Sunça no Cinema – Clube dos Cinco (1985)

Em virtude de terem cometido pequenos delitos, cinco adolescentes são confinados no colégio em um sábado, com a tarefa de escrever uma redação de mil palavras sobre o que pensam de si mesmos. Apesar de serem pessoas completamente diferentes, enquanto o dia transcorre eles passam a aceitar uns aos outros, fazem várias confissões e tornam-se amigos.

97 min – 1985 – EUA

Dirigido por John Hughes. Roteirizado por John Hughes. Com Judd Nelson, Ally Sheedy, Emilio Estevez, Molly Ringwald, Anthony Michael Hall e Paul Gleason.

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Um grupo de pessoas isoladas que eventualmente começa a conversar. No meio de conflitos, brigas e intrigas, verdades são ditas. Eles acabam com um novo olhar sobre cada um deles e sobre si mesmos. John Hughes aplica esse contexto a adolescentes. Garotas e garotos que aparentam não ter nada em comum, e que, na verdade, não querem ter nada em comum com os diferentes arquétipos ali representados.  Isso, pelo menos, inicialmente. 

Hughes era um nome comum no cinema dos anos oitenta. Ele foi o responsável pelo roteiro de clássicos como “Esqueceram de Mim” e “Férias Frustradas”. Dirigiu e escreveu um dos melhores filmes de comédia da época “Antes Só do que Mal-Acompanhado”. Mas a sua habilidade em criar jovens com credibilidade e verossimilhança o tornou um mestre do cinema adolescente. Ele foi o diretor e roteirista de obras como “Gatinhas e Gatões”, “Mulher Nota Mil”, “A Garota de Rosa Shocking” e  “Curtindo a Vida Adoidado” o mais famoso. Seus filmes fizeram sucesso e influenciaram gerações. É verdade que alguns desses filmes não envelheceram tão bem, principalmente na forma como, o machista cinema dos anos oitenta, retratava as mulheres. Porém, “Clube dos Cinco”, para mim, ainda permanece uma de suas melhores e mais profundas obras. 

Tudo acontece em um sábado. Cinco jovens que violaram as regras do colégio tem que passar o dia em detenção “presos” na biblioteca da escola. O filme começa com uma citação do David Bowie que já nos apresenta uma ideia do que está por vir. Logo presenciamos a chegada desses garotos. A entrada de cada um deles é importante por que nós apresenta seu relacionamento com os pais. Quando estão todos dentro da biblioteca, o grupo de estereótipos adolescentes está formado. O “marginal” durão   John Bender (Judd Nelson). A esquisita e insegura Allison Reynolds (Ally Sheedy) que se esconde atrás de seus cabelos e roupas. O atleta da equipe de luta da escola Andrew Clarke (Emilio Estevez). A patricinha e rainha da formatura Claire Standish (Molly Ringwald) e o nerd estudioso Brian Johnson (Anthony Michael Hall). O que vemos, inicialmente, são pré julgamentos e atritos entre eles. Ao longo do dia eles interagem e acabam percebendo muitas semelhanças escondidas nas diferenças das “personas” de cada um. É nessa desconstrução de arquétipos que John Hughes aborda temas e tabus do universo daqueles jovens. 

“Clube dos Cinco” faz com que aos poucos seus personagens se libertem das máscaras que lhe são impostas por respectivos grupos. Literalmente eles vão se despindo. Já que, a medida em que se abrem vão tirando peças de roupa, enquanto passam a se enxergar uns nos outros. Roupas que dizem muito da forma com um enxerga o outro e como os adultos enxergam aquele grupo. É uma obra construída a partir de diálogos, olhares e gestos. Os atores estão todos muito bem e entregam exatamente o que se se espera das personas que estão representando e no momento de desconstrução são hábeis em passar importantes sentimentos e sensações com olhares e pequenos gestos.  Bender acaba tendo mais destaque, uma vez que ele é o agente do caos, o elemento catalisador para que toda a interação aconteça. Ao rever hoje incomoda o arco da personagem Alisson que passa por uma grande mudança visual ao final do longa. Aí sim, ela é aceita por completo pelo grupo. O diretor do colégio Richard Vernon (Paul Gleason) é o único personagem unidimensional, é a representação do adulto burocrático e chato. O que me parece uma opção proposital, para os garotos ele é o retrato do conformismo e a demonstração da falta de empatia e compreensão do mundo em que eles vivem. Sua própria caracterização demonstra isso, um terno antigo e uma camisa preta. Roupas sem cor, sem carisma e identidade. 

A trilha sonora imortalizou “Don’t You (Forget About Me)”, da banda Simple Minds. E ainda contou com vários outros sucessos da época trazendo o clima exato para uma obra divertida e emotiva. Deixa também o filme mais dinâmico, uma vez que se passa praticamente em um único ambiente e com um pequeno elenco. Nisso a edição é fundamental, com longos movimentos de câmera em momentos reflexivos, cortes rápidos nas sequências cômicas (Temos ali uma homenagem ao Scooby Doo?) e câmera estática e sem cortes em momentos de vulnerabilidade. 

Poucos filmes dialogam tão bem com os jovens (E comigo) como “Clube dos Cinco”. Talvez o impacto em mim seja por ter visto a obra na idade correta durante as “tardes de cinema” em casa. Revendo o filme hoje aos trinta e três anos de idade ainda me sinto impactado e consigo ver pedaços da minha versão jovem representados em cada um daqueles adolescentes. (E da versão adulta também.)  Fato é, que são poucas as tentativas de refletir sobre os jovens, seus dilemas e suas problemáticas. Esse sábado de detenção marcou gerações de garotas e de garotos, o cinco protagonistas mesmo que por um dia se libertaram das pressões diárias e dos preconceitos. E juntos assinaram um dos mais importantes manifestos do cinema: 

“Você nos enxerga como você deseja nos enxergar. Em termos mais simples e com as definições mais convenientes.”

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Nota do Sunça:

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