeio pelo catálogo da HBO Max. O aguardado encontro de Lebron com Pernalonga, Patolino, Lola e os demais, demora a acontecer. Quando acontece é frustrante, ao invés da versão em carne e osso do jogador é uma versão cartunesca e animada que conhece os Looney Tunes. Essa é a “forma” do jogador por boa parte da projeção.       

O vilão Al G Rhythm é uma opção interessante. A pronúncia de seu nome é “Algoritmo” e seu plano é como os algoritmos de redes sociais e streamings funcionam. Com todo o banco de dados da Warner a sua disposição, ele queria produzir diversos filmes e séries com o astro da NBA unindo diferentes franquias com o único objetivo de gerar lucro. Quando Lebron James nega o convite, ele surta e rapta seu filho. Os algoritmos são um grande problema que enfrentamos hoje em dia, acho extremamente louvável debatê-los e criticá-los. Realmente me parece uma ótima ideia colocá-lo como vilão. O problema é que “Space Jam: Um Novo Legado” parece exatamente uma das obras que Al G Rhythm queria produzir.    

Don Cheadle é um vilão caricato e megalomaníaco. Lebron James demonstra carisma e um nível de atuação melhor do que o de Michael Jordan. A família de Lebron no filme são atores o que faz o longa perder um pouco a magia. No original tivemos a família verdadeira de Michel o que perdeu em qualidade de atuação, porém agrega em verossimilhança. Outro problema é que a obra dedica boa parte de seu tempo a uma relação problemática entre Lebron e seu filho Dom James (Cedric Joe). Um problema entre pai e filho que não evolui e toda vez que aparece em cena é a mesma problemática piegas. 

Não é surpresa que o melhor de “Space Jam: Um Novo Legado” seja justamente o jogo de basquete. A sequência que a obra dedica menos tempo, ao longo de sua duração. O texto inclusive interrompe o jogo para voltar com o conflito piegas de pai e filho. Porém quando os Looney Tunes colocam em quadra seu humor pastelão e trejeitos característicos é quando tudo ganha vida. Assistir a partida exige um esforço, já que o longa, literalmente, nos obriga a ver e procurar referências vazias ao longo de toda a sequência final. “Um Novo Legado” nos permite matar as saudades de nossos queridos cartuns, demonstra amor por esses personagens e uma vontade de voltar a dá-los o destaque merecido. Pena que isso aconteça em um filme de referências vazias, e que se recusa a referenciar o seu original. Insiste em um drama bobo que não evolui e faz mais propaganda do que devia sem ao menos saber tirar proveito do catálogo que tanto exibe.

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Sunça no Cinema – Viúva Negra (2021)

Em Viúva Negra, acompanhamos a vida de Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) após os eventos de Guerra Civil. Se escondendo do governo norte-americano devido a sua aliança com o time do Capitão América, Natasha ainda precisa confrontar partes de sua história quando surge uma conspiração perigosa ligada ao seu passado. Perseguida por uma força que não irá parar até derrotá-la, ela terá que lidar com sua antiga vida de espiã, e também reencontrar membros de sua família que deixou para trás antes de se tornar parte dos Vingadores.

133 min – 2021 – EUA

Dirigido por Cate Shortland. Roteirizado por Eric Pearson (baseado em história de Jac Schaeffer e Ned Benson). Com Scarlett Johasson, Florence Pugh, David Habour, Rachel Weisz, Ray Winstone, Ever Anderson, Violet McGraw, O-T Fagbenle, William Hurt, Olga Kurylenko, Michelle Lee, Liani Samuel, Nanna Blondell, Ray Winstone.

“Viúva Negra” é um filme que chega tarde ao universo cinematográfico da Marvel. Após o final de sua personagem em “Vingadores: Ultimato” Scarlett Johansson volta a interpretar a espiã em um filme flashback. A produção funciona como um interlúdio entre os filmes “Capitão América: Guerra Civil” e “Vingadores: Guerra Infinita”. Natasha Romanoff é conhecida no contexto da Marvel, logo, a opção foi explorar seu lado mais humano e vulnerável. O que é um acerto, já que é nesse aspecto onde reside a força da personagem. Porém, os acontecimentos do passado retratados na obra, não mostram seu treinamento na Sala Vermelha ou missões antigas quando ainda era uma agente russa. Também não aborda o momento em que ela deserta para a SHIELD. A trama no passado tem como objetivo contextualizar a personagem na sequência dos filmes e busca também apresentar a nova Viúva Negra daquele universo.  

Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) após os eventos de Guerra Civil está foragida do governo americano e busca refúgio no exterior. Surge então uma conspiração ligada ao seu passado, forçando Natasha a lidar com sua antiga vida de espiã e reencontrar membros de sua “família”. O reencontro com sua irmã Yelena Belova (Florence Pugh) vem com a missão de resgatar outras mulheres vítimas dos abusos ocorridos na Sala Vermelha. É assim que o roteiro de Eric Pearson constrói um paralelo sobre abuso contra a mulher. A violência, manipulação, tortura física e psicológica aparecem no contexto da tranformação dessas jovens em agentes. Porém remetem a abusos diários sofrido pelas mulheres. Agentes que não são livres nem mesmo em seus pensamentos. Essa construção está no longa, mas não é aprofundada.   

Yelena é teimosa, impulsiva e humana. É uma boa apresentação da personagem que junto a Natasha protagonizam as melhores cenas da obra. Seja nas cenas de ação, como na ótima luta entre as duas na cozinha, ou em cenas íntimas e sentimentais.  A química entre Florence Pugh e Scarlett Johansson funciona. Natasha perde a “família” Vingadores e têm de lidar com problemas de sua “família” do passado, enquanto enfrenta um vilão que imita seus movimentos. O Treinador é a materialização de suas atrocidades do passado.  Alexei Shostakov (David Harbour) é o Guardião Vermelho, uma espécie de Capitão América soviético. Ele é a figura paterna das irmãs e o alívio cômico do filme. Melina Vostokoff (Rachel Weisz) é uma figura materna e uma Viúva importante para o funcionamento da Sala Vermelha. A trama nos oferece boas sequências com a “família”, porém os personagens Alexei e Melina pouco tem a acrescentar. 

A diretora Cate Shortland cria um visual diferenciado para o filme. São vários planos de plongée, uma fotografia preocupada em marcar sequências, cores que ajudam na narrativa e cenas de ação tem o cuidado de deixar tudo claro. “Viúva Negra” é o segundo longa da Marvel com uma protagonista, que venham mais. Natasha Romanoff ganha sua despedida mostrando sua força e seu lado humano, e introduz a nova Viúva do Universo Cinematográfico da Marvel.

 

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Sunça no Cinema – Se Meu Fusca Falasse (1968)

Herbie, um Fusca com personalidade própria, desprezado por um mau caráter que dono de uma agência de automóveis de luxo e piloto de corridas. Mas o Fusca acolhido por um piloto boa praça (Dean Jones) e, em gratidão, o pequeno carro lhe dá diversas vitórias, acabando com a maré de azar do piloto, que inicialmente não entende que foi o fusquinha quem ganhou as corridas. Porém, ele aos poucos entende que o carrinho o principal responsável pelas vitórias e decide correr sempre com ele. Mas ambos terão que lutar contra um rico rival, que usa toda a espécie de golpes sujos para derrotá-los.

108 min – 1968 – EUA

Dirigido por Robert Stevenson. Roteirizado por Bill Walsh, Don DaGradi (baseado em história de Gordon Buford). Com Dean Jones, Michele Lee, David Tomlinson, Buddy Hackett, Joe Flynn, Benson Fong, Joe E. Ross, Iris Adrian, Gary Owens, Chick Hearn, Andy Granatelli, Ned Glass, Robert Foulk, Gil Lamb.

Um Fusca atrapalhado, consciente e com sentimentos. Esse é Herbie o corredor número cinquenta e três, que ganhou nossos corações e se tornou um dos carro mais icônicos do cinema. Talvez, o carro mais icônico do cinema.  “Se Meu Fusca Falasse” é um filme de família clássico. Tenho ótimas lembranças de assistir ao filme com minha avó. É bem provável, que nesses momentos de diversão tenha surgido minha paixão (fixação) pelos fuscas. Herbie fez muito sucesso e protagonizou cinco longas, uma série de TV com cinco episódios e revistas em quadrinhos. A obra foi a última produção da Disney com a participação de Walt Disney. Infelizmente ele faleceu em 1966 e não assistiu ao filme pronto. Walt sugeriu a adaptação do conto “Car, Boy, Girl” de Gordon Bufford. Então, os roteiristas Bill Walsh e Don DaGrandi escreveram essa comédia com estrutura episódica que exala simpatia.  O diretor Robert Stevenson, responsável por vários filmes do estúdio, mesclou a comédia com emoção e capturou belas coreografias de corrida com planos de câmera certeiros. 

