Salve-se Quem Puder #11 – Banheiro de clube

Na vida temos momentos bons e momentos ruins. É comum encontrar pessoas que acreditam que ela é de fato toda ruim. Acreditam também, que nunca deveríamos ter saído do aconchego do ventre materno e que o ideal era mesmo boiar por toda nossa existência no útero de nossas matriarcas. Os demais dípodes oriundos dos símios acreditam que nossa presença no universo é um erro e que devíamos tê-lo deixado vazio e em paz. Ele era mais feliz assim. Fato é, que a vida é conturbada e em sua totalidade é, desnecessariamente porém extremamente, confusa. Além de sofrida e demasiadamente doída. Nela, assim como no banheiro de clube, presenciamos cenas de horror, passamos por torturas e acabamos agilizando todo o processo na esperança de que tudo acabe de forma abreviada e gentil.

Ao entrar no banheiro de um clube, nunca sabemos o que esperar. Confiantes sempre esperamos o melhor:  O recinto vai estar vazio, ou então com seres humanos mais comportados. Também temos a inocência de aspirar por uma experiência rápida, indolor e que o aroma seja no mínimo respirável. Já que esperar por um aroma que não causa náuseas em um lavabo comum seria uma demonstração de ignorância. Mais uma vez a esperança é a arma de nossa destruição, ao adentrar na casa de banho o que acontece é frustração, olhos dormentes e ardidos e pulmões repletos de um aroma desagradável que é quase exatamente igual, porém ligeiramente diferente a um grande pote de estrume.

Você mal cabe no vestiário. Todos os urinóis lotados, as privadas devidamente ocupadas em seu dever de enviar longos e extensos faxes. (E quando estão vazias, sempre guardam um presentinho) Além do inebriante aroma que rege o recinto, que certamente se origina de defuntos em decomposição. E, é claro, a primeira experiência que você presencia é um idoso(a) nu(a) a desfilar! Não porque você gostaria de examiná-lo, ou porque algumas partes de sua frouxa genitália chamam atenção ao quase tocar o chão. Mas sim, porque ele simplesmente atravessa o banheiro em sua direção, lava as mãos, o rosto, arruma o cabelo e ainda passa pela balança próxima a saída. Suas vestimentas lhe aguardam tranquilamente a uns cinquenta metros de distância.

No toalete, quando sua vontade é a de enviar um fax para os países baixos não há latrinas disponíveis. Se o problema é aliviar a água do joelho, os locais apropriados estão ocupados. Só pretende trocar de roupa e guardar seus pertences, não tem lugar. Tudo está ocupado e nada é possível. Nos chuveiros encontramos o reino dos idosos(as) nus(as) a desfilar. Também temos jovens nus a desfilar, e alguns nem tão jovens assim. Um acontecimento igualmente desagradável de ser testemunhar. Na minha humilde e primorosa opinião, só devemos ver um corpo desnudo com a devida autorização de seu dono(a) e com nossa própria aceitação e/ou vontade. O mesmo vale para nossos próprios corpos. Para muitos isso não faz sentido e é uma grande bobagem, afinal, quem sou eu para dizer algo a respeito de meu próprio corpo e/ou do que quero ou não quero presenciar.

E assim também acontece na vida. Tudo o que queremos, não conseguimos. As pessoas que amamos não nos amam, o sucesso e satisfação pessoal é tão distante que parece inacessível. Tão longe que a chance de atingi-los é a mesma de não encontrar uma pessoa de idade desnuda a perambular nas estranhas casas de banho de clubes. O objetivo da ida ao banheiro compartilhado têm o propósito de nos lembrar que nada é fácil, toda conquista vêm de luta e que nos momentos de dificuldades as vezes precisamos fechar os olhos, prender a respiração e seguir em frente. Um aprendizado para a vida.

Nesse carteado, de cartas marcadas maltrapilhas e incompletas onde sair com uma mão decente é impossível que chamamos de vida, é provável que o caminho seja fazer assim como fazemos nos vestiários de clubes. Encarar de frente os problemas, decepções e as desilusões, mesmo que para isso seja necessário abrir mão de sua visão e interromper a troca de oxigênio de seus pulmões.

Vale lembrar que existe a opção de respirar fundo, segurar e tentar resolver o “problema” em casa.

Mas qual a graça disso?

Bjundas


Ministério do sarcasmo adverte:

Acreditar e/ou levar a sério informações desse texto é um atestado de bestialidade.


Sunça é cartunista e escritor. 

Às vezes certo, às vezes errado, nunca com razão.


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