Jim Douglas (Dean Jones) é um piloto de corrida fracassado e mora com o amigo Tennessee Steinmetz (Buddy Hackett). Jim encontra o “pequeno carro” em uma loja de automóveis sofisticados e importados. Ele acaba se envolvendo com a vendedora Carole Bennett (Michele Lee). Seu patrão Peter Thorndyke (David Tomlinson) é o dono da loja e um verdadeiro “Dicky Vigarista”. Thorndyke acusa Jim de roubar o Fusca e o obriga a comprar o carro. A história é simples e de forma certeira não se preocupa em explicar porque Herbie tem vontade própria. Ele é super veloz e Jim passa a vencer várias corridas em Laguna Seca e Riverside. O que não agrada Thorndyke, o atual campeão nacional da SCCA (Sports Car Club of America). Uma curiosidade interessante é que no filme o motor do Fusca foi substituído pelo motor do Porsche 356 para dar velocidade ao carro. Herbie tem personalidade forte e demonstra bem suas emoções sem apelar para olhos e bocas ou uma narração subjetiva. Ele é ciumento e impulsivo e percebemos isso em suas ações. Jim é pessimista e egoísta, é na convivência com o “pequeno carro” que ele se desenvolve e cresce como pessoa. Carole é forte e independente. E o amigo Tennessee é hilário e o único que sabe o segredo de Herbie desde o início.  

A direção é competente nas cenas de corrida e nos momentos em que visualmente nos são mostradas as habilidades de nosso querido Fusca. Ele corre, empina, escala montanhas e pula sobre lagos criando cenas engraçadas e memoráveis. Efeitos especiais e práticos convincentes, que podem parecer defasados hoje em dia, mas funcionam e são visualmente bonitos. Tudo isso com sua memorável e ótima música tema composta por George Bruns. O que incomoda no longa é sua estrutura episódica. Os episódios são longos e, em alguns momentos, não se costuram bem para formar a trama. “Se Meu Fusca Falasse” é divertido e engraçado, um filme de família caprichado e que tem um Fusca. Pronto! Já gostei.    

 

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Sunça no Streaming – Din e o Dragão Genial – Netflix (2021)

Din e o Dragão Genial acompanha Din, um estudante universitário de origem humilde que possui grandes sonhos. Em um belo dia, o jovem conhece Long, um dragão com grandes poderes e capaz de atender desejos. Juntos, partem em uma aventura muito engraçada em Xangai em busca da amiga de infância de Din e de respostas para seus questionamentos da vida.

93 min – 2021 – China, EUA

Dirigido por Chris Appelhans. Roteirizado por Xiaocao Liu e Chris Appelhans. Com John Cho, Jimmy Wong, Natasha Liu Bordizzo, Constance Wu, Will Yun Lee, Bobby Lee, Jimmy O. Yang, Ian Chen, Alyssa Abiera, Max Charles, Alexandre Chen, Gabriel Lee.

“Din e o Dragão Genial” é uma animação sobre origens e cultura. Nela Din (Voz original de Jimmy Wong) é um garoto de origem simples que vê sua amiga de infância mudar de classe social e crescer em uma vida rica longe da vila em que nasceram. Ele conhece um dragão mágico e ganha a possibilidade de fazer três pedidos. Resolve utilizá-los para impressionar o pai rico de Li Na (Voz original de Natasha Liu Bordizzo) sua antiga amiga. O longa se estabelece como uma releitura chinesa da história clássica do Aladim. Porém é sobre amizade, origens simples e uma crítica a constante busca por riquezas. Além de retratar bem a dificuldade nas relações sociais entre classes na China e em outros lugares no mundo. 

Din quer reencontrar Li Na, eles ficaram dez anos separados e o protagonista vai fazer de tudo para se reaproximar da amiga. É um rapaz estudioso e respeitoso mas que acaba perdendo de vista sua família e suas origens.  Long (Voz original de John Cho), o dragão, quer realizar os desejos de seu mestre o mais rápido possível para se livrar de sua maldição e de seu bule de chá. Enquanto realiza seus desejos, Din é perseguido por capangas de um homem que deseja o bule de chá a qualquer custo. Até aqui temos uma história conhecida e bastante difundida em filmes, livros e animações. Porém, é no personagem do dragão que a obra acerta e inova. Long observa Din em sua vida, e, aos poucos, passa a perceber o valor da simplicidade, a importância do carinho e do amor. É o dragão mágico que realmente se modifica e têm uma lição a aprender com Din.  

Tematicamente o filme aborda as diferenças de classes e a valorização da família e origens. Além de expor como em algumas sociedades mulheres ainda têm pouca autonomia em suas decisões. Visualmente possui cores vibrantes e um design de personagens cativante e interessante. A vila pobre onde o casal cresceu é retratada com muitas cores alegres e vibrantes. Já a Shanghai moderna tem cores frias e clima triste.  O diretor Chris Appelhans faz um bom trabalho na direção. 

“Din e o Dragão Genial” tem um visual lindo e personagens carismáticos. Apresenta temas importantes, mas não se aprofunda em sua crítica social. Long entende seu “trabalho” como uma forma de enriquecer seu mestre, não vê valor na amizade. Nem mesmo hesita dizer que é desperdício gastar um  desejo com amizade. É com Din que ele aprende o valor da família, de suas origens e a importância da simplicidade. São conceitos atualmente esquecidos e que precisam ser resgatados.

 

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Sunça no Streaming – Luca – Disney Plus (2021)

Em Luca, acompanhamos uma história de amadurecimento sobre um jovem que vive um verão inesquecível repleto de sorvetes, massas e passeios intermináveis de scooter. Luca compartilha essas aventuras com seu novo melhor amigo, mas toda a diversão é ameaçada por um segredo profundamente bem guardado: eles são monstros marinhos de outro mundo, logo abaixo da superfície da água.

95 min – 2021 – EUA

Dirigido por Enrico Casarosa. Roteirizado por Jesse Andrews, Mike Jones, Enrico Casarosa e Simon Stephenson. Com Jacob Tremblay, Jack Dylan Grazer, Emma Berman, Saverio Raimondo, Maya Rudolph, Marco Barricelli, Jim Gaffigan, Peter Sohn, Marina Massironi, Sandy Martin, Giacomo Gianniotti, Elisa Gabrielli, Mimi Maynard, Sacha Baron Cohen, Francesca Fanti, Jonathan Nichols, Enrico Casarosa e Jim Pirri.

“Luca” é a estreia do diretor Enrico Casarosa em um longa-metragem. Enrico trabalhou no departamento de arte de vários outros filmes da pixar e dirigiu o belíssimo curta “La Luna”.  O diretor apresenta uma história sobre transformação, Luca (Voz original de Jacob Tremblay) é um monstro marinho que assume a forma humana ao sair da água. Assim que sua pele é molhada a região volta a ter escamas. Essa é a transformação física que o filme nos apresenta, porém a narrativa vai além e traz um conto sobre um garoto que quer se entender,se encontrar e descobrir o mundo onde vive.  Junto a isso temos um debate sobre como o contato com o desconhecido e o estranho pode causar reações fortes e levar ao preconceito.

Luca vive com sua família no fundo do mar e foi criado com a ideia de que a superfície e seu povo são monstros perigosos que devem ser evitados. Mesmo assim, o jovem demonstra interesse e curiosidade sobre a vida acima da água. Em um momento que Luca desobedece aos ensinamentos de seus pais ele conhece Alberto (Voz original de Dylan Grazer) que é um monstro marinho que vive fora d’água em uma ilha. Quando descobre que com a pele seca ele também se transforma em humano, Luca passa a dedicar seus dias a se aventurar com Alberto experimentando a vida na terra. Quando conhecem a jovem humana Giulia (Voz original de Emma Berman) o trio de desajustados está completo e o objetivo do grupo é ganhar uma competição de triatlo que tem como prêmio uma Vespa (motocicleta).   

Luca teve uma educação rigorosa dos pais, os quais tem dificuldade de aceitar o filho como ele é. Alberto é órfão e foi abandonado por seu pai que não aceitava o estilo de vida do filho. A amizade entre eles é definidora para que ambos possam se entender e lutar para ser quem são. Seu mantra “Silenzio, Bruno” é a forma que os garotos têm de se livrar de preconceitos, medos e da pressão da sociedade. Podendo assim ter novas experiências, viver e se encontrar. A obra discute a ideia de aceitação, dos pais, da sociedade e por si mesmo. O protagonista se aventura, rompe a barreira e passa a ocupar espaços que lhe eram negados.  É uma alegoria a todas as pessoas que sofrem algum tipo de discriminação e intolerância. Uma das várias leituras que cabem nessa proposta é a de alguém que busca assumir a sua identidade homoafetiva. Uma história de descobrimento e aceitação. São alusões explícitas, porém não abertamente assumidas pelo roteiro. Luca e Alberto buscam o sonho da liberdade que, para eles, se materializou em uma Vespa. Eles querem conhecer o mundo e fugir das amarras e barreiras da sociedade.

O visual é lindo. São cores vibrantes que retratam um cenário paradisíaco em uma pequena vila costeira na Itália. A ambientação se completa nas expressões italianas nas falas dos personagens, em uma deliciosa massa ao molho pesto e uma bela trilha sonora.  Os cenários parecem pinturas e o conjunto da obra não só dá gosto de ver, como nos faz exclamar: “Santa mozzarella!”. O roteiro é cativante mas não inova em seu formato e estrutura. “Luca” é uma história simples, visualmente maravilhosa que discute intolerância, preconceito e aceitação. Uma obra que te convida a deixar de lado os pré-julgamentos e abraçar o desconhecido e o diferente. Tudo isso, enquanto acompanhamos a busca de um jovem pelo autoconhecimento.  

 

Nota do Sunça:

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